segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Capitulo 10



Isabel zarpou num ápice até ao interior da casa. Assim que lá chegou apercebeu-se que estavam os seus tios a conversarem entre si na sala de estar, andou mais um bocado e cruzou-se com o seu avô que chegava da cozinha.

- o que ele está a fazer aqui? – ripostou sem nem dar hipóteses de cumprimentar o seu avô.

- buenas tardes Isabel! – reprimiu Javi ao se aperceber da falta de maneiras da sua neta 

- buenas tardes abuelo… - ela mostrara a impaciência e a ânsia de querer ter uma resposta – o que ele está aqui a fazer? – naquele momento já Javi se encontrava no interior da casa.

- o Javi é nosso convidado!

- porquê?! – o seu avô acabou por a ignorar cumprimentando Javi que estava ali mesmo. Entretanto Maria também chegara à sala cumprimentando-o. Foram todos para a sala de jantar pois o comer estava pronto a ser servido. Isabel sentia-se ignorada e completamente fora de si. Ela ficou a mirar toda a gente dali e ela parecia ser a única pessoa que tinha uma relação bem diferente no que tocava ao Javi. Todos se davam bem com ele parecendo que era um bom frequentador daquela casa, sem falar na Marisol que se pudesse agarrava-se no seu pescoço sem lhe dar a mínima hipótese de fugir. Só ela…só ela é que não sentia o mesmo, só ela se sentia completamente à parte no meio daquilo tudo. Acabou por sair dali e foi para o único sitio daquela casa que se sentia em paz. Sentou-se num dos bancos e ficou a pensar no que acabara de ver naquela sala. Ela não gostava dele mas tinha motivos para isso…Javi nunca se esforçou para mostrar a Isabel que era uma pessoa diferente, talvez porque não fosse. Talvez só ela sabia da sua verdadeira faceta, só com ela é que Javi era mau mostrando o seu mau caracter. Será que ele estava a enganar toda a sua família? 

Ela não queria estar ali…preferia jantar sozinha ou até passar fome do que estar no mesmo sitio que ele. Isabel não gostava de Javi e nem iria gostar. Logico que estar a respirar o mesmo ar que ele se tornava algo insustentável.

- o que fazes aqui? – uma voz totalmente familiar soou-lhe ali mesmo, afastando todos os seus pensamentos. Isabel acabou por não responder e Maria sentou-se do seu lado – o que se passa?

- o que se passa? – ripostou Isabel olhando a sua avó – quer mesmo saber o que se passa? Olhe e que tal começar por ter um delinquente a jantar com a minha família? – ela ouviu a sua avó a respirar fundo.

- Isabel… - advertiu-a – acho que estás a passar dos limites, não achas?

- eu?

- sim…

- oh…avó nem venha! Eu tenho as minhas razoes para não gostar dele e ninguém me vai obrigar a sentir o contrario! Ou será que lá por vocês todos não verem o credível, que também tenho de aceitar o que não quero?!

- e o que é para ti o credível?

- ele não é boa pessoa! Ponto…não é e não é.

- ouve uma coisa querida…nós conhecemo-lo desde miúdo, sabemos bem como ele é e enquanto tu só estás aqui a algumas semanas… tudo bem que ele possa não ter as melhores atitudes mas sabemos que ele é boa pessoa sim! Tu estás enganada!

- oh…claro que sim! Eu estou sempre engana, impressionante.

- deverias estar grata a ele por te ter salvo! – inquiriu Maria com uma certa rispidez na sua voz – temos sim muito a dar-lhe graças e pensei que isso te fizesse mudar de ideias! E se tu não és capaz de ser suficientemente autónoma para perceber isso, fazemos nós, e por tal, marcamos este jantar! Agora…mostra um bocadinho de respeito e volta para dentro de casa – Isabel notou um pouco de autoridade na voz da sua avó, coisa que poucas vezes pressentiu nela. Olhou-a com uma certa magoa, levantou-se saindo dali sem dar uma única palavra. Assim que chegou à sala já toda a gente estava sentada e percebeu que estavam à sua espera. Acabou por se sentar no seu habitual lugar sem dirigir uma única palavra e nem um único olhar.



***



- ah…és tu – Marisol mostrou a sua irrelevância ao se deparar com Isabel, sentada nas escadas que davam acesso ao jardim da casa.

- pensavas que fosse quem? – respondeu também com desdém 

- hum…pensava que estivesse aqui o javi! – notava-se bem a maneira como Marisol fazia questão de referir o nome dele. Quase como se mostrasse que fosse uma presa a mostrar as garras perante a sua cria.

- como vês ele aqui não está!

- logico que não estaria… - sussurrou mas não o suficientemente baixo para que Isabel pudesse não ouvir.

- o que disseste?

- que vou à procura dele! – mentiu. Isabel deitou um olhar à sua prima e o que mais via na sua frente era uma rapariga desesperada.

- vai…vai lá…fazes tu muito bem!

- queres dizer alguma coisa com isso? – perguntou ao se aperceber da ironia de Isabel

- apenas o que tu ouviste.

- por momentos pensei que estivesses com uma certa…inveja! – ela olhou-a.

- inveja? 

- sim. Olha Isabel tu a mim não me enganas com essa tua faceta de durona…queres enganar a quem? Podes admitir que andas interessada no javi! – Isabel sentia-se incrédula

- podes continuar…juro que estou a gostar imenso da tua teoria!

- mas aviso-te que é melhor desistires porque o Javi não é homem para ti! 

- ah…claro. Esqueci-me que tu és a ex-namorada dele que ainda não recuperou com o facto de ele ter terminado contigo…mas olha, queres um conselho? Deixa de parecer tao desesperada, dás muito nas vistas. Mas ainda não deves ter reparado que ele tenta sempre descartar-te mas tu estás tao preocupada em que ele repare na tua roupa nova, no teu perfume ou na cor do teu cabelo que não reparas no essencial. 

- dispenso os teus conselhos, sempre os dispensei. 

- eu não te desejo mal nenhum, muito pelo contrario! Eu até rezo para que tu voltes para ele, afinal sois duas almas tao perdidas que não faz mal nenhum à humanidade que se juntem! E não…de longe são ciúmes vossos! Por mi podrían los dos ir a la mierda! – Marisol ria-se.

- eu posso ser desesperada mas tu não passas de uma frustrada que tenta-se integrar nesta família, que tenta ser uma de nós mas que jamais o será! – Isabel sentiu-se a ferver – o que vale é que tu vais-te embora daqui a uns meses e já não terei de olhar para a tua carinha de sonsa que se acha a heroína da família! Oh…espera…mas tu não és no fundo desta família! Talvez porque…seja adoptada! – aquelas palavras atingiram-na que nem flechas e não foram precisos mais do que meros segundo para que Marisol fosse esfregada com uma grande bofetada no seu rosto. Ela soltou um grito mas isso só fez aumentar a imensa raiva que Isabel sentia. Aquele estalo já há imenso tempo que estava para sair…ela merecia até rastejar pelo chao. Isabel aproveitou uma distracção de Marisol para lhe dar outro estalo.

- estás loca???!!! – Isabel pegou-lhe pelos cabelos e só não fez mais porque sentiu alguém a puxa-la com força.

