domingo, 14 de junho de 2015

Capitulo 19


A campainha tocou. Várias vezes tocava mas mesmo assim sentia um enorme peso na sua cabeça impedindo-a de se levantar. No fundo, não queria sequer acordar. Isabel podia contar as horas em que esteve acordada durante a noite e no quanto lamentava por aquele barulho a ter despertado. Mas quem quer que fosse, persistia e então, viu-se obrigada a levantar-se e seguir até à porta. Cambaleando pelos corredores, foi tentando despertar ao qual parecia uma tarefa impossível. 

- já vai… - com uma mão apoiada na parede e a outra na porta, conseguiu abri-la. A surpresa não podia ser maior ao deparar-se com aquelas duas pessoas na sua frente, tão bem conhecidas para si.

- o que fazem aqui? – A surpresa era bem visível no rosto de Isabel que não esperava ter os seus avós ali e aquela hora.

- podemos entrar? – perguntou Maria.

- claro! – respondeu de imediato Isabel – entrem… - Ela viu os seus avós a percorrerem aquele corredor até junto da sala – sentem-se. – Assim fizeram. Isabel aproveitou para se sentar no sofá ao lado – porque vieram aqui? 

- Para, de uma vez por todas, encerrar este assunto. Temos muitas coisas por esclarecer Isabel… 

- eu sei avô – respondeu enquanto encarava o chão 

- O que se passou ontem não deveria ter, de todo, acontecido. Em parte a culpa é minha por ter permitido que saísses de casa mas temos de esclarecer as coisas. Por mais que nós te amamos também temos ser rígidos em alguns momentos… Isto não pode ser assim! Querida, acredita que nos magoa imenso estarmos a dizer-te isto mas tens tido atitudes incompreensíveis e tens de admitir isso! Nós não sabemos ao certo o que se passou e o que andaste a fazer nessas corridas mas tens de perceber que não podia aceitar isso – Isabel olhou-a – o que se passa contigo? Sabes que podes contar connosco para tudo e nunca demos motivos para deixares de confiar em nós…

- deram sim – ripostou calmamente – quando prefeririam acreditar na Marisol e não em mim, quando não fizeram nada para ficarem do meu lado e defenderem-me! E tenho de confessar que a vossa atitude me magoou e muito!

- E porque é que lhe bateste? Tu nunca foste assim…nós sabemos que vocês não se dão bem mas porquê aquela atitude?

- pois não avó! tem toda a razão…nunca fui assim mas sabe uma coisa? Satura quando se ouve vezes e vezes sem conta que nós não somos nada. Ela mereceu aquele estalo e se pudesse dava-lhe mais! – Javi e Maria ficaram chocados a olharem para toda aquela raiva – cansa atirarem-me à cara que sou adoptada e que não sou do vosso sangue, que nunca poderei ser totalmente desta família porque não nasci de vocês! 

- Querida… - Isabel interrompeu Maria 

- avó, eu sei que vão dizer que para vocês eu sou como da família, como se tivessem o vosso sangue mas não podem negar que eu pertenço a outra gente… – um certo silêncio imperou ali.

- Isabel, nós viemos aqui para esclarecer as coisas e colocar um ponto final nestes mal entendidos…nós sabemos que erramos e tens razão quando falas que deveríamos ter-te defendido. Nós mais que ninguém te amamos e acredita, o amor que eu sinto por ti ultrapassa tudo – Javi pegou delicadamente na mão da sua neta – podemos não ser do mesmo sangue mas quem disse que é preciso sê-lo para amarmos infinitamente? Eu e a tua avó não somos do mesmo sangue e amamo-nos como tu vês… - Isabel começou a sentir vontade chorar. As saudades que sentia de receber carinhosamente todo aquele toque do seu avô… - não queremos que te sintas afastada e por isso pedimos para que todas estas coisas más sejas postas para trás e que daqui para a frente possamos recomeçar. Vamos acabar com isto minha muñeca? – pediu carinhosamente. Ela sentia-se a vacilar. Se por um lado queria infinitamente atirar-se para os braços das duas pessoas que mais amava, por outro, existia algo que a fazia vacilar. 

- por favor minha querida…nós fazemos de tudo para que voltes para nós! Ontem, morremos de medo com o que pudesse ter acontecido, não sabermos onde estavas, se passaste fome, frio, o meu coração não descansava por não saber onde estavas! 

- podem ficar descansados que eu fiquei bem! Estou aqui não estou? Apesar de estar zangada eu…eu também senti a vossa falta – admitiu – odiei passar a noite de natal sem vocês mas eu estava tão revoltada que não conseguia dar o braço a torcer! Estava magoada, triste…

- parte-me o coração saber que passaste a noite de ontem sozinha e que a culpa é nossa também e…

- Hei, avó não diga isso! a noite de ontem já passou e nem vale a pena falar mais sobre isso. é passado. 

- isso quer dizer que voltas para junto de nós? – a esperança era inabalável na voz de Maria.

- Isso quer dizer, avó, que eu quero acabar com o nosso afastamento mas antes…eu preciso da vossa sinceridade e verdade.

- sobre o quê? 

- Eu não sinto esta revolta toda porque quero…sinto isso porque não sei a quem pertenço. É isso que quero que percebam. Eu tenho outra família, um pai e uma mãe que me abandonaram e que andam por ai…será que tenho outros irmãos? Tios, primos? E quem são eles? Eu preciso de saber de onde venho para puder aceitar todo o vosso amor! Entendam isso, por favor…eu preciso de descobrir quem sou eu, de onde venho e mais do que isso, saber porque me abandonaram. Só assim conseguirei sentir paz e deixar esta revolta toda para trás. 

- nós fazemos tudo para que deixes de sentir essa revolta! Tudo mesmo…só queremos ter a nossa Isabel connosco e que não exista mais este afastamento!

- então digam-me porque fui abandonada! Eu sei que vocês sabem…sabem mais do que me contam! Quem foi que me encontrou na porta do hospital? Como é que eu cheguei até vocês? – Javi largou um suspiro pesado.

