tag:blogger.com,1999:blog-72992870868830999182024-02-18T20:59:57.746-08:00Tengo ganas de tiUnknownnoreply@blogger.comBlogger22125tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-70056699091546324312016-09-23T07:15:00.003-07:002016-09-23T07:31:54.365-07:00Capitulo 21<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<b>Olá queridas leitoras!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>o meu sumiço já se prolongou por bastante tempo e venho aqui, não só para vos deixar com um ENORME pedido de desculpas por não publicar há imenso tempo mas também para trazer-vos um pouco de escrita.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>E para festejar os meus seis anos de escrita, que hoje é comemorado, deixo-vos com o capitulo 21 da Tengo ganas de ti pronto! É verdade...são 6 anos que parece que foi ontem que tudo começou! </b></div>
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<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O capitulo está extenso mas decidi publica-lo em duas partes pois eu não saberei quanto tempo demorarei a publicar o próximo. A falta de inspiração aliada à falta de tempo livre estão a dar cabo de mim e por isso não será possivel escrever com regularidade :/ </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>No entanto, quero agradecer imenso às leitoras que ainda se tornam fieis à minha escrita e mantêm paciência e vontade em seguir-me!</b></div>
<div class="" data-block="true" data-editor="6ictt" data-offset-key="497bq-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: start; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="497bq-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="497bq-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<br />
<div class="" data-block="true" data-editor="6ictt" data-offset-key="5vh96-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: start; white-space: pre-wrap;">
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Beijos a todas e aguardo pelas vossas manifestações!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">~~~~</span></div>
<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN_ICYKClBu6WsnJd4a3eEJe4hdnznHHQeuXs_0omjdABjuZ7zweXTNgTkBWayNkKoj-bNzfspxmLBNyJnt9z6GsM2hDu5zIvskN12soe1EXMJ66Y-fyrW9Dq-2IFfh365DXtik5UpmKXY/s1600/flores.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN_ICYKClBu6WsnJd4a3eEJe4hdnznHHQeuXs_0omjdABjuZ7zweXTNgTkBWayNkKoj-bNzfspxmLBNyJnt9z6GsM2hDu5zIvskN12soe1EXMJ66Y-fyrW9Dq-2IFfh365DXtik5UpmKXY/s400/flores.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
O tempo parecia ter parado. Desde que ficara a observar a rapidez como anoitecera até chegar aquele lugar, nada parecia ter mudado. Os minutos tornaram-se em insuportáveis horas e os segundos simplesmente deixaram de existir. Apenas o seu coração latejava tão fortemente no seu peito que isso deixava-a sem espaço para respirar. A aflição e aquele medo deixavam Isabel sem tempo para se aperceber que tinha de respirar. Se tivesse que relembrar dos momentos em que soube que tinha o seu avô no hospital, até chegar ali, não sabia lembrar. Tinha sido captada por um momento de perda de memória e no seu intimo desejava arduamente não relembrar desses momentos. Apenas as palavras de Adriana ecoavam fortemente na sua mente…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>”o teu avô teve um enfarte” </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“está nos cuidados intensivos” </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“o teu avô teve um enfarte…”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim que entrou no hospital apressou-se a chegar até à sala de espera, não demorando tempo para encontrar a sua família ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como é que o avô está? – os olhares deles centram-se nela e Isabel apercebeu-se da desolação que se via em cada um. O seu estômago mirrou e uma espécie de bolha travou todo o ar que deveria sair. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda não sabemos de mais nada… - a sua tia respondera-lhe. De todos, parecia ser a que estava mais serena. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como é que isto aconteceu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O avô estava no quintal, junto das árvores. Tinha subido no escadote quando sentiu uma dor no peito e caiu. Quem deu pelo avô desmaiado foi o José. Chamamos a ambulância e está há mais de uma hora lá dentro e não sabemos mais nada. – Isabel deixou-se cair sobre uma cadeira. Não sabia o que dizer, o que fazer nem o que sentir. A única coisa que sabia era que tinha o seu avô no hospital, com a vida em risco. Pensar nisso, provocou-lhe um enorme arrepio. Tal como aquele que sentiu quando estava sentada no banco, na faculdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vai correr tudo bem… - o seu primo Francisco que mantinha-se sentado ao seu lado, sussurrou-lhe. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E se não correr? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei, não vamos pensar nisso, vale? O avô está rodeado pela melhor equipa médica…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E a avó, onde é que está?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- No capelão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como é que reagiu? – Francisco expirou bruscamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu acho que nunca a vi assim… - deixou escapar em jeito de desabafo. Isabel pousou a cabeça sobre o braço do seu primo, fechou os olhos e desejou no seu íntimo que aquilo não passasse de um pesadelo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><b>~</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei…Isabel – uma voz masculina sussurrava aos ouvidos de Isabel que tinha-se deixado vencer pelo cansaço, acabando por adormecer no sofá. Depressa acordou e encarou o seu primo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o médico já chegou? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Esteve aqui há pouco mas a única coisa que falou é que o avô já está estabilizado mas continua nos cuidados intensivos. Querem ver se não é preciso fazer cateterização e isso dependerá das próximas vinte e quatro horas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não o podemos ver?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ainda não… - acabou por se ajeitar no sofá. Apercebera-se que era a única pessoa que restava ali – queres comer? Já passam das nove horas da noite – ela abanara a cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não consigo comer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas tens de comer! Anda lá, nem que seja umas bolachas ou sandes. És enfermeira, deverias saber que faz mal passar tanto tempo sem comer, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Neste momento sou incapaz de ser enfermeira – refutou – sou apenas uma neta que tem o avô enfiado numa cama de hospital – sussurrou com a voz entalada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ele vai ficar bem – Francisco pegou-lhe nas mãos – anda…se não vieres fico aqui a chatear-te a cabeça e sabes que consigo ser chato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Okay – Isabel expirou bruscamente sabendo que não valeria a pena contrariar o seu primo e não deixava de ter razão, estar de estômago vazio nauseava-a. Pegou na sua mala e rumaram até à cafetaria do Hospital. Àquela hora estava praticamente vazia e apenas restavam alguns profissionais de saúde, que olhando para o rosto deles, mostrava o cansaço acumulado. Optara apenas por um café duplo e umas torradas sabendo que não conseguiria comer mais, não enquanto aquele peso insuportável não a deixasse em paz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">~</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Familiares do Senhor Javier Garcia? – os que ainda ali restavam, naquela pequena sala, saltaram dos sofás assim que o médico entrou ali. Não eram muitos tendo em conta que estavam pela alta hora da madrugada. O relógio pregado na parede marcavam as três horas da manhã e apenas restava Lorena, Francisco e Isabel. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- somos nós…tem noticias do meu pai? – Lorena tomou a voz do comando. Sendo a filha mais nova de Javi era a que conseguia controlar as emoções num momento aflitivo daqueles. Francisco decidira acompanhar a sua mãe e Isabel, nem com insistência dos seus tios, arredou pé dali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tenho sim…vamo-nos sentar? Diria que poderíamos ir até ao meu gabinete mas esta sala como está designada apenas para vocês, penso que estamos bem…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro! Ficaremos por aqui. – Os quatro sentaram-se nos sofás disponíveis e o médico tinha nas suas mãos alguns papeis. Qual seria a utilidade deles?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sou o Doutor Diego e estou responsável pelo Senhor Javier…desde já pretendo-vos descansar que ele encontra-se fora de perigo, conseguimos estabiliza-lo mas, no entanto, necessitamos de recorrer à cateterização para desobstruir algumas veias que encontravam-se inoperáveis… - uma lufada de ar fresco parecia ter entrado ali de um jeito abrupto mas aliviador. Um peso estranho saiu de cima deles e conseguiram, após algumas horas, respirar normalmente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Dios mio, que alivio! Mas como ele está agora?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Está bem…um pouco cansado o que é normal mas estamos muito confiantes pela recuperação dele e por estar a corresponder favoravelmente ao tratamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podemos vê-lo? – Isabel decidira intervir. Saber que o seu avô estava, finalmente, livre de qualquer perigo tinha sido a maior lotaria que recebera mas precisava de o ver, falar com ele, tocar-lhe…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Neste momento não mas amanhã, assim que for transferido para a enfermaria, poderão visita-lo. Ficará na unidade de cuidados intermédios apenas para vigilância. Por isso que também quero falar convosco… necessito que um de vocês assine o termo de responsabilidade para darmos inicio à transferência para a ala de medicina. Trata-se de questões burocráticas e que no entanto temos de cumprir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro! Eu assino…- Lorena apressou-se a assinar aqueles papeis e, quanto isso, Isabel descontraiu-se desde que ali chegara. Deixou que o seu corpo tombasse no sofá e fechou os olhos…e agradeceu por nada de grave ter acontecido à pessoa que mais amava na sua vida. Durante aqueles momentos tenebrosos percebeu, como antes nunca o tinha feito, que não se sentia preparada para o perder e que talvez nunca o sentisse. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois do hospital rumou, juntamente com a sua tia e o seu primo, até à quinta. Apesar de não viver ali não tinha meios nem queria largar a sua família…mais que tudo precisava de os ter por perto. Sentia que era uma forma de ter o seu coração aconchegado. As horas restantes, pouco dormiu e já eram sete horas da manhã quando levantou-se da cama, rumando até ao hospital. A casa estava despojada num silêncio calmo, dirigindo-se até à cozinha decidiu que um café forte seria o suficiente para se aguentar, pelo menos durante umas horas. Inevitavelmente, recordou-se do seu avô e, se ele ali estivesse, estaria a repreende-la por optar, como pequeno-almoço, um café. Dizia ele, muitas vezes, que aquele vício de descartar a refeição mais importante do dia, tinha herdado da sua avó e achava incrível como elas eram mais parecidas do que parecesse. Isabel sorriu perante estes pensamentos…Queria tanto tê-lo de volta que não se importava que o seu avô a chateasse por isso. E, com estes pensamentos, saiu de casa até ao hospital. Não eram horas de visitas, nem algo parecido mas o seu estatuto de aluna de enfermagem, permitiu que entrasse no hospital e se dirigisse até à enfermaria. Sabia que o seu avô já tinha chegado e, por isso, encaminhou-se até ao quarto. A porta estava entreaberta e conseguiu, ainda antes de entrar, distinguir a voz dele. Sorriu. Era tão bom ouvir o seu avô que aquele momento deixou-a com vontade de chorar. Acabou por abri-la, e apressou-se a vê-lo deitado na cama. Aquela imagem deixava-a um pouco estonteante mas pouco se importou, Javi estava bem e isso chegava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola… - Assim que falou, Javi deu de caras com a sua neta. Mantinha uma aparência débil, o rosto pálido e com imensos fios estavam à sua volta. Mas, ao deparar-se com ela, um sorriso iluminou o seu rosto delineado pela avançada idade. Sem conseguir aguardar mais, Isabel chegou-se perto dele, abraçando-o. Sentir aquele calor confortante, o cheiro tão característico do seu avô, fê-la desfazer-se em lágrimas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei…então enana? É esta a receção que tenho direito? – mesmo doente, Javi mantinha o seu sentido de humor. Sabia que precisava de o manter para confortar o coração inquietante da sua neta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- você pregou-nos um susto de morte, sabe? – Isabel apressou-se a limpar as lagrimas e encarou-o – nunca mais nos faça isto, está a ouvir?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…é um aviso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é uma ordem! – ripostou mostrando um pouco a sua autoridade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu estou bem…e de viva saúde. – Isabel abanou a cabeça – acho até que tu estás com pior aspeto que eu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não brinque… sussurrou – pensei mesmo o pior!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está tudo bem minha enana… - Javi tomou a mão de Isabel – foi apenas um susto que já passou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espero bem que sim! Tem de me prometer que terá o dobro do cuidado com a sua saúde! – Javi não conseguiu evitar e soltou um pequeno sorriso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, senhora Enfermeira! Eu prometo…mas tens de me prometer uma coisa também.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que voltas para a nossa casa…é lá o teu lugar. Junto de nós. Junto de mim…além do mais, chega destes desentendimentos sem sentido Isabel. – ela olhou-o atentamente e respirou fundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu volto…não se preocupe!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- voltas mesmo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, volto! Por si e pela avó eu regresso à quinta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh minha enana, é tão bom ter-te de volta! – Isabel sorriu e pareceu ver que aos poucos o rosto pálido do seu avô voltava a ficar rosado. Pegando na mão dele, beijou-a delicadamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- te quiero mucho abuelo…- sussurrou – não importa que não sejamos do mesmo sangue e que não tenha os mesmos traços que vocês…o amor que sinto por si e pela avó é tão grande que isso são apenas pormenores. Pensar que o poderia perder fez-me questionar sobre várias coisas e só tinha medo de não lhe puder dizer isso e que lamento por tudo. Por vos ter desiludido em algum momento…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu nunca nos desiludistes Isabel, nunca. E fico muito feliz por me dizeres isso…porque o sentimento é reciproco desde o momento que te vi naquele hospital…. E sabia que seria para sempre! – Isabel soltou uma tímida gargalhada e, encostando-se sobre o peito dele, deixou-se saborear por aquele terno momento. Um curto tempo de silêncio gerou-se, até que Javi o interrompe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como está a tua avó?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Depois de saber que você estava estável sossegou um pouco…mas estava visivelmente abalada. – os olhos de Javi carregavam preocupação. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…acho que preciso, mais que tudo, de sossegar-lhe aquele coração.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- você precisa é de descansar! A avó fica bem, não se preocupe! – Javi parecia ignorar o aviso da sua neta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- faz-me um favor…dentro dessa gaveta tem umas folhas brancas e uma caneta e preciso que me as dês.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para quê? – perguntou enquanto pegava nas folhas na caneta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ainda és nova para entender estas coisas mas quando encontrares o amor da tua vida e passares longos anos junto dela, entenderás que terás de colocar o bem dela acima do teu. E este é o caso…tenho de sossegar a tua avó mesmo que eu esteja melhor!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o que pretende fazer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- escrever-lhe uma carta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- uma carta? Você nem está em condições de falar quanto mais escrever…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois, eu sei. Por isso é que serás tu a escrevê-la. – Isabel estava surpreendida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu…? – Javi acenou firmemente a cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- começa por escrever: minha querida Maria… - Isabel gargalhou e aos poucos o seu coração foi sossegando, sabendo que tudo iria acabar bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">~</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os dias foram passando e entre aulas e idas ao hospital, Isabel nem dera pelo tempo passar. O seu avô estava a recuperar favoravelmente e já previam a sua alta para breve. Entretanto, aproveitou para fazer as malas e regressar à quinta, tendo sido para sua surpresa, recebida com imenso entusiasmo, excepto aos olhos de Marisol que mostrara o seu desagrado por a ter ali. Isabel não se importava com isso, tinha percebido que não poderia ficar ressentida pela inveja da sua prima, era algo que teria de se acomodar. Lembrara-se das palavras utilizadas por ela e no fundo, por mais que repudiasse ter de concordar com a sua prima, tinha de lhe dar alguma razão pois em breve já não estaria em Múrcia. Só tinha de esperar mais três meses e rumava de volta a Lisboa, deixando todos aquelas lembranças e momentos passados em Múrcia, para trás…Mas, enquanto não chegava o momento de deixar aquela cidade, eram muitos os pensamentos que assombravam a mente de Isabel, nomeadamente a festa no bairro de Marco. O céu estava límpido - o que mostrava a raridade do tempo inconstante do Inverno rigoroso – quando o seu telemóvel tocou. Era ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Guapa, aguardo-te no portão.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Beijo</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel delineou um sorriso no seu rosto, pegou na mala e despedindo-se dos seus tios e da sua avó que permaneciam na sala, rumou até ao portão onde encontrou Marco dentro do carro. Mesmo estando escuro, era notório a forma como o olhar dele percorria cada centímetro das curvas perfeitas de Isabel. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás…deslumbrante! – rejubilou assim que ela entrara no carro. Chegou-se perto dela beijando-a calorosamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…obrigada – respondeu timidamente, mostrando as suas faces ruborizadas – também estás bem apresentado! – gracejou tentando afastar aquele inesperado rubor. Marco gargalhou enquanto ligava o carro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- apenas para ti Isabel – rumaram dali até ao bairro da alegria, como era tão bem conhecido. Ficava a dois quarteirões dali e pelo caminho foram conversando sobre diversos assuntos e Isabel não deixou de reparar que Marco encontrava-se mais alegre e as gargalhadas eram constantes. Presumiu que um pouquinho de álcool floreava-lhe no sangue mas pouco se importou, achou mesmo que talvez precisasse de algumas bebidas para aproveitar a noite e sentir-se solta, descomprimir de todos os problemas que a têm assombrado. Queria levar daquela cidade boas recordações, motivos que, olhando para trás, a fizessem orgulhar do tempo que aqui passou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- chegamos… - Marco estacionou o carro numa garagem que ficava ao pé de uns prédios. Era dali que provinha a musica. Alguns jovens caminhavam alegremente pela calçada e assim que viram Marco, saudaram-no. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vocês conhecem-se todos? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- alguns…por exemplo, aqueles que acabei de cumprimentar cresceram comigo neste bairro. Outros vais conhecendo com o passar dos anos. Não é um bairro muito grande, aqui as pessoas conhecem-se!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isso é bom!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim – algo no seu tom de voz parecia contraria-lo. Um desconforto que Isabel achou estar a imaginar na sua mente – vais gostar disto! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Assim espero… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">~</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A festa estava ao rubro, a casa cheia e não havia modos de as pessoas pararem de chegar. A musica alta, os gritos de cada um juntando com as goladas de uma boa cerveja fresca que, apesar de ainda se sentir o frio invernoso, sabia bem. Enquanto isso, Marco mantinha-se com Isabel no quarto enquanto a beijava. O que ao inicio parecia ser algo calmo e inocente foi-se tornando mais ofegante e necessitante por parte de Marco. Aumentavam as caricias, os beijos e a vontade dele querer mais ao passo que Isabel o deteve.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi?</div>
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<br /></div>
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- é melhor não avançarmos mais… - Isabel pressentiu o que ele queria – não precisamos de avançar demais!</div>
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<br /></div>
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- oh anda lá… - ele voltou a beijar-lhe o pescoço ao passo que tentava tirar-lhe a camisola.</div>
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<br /></div>
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- já disse que não! – o seu tom de voz aumentou tentando esconder o nervosismo que começava a apoderar-se de si.</div>
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<br /></div>
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- vais me dizer que não queres?</div>
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<br /></div>
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- não! Eu não quero.</div>
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<br /></div>
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- porquê? – Marco parecia incrédulo.</div>
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<br /></div>
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- já te disse, estamos a ir depressa demais e eu não quero! – ele olhou-a atentamente</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só me falta dizeres que não queres que te leve para a cama porque és virgem! – atirou enquanto se ria mostrando o ridículo daquela negação por parte de Isabel.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e se for? – ripostou agressivamente.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E se for? – ele repetiu – e se for? – Marco aproximou-se dela de um jeito intimidador – tu és virgem?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens algum problema se o for?</div>