- larga-me!!! – gritou tentando-se sacudir dos braços de Javi que a amarrava com força.

- tira-a daqui! Ela está louca! Ela bateu-me! – Marisol gritava

- parem as duas! – tentava Javi manter a ordem perante a tentativa louca de Isabel se desprender dos seus braços.

- larga-me!!! – Javi acabou por larga-la virando-a para si

- pára!!

- sai daqui!! – Isabel acabou por empurra-lo com força – sai daqui tu também!! – naquele instante apareceu mais gente ali perante os gritos delas. Tanto os seus tios como avós e primos, estavam todos ali assustados pelo que viam. Marisol aproveitou para mostrar o seu ar de vitima.

- o que se passa aqui?!

- foi ela! Ela bateu-me pai! Olha só para a minha cara marcada!!

- ela mereceu! – ripostou Isabel

- Isabel! - Advertiu o seu tio – tu bateste-lhe?

- pergunte-lhe o que ela me disse para lhe bater, pergunte à sua filha!!

- eu não fiz nada! Ela é…ela descontrolou-se…disse-me coisas horríveis…ela…ela até me mandou à merda e tudo! 

- mentirosa! – gritou Isabel que se preparava para lhe saltar em cima novamente ou não fosse Javi amarra-la novamente – eu não disse nada disso! – defendeu-se desesperada ao sentir todos os olhares presos nela. Isabel percebeu que ninguém ali estava a acreditar nela.

- Isabel tu estás a ficar irreconhecível! Desde que aqui chegaste que tens tido comportamentos incorrectos! – ela olhava-o incrédula. Olhou também para os seus avós e nenhum deles estava disposto a defende-la. Porquê? Ela estava a sentir-se tao magoada… soltou-se finalmente dos braços dele saindo dali disparada. Correu para o seu quarto, pegou na sua mala e voltou a sair dali. Estava já a descer as escadas quando a voz forte do seu avô fez imperar ali.

- onde vais Isabel? – ela olhou-o. Javi entendeu a magoa que a sua neta tinha no seu olhar.

- para bem longe daqui! – dito isto correu disparada dali para fora. Assim que desceu as escadas, foi sucumbida pelas lagrimas. Sentia-se magoada. Muito magoada…era suposto alguém a defender mas ninguém o fez. Ninguém…nem tao pouco as duas pessoas que ela mais amava? Sentia-se mesmo perdia e desconsolada. Sentia-se mesmo à parte naquela família, quase como se tivesse certezas que não pertencia de todo ali. 

- Hei… - ela sentiu uma mão a puxa-la travando-lhe o movimento brusco

- larga-me! – ela voltou a gritar. Assim que se apercebeu que era Javi, não se coibiu de o olhar de uma forma que deixou Javi sem saber como reagir. Pela primeira vez a vira a chorar, indefesa, perdida… - a culpa é tua! – culpou-o. Javi percebera que ela o iria culpar, que iria discutir e novamente atirar-lhe à cara tudo o que ela queria e bem entendia. Mas surpreendera-se ao ouvir o que não esperava de todo – é tua porque não deverias ter-me salvo! Deverias ter-me deixado lá, a morrer! Era o que deveria acontecer, era eu desaparecer de vez daqui!! – gritou-lhe já totalmente dominada pelas lagrimas que não paravam de escorrer pelo seu rosto. Ele não sabia o que fazer nem dizer. Não esperava aquilo…nem de longe. Meia volta, Isabel desaparece dali, entrando no seu carro. Sem pensar em mais nada, Javi sobe para a sua mota e sem que ela se aperceba, segue-a. 



***



-o que se passa Bela?! – perguntou Adriana ao abrir a porta à sua amiga e vê-la com os olhos vermelhos mostrando um ar cansado, de quem esteve a chorar.

- posso passar a noite aqui? – perguntou com a voz tremula

- claro, nem se pergunta! Entra! – Isabel acabou por entrar na casa dos seus amigos e tanto os rapazes se apressaram a rodeá-la.

- o que te aconteceu?

- discuti lá em casa…mas não quero falar sobre isso. Não se importam?

- claro que não! Mas…estás bem?

- eu vou ficar bem – argumentou – não se importam que durma aqui esta noite?

- hei, isso nem se pergunta! Esta casa também é tua miúda… - respondeu Ricardo.

- obrigada… - Isabel esteve mais algum tempo com os seus amigos mas depois foi-se deitar. Doía-lhe a cabeça e precisava mesmo de tentar dormir apesar de saber que era algo difícil. 


***

- eu não acredito… - Adriana sentia-se incrédula com o que ouvia de Isabel, perante a noite passada – ela é mesmo uma parva!

- juro que me apetecia arrancar-lhe aquele cabelo à chapada! Que odio…

- ela é que é uma frustrada! Qual é a dela? Tu não tens culpa de seres adoptada, ela é que tem ciúmes porque os teus avós sempre deram mais atenção a ti do que a ela!

- não é só isso… - constatou Isabel num suspiro pesado – ontem foi a gota de agua, sabes? Quando eu não vi ninguém da minha família a tentar saber as razoes de eu lhe bater…de os ver a censurarem-me com o olhar…esquece, foi demais para mim! Senti-me mesmo à parte, como se não pertencesse ali!

- hei, isso é o que ela quer! Que te sintas assim! 

- estou farta disto tudo…só me apetece fazer as malas e voltar para Portugal. Acho que nem deveria ter saído de lá!

- estás parva? Hei, não podes abdicar dos teus objectivos por causa disso. Tu não vais nada embora… não vais! Mas…vais voltar para a quinta?

- não…para lá não volto mais! Só mesmo para buscar as minhas coisas e sair de lá o quanto antes!

- tens certezas disso?

- tenho! Não quero ficar lá… - respondeu calmamente – Adriana, vocês não se importam que fique na vossa casa?

- claro que não! Jamais te deixaríamos sozinha… - ela acabou por abraçar fortemente a sua amiga – és muito bem-vinda à nossa casa! Vai ser um prazer ter-te por lá!



***



Eram quase cinco horas quando chegou à quinta. Sabia que aquela hora poucas pessoas estariam em casa e era o que queria. Provavelmente a sua avó estaria no roseiral como todos os dias e o seu avô ou a fazer-lhe companhia ou então era provável que não estivesse lá. Estacionou o carro nas traseiras da casa, abriu o portão entrando pela porta principal. A casa estava vazia. Subiu até ao seu quarto, pegou na mala e começou a guardar todas as suas coisas. A decisão de sair dali, no fundo acabava por magoa-la. Pensou que ali poderia ser feliz mas não estava a ser. Alias, desde que chegara a Múrcia que ser feliz foi coisa que nunca foi. Já estava prestes a guardar tudo quando a porta abriu-se. 

- finalmente que chegaste! Porque saíste de casa daquela maneira? Ficamos preocupados contigo querida! – ela pôde notar o desespero na voz da sua avó – o que estás a fazer? – perguntou ao deparar-se com ela a fazer as malas.

- A ir-me embora… - Isabel não se queria alongar muito.

- o quê? Não…nem pensar! Que ideia é essa Isabel?!

- ideia de quem está farta disto tudo! – gritou – estou farta de estar aqui, farta de ser uma incompreendida, farta mesmo!