- Ouve Isabel…essa história tem de ser os teus pais a contarem-te.

- Avô, eles nunca me contarão a verdade. Só vocês me podem ajudar… - o desespero tomava conta do rosto de Isabel mas a angustia batia forte tanto no rosto de Javi como de Maria – por favor…façam isso por mim – Ela aproximou-se deles – seja o que tiver de descobrir, eu nunca deixarei de vos amar. Nunca… - sussurrou. Como poderiam aqueles avós renegarem um pedido daqueles vindo dela? Era algo pedido tão de coração, tão profundo, sentia-se toda a revolta e a necessidade de Isabel saber a verdade acerca do seu passado. Aquele era o momento propicio para acabarem com todas aquelas zangas e confusões e os três sabiam tão bem que para tal acontecer teriam de acarretar aquele pedido. 

- Mas o que queres saber? Nós também não te conseguimos dizer quem são os teus pais biológicos, nunca os vimos…não sabemos nada acerca deles.

- e que tal contarem-me como me encontraram, hum? – eles ficaram em silêncio. Talvez ninguém imaginasse o quanto custaria tanto a Javi como a Maria, remexer naquele passado – sabem…é que nunca acreditei verdadeiramente na história de ser deixada à porta do hospital. Não com três anos… - Isabel viu a sua avó a suspirar e percebeu que ela não conseguiria falar. Conhecia-a tão bem.

- Tens razão Isabel – Javi tomou a palavra – não foste deixada à porta do hospital – Javi olhou-a – queres mesmo saber?

- quero! – ripostou – sem mentiras, contem-me tudo. Todos os pormenores que podem pensar ser irrelevantes, digam-me tudo!

- Vale. Então…Tu apareceste no hospital porque estavas doente com uma meningite. Precisaste de ficar internada e os teus pais contaram que vinhas mesmo muito doente…magrinha, tão pequenina…pouco ou nada falavas, tinhas um olhar tão triste…Naquela altura era mais frequente este tipo de doenças, por isso não fiques assustada. Tiveste sorte porque encontraste uma equipa médica que te acolheu muito bem inclusive os teus pais, o Pedro e a Marina. Naquela altura eles estavam a fazer internato naquele serviço e como eles contam, assim que te viram, foi amor à primeira vista – Isabel sentia-se totalmente arrepiada – Não costumavas receber visitas dos teus familiares, apenas recebias as da tua mãe e eram poucas. Nunca viram o teu pai nem familiares…Ao inico ela visitava-te mas depois as visitas foram diminuindo até que…deixou de ir lá. Ficaste um mês no hospital sem receberes uma única visita. Foi aí que os teus pais contactaram a assistente social e descobriram que a tua mãe tinha deixado o sitio onde viviam – ela fechou os olhos – procuraram e nem com os dados que tinham vossos dava para saber o paradeiro da tua mãe. Descobriu-se que viviam num bairro perto da Amadora, não tinham qualquer familiares e os vizinhos nunca se mostraram receptivos em ajudar-nos. 

- Javi, por favor pára! – Pedia Maria que era capaz de sentir toda a dor que Isabel sentia naquele momento – isto são muitas coisas para digerir!

- Não! – Pediu Isabel – eu quero que o avô continue! – pediu com a sua voz trémula. Seria mesmo ela capaz de aguentar em ouvir aquilo? Nunca imaginara o quanto poderia doer ouvir aquela verdade doentia.

- Quando os teus pais chegavam a casa contavam-nos, todos os dias, coisas sobre ti… - um tímido sorriso surgiu no rosto envelhecido de Javi – que aos poucos ias melhorando e incrivelmente falavas mais vezes. Diziam que a primeira vez que tu sorriste foi como uma dádiva. Eles estavam a apaixonar-se por ti mesmo sem o querer. Chegou uma altura em que até eu e a tua avó fomos ao hospital conhecer-te…Oh querida, assim que te vi tu correste para os meus braços e eu abracei-te tão fortemente que foi uma sensação incrível! Não o conseguimos descrever…naquela altura já não haviam noticias da tua mãe e foi aí que a assistente social avisou que terias de ir para uma instituição. Nunca o permitimos…E aí está uma coisa que só nós e os teus pais sabemos. Como eles ainda não trabalhavam não podiam entrar na justiça para pedir a adopção e por isso tivemos de ser nós a fazer o pedido…Não foi fácil argumentar para ter a tua guarda mas com bons advogados, passado três meses eras nossa! Legalmente eras nossa filha e no primeiro ano em que estavas connosco recebíamos visitas da assistente social e como perceberam que vivias em boas condições deram o aval para os teus pais passado, dois anos, puderem ter a tua guarda definitiva. E o resto já sabes…

- e porque nunca me contaram isso? 

- a tua mãe não queria que soubesses a forma como foste abandonada. Ela achava que seria pior para ti…

- claro, a minha mãe e as suas teorias de como saber fazer as coisas à maneira dela! – resmungou visivelmente chateada.

- não a condenes Isabel! Ela só quis o melhor para ti.

- quem tem que decidir o que é melhor para mim sou eu! E tenho a certeza que os anos poderiam passar que eu nunca saberia disto. 

- Mas agora que já sabes podes ficar mais descansada!

- descansada? Não, nem pensar. Agora é que não vou desistir de procurar a minha mãe! 

- tu vais à procura dela?

- claro! Eu preciso de estar cara a cara com ela, saber porque me deixou no hospital e doente! 

- Não faças isso…

- ninguém me vai fazer desistir disso, ninguém! É um direito meu, tentar perceber porque me abandonaram… - A amargura estava bem carregada em todo o semblante de Isabel e mesmo que quisessem, nem Javi e nem Maria conseguiam faze-la mudar de ideias. E com isso sabiam também, o quanto aquela história a iria magoar o quanto iria sofrer pela descoberta do passado e só tinham o medo de ela não aguentar toda aquela pressão.

- vale…se assim o queres não iremos impedir. 