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<br /></div>
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- Joder Isabel não venhas bancar a santinha para cima de mim! – ele parecia um quanto nervoso – agora vens para cima de mim dizer que és virgem e não queres fazer sexo comigo? – Ela sentia-se chocada por aquela posição agressiva de Marco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Então só andavas comigo por causa disso? Tudo se tratava de sexo? – Marco agarra-lhe violentamente o braço.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve lá… - o seu olhar era demoníaco – eu até acho graça às virgens…mas não te preocupes que trato de ti rapidamente! – naquele instante ela sentiu um nojo dele que a repudiava inegavelmente. Como poderia Marco ser tão bipolar? Tão nojento, manipulador? Isabel tentou soltar-se mas sem efeito. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- larga-me! – gritou</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso, grita! Grita para ver se aquela cambada de inúteis te ouvem! Podes gritar o quanto tu quiseres que ninguém te vai ouvir! – Notava-se que o álcool começava a surtir efeito em Marco e isso carregava todas as suas atitudes e com isso o medo aumentava em Isabel. Só queria sair dali, só desejava correr e nunca mais pôr os pés naquele sitio e nem tão pouco chegar perto dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- és um nojento! – ela continuava a gritar – larga-me!! – Marco ao sentir resistência por parte de Isabel, amarrou-a nos dois braços atirando-a para cima da cama. Sem gastar mais tempo, debruça-se sobre ela enquanto a tentava dominar perante todas as tentativas de espingardear-se.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quieta, ouviste? </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- larga-me! – os gritos de Isabel tornavam-se cada vez mais aflitivos e angustiantes. O que iria ele lhe fazer? O medo apavorava-a e a sensação de terror era cada vez mais. Marco tentou abrir-lhe o fecho das calças mas, aproveitando uma pequena distracção, Isabel dá-lhe um murro nas pernas fazendo-o soltar um grito de dor. Depressa conseguiu-se soltar dos braços dele e, ao chegar junto da porta, sentiu-o novamente a agarra-la.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- onde pensas que vais, ah? Não me escapas! </div>
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<br /></div>
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- vai para o inferno, cabrão!! – Marco ria-se descontroladamente </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso, chama-me nomes que eu gosto! Queres ver o inferno, é? Então tu vais ver! – abrindo a porta, ainda que fosse a muito custo perante todas as tentativas de Isabel lhe bater e tentar soltar-se dele, leva-a para fora do quarto, desceram as escadas e Marco parou quando se encontravam na sala. Todos os que ali estavam mantinham-se ocupados, ora a beber, conversar, fumar, dançar…ninguém ali os observava, ninguém percebia a sua cara de suplica. Ali, ninguém parecia querer saber deles ou mesma dela. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh pessoal! – a voz de Marco estava rouca e ninguém o ouvia. Alguns ainda olhavam mas depressa se centravam em outras coisas. Foi então que, ainda com Isabel presa nas suas mãos, deslocou-se até à aparelhagem e desligou-a. Depressa todos os olhares dali se centraram neles e uma ovação se gerou. – Hei, ouçam-me por favor! – um nítido silêncio se fez notar e Isabel sentiu-se completamente humilhada ao ver cada olhar preso em si – Chegou o momento de fazermos… - Marco não estava no perfeito juízo e isso notava-se não só pelos seus olhos desfocados como também pelo efeito que o álcool já fazia em si – ora bem… - ele pigarreou – fazermos um leilão! – Isabel tentava a todo o custo fugir dele mas a força que exercia no seu braço era aniquilante – E vamos começar por esta bela rapariga… - ele olha-a – A Isabel! – Ela olhava naquela multidão. Será que ninguém notava que ela não estava bem? Ninguém era capaz de entender o nojo que o Marco era e o quanto estava a magoa-la? Usa-la? </div>
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<br /></div>
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- E posso vos garantir que esta bela rapariga, ainda por estrear, dará um bom momento de conversas e bem…quem sabe mais não é… - Marco não falara mais até porque o embate violento sobre a sua cara fê-lo tombar para trás. Ainda estava a tentar recuperar daquele inesperado embate quando já estava a ser abalroado contra a mesa. Todas as atenções se centraram naquele meio e a tensão era bastante elevada. Assim que Marco conseguiu recuperar, deparou-se com Javi bem na sua frente. Apressou-se a limpar o sangue que escorria do seu nariz e não coibiu de lançar um olhar bem carregado. </div>
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<br /></div>
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- Isto tudo para dizeres que a querias? – a ironia estava bem assente na voz de Marco mas, o que mais impressionava era toda a ira que o assolava e que Javi a conhecia tão bem. </div>
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<br /></div>
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- Isto tudo para te avisar que se lhe voltas a tocar rebento-te essa cara! – atirou sem demoras e com toda a frontalidade.<br />
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<b><span style="font-size: large;">~</span></b></div>
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Preview do proximo capitulo:</b></i><br />
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"- E vou deixar as coisas assim?! ele tentou…ter relações comigo à força! Sinto ódio dele, vontade de o esganar, de o fazer sentir aquilo que sinto neste momento! E se ele vier atrás de mim? Achas que deixarei impune o que aconteceu?</div>
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<br /></div>
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- tu não vais fazer nada porque ele não vai se aproximar de ti – Javi adoptara uma postura defensiva – isso eu garanto-te!</div>
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<br /></div>
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- como podes ter tantas certezas disso?</div>
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- dou-te a minha palavra – garantiu com uma certeza que deixou Isabel arrepiada.</div>
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- Ouve, Isabel… - Javi tinha entrado no instante em que Isabel retirava a t-shirt ficando apenas com a lingerie vestida. De um jeito estonteante ele mirava-a perdendo o raciocínio do que iria falar. Nem por um minuto ela se acanhou, continuando a vestir-se."</div>
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<b><span style="font-size: large;">~</span></b></div>
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Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-25592322906828547652015-12-06T07:07:00.001-08:002015-12-06T07:07:05.506-08:00Capitulo 20<div style="text-align: justify;">
O dia tinha começado de uma forma um pouco difícil ou não fosse o mau tempo alterar todo o quotidiano dos habitantes de Múrcia. O boletim meteorológico alertava a província para alerta vermelho com previsões de fortes rajadas, chuva e trovoadas. Foram com estas notícias que Isabel acordava e ficava atenta a olhar para a televisão enquanto saboreava as torradas e café quente que tomava. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ainda bem que hoje só temos aulas na parte da tarde… - agradeceu enquanto trincava um pouco da torrada.</div>
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<br /></div>
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- Não me apetecia nada sair de casa – interveio Adriana – já viste como o tempo mudou? Ontem estava um dia agradável e mesmo enquanto estávamos na feira estava-se bem…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Estamos no Inverno, que tempo esperas ter? Só acho escusado ser alerta vermelho e ter quase cem por cento de probabilidade de, assim que colocar os pés lá fora, ser varrida pelo vento! – Adriana revirou os olhos. Parecia ter acordado visivelmente cansada e carregava um semblante desanimado, o que não passara despercebido aos olhares atentos de Isabel. – O que se passa contigo?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que se passa comigo? – Isabel abanou a cabeça – nada! </div>
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<br /></div>
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- Estás estranha desde ontem à noite. Foi algo que se passou com o Eduardo?</div>
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<br /></div>
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- Claro que não – ripostou de imediato.</div>
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<br /></div>
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- Então…com o que é? – Adriana bufou </div>
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<br /></div>
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- És tão chata às vezes… - retorquiu</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sei, as pessoas cansam-se de me dizer isso. Mas ser chata neste momento parece-me ser a melhor opção! Por isso…podes começar a falar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh Isabel, já disse que estou bem! Que raio, porque insistes?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Porque conheço-te e sei que não estás bem! Tanto que viemos, ontem, o caminho todo em silêncio e nem me interrogaste sobre o episódio do peluche. E isso…não é bom sinal! - Adriana acabou por revirar os olhos e percebeu que Isabel estava com ideias de continuar a persistir naquele assunto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O Eduardo fez-me o convite de jantar na casa dele no próximo Sábado…apresentar-me à família dele como namorada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ui…isso já vai nesse patamar? - brincou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh Isabel… - advertiu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei, calma! Estava a brincar…qual é o mal do convite dele?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Qual é o mal? Não achas que…pode ser demasiado rápido?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O quê, conheceres a família dele?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vocês são namorados…estavas à espera do quê? Namorar às escondidas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sei! Eu sei… - Adriana parecia aflitiva e incomodada – Só que…não esperava que as coisas fossem tão rápidas! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Amiga, tens de perceber duas coisas. Primeiro: só estarás em Múrcia mais alguns meses o que acaba por acelerar todas as coisas, os vossos sentimentos e a relação. Segundo, e talvez o mais importante: pensar se toda esta pressa vale a pena. Se o que tu sentes por ele é realmente verdadeiro ao ponto de conheceres a família dele… - Isabel sentiu a sua amiga a baixar a cabeça e por instantes um silêncio constrangedor sentiu-se por ali. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu gosto dele…muito mesmo, só que…não sei explicar! Oh Bela isto é tão complicado…nunca senti nada disto por outro rapaz e o Eduardo é mesmo especial e não sei se é por isso que tenho receio de tomar este passo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Explica-lhe isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E se ele ficar chateado?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não tem de ficar! Só tem de compreender, aliás vocês namoram há semanas…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Há um mês e meio… - sussurrou</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Há quanto?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Há esse tempo que ouviste – Isabel abriu a boca</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não acredito! Como pudeste esconder-me uma coisa dessas?! E eu a pensar que tinha sido há um par de poucas semanas… - Isabel fingia estar chateada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Amiga…não desconverses, afinal de conta, também omitiste-me que andavas de conversa fiada com o Javi – Adriana sentia a necessidade de mudar o tema de conversa e, aproveitando algo que queria tirar satisfações à sua amiga, virou o jogo a seu favor. Ao reparar nas feições de Isabel, percebeu que o seu namoro com o Eduardo não seria tema de conversa nos próximos tempos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Desculpa mas o que acabaste de dizer…? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que ouviste. Ah! E não venhas com conversas da treta porque o peluche que está no teu quarto comprova o que acabei de dizer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu não ando de conversa fiada com o Javi! E até fico ofendida por insinuares uma coisa dessas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ai não? Então explicas-me o que se passou ontem? A troca de galhardetes entre o Marco e o Javi e o espectáculo que proporcionaram? Aquilo mais parecia uma disputa de machos! Só um cego é que não percebia as intenções de ambos…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ai que agora só me faltava dizeres que estavam, ambos, a disputarem-me e aquilo não passou de uma cena de ciúmes! – Isabel levantou-se da mesa e a força com que depositou a caneca na banca mostrava a fúria que sentia mas nem esse lado mais enraivecido demoliu Adriana que mantinha-se convicta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não diria uma de ciúmes mas que houve um grande momento de tensão e muito estranho…houve! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a única coisa que eu vi foram duas pessoas idiotas que estavam a fazer tudo menos a disputarem-me como machos! – Isabel voltou a sentar-se – Eu sei bem que eles odeiam-se e eu fui apenas um pretexto para se picarem. Só não sei porquê…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O Eduardo também não gosta dele. Desde o primeiro dia que anda a dizer-me para não me chegar perto dele e até tu deverias afastar-te…Eu insisto sempre em perceber o que raio eles têm contra o Marco mas sinto-o tenso sempre que se fala nesse assunto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Começo a achar que é implicância deles contra o Marco…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Achas que é mesmo isso? É que ontem o Eduardo parecia mesmo chateado pelo que aconteceu sem falar que mal te viu com o Marco ficou tenso. Algo se passou com eles…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Bem, seja o que for não me interessa saber. Nem compreendo essa protecção toda em redor dele…caramba, não pretendo casar com ele! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Só pretendes mesmo…dar umas voltinhas – insinuou Adriana – achas que o que vocês têm pode evoluir…? – Isabel soltou uma breve risada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não…O Marco é irresistível e tenho de admitir que me atrai mas não passará disso. Como se costuma dizer…não houve a tal “faísca”! – Resolveu brincar – E com esta conversa toda esqueci-me das horas… - falou enquanto mirava o relógio que tinha no pulso – combinei em almoçar na quinta. Vens comigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Os teus avós não se importam?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh…dezasseis anos de amizade e ainda fazes essas perguntas? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pronto…! – As duas, depois de dedicarem um pouco do tempo a lavar a loiça do pequeno-almoço, acabaram de se arranjar. O dia estava frio e portanto Isabel decidiu escolher uma roupa quente, desde a sua camisa polar xadrez conjugando com um par de calças de ganga e umas botas cano alto castanhas. Quando se preparava para buscar um dos cachecóis, reparou no peluche que estava pousado na cadeira. De imediato a noite anterior veio à baila e no meio de tanta confusão, não coibiu de deixar escapar um sorriso…tinha de admitir que o peluche em forma de urso era gigante mas igualmente bonito. E mais difícil que dizer para si mesma que gostara daquele prémio, seria admitir que gostou que Javi lhe tivesse dado…parecia imperpétuo e ridículo, Isabel sabia. Instintivamente veio-lhe à memória o episódio do Natal, quando encontrou-o deitado sobre o boneco da sua irmã e talvez fosse isso que a deixasse numa panóplia de sentimentos que nem a própria os sabia justificar. Continuava a não gostar de Javi e achava-o arruaceiro mas parece que desde aquela noite que as coisas deixaram de ser as mesmas. O jantar improvisado no meio da rua, a aflição que viu nele quando soube que a irmã estava desaparecida e o próprio ambiente que sentiu na casa dele, ou melhor, na casa dos pais. Depressa se apercebera que Javi já não vivia ali, num sítio repleto de conforto, bem-estar e um tão pouco de luxo. Então…porque passaria a consoada na rua? Isabel lembrou-se que também podia fazer essa pergunta a si mesma quando a sua família não passava por nenhum sufoco e estavam rodeados de conforto. No entanto, também passara a noite de Natal sozinha, longe de laços familiares. Talvez Javi estivesse zangado com os pais…seria a sua personalidade irreversível? Teria ele feito qualquer coisa errada? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Estás pronta? – Fora a voz da sua amiga que irromperam-lhe os pensamentos. Isabel apressou-se a olha-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim…falta-me apenas o cachecol – Pegou num à sorte, tirou o casaco e a mala do armário e saíram de casa. Rumaram até à quinta acompanhadas pela forte chuva que persistia juntamente com as rajadas de vento que por vezes assustavam. Estava previsto um dia típico de inverno e assim foi. Salvando todo o frio persistente, fora o conforto passado na casa que, apesar de todas as divergências, gostava. Os seus avós, Maria e Javi, deliraram assim que a viram chegar e em momento algum deixaram de demonstrar a vontade que sentiam em tê-la de volta de vez, ao passo que Isabel, achava ser cedo…Para passar a esse passo, existia algo a fazer. E esse algo, corroía-lhe toda a alma e pensamento, fazendo com que, para si mesma, magicasse um plano para tal…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">~</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O silêncio imperava naquele lugar como se tratasse de um local sagrado, o chão já gasto pelos anos e desgaste que sofria, dava sinais de quem passava naquela zona da biblioteca. Não era um espaço grande mas não deixava de ser incrível como aqueles armários transpunham de livros infinitos. Isabel olhava para eles e sentia-se confusa em entender como a bibliotecária entendia-se em procura-los como se tratasse da coisa mais simples do mundo e todos aqueles que a procuravam, não passavam de almas perdidas e inocentes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A única mesa disponível era a ultima da fila mas ela não se importou. Pousou o portátil e ligou-o. Escolhera aquele lugar porque sabia que ali ninguém a incomodaria…faltara à aula de saúde comunitária porque a ansiedade corroía-lhe que nem traças perturbadoras à procura de um pedaço para se consolarem. Isabel estava naquilo há quase um mês…diante de buscas incessantes pelos chats da internet, associara-se a alguns grupos das redes sociais de pessoas adoptadas que procuravam a sua família de origem. Aquilo era um mundo sem fim…nunca imaginara que existissem tantas pessoas que procuravam informações sobre os laços biológicos e com histórias idênticas à sua. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1: </b>Olá gente…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel tinha entrado num dos chats e estavam quatro pessoas online. Habituara-se a ter conversas com aquele grupo invisível mas que tinham histórias de vida semelhantes, o que fazia sentir-se consolada em certa parte. Afinal, não estava sozinha naquela história.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados:</b> Hei! Então? Como foram essas férias?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1:</b> Oh…uma treta! Afinal as bahamas não passa de uma desilusão! Aposto que todos os folhetos das agências são feitos no Photoshop. Enfim…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados</b>: Não fiques assim! Para teu consolo eu passei o fim-de-semana enfiada na cama com uma gripe tremenda. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1</b>: pelo menos não gastastes mais de mil euros em viagens!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados:</b> mas quem pagou isso tudo?? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1:</b> O meu padrasto. O infeliz tinha de ser útil em alguma coisa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel decidira entrar na conversa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower</b>: Bom dia…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1</b>: Oh, a Flor entrou na conversa! Então, como andas? O teu nick deveria mudar para flor_desaparecida!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower:</b> oh eu sei mas tenho andado muito ocupada com os estudos…mas tenho sempre acompanhado as vossas conversas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1</b>: Então e novidades sobre o teu caso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower:</b> infelizmente, nenhumas. Farto-me de pesquisar sobre o bairro que vivia em Lisboa mas nada…Parece que houve uma requalificação e muitas casas foram demolidas. Provavelmente a que vivia também foi…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1:</b> Oh não fiques desanimada! Passaram muitos anos é natural que a informação se perca.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower: </b>Eu sei…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados:</b> Ainda bem que te encontro por aqui The_Flower! Tenho umas cenas para te contar!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower:</b> o que se passa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados:</b> A minha tia faz voluntariado por Lisboa…e numa conversa de circunstância acabou por dizer que agora está na zona da Amadora e um dos bairros que está a trabalhar é aquele em que viveste na infância!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel sentiu-se a gelar…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower:</b> tens a certeza? O que mais falou ela?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados:</b> aquele bairro foi quase totalmente requalificado, portanto, as casas que estavam lá há vinte anos atrás já não existem…perguntei-lhe se existia forma de saber o nome dos moradores daquela época, ela falou-me que falando com os moradores pode-se tentar chegar lá até porque é um bairro pequeno, todo o mundo se conhece! A minha tia ia tentar ajudar-nos!!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel sentia os dedos tão trémulos que sentiu alguma dificuldade em escrever no computador. Seria aquilo um presságio em que o desejo de conhecer a sua família biológica estaria perto?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower</b>: Tens a certeza?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower: </b>a tua tia ajuda-nos mesmo?! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados: </b>Sim!! Só tens de me disponibilizar as informações que tens acerca da tua família…isto se quiseres, claro. Eu sei que não nos conhecemos pessoalmente mas estamos aqui por uma causa…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower: </b>Nem sei como te agradecer…nem sei sequer o que falar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Procuro_pais_desnaturados:</b> Não sei se poderemos chegar a alguma coisa mas não custa tentar! É sempre uma ajuda!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Perdida_1: </b>Cooooool, era tão bom que a Flor encontrasse a família dela!!! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The_Flower: </b>Oh Meu Deus….</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A conversa caiu. Todo o seu corpo tremia num nervoso miudinho que a deixava com uma vontade imensa de sair dali e gritar a todos os cantos do mundo que tinha conseguido algo. Mesmo que não desse em nada pressentia que a luz ao fundo do túnel estava cada vez mais perto…Pelo menos era isso que tentava pensar. Ou estaria errada e aquela pista não daria em nada?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">~</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois daquela tarde passada na biblioteca que Isabel sentiu-se diferente, onde renasceu uma determinação que já não sabia como era a sensação de a sentir. Passara uma semana desde tal e por entre os dias dedicou-se a arranjar um jeito de tirar as teimas…Tinha de o fazer antes que as incertezas dessem cabo de si. Naquele momento estavam todos reunidos em casa, a sua companhia era partilhada com Adriana que mantinha-se concentrada nos trabalhos, Ricardo que estava ao telefone com a família e Renato que lhe fazia companhia no sofá. Lá fora o tempo estava ameno e o sol espreitava por entre as nuvens escalfadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tenho algo a dizer-vos… - Isabel pigarreava para que aquela pressão sentida na garganta desaparecesse. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O quê? – perguntou Renato que desviara a atenção que mantinha na televisão para a olhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu vou a Lisboa daqui a dois dias…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vais a Lisboa fazer o quê? – desta vez tinha sido Adriana a falar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu nunca vos contei isto mas…eu já ando há algum tempo a fazer pesquisas sobre a minha possível família biológica. Os meus avós chegaram-me a falar qual era o bairro onde vivia e a partir disso descobri algumas informações…Acho que vou até lá ver se descubro alguma coisa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Porque nunca nos falaste disso? – a voz do seu amigo soava alguma inquietação e surpresa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Porque não queria que isto desse em nada e se fosse caso disso esqueceria o assunto…Só que descobri e não posso ficar quieta! Eu sei que deveria falar convosco mas no momento remeti-me ao silêncio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Espera, vais a Lisboa fazer exactamente o quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vou ao bairro e tentar saber se sabem alguma coisa da minha família…soube que ainda vivem por lá famílias do meu tempo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Os teus pais sabem disso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não…e nem ficarão a saber!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Então…como pretendes ir a Lisboa sem que ninguém fique a saber? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Para isso é que conto convosco…eu não quero que a minha família saiba disto, não podem! Até porque os meus avós fizeram prometer-me que não contaria aos meus pais que descobri a forma como me abandonaram. Se contasse que ia ao bairro, perceberiam de imediato que eles me contaram algo…Não quero isso! E eu peço-vos que nos dois dias que lá estiver, tentem ocultar a minha presença!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E tu vais como? Com quem? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sozinha – concluiu como se tratasse de algo obvio perante a incredulidade que estava estampada no rosto de Adriana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nem penses! Bela, não vais sozinha para Lisboa…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Porque não? Não tenho medo Renato!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não se trata de uma questão de teres medo…trata-se da tua segurança. Não sabes como é o bairro e não é seguro ires sozinha!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Renato, eu tenho de ir lá! Preciso de fazer isto e não posso depender de ninguém. Não posso esperar para que, só daqui a alguns meses, for lá…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ninguém está a dizer isso. O que queremos dizer é que podíamos ir contigo! Somos teus amigos, sabes?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh…! Não vos posso pedir uma coisa dessas. – Isabel abanara a cabeça – vocês não têm obrigação nenhuma de despenderem do vosso tempo para irem comigo…! Não faz sentido!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ouve…somos teus amigos, okay? Não só para as boas ocasiões mas para tudo. Nós vamos ajudar-te nisto e não é apenas para tentar esconder às pessoas que vais a Lisboa mas porque também vamos nos meter ao barulho! Esquece…nem tentes dizer o contrário. Está decidido e vamos contigo…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Concordo com o Renato – determinou Adriana. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isso seria pedir demais de vocês… - Isabel acabou por levantar-se do sofá para se dirigir junto da cozinha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Também não estávamos a pedir a tua autorização. Espero que tenhas percebido isso… - Ela olhou para os seus amigos e naquele instante sentiu-se do tamanho de um grão. De um tamanho tão pequeno e que parecia caminhar sobre um fio de linho que a qualquer momento ameaçava cair…Isabel sentia-se na corda bamba e percebeu a volta repentina que a sua vida levara. Apesar de sentir-se constantemente a balançar sabia que no meio da azáfama alguém lhe amparava a queda. E perceber que tinha os seus amigos por perto fê-la sorrir…e achar que mesmo que tudo desse errado nunca estaria sozinha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada…nem sei como vos agradecer! Acho que… - O telemóvel de Isabel tocou naquele instante, interrompendo o que ia falar. Estava mesmo do seu lado e olhando para o visor percebeu de quem se tratava. Naquele instante, nem se lembrara dele e sabia que havia uma conversa pendente entre ambos. Pegou nele atendendo a chamada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olá Marco…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olá Isabel! – ele saudou-lhe de um jeito nervoso que estava escondido na sua voz graciosa. – tudo bem contigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim…está tudo bem! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olha…eu estou mesmo perto do teu prédio, achas que dá para falarmos? - Isabel respirou fundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim Marco, podemos. Demoro nem dez minutos….podes esperar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Claro! Toma o tempo que quiseres…espero-te junto à porta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Okay…até já!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Até já…beijo! – Isabel desligou a chamada e sentiu de imediato três pares de olhos em cima de si. Olhou-os e notou neles uma certa curiosidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O Marco é teu namorado? – perguntou Ricardo que acabara de se juntar a eles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não! Oiçam…nós não somos namorados nem tenciono que o sejamos. Apenas…estou a desfrutar da companhia dele – um silêncio gerara-se ali e nenhum deles respondera-lhe – não me condenem, pode ser? Ele também não é pessoa de querer relações e eu também não. Vou aproveitar para me divertir visto que a minha vida pessoal está um caos! Quero esquecer que a minha mãe biológica me abandonou no hospital, que saí da casa dos meus avós, que tenho uma prima que me odeia e faz questão de me infernizar…pelo menos quando estou com ele esqueço-me disso tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas não estamos a dizer o contrário…só queremos nos certificar que não existe nada entre ti e o Javi. – Isabel revirou os olhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Até vocês?! – o seu tom de voz aumentou – eu não tenho nada com ele, porra! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas não é isso que o pessoal está a comentar. Até porque depois do que se passou na feira popular, comenta-se que eles andaram a disputarem-te…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu juro que a próxima pessoa que me disser isso eu passo-me da cabeça! – Isabel estava visivelmente irritada – porra, maldita noite! Que raiva! – Dito isto, saiu dali disparada até ao seu quarto. Assim que lá entrou apressou-se a bater a porta e nem percebera a força que depositou em fecha-la. Sentou-se ao pé da cama e tentou acalmar-se…Mas o seu olhar fora ao encontro do peluche que estava mesmo na sua frente e a noite da feira veio à tona. Queria manda-lo da janela fora mas se o fizesse iria, mais tarde, sentir falta dele pois no fundo gostava do peluche. Sempre quis ter um e agora que o tinha odiava-o…simplesmente pela pessoa que o dera. </div>
<div style="text-align: justify;">
Abanou a cabeça e saiu dali. Em menos de nada, estava junto da porta do prédio e encontrou Marco sentado no muro junto ao jardim. Assim que ele dera pela sua presença, levantou-se e um sorriso pragmático surgira no seu rosto... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola… - Marco não coibiu-se em roubar-lhe um pequeno beijo nos lábios de Isabel. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Que dizes de darmos um passeio? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por mim tudo bem…! – Eles começaram a caminhar em passos vagos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ouve…devo-te um pedido de desculpas sobre a noite na feira…confesso que passei-me e não tiveste culpa nenhuma. Mas não gostei que ele tivesse metido onde não era chamado e a forma como as coisas acabaram deixaram-me irritado! – Isabel não se prenunciou. Ficou a pensar no que ouvira – Desculpa…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pedido de desculpas aceites mas com uma condição – Ela fixara o seu olhar no dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Qual? Pede o que quiseres!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Que me expliques esse odio todo com o Javi. O que se passa entre vocês os dois, hum? – Marco parou de caminhar e um olhar perplexo surgira-lhe no rosto. De todo esperava ouvir aquele pedido por parte dela. Até a própria notara surpresa por estar a perguntar tal coisa quando pensava que não queria saber nada sobre o assunto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Porque queres saber isso? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Porque eu tenho as pessoas a acharem que vocês os dois estavam a disputar-me o que não é verdade, pelo menos da parte do Javi. Agora o que eu vi, e que pelos vistos mais ninguém viu, foi um odio bem distinto entre ambos. Já quando estava no morro notei isso…é perceptível pela forma como falas dele! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel… - Marco não esperava que Isabel tocasse naquele assunto – vais acreditar no que as pessoas falam? Essa gente gosta de alimentar especulações…!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Dá-me uma razão para não acreditar no que os outros falam…é mentira o que digo? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tudo bem…O Javi não é uma boa pessoa. Já tive alguns conflitos com ele, começo a achar que é perseguição e juro que não sei o porquê disso! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Perseguição em que sentido?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Conflito de interesses, talvez…Penso que ele queira roubar-me o protagonismo lá no morro, o grupinho dele acaba sempre em conflitos e mais uma vez ele quis fazer isso, como o episódio na feira! O Javi é das piores pessoas que conheci, acredita! Deves manter-te afastada dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quem decide se devo manter-me afastada dele ou não, sou eu – novamente, Isabel sentiu-se apanhada por uma inesperada revolta que saiu na sua voz. De uma certa forma não gostara de ouvir aquilo – agradeço a tua preocupação mas sei tomar conta de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei! – Marco erguei os braços na defensiva – preocupo-me contigo, vale?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sei – um sorriso surgiu no rosto dela pela primeira vez desde que chegara perto de Marco – desculpa pela minha entrada a matar… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vale…acho que não deveremos falar mais nesse assunto. Aguas passadas? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim… - respondeu depois de um curto momento de silêncio – mas aviso-te que esta é a tua ultima oportunidade. – Marco franziu o olhar. Não percebera o que Isabel pretendia com o que dissera.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oportunidade de quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Já é a segunda vez que me pedes desculpa e uma segunda oportunidade. Em todas elas referistes nunca mais repetires a asneira. – Ele soltou uma gargalhada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tens uma boa memória! – Gracejou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É o meu ponto forte, não me esqueço das coisas…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Então quer dizer que esta é a minha última oportunidade?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hum-hum – Isabel abanou a cabeça</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tu não perdoas não é? Mas gosto desse teu jeito de durona… - deixou escapar</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei! – Isabel ripostou – eu não sou durona, vale? E não te esqueças que eu não te conheço assim tão bem…Só sei o teu nome, cresceste nesta zona, sei o teu local de trabalho e que nos teus tempos livres praticas o masoquismo em participar nas corridas ilegais. Ah, correcção…adrenalina não é? – Marco sorria deliciosamente. Parecia adorar a forma irónica com a qual Isabel falava. Aliás, o seu olhar queimava. Talvez no silêncio os seus olhos transpunham as palavras não ditas pela boca. E estava bem estampado na cor avelã deles: Marco desejava arduamente Isabel. Queria-a, quase como se naquele momento a quisesse possuir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu és uma rapariga maravilhosa… - deixou escapar enquanto a olhava maravilhado. Isabel sentiu-se a corar – quero fazer-te um convite.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Que convite?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não quero que fiques com a impressão que não me conheces, portanto, vou mostrar-te um pouco de mim…sábado vai haver uma festa no bairro onde já vivi e quero que vás. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vou conhecer a tua família, é isso? – Perguntou num modo trocista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não mas…ficas a conhecer o bairro onde cresci e conhecer os meus amigos…é tudo gente de boa onda, vais gostar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Se me garantires que não acabo a noite na esquadra, pode ser que vá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Prometo! – Marco deixou escapar um sorriso – vais gostar…acredita. – Por momentos Isabel sentiu-se a descontrair e conseguiu esquecer o momento embaraçoso que se passou na feira. O sol começou a espreitar por entre as nuvens cinzentas e um calor breve fez-se sentir naquele lugar. O dia ainda só ia a metade e o tempo passou-se com imensas conversas. Marco podia ter uma personalidade forte e um tão pouco obscura mas uma coisa ninguém lhe podia contrariar. O seu sentido de humor era peremptório e Isabel gostava disso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">~</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E se marcássemos alguma coisa para amanhã? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Amanhã temos exame Adriana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh…sábado, pode ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Já tenho coisas marcadas! Ainda ontem te falei disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tens? Falaste-me? Quando? – Adriana parecia perplexa pelo que ouvia. Estavam as duas sentadas nas mesas do bar a lanchar, fazendo assim, tempo até à próxima aula. Aquele espaço estava quase lotado e tinham de falar uma para a outra num tom de voz mais elevado. – E com quem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Andas a comer muito queijo… - resmungou Isabel. Adriana estava prestes a ripostar mas sentiu alguém a puxar uma cadeira junto de si e percebeu da chegada de Eduardo. Cumprimentaram-se com um beijo discreto e as feições zangadas de Adriana foram substituídas pelo rosto corado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola princesa…Hola Isabel!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ninguém se mexe aqui…o que é estranho porque a esta hora o bar costuma estar vazio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O bar do outro complexo está em obras…o mais próximo é este. – interveio Isabel. Eduardo parecia olhar pela multidão à procura de algo e percebendo isso, Adriana também olhava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que estás à procura?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei! Mano, estou aqui! – Eduardo acenava para que alguém o visse e não demorou muito para que encontrasse a pessoa em questão. – tens lugar aqui! – Numa fracção de meros segundo, alguém chegou junto dos três. Era Javi. Assim que o viu, Isabel sentou o seu estômago a contorcer-se e revirou os olhos. A última vez que estiveram juntos foi na noite da feira…nunca mais se tinham encontrado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que se passa aqui? Que confusão! – resmungou Javi sentando-se na cadeira que ficava de frente para Isabel. De forma a não ter que encara-lo, ela decidira mexer no telemóvel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obras no bar do complexo três. – Enquanto Eduardo respondia-lhe, Javi mirava Isabel e apercebeu-se da sua vontade em ignorar a sua presença. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e parecemos doidos a gritar uns para os outros e nem a um metro de distância estamos! Antes de vocês chegarem estava quase aos gritos com a Isabel…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por isso é que nem percebeste o que quis dizer! – Isabel deixara de mexer no seu telemóvel e interveio na conversa. Talvez fosse uma forma de se distrair da presença de Javi e do incómodo que isso lhe estava a causar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tu nem sequer chegaste a responder às minhas perguntas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Respondi-te sim. Sábado, não podemos marcar a saída porque já tinha coisas combinadas com o Marco…Tenho a festa no bairro onde ele morou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sábado vou sair com o Marco! – gritou Isabel de jeito a que a sua amiga ouvisse. Estava grande confusão e os caloiros acabavam de chegar ao bar aumentando o barulho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vocês namoram? – Eduardo decidiu meter-se na conversa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim, namoramos… - Adriana olhava-a perplexa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Namoram? Desde quando?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olha lá Adriana mas hoje decidiste ficar incrédula com tudo o que digo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não mas pensava que vocês ainda não tinham chegado a essa fase…aliás tinhas frisado que eram apenas amigos coloridos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois mas evoluiu para mais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gostas dele? – Eduardo voltou a perguntar. Parecia incomodado por saber daquilo. Já Isabel encolheu os ombros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Gosto…caso contrário não estava com ele. Pareces incomodado por saber…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu…só não me gosto de misturar com pessoas como o Marco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pois, eu já soube disso. Tal como o teu amiguinho do lado que não gosta dele. – Javi que se mantinha impávido a ouvir aquela conversa decidiu centrar todo o seu olhar em Isabel. Ela fez o mesmo e pôde sentir o ricochete da raiva que Javi expelia por entre aqueles olhos castanhos-escuros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Estás a falar de mim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não…estou a falar do amigo invisível que está sentado ao lado do Eduardo. – ironizou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Esse ressentimento todo ainda é sobre a noite da feira? – Isabel quase que se engasgava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ressentimento? Qual ressentimento? Alguém aqui me está a ver ressentida com alguma coisa? – ninguém lhe respondera – acho que o único ressentido aqui és tu. – Javi soltou uma gargalhada prazerosa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que foi Isabel… - Ela sentiu-se a fervilhar pela forma como Javi prenunciara o seu nome. De um jeito esquisito. Aliás, parecia esquisito que ele deitasse da sua boca para fora o seu nome, como se conhecessem, como se existisse uma intimidade entre ambos – O Marco anda-te a incomodar por causa do peluche? Por isso é que falas nessas coisas sem nexo nenhum? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O quê, o peluche? Ah-ah-ah, a primeira coisa que fiz assim que cheguei a casa foi mandar-lho pela janela fora. Mas já que falas nisso, bem…admiro a figura de grande otário que fizeste. Se querias armar-te em grandalhão, o tiro saiu-te ao lado! Aliás, eu não sou nenhuma fêmea para ser disputada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E quem disse que andava a disputar-te? Achas mesmo que… - Javi inclinou-se sobre a mesa ficando mais próximo dela – iria perder o meu tempo a disputar uma rapariga como tu? – ele deixou escapar um sorriso trocista – mas porquê? Gostavas que te fizesse isso, hum?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deixa-te de tretas! Nunca na minha vida, preferia neste momento cair da cadeira abaixo e ser gozada por toda a gente que aqui se encontra do que querer que alguém como tu andasse a despertar a minha atenção! – ripostou com um enorme azedume e ressentimento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ainda bem que não…até porque tiras de cima de mim uma enorme responsabilidade em dizer-te que estás redondamente enganada e eu apenas quis gozar com a cara do teu namoradinho – Javi mostrava um olhar cínico – apesar de no fundo, bem lá no fundo…teres pensado nisso. Verdade ou mentira? Podes admitir, não vou contar a ninguém. – Javi calou-se e Isabel não se prenunciou. Estavam, ambos, bem perto um do outro, tão perto que para ela foi demasiado fácil pegar no copo de sumo que estava sobre a mesa e manda-lo para a cara dele. De seguida, levanta-se com toda a fúria existente, saindo dali. Naquele instante todas as atenções se centraram naquela mesa e em Javi que tentava limpar o sumo que tinha sobre a cara. Adriana apressou-se a sair dali e correu até encontrar Isabel ao fundo do corredor, pronta para abrir a porta que dava acesso ao pátio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei, Isabel! Espera! – Isabel acabou por sentar-se num dos bancos que ficava ao fundo do pátio. Passado uns segundos, Adriana sentou-se ao pé dela – és capaz de explicar o que acabou de se passar?