- pára com isso…vamos conversar melhor!

- não quero conversar avó! eu só não pego nestas malas e vou para Portugal porque tenho os meus estudos porque se não, era logo o que faria! E não adianta, vou sair desta casa e ninguém me vai impedir!

- não faças isso por favor! – Maria sacudiu quase em misericórdia a implorar para que ela não fizesse aquilo – eu não quero que saias daqui meu anjo, não nos faças isso! – Isabel não quis alongar muito mais. Assim que fechou a ultima mala, pegou nelas saindo dali sempre seguida pela sua avó – Isabel…pensa bem! Não é motivo para estares a sair de casa!

- eu não me sinto bem-vinda aqui! Eu não estou a ser feliz, sabe? Não estou! – admitiu com a sua voz tremula.

- tu és e serás sempre bem-vinda nesta casa! Recebi-te aqui com todo o meu amor e tu és como se fosses do meu sangue!

- pois mas não sou! – Isabel percebera que estava a magoar a sua avó e que por pouco não se desfazia num farrapo. Acabou por abraça-la dando-lhe um beijo – eu amo-a muito mas neste momento eu não consigo ficar aqui – dito isto, voltou a pegar nas malas saindo de vez daquela casa. Tinha começado a chover. Isabel perdera-se nos seus pensamentos e foi o caminho todo a chorar. Ela sentia-se perdida…sem identidade, sem nada. No fundo, sempre teve medo de se sentir assim. porquê? Porque teve de ser abandonada naquela porta do hospital? Não gostavam dela, era isso? Era assim um grande fardo para que os seus verdadeiros pais a deixassem num hospital? No fundo…todas aquelas perguntas deixavam-na ainda mais ressentida. Isabel não sabia o que fazer…será que valeria a pena ficar em Murcia? Será que nestes meses algo de bom lhe poderia acontecer para puder ter saudades daquela terra?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Capitulo 9



Javi não estava a fazer questão de soltar o braço de Isabel. Olhava-a calmamente mas acima de tudo parecia que esperava algo vindo dela. Quase como uma resposta, algo que faltasse encaixar naquele momento. Não sabiam dizer quanto tempo se perderam a olhar um para o outro mas Javi teve ali uma certeza do tipo de pessoa que ela era. Feroz, mandona, resmungona, teimosa…tinha um feitio bem complicado e picuinhas mas algo lhe dizia que não passava de uma fachada sua. Ele percebera isso desde aquele incêndio quando a viu frágil, a pedir-lhe quase misericórdia para a salvar. Viu isso quando ela se abraçou a ele quase esmagando-o, assim que se apercebeu que estava a salvo. Podia-se dizer que naquele momento tudo se havia esquecido nomeadamente os atritos que os abrangia. Mas porque ela era assim? porque fazia questão de mostrar um lado seu que não lhe era de todo compatível? Não que Javi estivesse interessado em conhecer esse seu lado, de todo ele queria isso. Aliás, dela nada queria conhecer. 

- o que queres? – respondeu calmamente

- quero saber como estás.

- para quê?

- não sei, talvez porque estiveste fechada num armazém que estava a arder… - de facto Isabel nem se lembrara desse facto e nem tão pouco que ele pudesse querer saber como ela se sentia devido ao incêndio. 

- ah isso…estou bem! – ela preparava-se novamente para se soltar quando Javi a amarrou novamente – o que queres? – perguntou já aborrecida por ele a estar a empatar ali.

- não achas que está a faltar alguma coisa? – ela não pôde de deixar de reparar na pequena presunção que aquela pergunta acarretava. Acabou por respirar fundo e acabou mesmo por lhe lançar um sorriso amarelo.

- não, não me estou a esquecer de nada! E se me dás licença, larga-me que tenho de ir para as aulas – Javi olhava-a um tão pouco incrédulo pela lata que Isabel conseguia em ter. acabou mesmo por largar-lhe o braço e quando Isabel já estava a andar num passo apreçado decidiu gritar-lhe.

- de nada! – ela parou olhando-o – não precisas de te dar ao trabalho de me agradecer, aliás fiz de coração!

- perdon?

- e eu a pensar que era lo siento que se dizia nesta terra.. .– Javi fez questão de referir as palavras, tal e qual como Isabel lhe dissera, no dia em que pela primeira vez se conheceram. Naquele preciso corredor, atrasados para as aulas, quando Javi se esbarra contra ela. Quando Isabel o empurrou. Assim que falou, ela lembrara-se desse momento e que Javi dissera aquilo de uma forma propositada.

- afinal…o que queres? – ela voltou a aproximar-se dele.

- não sei, eu apenas gostava de ver um pouco de gratidão da tua parte porque afinal eu salvei-te do incêndio!

- ah, isso – falou com irrelevância – estás a falar do teu acto de heroísmo? Aquele que te está a dar a fama de bonzinho? Aquela tua acção que toda a escola fala? É isso que estás a falar?

- se tu gostas de pôr as coisas nesses termos, sim…é disso mesmo que estou a falar…princesinha – ripostou com arrogância 

- queres que te agradeça é isso? Temos pena, da minha boca não vais ouvir um gracias nem arrancado a ferros…besta!

- engraçado, agora sou a besta não sou? Mas há dois dias atrás eu era a única pessoa que existia para te tirar daquele sitio! Ah pois, se não fosse aqui a besta…a princesinha não estava aqui!

- não é por teres feito aquilo que passas de besta a bestial! Para mim continuas a ser o mesmo coño que conhecia há momentos atrás! – Javi olhava-a completamente enraivecido. Olhava-a com desdém. Percebeu que ela afinal não andava a esconder nada…que por detrás daquela armadura toda conseguia haver uma Isabel diferente. Javi entendeu bem que ela era mesmo detestável. Que dali nada de bom tinha. 

- olha…da próxima vez que estiveres em apuros princesinha... – ele puxa-a para junto de si olhando-a de uma forma intensa – o coño vai te deixar ficar ali, prestes a seres devorada pelas chamas! Possa ser também que aproveite e te mande um andate à lá mierda e siga sempre. Porque a conclusão que tiro neste momento é que não vales mesmo nada o meu esforço, que o que deveria ter mesmo feito era deixar que ficasses enfiada naquele armazém e quem sabe, fosses encontrada já sem vida! – aquelas palavras estavam a magoa-la…demasiado – porque se não fosse eu tu não estavas viva! Mas é melhor meteres o teu agradecimento num sitio que cá sei porque para mim, eu estou-me nas tintas. Podes até estar a rastejar que se for preciso até te passo por cima! És uma ingrata, uma perda de tempo! – dito isto larga-a com uma certa brusquidão. Javi dá meia volta deixando-a ali, sozinha, a assimilar o que acabara de ouvir. Isabel tinha ficado sem reacção e pela primeira vez parou para pensar no que andava a fazer. Sim, se não fosse ele, não estaria viva. Sim, ela tinha que lhe agradecer. Mas não o fez mas não conseguia admitir nem aceitar que ele, o rapaz que mais detestava, tinha sido ele a dar-lhe a graça de puder estar viva, de puder respirar. Sentia-se tonta, sem saber o que fazer. Acabou mesmo per despertar e sair a correr para a sala de aula. Estava atrasada e a aula já há algum tempo tinha começado. Assim que entrou na sala, todos os olhares centraram em si. Não pelo facto do seu atraso mas já se tornara um hábito que toda a gente a olhava de uma forma diferente. Acabou por se sentar numa cadeira diferente do habitual preferindo as ultimas carteiras. Tirou os cadernos mas ao invés de se centrar no que a professora dizia, preferiu que os seus braços ficassem apoiados na carteira e que levasse as suas mãos à cabeça. Adriana que a olhava com uma certa preocupação, vira-se para trás.