- Gracias. Pelo menos vocês entendem-me… - sussurrou. Estaria mesmo Isabel preparada para levar avante aquela história e desenterrar um passado que a poderia levar por caminhos perigosos? Ela não o sabia e nem tão pouco por onde começar. Sentia-se tão perdida naquele momento que nem chegar até à cozinha ela seria capaz de o fazer. 

- Como te sentes com isto tudo? – a doce voz de Maria interpelou os pensamentos amargos de Isabel.

- oh avó… - suspirou – nem eu sei…Já suspeitava que existia algo que não sabia mas custa. De qualquer das maneiras eu fui abandonada pela minha mãe. Seja à porta do hospital ou na cama da enfermaria, que diferença faz? Ela deixou-me na mesma, não minimiza os danos que causou… - gerou-se um silêncio – Apesar de me sentir triste e profundamente desiludida, zangada com essa pessoa que me deitou ao mundo, tenho de lhe agradecer. O que seria de mim se eu não vos conhecesse? – Isabel levanta-se sentando-se no meio dos seus avós abraçando-os – desculpem-me por tudo, de verdade. 

- oh meu anjo… - Javi deu-lhe um beijo carinhoso no rosto – te echamos de menos moñeca! Sejas do nosso sangue ou não…te amamos! – Aquele momento era especial e bom. A paz parecia estar a reinar novamente e não existia melhor sensação do que receber o amor de quem mais se ama e Isabel sabia disso. Por mais revolta ou incompreensão que existisse em si havia algo que não tinha preço e a isso chama-se Javier e Maria. As duas pessoas que em toda a sua vida lhe ensinaram o quão de bom a vida poderia ser. O amor, paixão, liberdade, sonhos…e em especial, o quanto os nossos sonhos poderiam caber numa só mão fossem eles do tamanho do mundo. Com vontade tudo se tornava real. Porque não? Com amor tudo se pode, tudo é possível. E aqueles avós, mais do que nunca, sabiam o quanto o amor podia mover montanhas o quanto conseguia ser improvável. E aquele momento valia ouro e não havia nada que o pudesse substituir. 

~



E ali estava. Isabel voltava à quinta mas ainda não era para voltar. Prometera aos seus avós que pensaria imenso em voltar a viver mas por enquanto preferia dormir no apartamento e visita-los esporadicamente, talvez assim as coisas fossem ao normal de uma forma natural sem forçamentos. Assim que colocou o pé sobre aquele soalho já gasto pelo tempo, não pôde deixar de ouvir os gritos puros que ecoavam por aquela sala e depressa os identificou. Os seus primos mais novos estavam ali…Mal a sua presença se fez soar imperatoriamente, todos a saudaram calorosamente o que surpreendeu. Espera um certo desconforto mas no lugar disso estava a alegria de a ter ali. Talvez, lá no íntimo, ela não fosse assim tão transparente ao ponto de passar despercebida no seio da sua família e talvez, pudesse ela admitir, eles sentiam a sua falta e isso deixou-a estupidamente feliz. 

- voltaste… - a voz incuriosa de Marisol interrompeu os pensamentos de Isabel, que se mantinha a observar o jardim através da janela.

- É…parece que sim – respondeu secamente sem querer se alongar. Isabel sabia que a sua prima queria discutir, via isso pelos seus olhos que escapuliam raiva e rancor. 

- Por quanto tempo será? – insinuou – é melhor não desfazeres as tuas malas, só pela duvida…

- Não te preocupes que eu só venho aqui a visita. Podes sorrir à vontade que eu ainda não voltei definitivamente! Escusas de esconder a tua satisfação por isso. – Marisol sorriu.

- O teu lugar não é aqui…por isso e como eu sei que daqui a uns meses vais embora…tanto faz. Até podes voltar agora mesmo a dormir aqui, só em saber que em Julho voltas para Portugal eu sinto-me feliz! – Era incrível toda aquela inveja que Marisol transpunha e que agora já não fazia questão de esconder. Isabel precisou de respirar fundo ou então era tão provável que partisse para cima dela e lhe desse aquelas tão desejosas bofetadas. 

- Ah! E já agora…como foi o Natal por aqui? Foi bom?

- Óptimo. Estivemos todos felizes…juntos e em família – Isabel, ouvindo-a, lançou um sorriso maldoso ao qual, ainda sem o mostrar, Marisol ficara um pouco reticente. 

- Que bom! O meu também foi óptimo sabias? Não estava em família mas a companhia do Javi até que foi boa! – Isabel viu a sua prima a comprimir-se totalmente – Encontramo-nos por acaso na rua e ficamos a conversar, a beber umas cervejas e a comer uns cachorros quentes na rua...

- não acredito – atirou secamente – estás a mentir.

- por acaso até não estou. E antes que me esqueça, tenho de te agradecer…se não fosses tu e aquela nossa conversinha, eu não teria tido uma noite como a de ontem. E não é que o Javi até consegue ser… - ela parecia encontrar a melhor palavra enquanto via a sua prima a controlar-se – calmo? Bem…pelo menos não discutimos!

- callate! – gritou – tu odeias o Javi e só dizes isso para me descontrolares! 

- Quem? Eu descontrolar-te? Oh Marisol…perdes o teu tempo a pensares isso. Mas queres um conselho já que gostas tanto dele? Liga-lhe. Quando estávamos juntos ele recebeu uma chamada que a irmã estava desaparecida. Fomos ambos até à casa dele e era visível que estava perturbado com o acontecimento… Deverias mostrar um pouco de solidariedade não achas? – Marisol respirava descontroladamente e com uma vontade louca de gritar-lhe - Ele não estava mesmo nada bem…até adormeceu junto da cama da irmã. Eu vi…já agora, tenho de admitir que tens bom gosto. E não é que o Javi até…um querido a dormir? Até fiquei comovida com aquele amor todo pela irmã! – Isabel já não escondia a sua satisfação em ver Marisol a contorcer-se fortemente de raiva e incredulidade com o que ouvia – Pensa neste conselho… - Dito isto vira costas e com um sorriso a delinear completamente o seu rosto bem ciente do quanto tinha deixado Marisol à beira de um ataque de raiva e de escândalo. 