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que queres que te diga? Aquele idiota irrita-me! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Desculpa dizer-te mas foste tu que começaste – Isabel olha-a e a fúria transpunha-se no seu rosto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh Adriana, por favor, não me chateies! – ripostou de imediato, levando-a a retroceder perante o estado exaltado de Isabel. Adriana optou pelo silêncio sabendo que naquele momento de nada lhe valeria falar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale...</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa – falou, sentindo-se mais calma e a sentir a sua racionalidade voltar à tona.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não faz mal…só quero tentar perceber o que se passou. Que o Javi te irrita já se sabe há muito…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou cansada, percebes? Não só por causa destas picardias com o Javi mas com tudo. Desde que vim para Murcia que muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo e acho que estou no limite. Começo a não ter controlo sobre as minhas acções e a melhor resposta que tenho é atacar! Talvez exagerei e se as picardias começaram foi por culpa minha mas estou sem paciência…! Apenas isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh Bela…as coisas vão entrar nos eixos vais ver – Isabel soltou um suspiro pesado. Naquele momento o telemóvel de Adriana começa a tocar e vai até ao bolso do casaco busca-lo. Era o Renato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Diz… - Isabel não conseguia perceber o que Renato falava do outro lado da linha e enquanto Adriana ouvia-o ficou a fitar as pessoas que iam saindo pela porta principal. Olhou para o relógio e apercebeu-se que já passavam das cinco horas da tarde. O sol já há muito tinha abandonado aquele local, as luzes das ruas começaram a acender e a escuridão começava a prevalecer. Estava frio e instintivamente, Isabel sentiu um arrepio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh Meu Deus… - Isabel encarou Adriana que mantinha-se impávida. Depressa se sentiu alerta – não te preocupes, eu digo-lhe. Sim…ela está aqui comigo. Okay, qualquer coisa eu digo-te. Beijo. – Adriana desligou a chamada e ficou a olha-la de um jeito doloroso. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que é que o Renato queria? – Adriana respirou fundo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Promete-me que vais ter calma…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Adriana, o que é que se passa? – Isabel começou a sentir-se a tremer por dentro e depressa se apercebeu que não iria ouvir coisa boa. Algo de ruim tinha acontecido e prova disso era o rosto assustado de Adriana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É o teu avô. Ele está no hospital…</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Boa tarde a todas as leitoras!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>espero que tenham gostado do capitulo e fico à espera das vossas manifestações. Eu sei, também vale dizerem que estou há muito tempo sem publicar mas simplesmente ando a atravessar uma fase de falta de inspiração o que torna complicado deixar-vos com capitulos regulares. Apesar disto, peço-vos paciência e agradeço, do fundo do coração, às leitoras que ainda resistem...um beijo para todas vós!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
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<b><br /></b></div>
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<b><br /></b></div>
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<b><br /></b></div>
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<b>Beijos</b></div>
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<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Diana Ferreira</b></div>
Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-22829935535050011882015-06-14T08:35:00.001-07:002015-06-14T08:35:07.919-07:00Capitulo 19<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A campainha tocou. Várias vezes tocava mas mesmo assim sentia um enorme peso na sua cabeça impedindo-a de se levantar. No fundo, não queria sequer acordar. Isabel podia contar as horas em que esteve acordada durante a noite e no quanto lamentava por aquele barulho a ter despertado. Mas quem quer que fosse, persistia e então, viu-se obrigada a levantar-se e seguir até à porta. Cambaleando pelos corredores, foi tentando despertar ao qual parecia uma tarefa impossível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já vai… - com uma mão apoiada na parede e a outra na porta, conseguiu abri-la. A surpresa não podia ser maior ao deparar-se com aquelas duas pessoas na sua frente, tão bem conhecidas para si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que fazem aqui? – A surpresa era bem visível no rosto de Isabel que não esperava ter os seus avós ali e aquela hora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podemos entrar? – perguntou Maria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro! – respondeu de imediato Isabel – entrem… - Ela viu os seus avós a percorrerem aquele corredor até junto da sala – sentem-se. – Assim fizeram. Isabel aproveitou para se sentar no sofá ao lado – porque vieram aqui? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Para, de uma vez por todas, encerrar este assunto. Temos muitas coisas por esclarecer Isabel… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei avô – respondeu enquanto encarava o chão </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que se passou ontem não deveria ter, de todo, acontecido. Em parte a culpa é minha por ter permitido que saísses de casa mas temos de esclarecer as coisas. Por mais que nós te amamos também temos ser rígidos em alguns momentos… Isto não pode ser assim! Querida, acredita que nos magoa imenso estarmos a dizer-te isto mas tens tido atitudes incompreensíveis e tens de admitir isso! Nós não sabemos ao certo o que se passou e o que andaste a fazer nessas corridas mas tens de perceber que não podia aceitar isso – Isabel olhou-a – o que se passa contigo? Sabes que podes contar connosco para tudo e nunca demos motivos para deixares de confiar em nós…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deram sim – ripostou calmamente – quando prefeririam acreditar na Marisol e não em mim, quando não fizeram nada para ficarem do meu lado e defenderem-me! E tenho de confessar que a vossa atitude me magoou e muito!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E porque é que lhe bateste? Tu nunca foste assim…nós sabemos que vocês não se dão bem mas porquê aquela atitude?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois não avó! tem toda a razão…nunca fui assim mas sabe uma coisa? Satura quando se ouve vezes e vezes sem conta que nós não somos nada. Ela mereceu aquele estalo e se pudesse dava-lhe mais! – Javi e Maria ficaram chocados a olharem para toda aquela raiva – cansa atirarem-me à cara que sou adoptada e que não sou do vosso sangue, que nunca poderei ser totalmente desta família porque não nasci de vocês! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Querida… - Isabel interrompeu Maria </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- avó, eu sei que vão dizer que para vocês eu sou como da família, como se tivessem o vosso sangue mas não podem negar que eu pertenço a outra gente… – um certo silêncio imperou ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel, nós viemos aqui para esclarecer as coisas e colocar um ponto final nestes mal entendidos…nós sabemos que erramos e tens razão quando falas que deveríamos ter-te defendido. Nós mais que ninguém te amamos e acredita, o amor que eu sinto por ti ultrapassa tudo – Javi pegou delicadamente na mão da sua neta – podemos não ser do mesmo sangue mas quem disse que é preciso sê-lo para amarmos infinitamente? Eu e a tua avó não somos do mesmo sangue e amamo-nos como tu vês… - Isabel começou a sentir vontade chorar. As saudades que sentia de receber carinhosamente todo aquele toque do seu avô… - não queremos que te sintas afastada e por isso pedimos para que todas estas coisas más sejas postas para trás e que daqui para a frente possamos recomeçar. Vamos acabar com isto minha muñeca? – pediu carinhosamente. Ela sentia-se a vacilar. Se por um lado queria infinitamente atirar-se para os braços das duas pessoas que mais amava, por outro, existia algo que a fazia vacilar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor minha querida…nós fazemos de tudo para que voltes para nós! Ontem, morremos de medo com o que pudesse ter acontecido, não sabermos onde estavas, se passaste fome, frio, o meu coração não descansava por não saber onde estavas! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podem ficar descansados que eu fiquei bem! Estou aqui não estou? Apesar de estar zangada eu…eu também senti a vossa falta – admitiu – odiei passar a noite de natal sem vocês mas eu estava tão revoltada que não conseguia dar o braço a torcer! Estava magoada, triste…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- parte-me o coração saber que passaste a noite de ontem sozinha e que a culpa é nossa também e…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei, avó não diga isso! a noite de ontem já passou e nem vale a pena falar mais sobre isso. é passado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso quer dizer que voltas para junto de nós? – a esperança era inabalável na voz de Maria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isso quer dizer, avó, que eu quero acabar com o nosso afastamento mas antes…eu preciso da vossa sinceridade e verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sobre o quê? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu não sinto esta revolta toda porque quero…sinto isso porque não sei a quem pertenço. É isso que quero que percebam. Eu tenho outra família, um pai e uma mãe que me abandonaram e que andam por ai…será que tenho outros irmãos? Tios, primos? E quem são eles? Eu preciso de saber de onde venho para puder aceitar todo o vosso amor! Entendam isso, por favor…eu preciso de descobrir quem sou eu, de onde venho e mais do que isso, saber porque me abandonaram. Só assim conseguirei sentir paz e deixar esta revolta toda para trás. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nós fazemos tudo para que deixes de sentir essa revolta! Tudo mesmo…só queremos ter a nossa Isabel connosco e que não exista mais este afastamento!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então digam-me porque fui abandonada! Eu sei que vocês sabem…sabem mais do que me contam! Quem foi que me encontrou na porta do hospital? Como é que eu cheguei até vocês? – Javi largou um suspiro pesado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ouve Isabel…essa história tem de ser os teus pais a contarem-te.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Avô, eles nunca me contarão a verdade. Só vocês me podem ajudar… - o desespero tomava conta do rosto de Isabel mas a angustia batia forte tanto no rosto de Javi como de Maria – por favor…façam isso por mim – Ela aproximou-se deles – seja o que tiver de descobrir, eu nunca deixarei de vos amar. Nunca… - sussurrou. Como poderiam aqueles avós renegarem um pedido daqueles vindo dela? Era algo pedido tão de coração, tão profundo, sentia-se toda a revolta e a necessidade de Isabel saber a verdade acerca do seu passado. Aquele era o momento propicio para acabarem com todas aquelas zangas e confusões e os três sabiam tão bem que para tal acontecer teriam de acarretar aquele pedido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas o que queres saber? Nós também não te conseguimos dizer quem são os teus pais biológicos, nunca os vimos…não sabemos nada acerca deles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e que tal contarem-me como me encontraram, hum? – eles ficaram em silêncio. Talvez ninguém imaginasse o quanto custaria tanto a Javi como a Maria, remexer naquele passado – sabem…é que nunca acreditei verdadeiramente na história de ser deixada à porta do hospital. Não com três anos… - Isabel viu a sua avó a suspirar e percebeu que ela não conseguiria falar. Conhecia-a tão bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tens razão Isabel – Javi tomou a palavra – não foste deixada à porta do hospital – Javi olhou-a – queres mesmo saber?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quero! – ripostou – sem mentiras, contem-me tudo. Todos os pormenores que podem pensar ser irrelevantes, digam-me tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vale. Então…Tu apareceste no hospital porque estavas doente com uma meningite. Precisaste de ficar internada e os teus pais contaram que vinhas mesmo muito doente…magrinha, tão pequenina…pouco ou nada falavas, tinhas um olhar tão triste…Naquela altura era mais frequente este tipo de doenças, por isso não fiques assustada. Tiveste sorte porque encontraste uma equipa médica que te acolheu muito bem inclusive os teus pais, o Pedro e a Marina. Naquela altura eles estavam a fazer internato naquele serviço e como eles contam, assim que te viram, foi amor à primeira vista – Isabel sentia-se totalmente arrepiada – Não costumavas receber visitas dos teus familiares, apenas recebias as da tua mãe e eram poucas. Nunca viram o teu pai nem familiares…Ao inico ela visitava-te mas depois as visitas foram diminuindo até que…deixou de ir lá. Ficaste um mês no hospital sem receberes uma única visita. Foi aí que os teus pais contactaram a assistente social e descobriram que a tua mãe tinha deixado o sitio onde viviam – ela fechou os olhos – procuraram e nem com os dados que tinham vossos dava para saber o paradeiro da tua mãe. Descobriu-se que viviam num bairro perto da Amadora, não tinham qualquer familiares e os vizinhos nunca se mostraram receptivos em ajudar-nos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Javi, por favor pára! – Pedia Maria que era capaz de sentir toda a dor que Isabel sentia naquele momento – isto são muitas coisas para digerir!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não! – Pediu Isabel – eu quero que o avô continue! – pediu com a sua voz trémula. Seria mesmo ela capaz de aguentar em ouvir aquilo? Nunca imaginara o quanto poderia doer ouvir aquela verdade doentia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quando os teus pais chegavam a casa contavam-nos, todos os dias, coisas sobre ti… - um tímido sorriso surgiu no rosto envelhecido de Javi – que aos poucos ias melhorando e incrivelmente falavas mais vezes. Diziam que a primeira vez que tu sorriste foi como uma dádiva. Eles estavam a apaixonar-se por ti mesmo sem o querer. Chegou uma altura em que até eu e a tua avó fomos ao hospital conhecer-te…Oh querida, assim que te vi tu correste para os meus braços e eu abracei-te tão fortemente que foi uma sensação incrível! Não o conseguimos descrever…naquela altura já não haviam noticias da tua mãe e foi aí que a assistente social avisou que terias de ir para uma instituição. Nunca o permitimos…E aí está uma coisa que só nós e os teus pais sabemos. Como eles ainda não trabalhavam não podiam entrar na justiça para pedir a adopção e por isso tivemos de ser nós a fazer o pedido…Não foi fácil argumentar para ter a tua guarda mas com bons advogados, passado três meses eras nossa! Legalmente eras nossa filha e no primeiro ano em que estavas connosco recebíamos visitas da assistente social e como perceberam que vivias em boas condições deram o aval para os teus pais passado, dois anos, puderem ter a tua guarda definitiva. E o resto já sabes…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e porque nunca me contaram isso? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a tua mãe não queria que soubesses a forma como foste abandonada. Ela achava que seria pior para ti…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro, a minha mãe e as suas teorias de como saber fazer as coisas à maneira dela! – resmungou visivelmente chateada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não a condenes Isabel! Ela só quis o melhor para ti.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quem tem que decidir o que é melhor para mim sou eu! E tenho a certeza que os anos poderiam passar que eu nunca saberia disto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas agora que já sabes podes ficar mais descansada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- descansada? Não, nem pensar. Agora é que não vou desistir de procurar a minha mãe! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu vais à procura dela?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro! Eu preciso de estar cara a cara com ela, saber porque me deixou no hospital e doente! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não faças isso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ninguém me vai fazer desistir disso, ninguém! É um direito meu, tentar perceber porque me abandonaram… - A amargura estava bem carregada em todo o semblante de Isabel e mesmo que quisessem, nem Javi e nem Maria conseguiam faze-la mudar de ideias. E com isso sabiam também, o quanto aquela história a iria magoar o quanto iria sofrer pela descoberta do passado e só tinham o medo de ela não aguentar toda aquela pressão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…se assim o queres não iremos impedir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Gracias. Pelo menos vocês entendem-me… - sussurrou. Estaria mesmo Isabel preparada para levar avante aquela história e desenterrar um passado que a poderia levar por caminhos perigosos? Ela não o sabia e nem tão pouco por onde começar. Sentia-se tão perdida naquele momento que nem chegar até à cozinha ela seria capaz de o fazer. </div>
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<br /></div>
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- Como te sentes com isto tudo? – a doce voz de Maria interpelou os pensamentos amargos de Isabel.</div>
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<br /></div>
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- oh avó… - suspirou – nem eu sei…Já suspeitava que existia algo que não sabia mas custa. De qualquer das maneiras eu fui abandonada pela minha mãe. Seja à porta do hospital ou na cama da enfermaria, que diferença faz? Ela deixou-me na mesma, não minimiza os danos que causou… - gerou-se um silêncio – Apesar de me sentir triste e profundamente desiludida, zangada com essa pessoa que me deitou ao mundo, tenho de lhe agradecer. O que seria de mim se eu não vos conhecesse? – Isabel levanta-se sentando-se no meio dos seus avós abraçando-os – desculpem-me por tudo, de verdade. </div>
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<br /></div>
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- oh meu anjo… - Javi deu-lhe um beijo carinhoso no rosto – te echamos de menos moñeca! Sejas do nosso sangue ou não…te amamos! – Aquele momento era especial e bom. A paz parecia estar a reinar novamente e não existia melhor sensação do que receber o amor de quem mais se ama e Isabel sabia disso. Por mais revolta ou incompreensão que existisse em si havia algo que não tinha preço e a isso chama-se Javier e Maria. As duas pessoas que em toda a sua vida lhe ensinaram o quão de bom a vida poderia ser. O amor, paixão, liberdade, sonhos…e em especial, o quanto os nossos sonhos poderiam caber numa só mão fossem eles do tamanho do mundo. Com vontade tudo se tornava real. Porque não? Com amor tudo se pode, tudo é possível. E aqueles avós, mais do que nunca, sabiam o quanto o amor podia mover montanhas o quanto conseguia ser improvável. E aquele momento valia ouro e não havia nada que o pudesse substituir. </div>
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E ali estava. Isabel voltava à quinta mas ainda não era para voltar. Prometera aos seus avós que pensaria imenso em voltar a viver mas por enquanto preferia dormir no apartamento e visita-los esporadicamente, talvez assim as coisas fossem ao normal de uma forma natural sem forçamentos. Assim que colocou o pé sobre aquele soalho já gasto pelo tempo, não pôde deixar de ouvir os gritos puros que ecoavam por aquela sala e depressa os identificou. Os seus primos mais novos estavam ali…Mal a sua presença se fez soar imperatoriamente, todos a saudaram calorosamente o que surpreendeu. Espera um certo desconforto mas no lugar disso estava a alegria de a ter ali. Talvez, lá no íntimo, ela não fosse assim tão transparente ao ponto de passar despercebida no seio da sua família e talvez, pudesse ela admitir, eles sentiam a sua falta e isso deixou-a estupidamente feliz. </div>
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<br /></div>
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- voltaste… - a voz incuriosa de Marisol interrompeu os pensamentos de Isabel, que se mantinha a observar o jardim através da janela.</div>
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<br /></div>
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- É…parece que sim – respondeu secamente sem querer se alongar. Isabel sabia que a sua prima queria discutir, via isso pelos seus olhos que escapuliam raiva e rancor. </div>
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<br /></div>
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- Por quanto tempo será? – insinuou – é melhor não desfazeres as tuas malas, só pela duvida…</div>
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<br /></div>
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- Não te preocupes que eu só venho aqui a visita. Podes sorrir à vontade que eu ainda não voltei definitivamente! Escusas de esconder a tua satisfação por isso. – Marisol sorriu.</div>
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<br /></div>
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- O teu lugar não é aqui…por isso e como eu sei que daqui a uns meses vais embora…tanto faz. Até podes voltar agora mesmo a dormir aqui, só em saber que em Julho voltas para Portugal eu sinto-me feliz! – Era incrível toda aquela inveja que Marisol transpunha e que agora já não fazia questão de esconder. Isabel precisou de respirar fundo ou então era tão provável que partisse para cima dela e lhe desse aquelas tão desejosas bofetadas. </div>
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<br /></div>
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- Ah! E já agora…como foi o Natal por aqui? Foi bom?</div>
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<br /></div>
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- Óptimo. Estivemos todos felizes…juntos e em família – Isabel, ouvindo-a, lançou um sorriso maldoso ao qual, ainda sem o mostrar, Marisol ficara um pouco reticente. </div>
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<br /></div>