- Hei, Bela…estás bem? - Isabel acabou mesmo por esfregar a cara, olhando-a. Poderia dizer que «não, estou péssima», «sinto-me a ferver», ou até mesmo «aquele cabrão deixou-me desarreada» mas preferiu não dizer nada disso. 

- sim…estou bem.

- não…tu não estás bem. 

- sinto-me cansada, não dormi bem.. – voltou a mentir. «Não, eu sinto-me péssima», «estou cansada que me digam que tenho de estar em gratidão com ele», « preferia mesmo que ficasse naquele armazém ao invés de passar por isto»

- tudo bem…mas se quiseres falar sabes que estou aqui! – sussurrou-lhe. Isabel apenas sorriu para de seguida, abrir o livro numa página qualquer e tentar se abstrair de tudo aquilo. 



***

Particularmente, o dia de hoje estava de um autêntico dia de primavera. O sol raiava, a temperatura estava amena e nem por já se fazer tarde aquele ambiente deixava de ter a sua própria beleza. Maria acabou mesmo por se sentar no seu habitual banco. Ainda se lembrava de quando era jovem e perdia bons tempos a lanchar ou sozinha, com os seus amigos ou mesmo na companhia de Javi. Lembrou-se de como os gelados eram óptimos e dos seus desejos quando estava gravida, do quanto obrigava Javi a percorrer metade da cidade só para irem ali. Saciar a sua fome, os seus desejos de futura mãe. Relembrava esses mesmos momentos enquanto rodava a sua aliança dourada que perdurava há anos naquele dedo…sorriu. Em tempos foi feliz e mesmo agora o é mas acabava por ser diferente. A felicidade tombara para significados diferentes. Quando era jovem, Maria era feliz porque tinha alguém que a fazia ser. Tinha o seu marido, passou a ter os filhos e depois disso vieram os netos. Agora, sentia que estava na hora de inverter a situação. Estava na hora de ser ela a fazer o bem por todos eles…de ser ela a fazê-los felizes.

- buenas tardes… - Maria quedou o seu olhar sobre aquela figura que se instalava na sua frente. 

- buenas tardes! Senta-te… - ela fez questão de lhe dar a segurança para ele se sentar na sua frente – desde já que agradeço por teres disponibilizado um pouco do teu tempo para vires até aqui…

- eu faço com todo o gosto de aceitar um pedido seu… - ele sorriu-lhe.

- ainda bem…eu também gosto de falar sempre contigo!

- mas…porque me chamou até aqui? – Javi sentia-se um pouco receoso. Ter um pedido de Maria para falar consigo era algo…imprevisível. 

- eu precisava de falar um pouco contigo, aliás já estava para fazer ontem mas entretanto não consegui sair de casa…eu também prometo não tomar muito do teu tempo!

- oh que é isso, eu tenho muito prazer em puder partilhar o meu tempo consigo doña Maria…você sabe que gosto muito de si! – Maria acabou por sorrir. Era verdade que eles já se conheciam há bastante tempo, tanto que Maria praticamente que o vira crescer. São famílias que se conhecem. Apesar de Javi se ter afastado de todos há alguns anos para trás, ainda conseguia nutrir bastante respeito por ela tanto que era das poucas pessoas que nunca lhe apontou o dedo, nunca o questionou, nunca o criticou a acusou de qualquer coisa. Gostava imenso dela e sempre a tratava com imenso carinho.

- então Javi…eu chamei-te porque queria falar contigo sobre o incêndio lá na associação. Não posso deixar de agradecer por tudo o que fizestes pela minha neta! – ele retraiu-se – eu sei que vocês não se dão muito bem mas tenho de enaltecer o que fizeste.

- não precisa de agradecer Doña Maria…o que fiz foi o que qualquer pessoa fazia no meu lugar! – tentou desvalorizar

- não…nada disso. Eu soube que estava ali mais gente, soube que foste tu que deste pela falta dela…não digas que qualquer um fazia o mesmo porque não fariam. Se não fosses tu a Isabel tinha ficado esquecida por lá…e nem quero pensar na possibilidade de lhe ter acontecido algo grave. Dios, ela é a minha vida… - Maria suspirou mostrando o desespero de uma avó que poderia ter a sua neta com a vida em risco – gracias, de verdade! Agradeço-te de coração! – Javi olhava-a e conseguia ver a veracidade das suas palavras. Porque Isabel não era assim? tão mais simpática e que sabia valorizar as coisas? Porque tinha de ser tão picuinhas e detestável?

- eu sei – Javi sorriu – eu consigo imaginar a sua preocupação porque afinal a Isabel é sua neta…qual é a avô que não se preocupa? Mas…só é pena que ela não seja como você…bem mais simpática e agradecida.

- por isso mesmo é que estou aqui! Eu conheço-a…aquela rapariga consegue mesmo ser teimosa e difícil sabes? Já previa que ela não fosse propriamente admitir isso. E desde já que peço desculpas por isso!

- no, no…você não tem de pedir desculpas por nada e nem tão pouco fazer algo por ela. Mas também…não interessa. Fico com a consciência tranquila que nada de mal aconteceu, é o que vale!

- yo sé e tens razão…só tenho pena que ela não consiga ver o quão bom rapaz tu és e prova disso foi teres te preocupado com ela naquele incêndio mesmo vocês se dando um pouco mal.

- mas eu não me preocupo com ela – Javi abanava a cabeça atirando com essa possibilidade para o lado. Jamais ele se preocuparia com ela, jamais…

- aí é que te enganas. Eu sei…no fundo tu te preocupas. Mas a Isabel é uma boa rapariga, ela tem tão boas qualidades, é no fundo um coração mole. Só que…ela há uns tempos para cá que anda num grande conflito consigo mesmo, nem eu sei explicar o que se anda a passar com ela. Garanto-te…ela não é má pessoa!

- mesmo que ela seja uma boa rapariga, ao qual eu não posso refutar isso…não estou a ver, num futuro longínquo a manter uma saudável conversa com ela! – Maria não deixou de sorrir perante aquele comentário.

- posso pelo menos fazer-te um ultimo pedido? Aliás foi o maior motivo que me fez pedir-te para vires até cá.

- o quê?

- porque não vens jantar a nossa casa? Tanto eu como o Javier tínhamos imenso prazer em ter-te na nossa casa para um jantar…tu conheces bem a casa, não és propriamente um estranho e além do mais já temos saudades de te ter por lá!

- jantar…na sua casa? – ele olhava-a admirado – agradeço o convite mas terei de recusar. 

- porquê?

- porque…não me leve a mal mas eu não pretendo me cruzar com a sua neta tão cedo! 