~



O dia que se adivinhava era de total confusão. Faltavam apenas dois dias para o ano novo e naquele aeroporto a confusão era geral. Isabel encontrava-se em Lisboa para passar o resto das festividades na cidade portuguesa. De cada vez que olhava para cada canto dali sentia as saudades e o quanto ela sentia falta da sua cidade. Tinha passado três meses em Múrcia, nem dera pelo tempo passar. Apressou-se a chamar um táxi e rumar até Oeiras, à sua casa. O dia estava chuvoso e o vento persistia por aquele lugar…Isabel já não sabia o que era sentir o tempo lisboeta e apesar das semelhanças com o tempo de Múrcia, aquele lugar era característico. Assim que o carro parou enfrente à moradia, apressou-se a pagar e pegar na sua mala, chegou perto do portão abrindo-o com a sua chave. Sabia que àquela hora os seus pais não estavam em casa mas era provável que a sua irmã Inês estivesse. E como era suspeito, assim que abriu a porta pôde ouvir a música alta que se fazia ouvir do piso superior. Acabou por sorrir…era tão típico daquela rapariga adolescente em ouvir metálica e fazia-o sempre que os pais não estavam presentes já que a sua mãe repudiava aqueles estilos musicais. Sorrateiramente, subiu até ao segundo piso e chegou até junto da porta do quarto. Abriu-a e encarou a sua irmã, que se encontrava deitada e com os pés pousados na parede, enquanto lia uma revista. Chegando até junto da aparelhagem, baixou o som e depressa Inês ergueu-se, quase como se naquele instante tivesse levado com um choque eléctrico.

- Mãe, desc…Isabel!? – perguntou totalmente surpreendida por ver a sua irmã ali.

- Buenas hermanita! – saudou - respira, não sou a mãe! – brincou. Sem contar com tal, e com a sua irmã ainda em cima da cama, viu-a a lançar-se sobre si abraçando-a fortemente. Isabel precisou de se amparar, de todo esperava uma atitude tão afectuosa por parte de Inês.

- boa, voltastes! – Inês desprendeu-se dela – bem… - ela levou a mão ao peito – que susto. Juro que por momentos fosse a mãe. Ela é que tem a mania de me desligar a aparelhagem! E sem falar que estou proibida de ter a musica alta e bla, bla…bla! – Isabel sorriu

- de castigo outra vez, não me digas?

- quem, eu? De castigo? A mãe é que não sabe apreciar musica! – Ela abanou a cabeça.

- Vale…estás sozinha?

- hum, hum… - Isabel franziu a sobrancelha – Ok, a Manuela está lá em baixo na cozinha mas ela não vai dizer à mãe até porque eu disse-lhe que em troca do seu silencio eu arranjava-lhe os discos todos do Tony Carreira!

- Inês! – advertiu Isabel.

- o que foi? É justo! 

- tudo bem…estou a ver que por aqui nada mudou na minha ausência! 

- e por quanto tempo vais ficar? 

- três dias. No dia dois já volto para Múrcia…

- Oh…e quando me levas para Múrcia? Olha, podias dar a desculpa à mãe que quero visitar os avós, os tios, os primos…por favor, por favor! – Isabel sorriu sorrateiramente

- está bem…vou pensar no teu caso! 

- mas pensa com carinho, prometo que tornar-me-ei a melhor irmã que possas ter! – Isabel abanou a cabeça, e dando meia volta, saiu dali. Ficou parte do tempo da tarde a desfazer a mala e percebeu como se sentia diferente ali. Tinham-se passado apenas três meses desde que deixara Lisboa mas pareciam anos. 

Perto da noite, os seus pais chegaram a casa e a alegria de terem a filha de perto fora enorme e até em Marina, notava-se toda a alegria que sentia em ter Isabel por perto. Esta, por sua vez, queria falar sobre a conversa que tivera com os seus avós a respeito da família biológica mas sentiu que aquele não era o momento para tal. Nem naquele nem nos dias que se seguiram. A azafama tivera sido tanta que, entre visitar os seus amigos, estar com Adriana e fazer as ultimas compras para a passagem de ano, não sobrara tempo nenhum para tocar naquele ponto. 

A noite tinha sido agradável. Típica de ultima noite do ano em que todas as pessoas dedicavam segundos para conceberem os últimos desejos do ano. Isabel não era excepção à regra e desejou, mais do que tudo, para que conseguisse descobrir alguma coisa sobre o seu passado. Desejou de tal maneira que mal poderia imaginar o quanto isso poderia mudar a sua vida. Em todos os sentidos…

~


Tinha chegado o momento de regressar a Múrcia, as festas tinham acabado e a hora de regressar às rotinas tinha começado. Apesar de ainda ser presente as luzes natalícias espalhadas pelas ruas, notava-se que uma nova pagina se havia virado e que novos costumes ou novas regras tinham de ser implementadas. Mas se muitas coisas tinham mudado outras permaneciam intactas, tal como, existir a rotina de acordar cedo e ir para a faculdade. Já passavam das nove horas da manhã quando, Isabel, Adriana, Renato e Ricardo, chegaram para mais um dia de aulas. Os quatro amigos acabaram por se separar, cada um para as respectivas salas, e sentiam que não estavam preparados para um dia massacrante.

- Bela…o que dizes de logo à noite irmos tomar um café? – Isabel e Adriana já se tinham sentado nos bancos da sala.

- Por mim…amanhã como não temos aulas de manhã, pode ser. Temos de falar com os rapazes.

- vou mandar mensagem… - A aula tinha começado e a conversa ficara por ali. As próximas horas foram passadas da mesma forma e só se haviam visto livres daquela tormenta, quando o relógio marcava, incessantemente, as sete horas da tarde. Estavam à espera dos rapazes junto à porta de entrada, quando Isabel reparara na chegada de alguém, junto ao estacionamento. Também ele dera pela sua presença. Tinha-se passado uma semana desde aquela noite de Natal e nunca mais, tanto Isabel como Javi, tinham-se visto.