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- Que bom! O meu também foi óptimo sabias? Não estava em família mas a companhia do Javi até que foi boa! – Isabel viu a sua prima a comprimir-se totalmente – Encontramo-nos por acaso na rua e ficamos a conversar, a beber umas cervejas e a comer uns cachorros quentes na rua...</div>
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<br /></div>
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- não acredito – atirou secamente – estás a mentir.</div>
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<br /></div>
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- por acaso até não estou. E antes que me esqueça, tenho de te agradecer…se não fosses tu e aquela nossa conversinha, eu não teria tido uma noite como a de ontem. E não é que o Javi até consegue ser… - ela parecia encontrar a melhor palavra enquanto via a sua prima a controlar-se – calmo? Bem…pelo menos não discutimos!</div>
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<br /></div>
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- callate! – gritou – tu odeias o Javi e só dizes isso para me descontrolares! </div>
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<br /></div>
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- Quem? Eu descontrolar-te? Oh Marisol…perdes o teu tempo a pensares isso. Mas queres um conselho já que gostas tanto dele? Liga-lhe. Quando estávamos juntos ele recebeu uma chamada que a irmã estava desaparecida. Fomos ambos até à casa dele e era visível que estava perturbado com o acontecimento… Deverias mostrar um pouco de solidariedade não achas? – Marisol respirava descontroladamente e com uma vontade louca de gritar-lhe - Ele não estava mesmo nada bem…até adormeceu junto da cama da irmã. Eu vi…já agora, tenho de admitir que tens bom gosto. E não é que o Javi até…um querido a dormir? Até fiquei comovida com aquele amor todo pela irmã! – Isabel já não escondia a sua satisfação em ver Marisol a contorcer-se fortemente de raiva e incredulidade com o que ouvia – Pensa neste conselho… - Dito isto vira costas e com um sorriso a delinear completamente o seu rosto bem ciente do quanto tinha deixado Marisol à beira de um ataque de raiva e de escândalo. </div>
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O dia que se adivinhava era de total confusão. Faltavam apenas dois dias para o ano novo e naquele aeroporto a confusão era geral. Isabel encontrava-se em Lisboa para passar o resto das festividades na cidade portuguesa. De cada vez que olhava para cada canto dali sentia as saudades e o quanto ela sentia falta da sua cidade. Tinha passado três meses em Múrcia, nem dera pelo tempo passar. Apressou-se a chamar um táxi e rumar até Oeiras, à sua casa. O dia estava chuvoso e o vento persistia por aquele lugar…Isabel já não sabia o que era sentir o tempo lisboeta e apesar das semelhanças com o tempo de Múrcia, aquele lugar era característico. Assim que o carro parou enfrente à moradia, apressou-se a pagar e pegar na sua mala, chegou perto do portão abrindo-o com a sua chave. Sabia que àquela hora os seus pais não estavam em casa mas era provável que a sua irmã Inês estivesse. E como era suspeito, assim que abriu a porta pôde ouvir a música alta que se fazia ouvir do piso superior. Acabou por sorrir…era tão típico daquela rapariga adolescente em ouvir metálica e fazia-o sempre que os pais não estavam presentes já que a sua mãe repudiava aqueles estilos musicais. Sorrateiramente, subiu até ao segundo piso e chegou até junto da porta do quarto. Abriu-a e encarou a sua irmã, que se encontrava deitada e com os pés pousados na parede, enquanto lia uma revista. Chegando até junto da aparelhagem, baixou o som e depressa Inês ergueu-se, quase como se naquele instante tivesse levado com um choque eléctrico.</div>
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<br /></div>
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- Mãe, desc…Isabel!? – perguntou totalmente surpreendida por ver a sua irmã ali.</div>
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<br /></div>
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- Buenas hermanita! – saudou - respira, não sou a mãe! – brincou. Sem contar com tal, e com a sua irmã ainda em cima da cama, viu-a a lançar-se sobre si abraçando-a fortemente. Isabel precisou de se amparar, de todo esperava uma atitude tão afectuosa por parte de Inês.</div>
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<br /></div>
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- boa, voltastes! – Inês desprendeu-se dela – bem… - ela levou a mão ao peito – que susto. Juro que por momentos fosse a mãe. Ela é que tem a mania de me desligar a aparelhagem! E sem falar que estou proibida de ter a musica alta e bla, bla…bla! – Isabel sorriu</div>
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<br /></div>
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- de castigo outra vez, não me digas?</div>
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- quem, eu? De castigo? A mãe é que não sabe apreciar musica! – Ela abanou a cabeça.</div>
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<br /></div>
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- Vale…estás sozinha?</div>
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<br /></div>
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- hum, hum… - Isabel franziu a sobrancelha – Ok, a Manuela está lá em baixo na cozinha mas ela não vai dizer à mãe até porque eu disse-lhe que em troca do seu silencio eu arranjava-lhe os discos todos do Tony Carreira!</div>
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<br /></div>
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- Inês! – advertiu Isabel.</div>
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<br /></div>
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- o que foi? É justo! </div>
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<br /></div>
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- tudo bem…estou a ver que por aqui nada mudou na minha ausência! </div>
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<br /></div>
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- e por quanto tempo vais ficar? </div>
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<br /></div>
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- três dias. No dia dois já volto para Múrcia…</div>
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<br /></div>
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- Oh…e quando me levas para Múrcia? Olha, podias dar a desculpa à mãe que quero visitar os avós, os tios, os primos…por favor, por favor! – Isabel sorriu sorrateiramente</div>
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<br /></div>
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- está bem…vou pensar no teu caso! </div>
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<br /></div>
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- mas pensa com carinho, prometo que tornar-me-ei a melhor irmã que possas ter! – Isabel abanou a cabeça, e dando meia volta, saiu dali. Ficou parte do tempo da tarde a desfazer a mala e percebeu como se sentia diferente ali. Tinham-se passado apenas três meses desde que deixara Lisboa mas pareciam anos. </div>
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<br /></div>
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Perto da noite, os seus pais chegaram a casa e a alegria de terem a filha de perto fora enorme e até em Marina, notava-se toda a alegria que sentia em ter Isabel por perto. Esta, por sua vez, queria falar sobre a conversa que tivera com os seus avós a respeito da família biológica mas sentiu que aquele não era o momento para tal. Nem naquele nem nos dias que se seguiram. A azafama tivera sido tanta que, entre visitar os seus amigos, estar com Adriana e fazer as ultimas compras para a passagem de ano, não sobrara tempo nenhum para tocar naquele ponto. </div>
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<br /></div>
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A noite tinha sido agradável. Típica de ultima noite do ano em que todas as pessoas dedicavam segundos para conceberem os últimos desejos do ano. Isabel não era excepção à regra e desejou, mais do que tudo, para que conseguisse descobrir alguma coisa sobre o seu passado. Desejou de tal maneira que mal poderia imaginar o quanto isso poderia mudar a sua vida. Em todos os sentidos…</div>
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Tinha chegado o momento de regressar a Múrcia, as festas tinham acabado e a hora de regressar às rotinas tinha começado. Apesar de ainda ser presente as luzes natalícias espalhadas pelas ruas, notava-se que uma nova pagina se havia virado e que novos costumes ou novas regras tinham de ser implementadas. Mas se muitas coisas tinham mudado outras permaneciam intactas, tal como, existir a rotina de acordar cedo e ir para a faculdade. Já passavam das nove horas da manhã quando, Isabel, Adriana, Renato e Ricardo, chegaram para mais um dia de aulas. Os quatro amigos acabaram por se separar, cada um para as respectivas salas, e sentiam que não estavam preparados para um dia massacrante.</div>
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<br /></div>
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- Bela…o que dizes de logo à noite irmos tomar um café? – Isabel e Adriana já se tinham sentado nos bancos da sala.</div>
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<br /></div>
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- Por mim…amanhã como não temos aulas de manhã, pode ser. Temos de falar com os rapazes.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vou mandar mensagem… - A aula tinha começado e a conversa ficara por ali. As próximas horas foram passadas da mesma forma e só se haviam visto livres daquela tormenta, quando o relógio marcava, incessantemente, as sete horas da tarde. Estavam à espera dos rapazes junto à porta de entrada, quando Isabel reparara na chegada de alguém, junto ao estacionamento. Também ele dera pela sua presença. Tinha-se passado uma semana desde aquela noite de Natal e nunca mais, tanto Isabel como Javi, tinham-se visto.</div>
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<br /></div>
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- Adriana, já volto… </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah? Onde vais? – Isabel não respondera, simplesmente caminhara até junto dele que se mantinha perto da mota.</div>
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<br /></div>
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- Hola… - Javi olhou-a.</div>
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<br /></div>
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- Hola.</div>
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<br /></div>
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- Vim só saber se está tudo bem com a tua irmã…</div>
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<br /></div>
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- Sim, está. Obrigado pela preocupação. – Javi não se alongara mais e Isabel percebera que aquele era um assunto ao qual não queria prolongar-se. Comprovando isso, era a insignificância com a qual Javi tratava a sua presença, continuando a arrumar as suas coisas na mota. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…me voy! – Isabel virou costas e depressa saiu dali, juntando-se a Adriana que mantinha-se curiosa a olha-los – vamos embora – dissera, assim que chegara perto da amiga.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que foste fazer até junto do Javi? </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perder tempo – respondera secamente – foi o que fui fazer! Perder o meu tempo com pessoas bipolares… - resmungou baixinho enquanto se encaminhava para junto do carro, sem dar hipóteses de Adriana acompanhar o seu raciocínio.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Então? O que foste dizer? Diz!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Fui perguntar se estava tudo bem com a irmã dele. Afinal fiquei sem saber como as coisas acabaram…</div>
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<br /></div>
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- O que ele falou?</div>
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<br /></div>
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- que estava tudo bem.</div>
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<br /></div>
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- E não era isso o que querias saber?</div>
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<br /></div>
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- Era – respondeu secamente enquanto entrava para dentro do carro. Adriana fizera o mesmo.</div>
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<br /></div>
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- Então porque estás com essa cara de ruindade? – Isabel olhou-a perplexa.</div>
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<br /></div>
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- Porque…ele escusava de ser tão rude! Aliás, como sempre foi e será! – resmungou – Otário…</div>
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<br /></div>
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- hum…estou a perceber – Adriana soltou uma pequena gargalhada.</div>
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<br /></div>
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- Estás a rir-te porquê?</div>
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<br /></div>
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- Já percebi essa cara…</div>
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<br /></div>
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- eu estou normal!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Oh sim…mas não precisas de admitir. Eu sei que tu esperavas que depois daquela noite de Natal, o Javi fosse mais brando para ti e o que encontraste foi alguém que acabara de te ignorar. – Isabel tinha-lhe contado o que se passara na noite de Natal, inclusive como se tinham encontrado e como esta acabara. Mas a sua amiga olhara-a com tamanha perplexidade que nem dera conta do tempo que permaneceu assim. </div>
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<br /></div>
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- Não é nada disso! – tentou defender-se.</div>
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<br /></div>
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- É sim! Viste um Javi diferente do que estás habituada e acaba por ser normal que esperas que da próxima vez que estivesses com ele as coisas pudessem ser diferentes. Não me mintas Bela! Conheço-te…podes ter um feitio difícil e detestares quando as pessoas são rudes, tal como dizes que o Javi é, mas no fundo ele surpreendeu-te e tu gostaste disso. Confessa que gostaste de ver um lado dele mais despreocupado e calmo…e esperavas que ele mantivesse assim, que mal chegasses ao pé dele fosse falar contigo mais tempo. Não sei o que ele te disse exactamente, mas tu não gostaste. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que se passou na noite de Natal é passado. Ponto. Foi algo fora do normal e eu não esperava que as coisas se mantivessem iguais, tanto que nem quero que se mantenham! Não quero ser amiga dele, percebes? Fui apenas junto dele por causa da irmã, nada mais! E vamos fazer o favor de não falar mais sobre isto.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale amiga, vale… - Isabel bubafa – posso só dizer…uma coisa? – perguntou a medo pois já sabia qual seria a reacção de Isabel.</div>
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<br /></div>
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- não! Se for para dizeres asneiras mais vale ficares calada!</div>
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<br /></div>
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- okay, vou dizer na mesma e assim aproveito logo esse teu mau humor – Isabel não esperou que a sua amiga continuasse e por isso, ficara a olhar pela janela – o Javi trocou-te as voltas todas…e nem venhas negar o contrário, não a mim! Podes espernear-te toda a dizer o contrário mas ele mexe contigo!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Andatte à la mierda Adriana! Andatte à la mierda… - Adriana acabou por sorrir pois sabia que, indirectamente, a sua amiga acabara de confirmar. Conhecia-a demasiado bem para saber disso e, por tal, tinha a certeza que a história daqueles dois iriam muito mais avante, tivesse o destino que tivesse mas Isabel e Javi iriam acabar de uma forma totalmente irrevogável, contrariando assim, a forma de como se conheceram. </div>
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<br /></div>
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Os dias foram passando pela cidade de Múrcia e finalmente o mês de Janeiro tinha passado. Entre aulas e trabalhos, ninguém se apercebera da rapidez com a qual os dias passavam nem tão pouco que estavam no mês de Fevereiro. Contrastando com tal, existiam ainda coisas das quais não tinham mudado. Isabel continuava a viver no apartamento com os seus colegas, acreditando que era cedo para voltar para a quinta, contraditando a vontade que os seus avós tinham de a receber em casa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A semana passava e a cidade marcava as festividades locais, nomeadamente a chegada da feira popular. Particularmente, tudo parava e ninguém conseguia perder pitada de todos os acontecimentos daquela grande festa. Era um dos momentos mais altos daquela cidade, onde todos sem excepção, a visitavam.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Achas que devo levar este vestido ou o outro? – perguntava Adriana depois de revirar o armário inteiro à procura de uma peça de roupa para puder usar.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quantas vezes é que experimentaste esse vestido? – perguntava Isabel</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é a segunda. Mas quis voltar a experimentar…não sei, não combina muito bem com estes sapatos.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Esquece esse vestido! Leva o outro, já te disse que ficava melhor.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…tens razão.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- enquanto acabas de te vestir eu vou fazer uma chamada…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum, não me digas…vais sair com o Marcos? – perguntou curiosa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por acaso vou! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- As coisas estão a ficar sérias entre vocês os dois…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! Para já…somos amigos. Quer dizer, amigos coloridos mas não irá passar disso! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque não?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Dri…o Marco até pode ser lindo de morrer e tem o seu charme, sabe como conquistar uma rapariga mas sei que não passará disso. Se tivesse que me apaixonar por ele já tinha acontecido!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isso não é bem assim…podes sempre te apaixonar por ele!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder! Para quê? Eu vou embora daqui a cinco meses por isso não estou em alturas de paixões. Ao contrário da senhora… - insinuou – O Eduardo… - Isabel parecia ter visto a sua amiga a corar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O Eduardo…bem, ele é um querido! – Ela sentou-se perto da sua amiga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tu gostas dele?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Gosto…a valer. Acho que estou apaixonada por ele. Mesmo. E o pior é que nunca senti isto por nenhum rapaz…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu só não quero que tu te magoes, já percebi que o Eduardo até é boa pessoa e ninguém é burro para não perceber que vocês os dois estão pelo beicinho mas temos de ser realistas amiga…daqui a cinco meses vamos embora e tenho medo que isso possa vos balançar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sei Bela…já pensei muito nisso mas desta vez quero arriscar. Estou segura disso e se der mal…no final fico com a sensação que todo o tempo junto dele valeu a pena. Prefiro arrepender-me do que fiz do que poderia ter feito e não foi!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vale… - Isabel esboçou um sorriso – vale amiga! Então desejo que dure e se não durar, já sabes onde hás-de chorar! – Adriana sorriu uma gargalhada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- parva…mas obrigada. Eu sabia que ias compreender.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que ia, és minha amiga! Desde que estejas feliz…é o que interessa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">~</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mira, que guapa! – Isabel tinha acabado de chegar ao recinto da feira e depressa encontrou-se com Marco. Apesar de não existir uma relação entre ambos, iam saindo aos poucos e a atracção que nutriam também aumentava. Era difícil resistir aos encantos dele, Isabel sabia disso e dos riscos que acabava por correr mas naquele momento esse assunto era algo que queria afastar por completo. Precisava de aproveitar todos os momentos daquela festa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Exagerado… - desvalorizou. Ele fora-se aproximando dela, acabando por abraça-la pela cintura, aproximando o rosto de ambos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Antes estivesse…assim não sentiria esta vontade enorme de te beijar – Ela soltara um sorriso abafado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o que te impede de o fazeres? – Ele sorriu e acabou mesmo por juntar os seus lábios aos dela. Beijara-a com suavidade mas depressa prolongaram aquele beijo dando lugar à vontade que sentiam daquilo. Tinha sido algo bom mas longe de sentir aquele formigueiro típico de um primeiro beijo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agora sim…a noite está a ser boa! – Isabel não se coibiu de gargalhar para que, de seguida, o voltasse a beijar. Acabaram por dar uma volta pelo recinto e a noite parecia estar animada. Pararam junto a uma barraca onde disfrutaram de bebidas frescas e assim pernoitaram por um longo período. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sempre gostei de jogar nisto… - Tinham parado junto a um camião repleto de prémios. Uma das grandes atracções das feiras e que toda a gente que ali passava se habilitava a ganhar prémios.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- verdade?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…para além de ser atracção aqui, em Lisboa também o é. O meu pai sempre que jogava trazia-me um prémio…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas queres algum? - perguntou-lhe Marco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que sim! Apesar de o meu pai me oferecer eu jogava imenso com os meus primos e ganhava sempre algo! - relembrava Isabel enquanto mirava o enorme camião com os diversos prémios à disposição. Naquele instante tinha chegado Adriana que vinha a conversar com Eduardo juntamente com Ricardo, Renato e os colegas de turma. Isabel reparou que Javi também se juntara com eles e assim que os olhares deles se cruzaram, ele fez bem questão de a olhar de uma certa forma reprovadora. Reparou também nos olhares que ele lançava a Marco. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel!! - Adriana juntou-se a ela. Marco acabou por se afastar um pouco cumprimentando um grupo de amigos seus que também tinham chegado - então como está a correr o passeio...com o jeitoso do marco? - ela riu-se </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- muito bem! estou a gostar de conhecer aquele seu lado...misterioso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- misterioso e bem interessante!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, dedica-te ali ao Eduardo que eu dedico-me ao Marco! - ela acabou por referir este comentário um pouco alto ao qual Javi o conseguira ouvir. acabou mesmo por ficar atento à conversa delas.</div>