- anda lá Javi…aceita. Não precisas de o fazer por causa da Isabel mas fá-lo por mim e pelo meu marido. Aliás, ele pode não estar cá, mas o pedido é feito pelos dois. Temos mesmo imenso gosto em ter-te em nossa casa.

- no sé…no sé se eres buena ideia…



***



- mas concordas com a segunda ou a primeira opção? – perguntava Adriana 

- nenhuma das duas! Não faz sentido escolhermos essas opções porque nenhuma se adequa com o tema do trabalho… - inquiriu Isabel. Estavam as duas sentadas no bar da faculdade a debater o tema do trabalho.

- oh mas a professora não aceita as nossas opções, vamos fazer o quê?

- tentar refutar as nossas ideias e mostrar-lhe que as dela não são validas! Para que raio eu quero fazer um trabalho numa área fora da minha? Aliás, eu gostava bem mais da ideia de fazermos o trabalho na área da comunidade…como rastreios, colóquios, intervir mais na população!

- temos então dois dias para fazer um projecto e fazê-la mudar de ideias! – eu acho que hoje já não faremos isso…já está tarde e além do mais tenho de ir para a quinta!

- porque não jantas connosco? Assim ficávamos pelo menos a debater as ideias…

- desculpa mas não vai dar. Eu já ando um bocado a leste da minha família e além do mais os meus avós pediram-me para pelo menos hoje jantar com eles e passar um bom serão de família…olha vocês é que podiam vir comigo e jantavam lá.

- fica para outro dia…além do mais seria um bocado em cima da hora chegarmos lá sem avisar.

- como se isso fosse um grande problema…a Pilar faz sempre comida para mais gente! 

- mesmo assim, marcamos para outro dia pode ser?

- sim…como queiram.

- então eu vou só ali tirar estas fotocopias para amanha termos as coisas mais organizadas, está bem?

- sim…vai lá enquanto arrumo as coisas – Adriana acabou por sair dali e Isabel acabou por arrumar tudo nas capas. Olhou para o relógio e reparou que chegaria à quinta em cima da hora. Mais uma vez e como sempre. Era impressionante como desde que ali chegara eram poucas as vezes que conseguia chegar onde quer que fosse, a tempo e horas. Até já pensou em adiantar todos os seus relógios e se esquecer disso mesmo, a ver se conseguia chegar um pouco a tempo. Estava já a caminhar em direcção à porta quando reparou que Eduardo acabava de chegar, sentando-se sozinho numa das mesas. Isabel debateu-se se deveria continuar o seu caminho ignorando-o ou ir até junto dele fazer algo que já queria há algum tempo. Optou mesmo pela segunda opção, sentando-se na frente dele, deixando-o admirado.

- precisas de alguma coisa? – perguntou Eduardo

- por acaso preciso…de te fazer umas perguntinhas. Não te preocupes que não tomo muito do teu tempo!

- vale…pergunto que quiseres.

- o que pretendes da Adriana? – ela fora sucinta e directa no assunto.

- como assim?

- anda lá Eduardo…a minha pergunta é bem simples. Eu quero saber o que pretendes da Adriana. Quero saber as tuas intenções acerca dela!

- é assim…eu não entendo o pretexto da tua pergunta mas posso-te dizer que não pretendo fazer qualquer mal à Adriana tanto que já percebi que não gostas muito de me ver com ela…

- ouve, eu não quero que a Adriana fique magoada…não estou a dizer-lhe que faças mal mas eu não sou parva e já tenho reparado em vocês os dois. Os vossos sorrisos, a forma como ela fala de ti, a maneira como se estão a dar bem demais…eu não quero que ela se apaixone por alguém quando daqui a uns meses ela terá de ir embora. Eu conheço-a, ela vai sofrer. A Adriana é a pessoa mais sensível que alguma vez conheci! Magoa-se por tudo e por nada e posso dizer que no que consta a amores, nenhum otário conseguiu dar-lhe o devido valor!

- e estás a dizer-me isso porque…? Porque haveria eu de querer magoa-la, ou mais, porque haveríamos de ter alguma relação?

- não me digas que só gostas da Adriana por amizade? Que não vejas nela para além de bons amigos? 

- no…eu gosto dela! Ela é uma excelente rapariga mas…

- mas…?

- mas o quê? O que queres que te diga? Eu…eu não estou apaixonado por ela. Eu não me apaixono pelas pessoas assim em semanas…e jamais faria qualquer coisa para a magoar, jamais. 

- ainda bem!

- mas isso não invalida o facto de não me puder apaixonar por ela daqui para a frente…ela é uma das melhore mulheres que já conheci, é linda, boa pessoa, tem bom coração, é simpática, gosta de ajudar…é boa companheira e sim, poderia bem gostar dela mais do que uma boa amizade. E que eu saiba tu não podes fazer nada para impedir isso, a vida é da Adriana não tua.

- tens razão, a vida é dela mas a Adriana é das pessoas mais importantes da minha vida. É mais do que uma irmã para mim! Sempre que ela se apaixona por alguém acaba sempre magoada! Isso talvez se deva um pouco por ser ingénua, acha que todos os homens são uns príncipes que andam a cavalo e quando se apercebe que eles só lhe querem tirar proveito ou fazer dela um objecto de satisfação sexual, ela chora, chora e chora. Fecha-se num quarto e se não entra em depressão é por pouco! Por isso…fica o aviso Eduardo…magoa-a que me magoas a mim. E aí…tens é de te ver comigo! Não faço nem digo isto só porque tenho a mania ou seja má, faço-o porque me preocupo com a Adriana e farei de tudo para que ela não se magoe…agora o recado está dado. É contigo… 

Isabel acabou por se levantar e sair do bar. Pelo caminho cruzou-se com Adriana e as duas seguiram caminho para fora da faculdade. Despediu-se da sua amiga e rumou para a quinta. Ainda tinha pelo menos quinze minutos de caminho até chegar a casa mas com sorte não apanhava transito. Assim que lá chegou, o céu já há muito que escurecera. Acabou por colocar o carro dentro da quinta e mal o estacionou, apressou-se a sair do carro ao ver quem ali acabara de chegar. Fechou a porta e ele dera pela sua presença.

- que haces aqui?! – gritou-lhe

- estás a falar comigo?

- não…apeteceu-me falar sozinha! – ripostou

- bem me parecia que tinhas algo em ti de doido…

- o que fazes aqui?

- vim fazer-te companhia ao jantar, que tal?

- e se fosses gozar com o raio que te parta?!

- vale, vale…furacão…então aguarda só uns minutinhos até me veres sentado na mesma mesa que tu!