- Adriana, já volto… 

- ah? Onde vais? – Isabel não respondera, simplesmente caminhara até junto dele que se mantinha perto da mota.

- Hola… - Javi olhou-a.

- Hola.

- Vim só saber se está tudo bem com a tua irmã…

- Sim, está. Obrigado pela preocupação. – Javi não se alongara mais e Isabel percebera que aquele era um assunto ao qual não queria prolongar-se. Comprovando isso, era a insignificância com a qual Javi tratava a sua presença, continuando a arrumar as suas coisas na mota. 

- vale…me voy! – Isabel virou costas e depressa saiu dali, juntando-se a Adriana que mantinha-se curiosa a olha-los – vamos embora – dissera, assim que chegara perto da amiga.

- O que foste fazer até junto do Javi? 

- perder tempo – respondera secamente – foi o que fui fazer! Perder o meu tempo com pessoas bipolares… - resmungou baixinho enquanto se encaminhava para junto do carro, sem dar hipóteses de Adriana acompanhar o seu raciocínio.

- Então? O que foste dizer? Diz!

- Fui perguntar se estava tudo bem com a irmã dele. Afinal fiquei sem saber como as coisas acabaram…

- O que ele falou?

- que estava tudo bem.

- E não era isso o que querias saber?

- Era – respondeu secamente enquanto entrava para dentro do carro. Adriana fizera o mesmo.

- Então porque estás com essa cara de ruindade? – Isabel olhou-a perplexa.

- Porque…ele escusava de ser tão rude! Aliás, como sempre foi e será! – resmungou – Otário…

- hum…estou a perceber – Adriana soltou uma pequena gargalhada.

- Estás a rir-te porquê?

- Já percebi essa cara…

- eu estou normal!

- Oh sim…mas não precisas de admitir. Eu sei que tu esperavas que depois daquela noite de Natal, o Javi fosse mais brando para ti e o que encontraste foi alguém que acabara de te ignorar. – Isabel tinha-lhe contado o que se passara na noite de Natal, inclusive como se tinham encontrado e como esta acabara. Mas a sua amiga olhara-a com tamanha perplexidade que nem dera conta do tempo que permaneceu assim. 

- Não é nada disso! – tentou defender-se.

- É sim! Viste um Javi diferente do que estás habituada e acaba por ser normal que esperas que da próxima vez que estivesses com ele as coisas pudessem ser diferentes. Não me mintas Bela! Conheço-te…podes ter um feitio difícil e detestares quando as pessoas são rudes, tal como dizes que o Javi é, mas no fundo ele surpreendeu-te e tu gostaste disso. Confessa que gostaste de ver um lado dele mais despreocupado e calmo…e esperavas que ele mantivesse assim, que mal chegasses ao pé dele fosse falar contigo mais tempo. Não sei o que ele te disse exactamente, mas tu não gostaste. 

- o que se passou na noite de Natal é passado. Ponto. Foi algo fora do normal e eu não esperava que as coisas se mantivessem iguais, tanto que nem quero que se mantenham! Não quero ser amiga dele, percebes? Fui apenas junto dele por causa da irmã, nada mais! E vamos fazer o favor de não falar mais sobre isto.

- vale amiga, vale… - Isabel bubafa – posso só dizer…uma coisa? – perguntou a medo pois já sabia qual seria a reacção de Isabel.

- não! Se for para dizeres asneiras mais vale ficares calada!

- okay, vou dizer na mesma e assim aproveito logo esse teu mau humor – Isabel não esperou que a sua amiga continuasse e por isso, ficara a olhar pela janela – o Javi trocou-te as voltas todas…e nem venhas negar o contrário, não a mim! Podes espernear-te toda a dizer o contrário mas ele mexe contigo!

- Andatte à la mierda Adriana! Andatte à la mierda… - Adriana acabou por sorrir pois sabia que, indirectamente, a sua amiga acabara de confirmar. Conhecia-a demasiado bem para saber disso e, por tal, tinha a certeza que a história daqueles dois iriam muito mais avante, tivesse o destino que tivesse mas Isabel e Javi iriam acabar de uma forma totalmente irrevogável, contrariando assim, a forma de como se conheceram. 

~



Os dias foram passando pela cidade de Múrcia e finalmente o mês de Janeiro tinha passado. Entre aulas e trabalhos, ninguém se apercebera da rapidez com a qual os dias passavam nem tão pouco que estavam no mês de Fevereiro. Contrastando com tal, existiam ainda coisas das quais não tinham mudado. Isabel continuava a viver no apartamento com os seus colegas, acreditando que era cedo para voltar para a quinta, contraditando a vontade que os seus avós tinham de a receber em casa.

A semana passava e a cidade marcava as festividades locais, nomeadamente a chegada da feira popular. Particularmente, tudo parava e ninguém conseguia perder pitada de todos os acontecimentos daquela grande festa. Era um dos momentos mais altos daquela cidade, onde todos sem excepção, a visitavam.

- Achas que devo levar este vestido ou o outro? – perguntava Adriana depois de revirar o armário inteiro à procura de uma peça de roupa para puder usar.

- quantas vezes é que experimentaste esse vestido? – perguntava Isabel

- é a segunda. Mas quis voltar a experimentar…não sei, não combina muito bem com estes sapatos.

- Esquece esse vestido! Leva o outro, já te disse que ficava melhor.

- hum…tens razão.

- enquanto acabas de te vestir eu vou fazer uma chamada…

- hum, não me digas…vais sair com o Marcos? – perguntou curiosa.

- por acaso vou! 

- As coisas estão a ficar sérias entre vocês os dois…

- não! Para já…somos amigos. Quer dizer, amigos coloridos mas não irá passar disso! 

- porque não?

- Dri…o Marco até pode ser lindo de morrer e tem o seu charme, sabe como conquistar uma rapariga mas sei que não passará disso. Se tivesse que me apaixonar por ele já tinha acontecido!