<div style="text-align: justify;">
- é...vê lá se isso não dá mais do que amizade... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- também...não tinha nada a perder! - acabaram as duas por se rirem perante aquela conversa </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou ali e já volto... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está bem - Isabel acabou por ficar sozinha mas por questão de segundos. Depressa sentira a presença de alguém junto de si</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- andas com o Marco? - perguntou sem a olhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que tens a ver com isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- afasta-te dele - avisou-a depois de uns breves segundos de silêncio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa, desde quando é que decides o que eu faço? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já te disse...ele não é pessoa para se confiar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porquê, tu és? - ripostou levando Javi a sorrir ironicamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- depois não digas que te avisei...princezinha... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- coño! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- passa-se alguma coisa? - Marco acabava de chegar e mostrava bem o quanto não estava a gostar de ver Javi perto de Isabel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não...não se passa nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens a certeza? - Marco lançava um olhar desdenhoso a Javi e este quase que escapulia faíscas do seu olhar. Era nítido toda a tensão existente entre ambos o que acabou por intrigar Isabel. Porquê tanto ódio entre eles?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já disse que não!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então? qual é o prémio que queres que ganhe? - perguntou Marco com um sorriso no seu rosto, ignorando assim a presença de Javi. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- aquele! - Isabel apontou o dedo para a parte de cima da montra - quero aquele peluche grande! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o maior? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro! não me digas que não consegues ganha-lo? - Marco olhava para lá e sabia que para o ganhar teria de acertar em cheio nas bolas todas o que era algo difícil. Mesmo assim não dera o braço a torcer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por ti...eu consigo tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- optimo! quero então aquele peluche, o maior!! - Isabel lançou um olhar trocista a Javi que assistia aquela cena toda. Marco deu-lhe um beijo nos lábios acabando por sair do pé dela, chegando-se para junto do balcão. o jogo consistia em deitar as bolas todas ao chão mas para isso tinha de fazer tudo de uma só vez, numa única oportunidade. Só assim conseguiria ganhar o maior prémio, o peluche que Isabel pedira. Começou por lançar a primeira seta mas só conseguira derrubar sete bolas, sendo que ao todo eram dez.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- parece que o teu namoradinho não te trará o peluche... - espicaçou Javi com um ar completamente de gozão. Isabel olhou-o de soslaio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deves ter muito a ver com isso...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha, sabes que nem qualquer um consegue derrubar as dez bolas de uma só vez! - ela riu-se </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum, hum...porque tu deves conseguir! - ironizou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sou bem capaz disso... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- dá-me gozo dá... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- queres pagar para ver?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só se fosse muito otária! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum...só um bocado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que cabrão... - sussurrou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha que eu ouvi!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem que ouviste!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só é pena falares muito baixinho! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- és mesmo estúpido! - resmungou - vê-se mesmo que ninguém te quer... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a ti também não!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?! - ela olhava-o incrédula</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, a ti também ninguém te quer! só mesmo aquele playboyzinho que...não sei se sabes...mas tem a fama de gostar bem de petiscar todos os iscos da cidade! - ele ria-se - ao qual tu caíste bem no seu anzol! - Isabel olhava-o incrédulo</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- presunção e agua benta... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi? não queres admitir? - Javi ria-se maliciosamente ao reparar na cara de zangada que Isabel apresentava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não tenho nada para admitir! não sou como certas pessoas...que a bipolaridade lhes afecta o cérebro todo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- presumo que estejas a falar de ti mesma ou então do teu namorado. – Ela sentia-se a ferver. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então não eras tu que dizias ser capaz de ganhar o maior prémio? – Isabel quis mudar de assunto – quero ver onde és capaz disso! – Javi olhou-a atentamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não deverias duvidar do que sou capaz – avisou-a olhando-a cuidadosamente – já te dei provas de que faço o que cumpro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quero ver isso – insinuou mostrando todo o seu cinismo. Por breves instantes entreolharam-se mostrando toda a tensão que aquele momento mostrava, contrastando totalmente com a noite de Natal, onde tinham passado um momento agradável e calmo. Se ele seria capaz de ganhar o maior prémio? Não sabia mas nunca mostraria a sua parte mais fraca nem tão pouco recusaria um desafio, não para Isabel. Nem tão pouco deixaria escapar a oportunidade de puder ganhar um duelo com Marco, portanto, tudo ali o aliciava com tamanha adrenalina para se juntar, de imediato, ao camião. Já Isabel olhava-o com a sua determinação e depressa sentiu as suas pernas a fraquejar. A sua garganta secou e depressa desejou que aquele momento acabasse, arrependendo-se de imediato de o ter desafiado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim que chegara junto do camião, arregaçou as mangas do seu casaco. Marco olhou-o de soslaio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que haces aqui? – perguntou secamente. Para Javi, ouvi-lo provocava em si náuseas e ninguém conseguia imaginar a força que tinha de fazer para se controlar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vim dar-te uma ajudinha – ripostou. Olhando para a caixa de onde se encontravam as setas, pegou numa e depressa a atirou contra a parede. Tinha acertado. – Falta-te pontaria. – Marco deixou escapar um sorriso malicioso. Pegara numa seta e, com toda a sua força, atira-a acertando ao lado. A parede do caimão abanara com tamanha força, deixando o empregado de olhos arregalados. Javi não se deixara ficar e, os minutos seguintes, foram passados numa disputa renhida para ver quem ganhara o grande prémio. Tanto Isabel como os restantes que ali estavam, notaram a tensão e rivalidade que ali existia. Chegara ao fim da rodada e nenhum estava disposto a ceder.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- A ronda acabou… - anunciou o empregado nervosamente. Olhara para a parede dos jogos e via-a quase destruída com a força com que eles lançavam as setas. Nenhum deles o ouvira e Javi, olhando em seu redor, percebeu que não existia mais nenhuma caixa de setas – se quiserem podem ficar com o prémio mais pequeno, recebem aqueles peluches mais pequenos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Joder! – exaltou-se Marco – quero mais uma caixa de setas! – gritou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não há mais… - gaguejou o empregado – vocês destruíram-me a parede toda! Têm sorte de não vos obrigar a pagar os estragos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- puta mierda! – exaltado, Marco empurra, violentamente, as caixas que ali estavam assustando o empregado. Isabel, vendo os ânimos exaltados, chega perto deles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei! Chega…esquece o peluche. Vamos embora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nem pensar! Eu…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Já disse, vamos embora! – interrompeu-lhe – vamos – Isabel pegara-lhe na mão tentando-o tirar dali mas Marco não tirava os olhos de Javi, que ainda permanecia junto deles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabes…é muito feio quando não se cumpre uma promessa… - desdenhou Javi, vendo Isabel e Marco a abandonarem o local. Ambos olharam-no – que falta de apreço com a tua namorada, Marco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que tu queres? – Marco lançou-se à frente sendo depressa barrado por Isabel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Fazer aquilo que tu não foste capaz de fazer – Ele olhou para Isabel, deixando escapar um sorriso malicioso – tenho por norma cumprir as minhas promessas, por isso… - Javi, virando-se para o balcão, lança-se sobre ele, saltando para cima. Depressa uns burburinhos se ouviram.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sai dai! Eu vou chamar a policia!!! – gritou o empregado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sai daí Javi! – Atónica, Isabel olhava-o sem saber quais as suas intenções e apenas conseguia ter noção de que o seu coração disparava fortemente. Já Javi, subira um pequeno degrau de forma a conseguir alcançar os peluches que estavam pendurados no tecto do camião.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eres loco, sai daí Javi! Vais cair!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Qual é o que queres? – Gritava Javi, esforçando-se para se equilibrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nenhum!! Saí daí! – gritava Isabel sentindo o pânico a apoderar-se de si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- diz-me! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Puta madre, diz-me qual é o que queres!! – gritava, tornando-se nítido as suas veias salientes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não!! Tu és louco, sai daí!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Joder, ou dizes-me qual o que…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, vale!! – gritava – quero o da direita! – cedera. Javi assim fizera e tirara o peluche que estava ao seu lado. Tendo—o na sua mão, salta do degrau para que, de seguida, saltasse do balção fora. Era bem visível a sua respiração ofegante juntamente com a sua testa onde o seu suor escorregava. Ainda atarantada com aquele momento, Isabel via-o a entregar-lhe o peluche.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- toma, é teu… - Com a respiração totalmente descontrolada e rouca, Javi desaparecera dali, por entre a multidão, deixando Isabel com o peluche na mão ainda com os seus pensamentos completamente parados, totalmente descontrolados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deita-me isso fora!! – gritava descontroladamente Marco. Por momentos, Isabel focou a sua atenção nele ao senti-lo a tentar tirar-lhe o peluche.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, o quê? Vais deitar isso fora e nem penses em aceitar alguma coisa daquele palhaço! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que eu saiba ainda decido as minhas decisões, por isso o peluche fica comigo! – gritou-lhe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vamos embora, o circo já pegou muito por hoje… - Isabel ainda ouvira Marco a disparatar mas por momentos desligara-se disso. Sentia demasiado a sua cabeça à roda e ao olhar para aquele peluche na sua mão fazia relembrar do que tinha acontecido em momentos instantes. Nada parecia real e não fazia sentido nenhum…Tinha todos os motivos para estar irritada com Javi, sentindo que era errado ter roubado o peluche daquela forma mas, em vez disso, estava um sentimento de incredulidade perante ele. Será que Adriana estava certa e Javi havia-lhe trocado as voltas? Não…seria impossível aceitar isso, detestava-o e só queria distância dele. Porém, em vez disso, parecia que o destino só se encarregava de os juntar. Quando mais remava mais a maré a obrigava a voltar à praia, sendo que, uma coisa estava garantida…Isabel ainda sem saber iria remar diversas vezes contra a maré, até que, um dia a única solução será deixar-se levar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mil perdões!!!! a todas vocês, peço imensa desculpa por estar tanto tempo sem postar! Eu nem consigo arranjar uma desculpa plausível que justifique tanto tempo ausente mas finalmente consegui acabar este capitulo e espero que a espera tenha valido a pena! </div>
<div style="text-align: justify;">
Tentarei não vos voltar a desiludir...e quero agradecer às leitoras resistentes, sem vocês não sou nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
beijos a todas!</div>
<div style="text-align: justify;">
Bons Santos populares, boa sorte para os exames e para quem trabalha, um bom trabalho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diana Ferreira</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-89733420644111838032014-09-24T15:05:00.002-07:002014-09-24T15:05:28.594-07:00Capitulo 18<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>«Tu não escolhes de quem vais gostar, de quem vai ser teu amigo ou para quem vais entregar o teu coração e seu amor. Mesmo que a pessoa não mereça, tu não escolhes. Não é como panfleto de rua que tu entregas para qualquer um, mas também não é algo que tu apontas o dedo e digas “és tu e pronto”. As coisas não são assim e estão longe de o ser.»</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A noite fazia-se fria. O ponteiro do relógio fazia tic-tac enquanto que o tempo passava incessantemente. Nada faria prever aquela noite, nem mesmo as Deusas, os olimpos, os Reis ou qualquer feitiçaria possível e imaginável. Tal como sabiamente se diz, “não se escolhe” nem tão pouco “se adivinha”. Mas talvez uma única coisa pode-se prever. A sabedoria. Porquê? Simples. Todo o mundo que encontramos na vida estará a enfrentar uma batalha que não conseguimos ver. Há algo que não sabemos a esse respeito e para tal é preciso sabedoria para com essas pessoas. Sempre. Apenas para o caso de no final de tudo, não trazer surpresas tal como neste caso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bem…eu vou-me embora que esta noite já foi longe demais… - depois de um silencio longo, Isabel ganhara coragem para se levantar do passeio ainda sem dirigir um único olhar a Javi. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale. – aqueles olharem por momentos se haviam cruzado. Javi era capaz de manter-se como se momentos daqueles fizessem já parte da sua rotina mas para Isabel aquilo não passava de um incomodo. Será que ele iria contar a todo mundo que ela passara o Natal sozinha? Aquilo era tão impensável que sentia todo o seu estômago às voltas. Simplesmente…era horrível e desejava nunca mais se lembrar daquela noite. Mas…será? Será que a melhor solução passaria pelo esquecimento de algo invulgar e diferente? O telemóvel de Javi tocou. Algo a fez despertar daquele transe e ficou a observa-lo a tira-lo do bolso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sí? – Isabel poderia distinguir uns certos ruídos provenientes do outro lado da linha. Algo que fez com que Javi ficasse com uma expressão brutalmente dura. – qué? Qué dices? – num ápice, Javi levantara-se deixando Isabel com o ouvido bem atento para tentar perceber o que se passava. – como? Quando? E… - Alguém o tentava interromper. Parecia ser voz de uma mulher – não é possível! – gritava em surdina já exasperado. – eu vou já para aí! – com brusquidão, Javi desliga a chamada e naquele instante parecia um pouco perdido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Estás bem? – perguntara Isabel com relutância.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a minha irmã desapareceu… - Aquilo parecia mais uma espécie de desabafo do que propriamente uma resposta à pergunta dela. Mesmo assim, não deixara de se arrepiar ao ouvi-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Dios… - sussurrou Isabel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda atarantado, Javi começa a andar de um lado para o outro. Estava visivelmente nervoso mas havia algo no seu rosto que era totalmente desconhecido, pelo menos para ela. O medo. Havia medo nas suas feições, como se pela primeira vez as coisas estivessem fora do seu controlo. Como se não pudesse fazer nada para resolver. Ganhando alento, Javi começa a caminhar até junto da sua mota, subindo para cima desta. Era bem notável o quanto estava fora de si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei, espera! – gritou Isabel – eu levo-te, nem penses que vais de mota! – depressa se juntou a ele quase como impedi-lo de sair dali. Como se, naquele instante, andar de mota, representasse o meu maior perigo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sai da minha frente Isabel!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! tu és louco? Nem penses que vais na mota muito menos nesse estado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já disse para me saíres da frente! – gritou-lhe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e eu já disse que não! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sai!!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não! – berrou – queres também tu desaparecer é? É que nesse estado é o provável que te aconteça!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me interessa o que me vai acontecer, quero simplesmente que saias da minha frente! E juro que se não o fizeres eu passo-te por cima!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então passa! – ripostou – queres passar? Passa! – aproveitando um lapso de distracção, Isabel tira as chaves da mota. – Eu já disse que te dava boleia… - de um jeito mais calmo, Isabel estava determinada deixando-o sem outro opção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">~</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Bruscamente, Javi entra pela porta da sua antiga casa, pouco se importando com o resto. Deparou-se de imediato com a sua mãe sentada junto ao sofá juntamente com um grupo de homens.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- onde está a Melissa? – disparou. Roberta, levantara-se mostrando o quanto estava visivelmente abalada e perturbada.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Javi…nós não sabemos dela… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e porque só soube agora, porquê? – gritou exasperado – tava à espera que algo de pior acontecesse para me contar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- calma filho…nós pensávamos que ela tinha fugido para a casa de uma das suas amigas como costuma fazer ultimamente…esperamos mas ninguém sabe dela – Roberta começou aos soluços – e nem tão pouco parou em casa de nenhuma das suas amigas…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como é possível que isso tenha acontecido? – acusou num murmuro </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei! Não sei…a policia está a fazer os possíveis para que possamos encontra-la! </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah Joder! – exasperou virando costas. Disparado, Javi sobe as escadas num lanço parando no quarto da sua irmã. Ela não poderia simplesmente desaparecer pois Melissa não era assim. Sempre fora mais responsável do que ele mesmo, era uma rapariga calma, meiga…não ia fugir assim, do nada. Ficou a olhar para todos os cantos quase como à procura de algo que lhe desse uma pista de onde ela estava. Uma carta? Uma fotografia? Peça de roupa? Abriu o armário e a roupa estava intacta. Basculhou e nada…nada fazia prever onde estava a sua irmã. O tempo ia passando e os nervos acumulavam de tal forma em si deixando-o tenso. Acabou mesmo por se sentar na cama. Javi não podia perder a sua irmã, a sua pequenita. Começou a sentir remorsos do pouco tempo que lhe dedicava, a escassa atenção que um irmão mais velho deveria proporcionar-lhe e mesmo a protecção que deveria estar inabalável. Ele tinha falhado, tinha de admitir isso mesmo que lhe custasse. </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel ficara petrificada à porta daquela casa sem saber se entrava ou ia embora. Reparou no carro da polícia que estava à porta e pensou que estariam todos concentrados em encontrar o paradeiro de Melissa. Voltou a pensar nos últimos minutos que vivera. Aquela noite estava a ser terrivelmente inesperada para si e nada faria prever um desfecho daqueles. Voltou a reparar na fachada da casa e percebeu que era grande. Jardim bem arranjado, as luzes que ofuscavam as paredes, os carros de bom porte juntamente com as camaras de vigilância que a casa tinha. Javi era rico? Será? Uma coisa que contrastava com ele. Nada faria prever que fosse uma pessoa com bons portes mas para ter a polícia particular em sua casa, era a prova disso. </div>
<div style="text-align: justify;">