- o quê?! Tu só podes estar a brincar comigo…

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Capitulo 8

Os gritos de Lara eram bem evidentes. Isabel estava presa no armazém. Isso era sem duvida algo terrivel. Sem demorar muito mais, Javi desaparece dali começando a correr para dentro do edifício. As pessoas chamavam por ele, outros tentavam impedi-lo de entrar. A adrenalina corroía pelas veias de Javi deixando-o completamente inerte ao que o rodeava. Sem saber como e o porquê disso, ele corria para salvar Isabel. A rapariga mais detestável, irritante e mandona que alguma vez conhecera. Eles odiavam.se mas mesmo assim, ele corria para a salvar. Mesmo sem saber o motivo de tal coisa, Javi fazia isso.
Ele sabia que a arrecadação ficava do outro lado do edifício, saiu pela porta enorme que dava acesso ao corredor e começou a sentir o calor daquelas chamas. Um enorme clarão fazia-se sentir, o barulho das labaredas eram exurcedoras e o medo instalava-se nele. Começou a correr até chegar à porta que dava acesso à arrecadação. Assim que a abriu sentiu-se a ferver, estava um calor insuportável sem falar no fumo que o deixava cego e com uma enorme vontade de tossir. Pouco conseguia ver na sua frente a não ser a enorme nuvem de fumo que pairava ali. Estava tudo destruído, as coisas caiam sem piedade e Javi tentava-se desviar dos objectos que iam caindo de todos os lados. Por onde ele iria? Pouco via e agora sentia-se perdido, não sabendo para que lado ficava a arrecadação.

- Isabel!!!! – ele gritava tentando obter uma resposta, nem que fosse um grito dela. Nada. Não se ouvia nada. Foi então que reconheceu um dos corredores e tentou ir por ali. Mas ao virar a esquina, uma placa do tecto desaba acertando em cheio nas costas de Javi. Soltou um gemido. A tabua fervia e sentia o seu ombro dorido. Precisou de se amparar um pouco na parede. naquele lugar tudo ardia parecendo um verdadeiro inferno.

- Isabel!!! – ele gritava cada vez mais mas sem resposta. Parecia que ele era o único a estar ali. Será? Será que Javi vinha ao engano e afinal Isabel não estava ali? Ao longe Javi viu a porta da arrecadação. Estava fechada. Gritou novamente pelo nome dela.

- Isabel!!! – ele correu para junto da porta.

- Javi!! – ela estava ali. Isabel estava mesmo presa naquela sala e ouvir a voz de Javi despertou em si uma total esperança quando já se sentia perdida, esquecida e sem convicção que alguém a fosse encontrar. Ela batia fortemente na porta de ferro quase como se tivesse medo que ele não a tivesse ouvido – Javi, por favor tira-me daqui!!! – ela gritava por ele. Mesmo sendo uma situação de desespero, aquela era a primeira vez que Isabel ousara tocar no nome dele. Chamava-o com suplica. Javi tentou abrir a porta mas estava fechada.

- Isabel abre a porta!

- não consigo! A porta trancou-se! Eu não consigo abri-la!!! – respondeu completamente dominada pelo desespero.

- sai daí, desvia-te para tentar abri-la! 

- tira-me daqui!!

- então sai da beira da porta! – gritou-lhe. Javi olhava em seu redor em jeitos de tentar descobrir uma maneira de tentar arrombar a porta e encontrou um extintor que estava preso na parede e arrancou-o – afasta-te! – Javi dera lanço para de seguida mandar com força o extintor contra a fechadura da porta. Nada. Continuava intacta. Tentou mais vezes mas nada fazia com que aquela fechadura ficasse arrombada. Era uma porta de ferro e dificilmente conseguiria ter força para a arrombar. 

- por favor Javi abre-me a porta!! – os gritos de Isabel eram de suplica e Javi já não sabia o que mais fazer para a tirar dali. Pensou em voltar para trás e chamar alguém mas provavelmente seria tarde demais. Ele não podia deixa-la sozinha. 

- eu não estou a conseguir abri-la!

- não digas isso por favor! – ela começa a bater na porta totalmente aflita – tenta Javi! Não me deixes aqui!! – ele começou a olhar em seu redor e não havia meio de arranjar algo para a tirar dali. Só ao olhar para cima é que viu uma pequena janela de vidro. Era alta mas provavelmente ela conseguiria escapar dali. Mandou o extintor para cima dos cacifos, subiu para cima deles e, com ele, parte o vidro. Isabel grita perante o susto. Javi acaba por partir o vidro todo. 

- anda! – ele colocou metade do seu corpo do outro lado – sobe para aquele armário e segura na minha mão!

- joder! Como é que eu vou sair por ai?!

- é o único jeito Isabel!! Ou sobes ou então acabamos mesmo por ficar aqui os dois!! – ela respira fundo e sem pensar mais, sobe para cima do armário. Javi que já estendia a sua mão, sentiu a dela a prender-se à sua. Fez força tentando-a puxar para cima. Javi estava prestes a escorregar mas assim que ela se consegue apoiar sobre o parapeito daquela janela, num movimento rápido, ele puxa-a totalmente para fora dali. As chamas já estavam perto dali e dava para sentir o calor abrasador. Javi salta para o chão.

- eu não consigo saltar! Isto é alto!

- faz o que te vou mandar! Vou estender os meus braços e tu deixas-te cair. Eu seguro-te! – Isabel mostrou a insegurança que sentia. Tinha medo de saltar. De falhar e cair no chão. De não ser capaz – confia em mim, eu não te deixo cair! – sem saber como, Isabel foi capaz de confiar nas palavras dele. Não sabia se era da calma com que Javi falava ou o que era ao certo mas…confiava nele. Naquele instante Isabel depositava toda a sua vida em Javi. 

- vale… - ele estendera as mãos e Isabel impulsionou o seu corpo para a frente. Foi uma questão de segundos até sentir as mãos de Javi a puxar as suas pernas, acabando por cair no colo dele. Agora estava segura. Parecia que metade daquele pesadelo tinha acabado. Finalmente saíra daquele lugar maldito. 

- vamos! – olharam em redor e perceberam que as chamas já estavam ali a consumir uma parte do corredor. Não tinham muito mais tempo e só havia uma saída. Não sabiam para onde iria dar mas correram dali para fora. Só conseguiram parar quando viram ao longe uma porta de vidro. Assim que a abriram e sentiram o ar fresco nem queriam acreditar. Isabel tinha finalmente conseguido sair daquele pesadelo e Javi tinha conseguido tira-la de lá. Pararam quando chegaram ao jardim e sentaram-se num banco. Isabel tinha a sua respiração completamente descontrolada e já não sabia se havia de sorrir ou de chorar. Ficou a olhar para aquele cenário que podia apelidar de guerra, olhou para si e reparou que estava viva e isso tinha sido um achado. Ainda não estava em si perante os últimos minutos. Achava que tinha saído de um filme de terror ou de um pesadelo que não parecia ter fim. Sentia-se impotente. Completamente…



***

- joder, Maria estás bem?! – assim que Maria e o seu avô chegaram a casa, depois de ele a ter buscado ao hospital, foram interceptados pela sua avó que estava preocupada. 

- sim avó, eu estou bem… - apesar de não ter sofrido qualquer ferimento, Isabel estava um pouco debilitada, as suas roupas estavam cheias de pó, amassadas e esfarrapadas. Doía-lhe a cabeça e ainda tinha um pouco de tosse perante o fumo que inalou.

- o que aconteceu? Nós tivemos um susto de morte quando nos disseram que parte do edifício tinha ardido!

- não sei…eu estava a arrumar na arrecadação quando se deu o incêndio. Foi tudo tão rápido que não sei o que aconteceu!

- Dios…é um achado estares aqui salva e sã! Mas…olha para ti! Tens a roupa toda suja e rasgada! 

- eu tive de sair por uma janela pequena, a porta de ferro tinha ficado trancada e não havia forma de conseguir sair de lá. Alias nem sei como saí por aquela janela minúscula.