- Isso não é bem assim…podes sempre te apaixonar por ele!

- joder! Para quê? Eu vou embora daqui a cinco meses por isso não estou em alturas de paixões. Ao contrário da senhora… - insinuou – O Eduardo… - Isabel parecia ter visto a sua amiga a corar.

- O Eduardo…bem, ele é um querido! – Ela sentou-se perto da sua amiga.

- Tu gostas dele?

- Gosto…a valer. Acho que estou apaixonada por ele. Mesmo. E o pior é que nunca senti isto por nenhum rapaz…

- Eu só não quero que tu te magoes, já percebi que o Eduardo até é boa pessoa e ninguém é burro para não perceber que vocês os dois estão pelo beicinho mas temos de ser realistas amiga…daqui a cinco meses vamos embora e tenho medo que isso possa vos balançar. 

- Eu sei Bela…já pensei muito nisso mas desta vez quero arriscar. Estou segura disso e se der mal…no final fico com a sensação que todo o tempo junto dele valeu a pena. Prefiro arrepender-me do que fiz do que poderia ter feito e não foi!

- Vale… - Isabel esboçou um sorriso – vale amiga! Então desejo que dure e se não durar, já sabes onde hás-de chorar! – Adriana sorriu uma gargalhada.

- parva…mas obrigada. Eu sabia que ias compreender.

- claro que ia, és minha amiga! Desde que estejas feliz…é o que interessa.



~

- Mira, que guapa! – Isabel tinha acabado de chegar ao recinto da feira e depressa encontrou-se com Marco. Apesar de não existir uma relação entre ambos, iam saindo aos poucos e a atracção que nutriam também aumentava. Era difícil resistir aos encantos dele, Isabel sabia disso e dos riscos que acabava por correr mas naquele momento esse assunto era algo que queria afastar por completo. Precisava de aproveitar todos os momentos daquela festa.

- Exagerado… - desvalorizou. Ele fora-se aproximando dela, acabando por abraça-la pela cintura, aproximando o rosto de ambos.

- Antes estivesse…assim não sentiria esta vontade enorme de te beijar – Ela soltara um sorriso abafado.

- e o que te impede de o fazeres? – Ele sorriu e acabou mesmo por juntar os seus lábios aos dela. Beijara-a com suavidade mas depressa prolongaram aquele beijo dando lugar à vontade que sentiam daquilo. Tinha sido algo bom mas longe de sentir aquele formigueiro típico de um primeiro beijo. 

- agora sim…a noite está a ser boa! – Isabel não se coibiu de gargalhar para que, de seguida, o voltasse a beijar. Acabaram por dar uma volta pelo recinto e a noite parecia estar animada. Pararam junto a uma barraca onde disfrutaram de bebidas frescas e assim pernoitaram por um longo período. 

- Sempre gostei de jogar nisto… - Tinham parado junto a um camião repleto de prémios. Uma das grandes atracções das feiras e que toda a gente que ali passava se habilitava a ganhar prémios.

- verdade?

- sim…para além de ser atracção aqui, em Lisboa também o é. O meu pai sempre que jogava trazia-me um prémio…

- mas queres algum? - perguntou-lhe Marco.

- claro que sim! Apesar de o meu pai me oferecer eu jogava imenso com os meus primos e ganhava sempre algo! - relembrava Isabel enquanto mirava o enorme camião com os diversos prémios à disposição. Naquele instante tinha chegado Adriana que vinha a conversar com Eduardo juntamente com Ricardo, Renato e os colegas de turma. Isabel reparou que Javi também se juntara com eles e assim que os olhares deles se cruzaram, ele fez bem questão de a olhar de uma certa forma reprovadora. Reparou também nos olhares que ele lançava a Marco. 

- Isabel!! - Adriana juntou-se a ela. Marco acabou por se afastar um pouco cumprimentando um grupo de amigos seus que também tinham chegado - então como está a correr o passeio...com o jeitoso do marco? - ela riu-se 

- muito bem! estou a gostar de conhecer aquele seu lado...misterioso!

- misterioso e bem interessante!

- hei, dedica-te ali ao Eduardo que eu dedico-me ao Marco! - ela acabou por referir este comentário um pouco alto ao qual Javi o conseguira ouvir. acabou mesmo por ficar atento à conversa delas.
- é...vê lá se isso não dá mais do que amizade... 

- também...não tinha nada a perder! - acabaram as duas por se rirem perante aquela conversa 

- eu vou ali e já volto... 

- está bem - Isabel acabou por ficar sozinha mas por questão de segundos. Depressa sentira a presença de alguém junto de si

- andas com o Marco? - perguntou sem a olhar.

- o que tens a ver com isso?

- afasta-te dele - avisou-a depois de uns breves segundos de silêncio. 

- desculpa, desde quando é que decides o que eu faço? 

- já te disse...ele não é pessoa para se confiar.

- porquê, tu és? - ripostou levando Javi a sorrir ironicamente

- depois não digas que te avisei...princezinha... 

- coño! 

- passa-se alguma coisa? - Marco acabava de chegar e mostrava bem o quanto não estava a gostar de ver Javi perto de Isabel.

- não...não se passa nada!

- tens a certeza? - Marco lançava um olhar desdenhoso a Javi e este quase que escapulia faíscas do seu olhar. Era nítido toda a tensão existente entre ambos o que acabou por intrigar Isabel. Porquê tanto ódio entre eles?

- já disse que não!

- então? qual é o prémio que queres que ganhe? - perguntou Marco com um sorriso no seu rosto, ignorando assim a presença de Javi. 

- aquele! - Isabel apontou o dedo para a parte de cima da montra - quero aquele peluche grande! 

- o maior? 

- claro! não me digas que não consegues ganha-lo? - Marco olhava para lá e sabia que para o ganhar teria de acertar em cheio nas bolas todas o que era algo difícil. Mesmo assim não dera o braço a torcer. 

- por ti...eu consigo tudo!