Decidida a não pensar nesses pormenores, resolvera entrar. Não estava ninguém naquela sala ampla mas conseguia distinguir vozes que provinham de uma outra divisão da casa. Ficou a mirar ao seu redor e encontrou uma fotografia de uma rapariga nova. Pela aparência, pelo sorriso ou mesmo através dos olhos parecidos com Javi, conseguiu decifrar que seria Melissa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que deseja? – uma voz fê-la sobressaltar. Olhou na sua frente deparando-se com uma senhora que deveria ter os seus sessenta anos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…eu…eu dei boleia ao Javi e…queria saber como ele estava! – respondeu de um jeito um tão pouco atrapalhado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum, estou a ver… - aquela senhora olhava-a de um jeito intrigante. Parecia estar a observa-la com maior detalhe – disse que lhe deu boleia foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…ele queria vir de mota mas achei que não estava nas melhores condições de conduzir. – um sorriso surgiu no rosto daquela senhora.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é namorada dele? – perguntou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, não! – apressou-se Isabel a corrigi-la – eu sou apenas…conhecida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quer qualquer coisa para tomar? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agradeço mas não preciso… - agradeceu amavelmente – eu só queria saber como estavam um pouco as coisas e também já tenho de ir embora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…está tudo numa lastima! Ninguém sabe por onde anda a menina Melissa. Desapareceu desde a hora do almoço e ainda não apareceu. Só espero que nada de mal lhe aconteça!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e não há de acontecer! Temos de ter esperanças e que a policia saiba fazer o seu trabalho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois é…ter esperança. É o que nos resta… - um certo silencio , um pouco desconfortável, havia surgido – como é que se chama?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu? Ah…Isabel!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel, se quiseres o Javi está lá em cima, podes ir ter com ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu tenho que ir embora. Também este momento é de família e não quero estar a intrometer…o Javi provavelmente que quer estar sozinho!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh não precisas de ter vergonha! Estamos todos num momento difícil mas também precisamos de um pouco de carinho. E quanto mais o meu neto Javi…vá, podes subir! É o primeiro quarto em frente. – Aquela senhora tinha um modo tão simpático que Isabel ficara a mira-la um pouco. Fazia-a lembrar de alguma maneira, a sua avó. No fundo todas elas eram parecidas em especial na forma como gostavam de tratar dos netos. Incentivada pelo gesto dela, Isabel subiu ainda que fosse de um jeito acanhado. Estava numa casa estranha e num ambiente sufocador. Assim que se deparou com a primeira porta, reparou que estava entreaberta e decidira espreitar. Era o quarto de Melissa e prova disso era a decoração tipicamente de adolescente. Mas não fora a decoração que fez cativar toda a sua atenção mas sim algo que a deixou sem reacção. Sorrateiramente, entrou dentro do quarto e aproximou-se do cadeirão, onde Javi estava deitado e a dormir. Tinha preso debaixo do seu braço um peluche grande e Isabel ficou a mira-lo atentamente. Aquele momento estava a ser estranho e aniquilante pois jamais esperaria vê-lo numa situação daquelas. Mas afinal…quem era ele? quem era aquele rapaz que não suportava mas que conseguia surpreende-la com atitudes imagináveis? Quem era afinal Javi? </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<span style="font-size: large;">~</span></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Isabel não conseguia dormir. Voltas e voltas na cama e nenhuma suficiente para fazer sossegar o seu coração. Naquele momento sentia-se perdida a olhar para o tecto. Aquela casa vazia deixava-a inquieta e a pensar em tudo e mais alguma coisa. Pensava na discussão que tivera com a sua avó, no facto de passar a consoada na rua, de ter encontrado Javi e de partilhar a noite com ele, o desaparecimento da sua irmã…tudo aquilo era mais do que suficiente para a deixar inquieta. Tentava pensar que tudo iria ficar bem mas assim que fechava os olhos, era invadida por lembranças tenebrosas. As discussões…tudo. Acabou por suspirar e, sem pensar bem, levantou-se. Pegou no telemóvel e reparou que passava um pouco das três da manhã. Ainda perdeu um pouco de tempo a olhar apenas para o ecrã mas quando deu por si, já a chamada se fazia ouvir. Tocou e tocou mas parou no atendedor de chamadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Hola Javi…desculpa estar a ligar a estas horas mas gostava de saber como estão as coisas e se a tua irmã já apareceu…bem…era apenas isso. Adíos.</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E assim desligou o telefone acabando por se deitar na cama. Aquela noite parecia não ter mesmo um fim e no seu pensamento, só desejava puder esquecer tudo o que acontecera.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<span style="font-size: large;">~</span></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Javi permanecia no jardim apesar do frio que se fazia sentir. Sentia a cabeça à roda com aqueles acontecimentos todos, o facto de ter a irmã desaparecida, o ambiente estranho que se fazia sentir naquela casa e a própria relação entre si e o seu pai que se mantinha a mesma. Afastados e sem se falarem. No fundo acabava por ser um estranho numa casa que já foi sua. Num lar que o vira crescer. E, à medida que o tempo passava, mais sentia que não pertencia àquele lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas naquele momento o mais importante não passava por isso mas sim por encontrar a sua irmã. Por onde ela andava? Será que a tinham raptado? Ou simplesmente saíra de casa? Sentiu um calafrio só de pensar na possibilidade de algo de mal lhe acontecer. Não a ela…não à sua pequenina. Acabou por encostar a cabeça à cadeira quando ouviu um alvoroço vindo de casa. Precipitou o seu olhar até lá e fora os gritos de sua mãe que o fez saltar e correr. Mal chegara à sala deparou-se com toda a gente de volta da sua irmã. Um enorme alivio trespassou-lhe e naquele instante só a queria abraçar…finalmente ali estava sã e salva para grande alivio e tranquilidade de Javi.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<span style="font-size: large;">~</span></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas eu já disse que foi isso que aconteceu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois mas eu não acredito. Os pais até podem ter acreditado mas duvido que te tenhas perdido…eu conheço bem aquela zona e apesar de ser perigosa tens bem como chegar a casa cedo. – um silencio imperou naquele quarto. Apenas restavam Javi e Melissa que permaneciam sentados sobre a cama. Enquanto ele a olhava piedosamente, ela apenas desviava o olhar, olhando para o chão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu vais gozar comigo se eu contar…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque haveria de gozar contigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque toda a gente o faz! – respondeu de uma forma de como aquilo fosse o normal e esperado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois mas eu não sou toda a gente. Eu sou o teu irmão!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens a certeza…prometes que não gozas nem resmungas comigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho! Então…o que se passa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- na minha turma…as raparigas gostam todas de se mostrar. São giras, populares, enfim…toda a gente gosta de ser como elas. Ali ninguém anda ou gasta de se misturar com pessoas como eu. O que é que sou ali? Passo bem despercebida e não sou popular. Então…comecei a andar sozinha a maior parte do tempo. Almoçava, lanchava…tudo sozinha. Só que há uns tempos para cá juntei-me a elas só que para me aceitarem no seu grupo eu tinha de ser como elas. Tentei mudar os penteados, as roupas, os cadernos…comecei a ser amiga delas. Tínhamos combinado que no dia de hoje iriamos para o parque junto ao rio e todas nós tínhamos de saltar para a agua. Eu não queria porque não sabia nadar mas se eu dissesse isso iria ser gozada! Elas foram saltando e…eu fiquei para o fim. Todas gritavam para saltar só que estava com medo. Quando começaram a chamar-me de medricas é que fiquei com vergonha e saltei! Comecei a atrapalhar-me e nem sei como consegui segurar-me junto ao tronco do passadiço. Estava cheia de frio e depois acabei por trocar de roupa…Bem, depois, no final, elas foram embora de carro e como não havia lugar para mim deixaram-me sozinha. – Dito isto, Javi sentiu a sua irmã a desatar num choro inquebrável fazendo-o sentir-se como se estivesse a levar um murro. Apressou-se a abraça-la confortando-a.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei muñeca, já passou! – Melissa acabou por se atirar completamente no seu colo deixando ser confortada por aqueles braços quentes e seguros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Desculpa Javi…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Então? Não tens nada de pedir desculpas! Tu não tens culpa que elas sejam anormais e te tenham magoado. – Apesar da suavidade com a qual falava para a sua irmã, Javi sentia uma enorme cólera a crescer dentro de si, ao tentar imaginar o que aquelas miúdas tinham feito a ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prometes que não contas nada aos pais? Por favor eu não quero que eles saibam! – Javi olhou-a e por mais vontade que sentisse em fazer justiça pelo que estava a acontecer a Melissa, sabia que tinha de guardar para si, ainda para mais observando a cara de pânico dela. E, verdade seja dita, não conseguia idealizar os seus pais a resolver aquela situação acabando com ele de vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não te preocupes…eu não conto nada aos pais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prometes? – sussurrou com as lagrimas a escorregarem pelo seu rosto delicado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prometo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada… - Melissa abraça-o.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas Melissa, eu vou pedir-te uma coisa. Tu tens que te afastar dessas miúdas! Elas fazem-te mal e além disso tu não és como elas, nem de longe. Não voltes a dizer que és uma rapariga vulgar porque és melhor que elas todas, és linda e uma miúda maravilhosa. Não deixes que ninguém te calque, ouviste? Ninguém é superior a ti, ninguém!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu só queria ter os meus amigos, percebes? Eu não gosto daquela escola, não gosto da minha turma! preferia muito mais o liceu, eles não me julgavam e eram todos fixes. Eu simplesmente odeio estar lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque não falaste sobre isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o que adiantava? O pai mal pára em casa e a mãe julga que consegue fazer as coisas à maneira dela. Aqui ninguém se interessa por aquilo que eu penso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu interesso-me. Tanto me interessa como me preocupo demasiado contigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas tu não estás cá! – contrapôs transportando consigo mágoa, deixando Javi impávido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não posso viver aqui mas isso não invalida o facto de seres minha irmã e de me preocupar contigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- era tudo mais fácil se estivesses aqui…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tu sabes como as coisas são…e que não depende só de mim em viver cá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já te vais embora? – perguntou depois de um breve silêncio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- daqui a pouco sim. Hoje foi um dia muito longo. E também acho que está na hora de te deitares, não achas? Precisas de dormir e esquecer este dia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale… - Javi ajudou-a a desfazer a cama e depressa Melissa se deitou por baixo dos cobertores, mostrando quanto era visível o cansaço que sentia. – Javi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso pedir-te uma coisa? Tipo uma prenda de Natal?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo o que quiseres.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens a certeza?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- dormes comigo esta noite? – Javi olhou-a mostrando quanto era visível a surpresa por aquele pedido inesperado. Mas como poderia ele recusar aquele pedido, ainda para mais, vindo dela? Sem conseguir dizer mais nada, apenas sorriu beijando-lhe a testa. Em questão de minutos, Melissa caiu num sono profundo envolta nos braços do seu irmão. Ainda que também tentasse combater contra isso, também Javi se deixou levar por todo o cansaço que sentia acumulado em si e que nem se apercebera disso, acabando por adormecer. Mas, ainda antes de fechar os olhos, deixou que a sua mente vagueasse pelo dia que tivera deixando-o a pensar no quanto tinha sido tudo impensável de acontecer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">~</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A campainha tocou. Várias vezes tocava mas mesmo assim sentia um enorme peso na sua cabeça impedindo-a de se levantar. No fundo, não queria sequer acordar. Isabel podia contar as horas em que esteve acordada durante a noite e no quanto lamentava por aquele barulho a ter despertado. Mas quem quer que fosse, persistia e então, viu-se obrigada a levantar-se e seguir até à porta. Cambaleando pelos corredores, foi tentando despertar ao qual parecia uma tarefa impossível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já vai… - com uma mão apoiada na parede e a outra na porta, conseguiu abri-la. A surpresa não podia ser maior ao deparar-se com aquelas duas pessoas na sua frente, tão bem conhecidas para si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que fazem aqui?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Pois é, eu sei que demoro muito tempo a publicar capitulos mas tem sido muito dificil para mim conseguir escrever por diversos motivos! fui conseguindo escrever este enquanto andava de comboio a caminho da universidade ou mesmo nos intervalos. Não sei quando conseguirei deixar um outro capitulo, os meus planos estão bem apertados e por isso não posso prometer nada, com muita pena minha! :( </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>mas espero que tenham gostado deste capitulo e eu prometo que as coisas irão mudar ( acho que começam a perceber um pouco isso). Só tive a pequena impressão que não gostaram muito da mudança do rumo, em especial pelo vosso feedback no ultimo capitulo que diminuiu um pouco! por isso peço, SE NÃO ESTIVEREM A GOSTAR DO RUMO, DIGAM! é sempre importante saber a vossa opinião! :)</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>bem, vou deixar-vos e obrigada a todas as leitoras que ainda têm paciencia para seguir as minhas histórias!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>beijos</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Diana Ferreira</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-45212624963186974472014-08-11T10:56:00.001-07:002014-08-11T10:56:36.026-07:00Capitulo 17<div style="text-align: justify;">
O choque não poderia ser maior ao ver a chegada de Maria à cozinha. Tanto pela parte de Isabel como da própria Marisol. Como iriam explicar que ambas participaram em corridas ilegais mesmo que por motivos distintos? Isabel sentia-se completamente a vacilar e o próprio olhar e postura da sua avó só fazia aumentar o receio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não é o que a avó está a pensar… - a voz de Isabel estava completamente quebradiça e notava-se o medo que a avassalava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então o que é? Eu ouvi bem…tu foste presa? Meu Deus que história é essa Isabel? – a sua voz imperava uma gravidade que fez a fez tremer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu posso…eu posso explicar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou à espera disso! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu… - as palavras faltavam. Elas tardavam a sair da boca de Isabel pois simplesmente ela não sabia o que dizer – foi um engano avó! eu juro que não fiz nada…eu…eu…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- fala de uma vez Isabel! Tu andas a participar em corridas ilegais? – a desilusão era algo que assombrava a voz de Maria e deixa-la com o coração apertado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! – ripostou de imediato Isabel – não avó, jamais participaria nisso… só que… - o silencio quebrava naquele lugar. Como iria explicar tudo o que acontecera? No final, Isabel não tinha muito por onde fugir e dar uma base de escapatória ao que acontecera há uns dias atrás. Não havia como delinear o assunto pois ela esteve presa. Ela participou em corridas ilegais. O facto de ter parado naquele lugar sem saber não iria atenuar ou apaziguar a gravidade da situação nem tão pouco explicar que participara para fazer ciúmes a Marisol. Não que a ideia de deixar a prima em maus lençóis não fosse tentadora, porque era. Mas isso não iria ajudar em nada…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- explicas tu Marisol? – depois daquele silêncio, Maria decidira pedir explicações a Marisol. O seu coração quebrou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu avó?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim tu! – a voz de Maria elevou-se – tu estavas a falar sobre isso e se a tua prima não é capaz de falar, falas tu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu...falei porque ouvi falar nisto… - acabou por falar. Marisol até poderia deixar Isabel em “brasas vivas” mas isso não a favorecia. Fora um descuido de Marisol pois implicaria também estar em maus lençóis. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o que é que ouviste falar? Quem te contou? Quando é que isso foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não tenho nada a ver com isso! eu…simplesmente ouvi falar que a Isabel estava nas corridas ilegais e no final a policia apanhou-os! – Isabel tremeu completamente. Baixou a cabeça mostrando todo o desalento que sentia. Já Maria, apenas a olhava em choque. Ficou a pensar como seria possível a sua neta ter feito uma coisa daquelas. Logo ela…não era possível. Isabel não seria capaz de tal coisa, ela não se meteria em maus caminhos, nada a fazia temer para isso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso é verdade Isabel? – ela continuava sem encarar a sua avó. não conseguia… a voz de desilusão de Maria fazia-a sentir-se com vergonha de si mesma e com medo de a encarar. – fala! Isso é verdade? – Isabel olhou-a. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É… - murmurou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Isabel! – barafustou – como é que foste capaz de fazer uma coisa dessas? – todo o coração de avó estava ser carregado de medo e aflição. Maria sentia-se incapaz de acreditar que uma coisa daquelas tinha acontecido. A sua neta a participar em corridas ilegais e acabar uma noite na prisão? Ficou a pensar onde errara. Onde estava o erro por tal coisa ter acontecido. Era difícil de imagina-la numa situação daquelas e a desilusão não podia ser escondida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor deixe-me explicar! – pedia em suplica</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê? O que vais explicar? – Maria sentia-se exasperada - céus, porque nos ocultaste isso? que raio fizeste tu para te meteres em caminhos desses? – atirou num tom acusatório.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque já sabia que vocês não iriam acreditar em mim! Iriam tirar logo partido que eu estava a participar em corridas ilegais por vontade própria e isso não é verdade! – Isabel sentia-se desesperada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e tens uma justificação para isso tudo, é isso que queres dizer? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu quero dizer que… - as palavras começavam a faltar – eu não sabia que ia parar aquele sitio… - desabafou sinceramente. No fundo, Isabel nunca imaginara que iria parar a um sitio daqueles. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não mintas mais! – Isabel olhou impávida para a sua avó.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não estou a mentir! – a sua voz tremia </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- chega! – pediu – chega Isabel…tu passaste dos limites!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que limites avó? por favor, acredite em mim, eu não fiz isso por crer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não sei como tu foste ficar assim, tão rebelde…nós ainda tentamos compreender os teus motivos para saíres desta casa mas agora com isto? Isto é inaceitável! Nunca pensei que fosses capaz de participar em corridas ilegais! Por amor de Deus, isso é perigoso! O que queres atingir com isso? pretendes chamar a atenção de alguém com essas atitudes? Podia ter-te acontecido algo mais perigoso tens noção disso? – Maria estava realmente chateada mas Isabel tinha ficado em choque com a atitude da sua avó. ela não estava a querer acreditar em si…como poderia tal coisa estar a acontecer? A sua avó deveria ser a primeira a defende-la, a acreditar em si e não a julga-la. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não acredito que você está a dizer-me isso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e queres que diga o quê? Nunca esperava uma coisa desta vinda de ti… - o choro de aflição parecia ter atingido em forte a Maria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esperava que você tentasse me compreender! – atirou sem demoras – e não acusar-me desta forma! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel, não há pessoa neste mundo que queira mais o teu bem do que eu mas existem coisas que têm os seus limites! Como queres que compreenda que tenhas entrado por caminhos de corridas ilegais? Consegues-me explicar como?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- realmente…se me conhecesse mesmo bem não estaria a dizer isso! E é mentira, você não quer nada o meu bem! – Isabel começou a chorar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não digas isso! – Maria parecia ficar ofendida com o que ouvira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quer que digo o quê então? Desde que aqui cheguei que as coisas não são as mesmas! Parece que de um momento para o outro deixaram todos de acreditar em mim, parece que virei a rebelde e a desilusão da família, não foi? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não é nada disso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é sim! Eu sinto as coisas sabe? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve Isabel… - Maria parecia não querer levar aquela conversa para uma grande discussão e que a deixava sem forças – discutir não nos leva lado nenhum! A asneira está feita e graças a Deus que nada de mal te aconteceu mas mostro bem a desilusão que senti ao saber disto…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desilusão, é? – a voz de Isabel provinha apenas num murmuro insulável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, desilusão. Nunca esperei que fosses fazer coisas destas e isso deixa-me com o coração nas mãos! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabe, também para mim acaba por ser uma desilusão…sempre pensei que você não fosse a primeira pessoa a apontar-me o dedo! – aquelas palavras estavam a magoar imenso a Maria. A sua idade já estava bem avançada, a sua saúde estava frágil tal como a própria alma o estava. E no fundo, aquelas palavras magoavam sempre. Sabia que tinha de perceber um pouco e talvez entender as razões de Isabel mas simplesmente sentia a situação a fugir-lhe do controlo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não estou a apontar-te o dedo…mas também como queres que te compreenda se não tiveste coragem para falar comigo e contar o que se passava? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e iria compreender? Iria adiantar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- talvez! Mas assim não, assim as coisas pioram!