- não sei como os bombeiros não tinham meios de te tirarem de lá! 

- não foi os bombeiros que me tiraram de lá…foi o Javi. Por isso é que tive de sair pela janela!

- o que interessa é que está tudo bem! – interceptou a sua tia que também estava preocupada por tudo o que tinha acontecido. 

- vocês não ligaram aos meus pais pois não?!

- claro que sim! São teus pais e merecem saber o que se passa contigo…mas não te preocupes, eu já liguei e garanti que estava tudo bem contigo – Isabel suspirou. Sentia-se demasiado cansada e com imensas dores de cabeça. Precisava de tomar um banho urgente, tirar aquela poeira e cheiro a queimado de si. Queria dormir. Precisava disso. Tinha toda a gente daquela casa de volta de si, com os olhos postos na sua figura maltratada. 

- eu…eu vou para o meu quarto. Preciso de dormir…

- vale…queres que a Paula leve alguma coisa para comeres?

- gracias abuela… - Isabel sorriu de forma a sossegar o coração completamente sobressaltado da sua avó – mas estou sem fome.

- precisas de comer alguma coisa, não podes ir para a cama de estômago vazio! 

- mas não tenho fome, não se preocupe que se precisar eu peço.

- pelo menos um chá de camomila para te acalmares um pouco…anda lá, ao menos toma isso.

- vale abuela, vale… - Isabel acabou por se despedir dos que ali estavam e subiu as escadas para o seu quarto. Assim que abriu a porta, foi directa para a casa de banho. Tirou lentamente as roupas e inevitavelmente vinha à memória o som, as imagens, tudo…as chamas que pareciam devorar tudo, os gritos de súplica para que Javi a tirasse dali…joder, Javi tinha-a salvado. Porquê ele? Porque tinha de ser justamente a pessoa que ela mais odiava? Ele era um presunçoso e tinha tirado da sua possível morte. Deveria estar-lhe eternamente grata? Deveria fazer um monumental para ele ou erguer uma estátua em sua memoria? Joder, nada fazia sentido. Nada mesmo…nem tão pouco ela ter-lhe suplicado para a ajudar e confiar nele. 



- aqui está… - A porta abriu-se e do outro lado surgiu a figura de Paula, a empregada. Vinha com um tabuleiro com o chá que a sua avó insistiu para tomar, juntamente com umas torradas. Isabel já estava de pijama vestido e sentada na cama.

- gracias Paula!

- ainda bem que nada de mal te aconteceu! Todos nós ficamos preocupados quando soubemos que aquilo estava a arder.

- eu sei…pelo menos tento imaginar a vossa preocupação. Agora estou bem…

- não valeu para o susto! Mas também… - ela mostrara um sorriso travesso – com o Javi a salvar-te era impossível algo de mal te acontecer!

- Paula, por favor…

- vale, eu não digo mais nada. Eu sei que não gostas dele, aliás isso já é assunto bem falado!

- o quê?! Como é que sabes disso?

- eu tenho o meu sobrinho que é da turma dele, o Diego…por acaso estive com ele e tinha comentado comigo que te conhecia porque tu e o Javi andavam sempre em picardias…até chegou a comentar comigo que nas aulas eles falavam de ti e acreditas que ele descaiu-se e disse-me que fizeram apostas de como o Javi conseguia dar-te a volta?! - Isabel olhou-a. Paula percebeu que tinha falado demais e calou-se de imediato. Paula era uma rapariga jovem, tinha vinte e quatro anos, era bastante faladeira, alegre, divertida mas sabia bem dar contra do seu trabalho. Tinha uma ligação de aproximação com Isabel mas naquele momento sentira que havia falado demais. 

- volta a repetir o que acabaste de dizer!

- ah…não foi nada. Eu não disse nada! – respondeu atrapalhada – e eu tenho de voltar ao trabalho, com licença…

- hei, hei não vais nada! – Isabel conseguiu segura-la – só preciso que me esclareças essa historia das apostas!

- ai eu não disse nada! Por favor, não me metas em confusões, eu falei de mais, foi o que foi!

- calma Paula! Eu não vou fazer nada…só quero que me contes o que sabes. 

- eles…olha eu só disse aquilo que o meu sobrinho estava a comentar com os amigos! Sabes como eles são, gostam sempre de acrescentar as coisas!

- sim…podes continuar…

- eu ouvi-os a falar que chegaram a pegar com o Javi sobre…pronto, sobre as vossas picardias e que tu eras uma rapariga difícil. E que tinham até incentivado o Javi a tentar dar-te a volta…acho que pelo que estavam a dizer queriam que ele te pegasse! Ai oh Isabel, eu não sei de mais nada! Eu juro! Ouvi isso porque estava na casa da minha irmã, o Diego estava lá com os amigos e eles falam sempre alto!!

- calma…eu não faço nada…podes ir. Fica descansada que eu não faço nada!

- tens a certeza? É que eu acho que eles não queriam que ficasses a saber…eu é que sou desbocada e acabo sempre por falar o que não devo!

- não te preocupes Paula…eu sei bem como eles são e das asneiras que acabam por falar.

- vale…eu vou voltar para o meu serviço mas se precisares de alguma coisa, é só chamares.

- fica descansada! - Paula acabou por sair do quarto e Isabel ficou a pensar no que acabara de saber. Ela não se enganava mesmo e naquele momento tinha ficado pensativa. Afinal eles faziam apostas sobre ela? Queriam que Javi lhe desse a volta? Ela acabou por sorrir…era bom saber disso até porque Isabel já sabia bem o que fazer.

- cabrón…me pagas cabrón.



***



Hoje era mais um dia de aulas. Estava um dia de sol contraditando com a chuva que se fazia sentir nos últimos dias. A escola aos poucos ia-se enchendo de alunos, ora atrasados para as aulas, ora a conversar animadamente com os seus amigos. Naquele dia, Juan levara Isabel às aulas. Contra vontade dos seus avós que queriam que ficasse mais um dia em casa a descansar, Isabel decidiu ir às aulas. Sentia-se bem e não queria perder muito das suas aulas. A partir do momento em que colocara os pés sobre a calçada sentia os olhares presos em si e as pessoas cochichavam entre si enquanto a olhavam. Provavelmente falariam sobre o incêndio. Mal Isabel imagina que ela era o assunto principal daquela faculdade. Toda a gente comentava sobre isso.

- Isabel!!! Isabel! – ela voltara-se para trás e encontrou Adriana a gritar por si. Ela apressou-se a correr para junto da amiga abraçando-a – como é que estás? Fiquei louca quando soube do incêndio!! Estás bem? Tens alguma ferida? Queimaste?! 

- Hei…calma! – Isabel percebeu o pânico da sua amiga e tentou acalma-la – eu estou bem Adriana. Não sofri queimaduras algumas, nem tive arranhões…só fui ao hospital porque como tinha inalado algum fumo estava com falta de ar. Não te preocupes, está tudo bem comigo!

- Mas que susto! Eu fiquei mesmo preocupada contigo – naquele momento caminhavam as duas para a sala de aula – e depois tentei ligar-te mas tinhas o telemóvel desligado. Quem me falou que já estavas bem foi o Eduardo…eu soube que foi o Javi que te tirou de lá.