- optimo! quero então aquele peluche, o maior!! - Isabel lançou um olhar trocista a Javi que assistia aquela cena toda. Marco deu-lhe um beijo nos lábios acabando por sair do pé dela, chegando-se para junto do balcão. o jogo consistia em deitar as bolas todas ao chão mas para isso tinha de fazer tudo de uma só vez, numa única oportunidade. Só assim conseguiria ganhar o maior prémio, o peluche que Isabel pedira. Começou por lançar a primeira seta mas só conseguira derrubar sete bolas, sendo que ao todo eram dez.

- parece que o teu namoradinho não te trará o peluche... - espicaçou Javi com um ar completamente de gozão. Isabel olhou-o de soslaio.

- deves ter muito a ver com isso...

- olha, sabes que nem qualquer um consegue derrubar as dez bolas de uma só vez! - ela riu-se 

- hum, hum...porque tu deves conseguir! - ironizou

- sou bem capaz disso... 

- dá-me gozo dá... 

- queres pagar para ver?

- só se fosse muito otária! 

- hum...só um bocado!

- que cabrão... - sussurrou

- olha que eu ouvi!

- ainda bem que ouviste!

- só é pena falares muito baixinho! 

- és mesmo estúpido! - resmungou - vê-se mesmo que ninguém te quer... 

- a ti também não!

- o quê?! - ela olhava-o incrédula

- sim, a ti também ninguém te quer! só mesmo aquele playboyzinho que...não sei se sabes...mas tem a fama de gostar bem de petiscar todos os iscos da cidade! - ele ria-se - ao qual tu caíste bem no seu anzol! - Isabel olhava-o incrédulo

- presunção e agua benta... 

- o que foi? não queres admitir? - Javi ria-se maliciosamente ao reparar na cara de zangada que Isabel apresentava.

- não tenho nada para admitir! não sou como certas pessoas...que a bipolaridade lhes afecta o cérebro todo.

- presumo que estejas a falar de ti mesma ou então do teu namorado. – Ela sentia-se a ferver. 

- então não eras tu que dizias ser capaz de ganhar o maior prémio? – Isabel quis mudar de assunto – quero ver onde és capaz disso! – Javi olhou-a atentamente.

- não deverias duvidar do que sou capaz – avisou-a olhando-a cuidadosamente – já te dei provas de que faço o que cumpro.

- Quero ver isso – insinuou mostrando todo o seu cinismo. Por breves instantes entreolharam-se mostrando toda a tensão que aquele momento mostrava, contrastando totalmente com a noite de Natal, onde tinham passado um momento agradável e calmo. Se ele seria capaz de ganhar o maior prémio? Não sabia mas nunca mostraria a sua parte mais fraca nem tão pouco recusaria um desafio, não para Isabel. Nem tão pouco deixaria escapar a oportunidade de puder ganhar um duelo com Marco, portanto, tudo ali o aliciava com tamanha adrenalina para se juntar, de imediato, ao camião. Já Isabel olhava-o com a sua determinação e depressa sentiu as suas pernas a fraquejar. A sua garganta secou e depressa desejou que aquele momento acabasse, arrependendo-se de imediato de o ter desafiado. 

Assim que chegara junto do camião, arregaçou as mangas do seu casaco. Marco olhou-o de soslaio.

- que haces aqui? – perguntou secamente. Para Javi, ouvi-lo provocava em si náuseas e ninguém conseguia imaginar a força que tinha de fazer para se controlar.

- vim dar-te uma ajudinha – ripostou. Olhando para a caixa de onde se encontravam as setas, pegou numa e depressa a atirou contra a parede. Tinha acertado. – Falta-te pontaria. – Marco deixou escapar um sorriso malicioso. Pegara numa seta e, com toda a sua força, atira-a acertando ao lado. A parede do caimão abanara com tamanha força, deixando o empregado de olhos arregalados. Javi não se deixara ficar e, os minutos seguintes, foram passados numa disputa renhida para ver quem ganhara o grande prémio. Tanto Isabel como os restantes que ali estavam, notaram a tensão e rivalidade que ali existia. Chegara ao fim da rodada e nenhum estava disposto a ceder.

- A ronda acabou… - anunciou o empregado nervosamente. Olhara para a parede dos jogos e via-a quase destruída com a força com que eles lançavam as setas. Nenhum deles o ouvira e Javi, olhando em seu redor, percebeu que não existia mais nenhuma caixa de setas – se quiserem podem ficar com o prémio mais pequeno, recebem aqueles peluches mais pequenos.

- Joder! – exaltou-se Marco – quero mais uma caixa de setas! – gritou

- não há mais… - gaguejou o empregado – vocês destruíram-me a parede toda! Têm sorte de não vos obrigar a pagar os estragos!

- puta mierda! – exaltado, Marco empurra, violentamente, as caixas que ali estavam assustando o empregado. Isabel, vendo os ânimos exaltados, chega perto deles.

- Hei! Chega…esquece o peluche. Vamos embora!

- Nem pensar! Eu…

- Já disse, vamos embora! – interrompeu-lhe – vamos – Isabel pegara-lhe na mão tentando-o tirar dali mas Marco não tirava os olhos de Javi, que ainda permanecia junto deles.

- sabes…é muito feio quando não se cumpre uma promessa… - desdenhou Javi, vendo Isabel e Marco a abandonarem o local. Ambos olharam-no – que falta de apreço com a tua namorada, Marco.

- o que é que tu queres? – Marco lançou-se à frente sendo depressa barrado por Isabel.

- Fazer aquilo que tu não foste capaz de fazer – Ele olhou para Isabel, deixando escapar um sorriso malicioso – tenho por norma cumprir as minhas promessas, por isso… - Javi, virando-se para o balcão, lança-se sobre ele, saltando para cima. Depressa uns burburinhos se ouviram.

- sai dai! Eu vou chamar a policia!!! – gritou o empregado.

- Sai daí Javi! – Atónica, Isabel olhava-o sem saber quais as suas intenções e apenas conseguia ter noção de que o seu coração disparava fortemente. Já Javi, subira um pequeno degrau de forma a conseguir alcançar os peluches que estavam pendurados no tecto do camião.