- Sim, foi ele…mas agora já não há motivos para ficares preocupada. Já passou, felizmente! – Tinham chegado à sala de aula, acabaram por se sentar nos habituais lugares e abriram os livros visto que a professora tinha chegado. A conversa tinha mesmo ficado interrompida ao não fosse a aula ter começado. Ia ser uma manhã preenchida. E de facto foi. Estiveram até à hora de almoço dedicadas a uma aula importante e mal saíram da sala, foram embora. Só tinham aula da parte da manhã o que acabava por ser bom. Isabel acabou mesmo por almoçar no apartamento onde Adriana estava a morar, juntamente com os rapazes. Eles ainda estavam em aulas e aproveitaram para, alem de estudar, conversar e falar por internet com os amigos de Lisboa.

O céu começava a escurecer quando Isabel voltou à quinta. Tinha chegado ao mesmo tempo que os seus primos que também chegavam da escola. Acabaram por entrar, ela, Enrique e Francisco para dentro de casa, pousar os sacos e irem como o habitual, até à cozinha onde Pilar tinha o lanche deles pronto. Já era um grande costume naquela casa em que todos os dias, ao chegar a casa, Pilar preparava o lanche para eles. Mesmo quando crianças tinha esse habito e agora que eram crescidos, continuava na mesma a preparar com todo o carinho como se de crianças eles tratassem. Naquele momento a conversa reinava sobre o incêndio e as especulações que agora se centravam acerca disso.

- mas ainda não sabem as causas?

- hum…pelo que ouvia hoje, suspeitam de uma fuga de gás! – respondia Juan

- ainda bem que só causou estragos materiais…olha se alguém ficasse gravemente ferido? Joder, que tragédia!

- A Isabel teve muita sorte em sair ilesa…

- ai por favor, parem de falar nisso! – pedia – hoje não se falava em outra coisa nas aulas, nos corredores, no bar…já passou! Agora é esquecer isto – naquele instante Marisol tinha acabado de chegar das aulas. 

- buenas tardes! – ela acabou por se sentar no balcão, pegando então no seu lanche. 

- vieste mais tarde! – constatou Enrique – porque não vieste de boleia connosco?

- não deu…tive coisas para fazer e aliás o Javi deu-me boleia até casa! – Isabel olhou-a de soslaio. Havia ali qualquer coisa que lhe andava a escapar. O olhar presunçoso da sua prima, a questão em referir que tinha vindo com ele…isso tudo para quê? 

- ah tu vieste com ele! Vale…

- ele não te contou a forma espectacular como salvou a Isabel? – inquiriu Francisco – ele foi um máximo!

- obvio que não… -respondeu com desdém – porque haveria de falar sobre isso? 

- porque não se fala de outra coisa hoje! Toda a gente fala disso, toda a gente mesmo!

- mas vocês não têm mais nada para conversar? – desta vez foi Isabel que interrompeu aquela conversa. Ela já se sentia cansada de ouvir falar no incêndio.

- Bela…tu foste salva pelo Javi! aqui tudo se sabe, tudo se comenta! Todos dizem que ele teve uma grande coragem em tirar-te de lá, visto que essa foi a sua boa acçao desde há alguns anos para cá…

- joder, parem com isso! Estou farta que falem nisso e nele. Pode ser?

- não te preocupes… - Marisol tomava a palavra, olhando-a com presunção – isso cai no esquecimento rapidamente! Daqui a nada já ninguém se lembra que ele te salvou! – dito isto, Marisol levanta-se saindo da cozinha. Isabel olhava-a com todo o espanto. Ela fazia aquilo para a provocar? Porque raio ela era assim? 

- não ligues…pelo que sei ela tirou uma nota fraca num exame. Por isso é que está um bocado…azeda.

- alguém é capaz de me explicar porque é que ela defende tanto o Javi? juro que não percebo…

- eles foram namorados! Acabaram há três anos mas ela nunca chegou a superar muito bem… - Isabel olhava o seu primo com espanto. Acabou mesmo por gargalhar.

- realmente, eles merecem-se! Dois presunçosos, de facto isso não me espanta nada!! – Enrique gargalhou.

- eu acho que ela está com ciúmes teus.

- meus? Ciúmes? De quê?

- tu não estás bem a par da realidade pois não? 

- que realidade?

- Isabel…desde que chegaste que muita gente comenta os teus atritos com o Javi. quando disse que as pessoas aqui comentam, não estava a mentir. Podes até não acreditar…mas tenho colegas lá da escola que fazem apostas que vocês vão ser o casal sensação deste ano! – Isabel cuspiu todo o chá que tinha na sua boca. Ficou completamente absorta a olhar para o seu primo que parecia muito calmo. Estaria tudo louco? Casal sensação? Para Isabel, isso tudo era um atentado à sua sanidade. Jamais ela poderia gostar de alguém como Javi. As pessoas não sabiam de facto, o quanto ela o detestava. O quanto eles eram o oposto um do outro. Só porque eles andavam com aqueles atritos já achavam que era uma relação amor-odio? Para Isabel, pensar isso dava-lhe um certo asco. 

- vale…como a Marisol diz…o que vale é que não daqui a alguns dias, mas daqui a uns meses…já ninguém falará nisso! Até porque já não estarei por cá! – dito isto, levanta-se da cadeira saindo dali. Foi para o seu quarto e assim que lá chegou deitou-se na cama. Hoje sentia-se mais cansada que ontem…precisava de descansar. Mas antes de se render ao cansaço, ficou a pensar nas diversas coisas que matutavam na sua cabeça. Nada fazia o mínimo sentido. Nem tão pouco o que as pessoas falavam. Ficou a pensar que era a única pessoa que conseguia ver um Javi diferente. Porque só ela o via como uma pessoa má, conflituosa, um verdadeiro delinquente? Agora já era visto como o seu herói? Vale…ele salvou-lhe a vida. Isabel tinha essa consciência mas agora já tudo fazia sentido na sua cabeça. Ela sabia o porquê de ele ter feito isso e mais do que tal coisa, era ela saber que não se deixaria afectar, que a sua opinião dificilmente mudaria.



***

Mais um dia de aulas. Véspera de fim-de-semana. Todos ansiosos para voltarem às suas casas usufruindo de uns bons dois dias longe da escola. Parecia até que naquele dia os alunos daquela universidade andavam mais contentes. Já não era novidade nenhuma que era normal Isabel chegar tarde às aulas mas naquele dia ela tinha adormecido. Passara mal a noite e pouco tinha dormido. Sabia que estava mais do que meia hora atrasada para a primeira aula. Tinha deixado o carro no estacionamento e foi a correr para o bloco onde tinha aulas mas pelo caminho, algo interpelou pelo meio. Foi ao virar a esquina que acabou por se esbarrar em alguém que também vinha a correr. 

- perdón! Lo siento pero no he visto! – Isabel ergue o seu olhar confrontando com quem estava na sua frente. Só encarando é que reparou com quem tinha esbarrado. Ironia do destino? Talvez…depois do incêndio, era a primeira vez que Javi e Isabel se encontravam. Estranhamente, não sabiam o que dizer ou fazer. Ela preparava-se para virar costas quando a mão dele a agarrou firmemente.

- hei…onde pensas que vais?