- Eres loco, sai daí Javi! Vais cair!

- Qual é o que queres? – Gritava Javi, esforçando-se para se equilibrar.

- nenhum!! Saí daí! – gritava Isabel sentindo o pânico a apoderar-se de si.

- diz-me! 

- não!

- Puta madre, diz-me qual é o que queres!! – gritava, tornando-se nítido as suas veias salientes.

- não!! Tu és louco, sai daí!

- Joder, ou dizes-me qual o que…

- vale, vale!! – gritava – quero o da direita! – cedera. Javi assim fizera e tirara o peluche que estava ao seu lado. Tendo—o na sua mão, salta do degrau para que, de seguida, saltasse do balção fora. Era bem visível a sua respiração ofegante juntamente com a sua testa onde o seu suor escorregava. Ainda atarantada com aquele momento, Isabel via-o a entregar-lhe o peluche.

- toma, é teu… - Com a respiração totalmente descontrolada e rouca, Javi desaparecera dali, por entre a multidão, deixando Isabel com o peluche na mão ainda com os seus pensamentos completamente parados, totalmente descontrolados.

- deita-me isso fora!! – gritava descontroladamente Marco. Por momentos, Isabel focou a sua atenção nele ao senti-lo a tentar tirar-lhe o peluche.

- não! 

- não, o quê? Vais deitar isso fora e nem penses em aceitar alguma coisa daquele palhaço! 

- que eu saiba ainda decido as minhas decisões, por isso o peluche fica comigo! – gritou-lhe.

- Vamos embora, o circo já pegou muito por hoje… - Isabel ainda ouvira Marco a disparatar mas por momentos desligara-se disso. Sentia demasiado a sua cabeça à roda e ao olhar para aquele peluche na sua mão fazia relembrar do que tinha acontecido em momentos instantes. Nada parecia real e não fazia sentido nenhum…Tinha todos os motivos para estar irritada com Javi, sentindo que era errado ter roubado o peluche daquela forma mas, em vez disso, estava um sentimento de incredulidade perante ele. Será que Adriana estava certa e Javi havia-lhe trocado as voltas? Não…seria impossível aceitar isso, detestava-o e só queria distância dele. Porém, em vez disso, parecia que o destino só se encarregava de os juntar. Quando mais remava mais a maré a obrigava a voltar à praia, sendo que, uma coisa estava garantida…Isabel ainda sem saber iria remar diversas vezes contra a maré, até que, um dia a única solução será deixar-se levar. 

***

Mil perdões!!!! a todas vocês, peço imensa desculpa por estar tanto tempo sem postar! Eu nem consigo arranjar uma desculpa plausível que justifique tanto tempo ausente mas finalmente consegui acabar este capitulo e espero que a espera tenha valido a pena! 
Tentarei não vos voltar a desiludir...e quero agradecer às leitoras resistentes, sem vocês não sou nada!
beijos a todas!
Bons Santos populares, boa sorte para os exames e para quem trabalha, um bom trabalho!

Diana Ferreira









4 comentários:

  1. Olá

    Adorei ! Adorei ! Adorei ! *_*


    Beijinhos


    Catarina

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  2. Olá!
    Ai ai ai tantas emoções!
    Este capitulo tem três grandes momentos.
    Primeiro, a conversa da Bela com os avós (opá Javi e Maria deixa-me toda jahdjhsbfhgsfhgvsz). Reconciliação com direito a viagem no passado. É mais do que óbvio que a Isabel ainda se vai magoar muito nesta procura pela verdade, mas até a consigo compreender. Deve ser horrível nao saber qual é a nossa verdadeira origem, e no caso dela saber o porquê de a mãe a ter abandonado e do pai nao existir: falta de condições, falta de amor, sabe-se lá (eu sei mas pronto xD). A vida dela é um mar de perguntas para o qual ela nao tem respostas.
    Depois, o segundo momento, foi o confronto com a ressabiada de serviço. Mas desta vez a Isabel cilindrou-a por completo. Eu podia sentir a Marisol ferver no seu próprio veneno. Nao dá para acreditar que ela seja tão má e invejosa, principalmente sabendo que tem o sangue do casal mais bonito deste mundo das fics!
    E depois a feira... Talvez por saber o que vai acontecer, eu nao gosto nada do Marcos. Ele parece-me sempre cinico, perigoso e um enorme player. Parece que está sempre na conquista da Isabel, aquela conquista meia rasca dos "papa-todas". O que o safa é ser um pedaço de mau caminho quando visto do exterior.
    E quanto ao Javi? Javi being Javi... Ele nao se deixa abater, ainda para mais com o Marcos presente e com a troca de provocações habitual com a Isabel. Mas ele tambem foi bem cabrón quando a Bela foi falar com ele. Mesmo bipolar!
    E pronto, agora isto é sempre a aquecer, certo? Espero mais *o*

    Besazo
    Ana Santos

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  3. Este capítulo está tão bom! Nossa, valeu bem a espera, sem dúvida!
    A ressabiada da Marisol e o Marcos estão bem um para o outro, que veneno esses dois! -.-
    Espero ansiosa pelo próximo, como esperei por este. Obrigada!! :D

    Nids

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  4. Oh meu Deus! As saudades que eu tinha destes dois!!!
    Bem... nem sei como é que a Isabel deixou que o Marcos lhe falasse assim! E o Javi foi tão fofo! Pronto, eu sei que é feio roubar e não se faz, mas foi fofo a maneira que ele arranjou de provar que não falha as suas promessas. Opá! Quem está apanhadinha por ele sou eu! hehehehe Mas o Javi também tem cá um feitio que valha-nos Deus! Umas vezes é um fofo e outras parece um bloco de gelo ambulante carrancudo e amuado! Também não é fácil! Mas é mesmo fofo! (Nem sei quantas vezes disse fofo, mas não interessa!xD)
    Continua! Estou desejosa de ler o próximo. Tinha mesmo saudades de ler uma história tua.
    Beijinhos

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