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah claro, as coisas ficam piores do que já estão! – ironizou – olhe avó, tem toda a razão, discutir não nos leva a lado nenhum! Pode ficar descansada que comigo não terá mais nenhuma preocupação! – Isabel sentia-se entalada pela forma como aquilo estava a ser encaminhado. Por mais uma vez, sentia-se perdida e sozinha. Limpou as lagrimas e saiu disparada daquela cozinha. Só parou mesmo quando ouviu a voz da sua avó.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel não vás embora novamente!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porquê? – ripostou num tom de voz alto – o que é que me vai fazer se for?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deixa de ter essas atitudes infantis! Não é a ires embora que as coisas se irão resolver sempre que elas não te agradam! – já cansada, Isabel preferiu não falar. Não se sentia bem ali estando exausta psicologicamente de tudo o que lhe estava a acontecer. Talvez o erro de tudo fosse a sua vinda para Murcia. se calhar não deveria ter vindo para ali…talvez assim fosse mais feliz. Quem sabe…ou talvez não. Quem lhe dava garantias que ali também não podia ser feliz? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel deixara-se cair sobre a madeira daquela pequena ponte. Encostou-se às grades e não foram precisos mais do que meros segundos para ser invadida novamente pelas lagrimas. Na sua cabeça, só uma pergunta soava: até quando? Até quando a sai vida iria parecer um rebuliço sem fim? Até quando se iria sentir tão vazia e sozinha? Sentia-se péssima por discutir daquela forma com a sua avó, a pessoa que mais estimava e amava na sua vida…e o seu avô sem duvida que eram os amores da sua vida. Ensinaram-lhes tantas coisas boas, deram-lhes praticamente toda a educação. Os seus pais passavam imenso tempo a trabalhar em hospitais havendo uns anos que prestaram serviço como médicos sem fronteiras, ficando Isabel a encargos deles. Foram dois anos tão bons, tão seguros…tão protectores. E agora estava ali, com um peso enorme na sua consciência de ter falado coisas feias a uma pessoa que cuidou imenso de si. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás bem? – algo sobressaltou Isabel, ou melhor uma voz a fez sobressaltar. Olhou para o seu lado e reparou na presença de alguém que conhecia mas que era totalmente inesperada. Depressa tentou limpar as lagrimas e esconder o seu rosto por entre os seus cabelos compridos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, estou - ela tinha sido curta e grossa na forma como respondera. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não é o que parece! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já disse que estou bem! – ripostou num tom de voz alto e agressivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas estás a chorar…e estás sentada no chão no meio da ponte!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas o que é que tu queres? – gritou-lhe ao mesmo tempo que se levantava e encarava Javi desde que ele ali chegara.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, calma! – respondeu na defensiva – eu estava de passagem e vi-te aqui. Não achei isso normal ainda para mais sendo noite de Natal! – gerou-se um silêncio. Isabel olhava-o de um jeito bem frágil e parecia que a qualquer momento iria quebrar. Javi notava bem isso e talvez por ver uma Isabel tão frágil, decidiria ficar ali, à vanguarda. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não tenho para onde ir… - as lagrimas voltaram a sucumbir o seu rosto e Javi ficou completamente surpreso – simplesmente já não me resta nada para que possa passar um Natal digno de tantas famílias que existem aí…sinto-me como se tivesse perdido tudo e no fundo a culpa é toda minha! – Javi via na sua frente, uma rapariga que mantinha os braços amarrados um no outro e bem junto ao peito, indefesa, a chorar, completamente frágil. Os seus olhos vermelhos, a pele inchada, o rosto cansado…uma Isabel tão diferente daquilo que estava habituado a ver. Sem falar no quanto ela tremia de frio e com apenas uma camisola fina a pousar sobre o seu corpo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás gelada…toma! - Javi tirou o seu casaco preto de malha pousando-o sobre as costas de Isabel. - Tu não estás bem…há quanto tempo estás aqui? – ela tomara percepção que realmente estava com imenso frio. Perdera a conta ao tempo que esteve a vaguear por aquelas ruas e como o tempo estava gelado. Esquecera-se também do pormenor de não ter trazia do um casaco mais quente e o quanto lhe estava a saber bem sentir o calor que provinha daquele casaco e a satisfação que isso lhe trazia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei… - respondeu num murmuro</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque estás aqui? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- discuti com a minha avó…ou melhor, ela descobriu o que se passou nas corridas de motos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu juro que não fui eu que falei! – falou de forma automática.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei… - sussurrou – eu estava a conversar com a Marisol e a minha avó ouviu a parte da conversa onde falávamos sobre isso. – novamente, gerara-se um certo silêncio. Apenas se ouvia o soluçar de Isabel já que Javi não sabia o que dizer. O corpo dela começara a balançar mostrando a fraqueza que a abrangia. Valeu a Isabel os reflexos de Javi que a segurou rapidamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder! Tu comeste? - resmungou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…mas eu também vou para casa… - Isabel começou a afastar-se e estava prestes a virar costas quando a voz de Javi a fez parar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei que não tenho nada a ver com isso e muito menos que me meter mas…tu disseste que não tinhas para onde ir – o olhar de Isabel centrou-se nele – como é que vais para casa? – Ela mirava-o atentamente. O que levava Javi a estar ali ao pé dela? E justamente ele? Aquele presunçoso, aquele que não gostava dela e nem tão pouco Isabel gostava dele? O que será que os movia para estarem ali? E principalmente para Javi não a estar a deixar ir embora? No fundo, nenhum deles o sabia. Javi estava simplesmente a ser movido por uma onde de compaixão que nunca vira. Vê-la naquele estado de apatia estava a deixa-lo com uma certa curiosidade. Sim curiosidade…uma certa vontade em querer saber mais dela, em conhecer a faceta frágil de uma rapariga que para si, não passava de uma irreverente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu cá me desenrasco…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, espera… - Javi puxa-a pelo braço – anda comigo. – Isabel olhava-o com uma certa desconfiança – anda! – ela não dissera nada, simplesmente o seguira. Saíram da ponte e caminharam para que parassem em frente a uma carrinha. Javi caminhou até à zona de trás tirando de lá algo que Isabel não percebera logo à primeira. – segura…mas cuidado que está quente! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que… - Isabel não estava a perceber mas assim que reparou na carrinha que era, arregalou os olhos. Assim que cada um tinha uma malga na mão, caminharam até a uma zona mais recatada, onde tinham umas mesas. Sentaram-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hoje é noite de consoada e todos os anos há uma carrinha da associação onde fazemos voluntariado para distribuir sopa quente aos mendigos. E eu aceitei ajudar…era isto que estava a fazer na rua quando te vi. – Isabel simplesmente olhava-o atónica, sem dizer uma única palavra. Mil pensamentos sobrevoavam a sua mente mas nenhum era capaz de explicar aquele momento tão imprevisível. – está frio…acho que esta sopa vai aquecer-te…e a mim também! Javi começou a comer um pouco daquela sopa e Isabel seguia-lhe o exemplo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- logo tu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como assim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e logo tu tinhas que estar aqui? – a sua voz não passava de um sussurro – isto não faz muito bem a tua onda…tu o próprio referiste muitas vezes que não tens cara de misericordioso. Ou vais me dizer que estás aqui porque te deu pena dos pobres e preferiste fazer uma boa acção? – ele olhou-a. Olhou-a e deixou-se ficar em silêncio apenas a mira-la. Acabou por deixar escapar um sorriso irónico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu também não tens cara de quem goste de passar o Natal nas ruas e aqui estás.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o meu caso é diferente! – tentou defender-se enquanto saboreava um pouco daquela sopa quente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- também o meu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu nunca passei uma noite assim… - a sua voz frágil e chorosa voltou a assombra-la – sempre passei rodeada de gente, com a família…de volta de uma mesa cheia e confortante. – ela começou a mirar a sopa deixando de o encarar – um ano passávamos cá e o outro era passado na minha outra família em Lisboa… só que mesmo assim as coisas nunca foram fáceis mas para mim mesma. Por mais amor que recebesse eu sentia sempre algo que fazia falta. Talvez porque sou adoptada que me sinta assim…não sei…talvez se fosse criada com eles desde bebé não me sentisse desta forma mas quando os meus pais me adoptaram eu tinha quase três anos. Eu tinha passado esse tempo todo com uma outra família, com outra mãe e pai, em outro lugar, com outros costumes. É simplesmente sentir-me presa a um passado que não volta mais a ser meu mas que foi. E o que mais me entristece é não me conseguir lembrar de nada! Tenho ideias muito vagas…não tenho uma única fotografia da minha outra família porque simplesmente fui abandonada! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As lagrimas tomavam conta do seu rosto. As palavras fluíam de si com uma naturalidade assustadora permitindo que desabafasse todos os seus tormentos mesmo aqueles que nunca os dissera. Talvez fosse mesmo isso que Isabel precisasse…de desabafar e ter alguém que a ouvisse, mesmo que fosse Javi. Este apenas a olhava calmamente e sem saber o que dizer. Vê-la ali, tão frágil deixava-o à toa… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Joder, eu nem deveria de estar a falar sobre isto! – Isabel tentou-se recompor e limpou depressa as lagrimas. Por mais vontade que sentisse em falar sobre aquilo, sentia que não era o momento certo e nem com a pessoa certa. Ela nunca desabafara coisas daquele género nem com a sua melhor amiga, porque estava a fazê-lo com ele? Justamente com ele? Talvez porque se sentia tão em baixo, tão sem forças ou porque estava a passar aquela quadra natalícia junto de dele? Pressentindo que Isabel iria sair da mesa, Javi prende-lhe a mão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não vás, espera… - ela olhara-o expectante – queres me ajudar a distribuir o resto das sopas? Uma ajuda é sempre bem-vinda – explicou ao sentir a falta de reacção por parte dela. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode ser – disparou. Porque não? O que travaria Isabel a não aceitar e passar aquela noite de maneira diferente? Talvez ela precisasse daquilo. De um alento diferente, encarar a realidade e talvez encontrar um pouco de conforto para todos os seus tormentos. E assim saíram dali, passando o resto do final da tarde a distribuir os alimentos pelos mendigos. Alguns já eram conhecidos tanto de Javi como de Isabel. Já haviam feito aquilo algumas vezes mas ela percebera que a cada dia, encontrava-se novas pessoas a dormir nas ruas. Era triste…eles estavam sozinhos, ao frio, à fome. Sem ter para onde ir. A vida nem sempre era justa e Isabel sabia disso e percebera à medida que chegava perto de cada pessoa entregando aquele pequeno suplemento alimentar. Aos poucos, todo o seu coração ia aquecendo contrastando com o frio que se fazia sentir naquela cidade. A confusão que sentia dentro de si ia-se apaziguando dando lugar a uma calma confortante. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agora podes dizer… - Isabel e Javi tinham acabado de distribuir as sopas que tinham disponíveis. Ainda estiveram à conversa com mais alguns membros da associação mas agora encontravam-se sozinhos – ainda não disseste porque estavas aqui. – Javi olhou-a.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás a falar do quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque estás a fazer voluntariado na noite de Natal se não tínhamos a obrigação de estar cá. E já disse…eu não te acho com cara de misericordioso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- interessa-te tanto assim saberes isso? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…por acaso…confesso que tenho a minha curiosidade aguçada para saber.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então vê lá se não controlas essa tua curiosidade aguçada demais! – ripostou. Javi começou a caminhar em direcção oposta da zona onde se encontravam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- juro que não te entendo! – acabou por responder Isabel depois de o deixar caminhar alguns metros. Javi parou, encarando-a. – num momento tanto consegues ser calmo e atencioso como no minuto seguinte és um bruto! És sempre assim tão inconstante? Eu fiz-te uma simples pergunta e olha só como ficaste. – Era aquilo que Isabel não conseguia entender nele. Há minutos atrás tinha sido tão atencioso consigo e agora tratava-a com brusquidão. Seria assim com toda a gente? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu simplesmente não quero falar sobre isso, pode ser? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode sim! – ripostou - Aliás nem precisas de falar nada até porque de ti não quero saber nada… - murmurou visivelmente chateada. Por momentos ficaram ali, a uma dúzia de metros de distancia sem nada para dizer ou fazer. Algo os prendia ali e não sabiam o quê. Javi mirava distraidamente as casas que estavam à sua frente enquanto que Isabel mexia no cabelo. Achando aquele momento patético, Javi começa a andar até junto da sua mota que estava perto dali. Isabel fizera o mesmo e caminhou até à zona do seu carro que já estava mais distante. Ele acabara mesmo por se deixar sentar na berma do passeio. Deixou a cabeça descair-se sobre a sua mão apoiada na perna e fechou os olhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“agora podes dizer… ainda não disseste porque estavas aqui”</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>“eu simplesmente não quero falar sobre isso, pode ser?”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Javi simplesmente não conseguia falar sobre o motivo dali estar. No fundo custava-lhe admitir a si mesmo. Num certo ponto, Isabel tinha razão, quando referia que ele não tinha cara de misericordioso. De facto, ele não tinha mas talvez estar ali fosse uma escapatória para o seu real problema. De não pensar que tinha também uma família e que não estava ao pé dela. Que já fazia três anos que passava o Natal sozinho. Desde que fora renegado pelo seu pai, desde aquele acidente…</div>
<div style="text-align: justify;">
Estremeceu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aquele acidente era uma memória viva dentro de si, algo que latejava cada vez mais forte…aquela noite que roubara não só a vida do seu amigo como a sua também. Ali estava o motivo que não queria explicar a Isabel. Simplesmente passava o Natal fora de casa porque aquele acidente tinha sido a sua sentença. O seu pai nunca aceitara a forma como tudo tinha acontecido e a inocência dele tinha sido posta em causa. Lembrava-se de que quase ninguém acreditava em si tanto que no final tinha sido considerava culpado por aquele acidente. E Javi sabia tão bem que no fundo a culpa não era sua. Não…não podia ser. Ele jamais faria algum mal a Paco. Jamais magoaria o seu irmão de coração. Jamais…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- toma! – os pensamentos de Javi foram abruptamente interrompidos pela chegada repentina de alguém. Abrindo os olhos viu Isabel a sentar-se do seu lado e com uma saca na mão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é isto?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- abre e vê! – respondeu com uma certa petulância. Javi assim fez e tirou de dentro do saco um cachorro quente. Ele olhou-a um pouco confuso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não pedi nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve, eu estou cheia de fome e aquela sopa não me satisfez. Eram os últimos, por isso se quiseres aproveita e come! – Isabel começou a comer um pouco do seu cachorro que estava quente mas que sabia-lhe bem à fome que tinha. Javi fez o mesmo e também não pôde de deixar de notar que aquele petisco viera em boa hora. Ambos comiam, em silêncio. Estranhamente juntos, ali estavam…a partilhar de forma inesperada aquela noite fria. Algo fizera denotar Isabel para que voltasse ali. Seria o facto de que ambos não tinham para onde ir e que as únicas companhias restantes eram a de um e a do outro? Que inexplicavelmente só se tinham um ao outro? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- toma, também trouxe bebidas… - Isabel deu-lhe para a mão uma garrafa de cerveja igual à sua. Javi aproveitou de imediato para dar um gole já que aquele cachorro para além de estar saboroso estava bem picante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Feliz Natal… - depois de algum silêncio, Javi interrompe-o. Ela olha-o um pouco surpresa e fica a mira-lo. Sentiu um nó no estômago ao relembrar do sítio onde estava e como ali foi parar, fazendo-a lembrar que tinha discutido com a sua avó, saiu de casa e veio parar à rua. Aquilo fê-la quebrar mas não havia só a parte triste mas como também a parte inesperada, tal como, ter Javi ao pé de si, oferecer-lhe o seu casaco, dar-lhe sopa e irem ambos distribui-las aos mendigos. De facto, esta a ser uma noite tão inesperada e surreal, onde nada parecia ser verdade e todos os acontecimentos apareciam de uma forma fugaz e incapaz de serem controlados. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Feliz Natal para ti também… - sussurrou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-86695313147864147392014-07-25T03:56:00.000-07:002014-07-25T03:56:23.318-07:00Capitulo 16 <div style="text-align: justify;">
As horas passavam. Dolorosamente passavam. Aquele relógio fazia tique-taque sem parar e era o único barulho que se fazia soar no meio daquela sala escura e fria. Era o barulho dos ponteiros e o incessante bater dos pés de Isabel. As suas pernas tremiam, o seu corpo estava gelado, os nervos estavam em alta. Eram três e vinte e duas da manhã e estava ela no sitio onde jamais esperaria pisar os pés. Numa cela da esquadra da policia. O seu estômago dava voltas quase expelindo tudo o que ainda restava no seu conteúdo. Isabel repugnava-se por aquela noite existir. Não devia estar ali. Não devia. E agora? Como iria sair? Como iria explicar à sua família que andou em corridas ilegais e que foi parar à policia? Jamais a perdoariam. Jamais. Sem falar nos seus pais que a mandavam de volta para Lisboa sem pensar duas vezes. Não que essa ideia de voltar para sua casa, fosse insuportável, bem pelo contrário. Ela até preferiria ir embora daquele lugar…odiava aquilo. E odiava-se a si mesma por ter pensado que as coisas poderiam ser diferentes. Estava a ser tudo igual ou pior. Bem pior…</div>
<div style="text-align: justify;">
Já Javi, mantinha-se sereno, em comparação a Isabel. Sentado ao seu lado, permanecia calado e com uma expressão indecifrável. Parecia que a sua cabeça estava longe dali. Também sabia que estava em maus lençóis e que estar na esquadra era algo que o deixava tramado. Apesar de ter o seu advogado a tratar da libertação, nada era garantido que saísse dali ileso. Estavam presos por supostamente participarem em corridas ilegais e Javi insistiu perante o seu advogado que era mentira. Não podia dizer o contrário já que tinha um historial suspeito. Agora só restava esperar e sair dali o quanto antes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como é que tu consegues? – Isabel começou a falar. Javi olhou-a. – Explicas? Estamos presos e tu estás com essa calma toda?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- queres que faça o quê? Que solte um grito de misericórdia? Já me chegas tu aqui do meu lado que não paras quieta! – resmungou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é normal sabes? Estou presa e sabe-se lá como é que isto pode acabar! És mesmo imbecil e a culpa é tua!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Minha? – ele olhava-a incrédulo – a culpa é minha? Que eu saiba foste tu que saltaste para cima da minha moto, não fui eu que te arrastei e muito menos trouxe-te para sítios onde não deverias estar. Não tenho culpa que a princesinha resolva ir para um lugar que não lhe compete!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ah pois eu esqueci-me! Tu já estás habituado a isto não é? Afinal tu não és peça que se cheire, nem daqui nem de longe! – Ripostou completamente furiosa. Ela no fundo sabia que Javi tinha razão. Ela estava ali, no fundo, por culpa sua. Porque aceitou o convite do Marco, porque quis fazer ciúmes a Marisol e por isso é que estava ali. Por culpa sua. Javi iria ripostar mas a chegada de alguém impossibilitou-o disso. Olhou na sua frente e viu o guarda prisional.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Javier Martinez?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sou eu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode sair! – Javi levantou-se num ápice e pegando no seu casaco que estava despojado ao seu lado, saiu dali. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou livre?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim. – Isabel olhava para aquela cena impávida. Também ela se levantou. E ela? Onde ficaria no meio daquilo tudo? Não podia ficar ali, de modo algum. Porque é que Javi se estava a ir embora e ninguém falara no seu nome?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei e eu? – perguntou em pânico. Javi olhou-a quase como se apercebera que afinal ainda restava ela ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu o quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não vou ficar aqui!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas ele não falou no teu nome… - Javi encostou-se às grades – se calhar ficas aqui.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não! – gritou – não fico nada aqui! Se tu saíste também eu tenho de sair!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não chamaste nenhum advogado?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- achas? – a sua voz estava a tremer-lhe – a minha família matava-me se soubesse que vim aqui parar! – ela gritava já com o medo a dominar-lhe todo o seu estado de espirito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e achas que a minha família também não se vai passar quando souber? Lo siento…não posso fazer nada – Javi preparava-se para virar costas quando sentiu a mão dela a prende-lo pelo braço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espera! Não me deixes aqui! Por favor Javi…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não posso fazer nada por ti!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podes sim! Fala com o teu advogado não? Tirou-te a ti porque não me pode tirar a mim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque haveria de fazer isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ai que ódio! – gritou – andá lá! – Javi percebia bem o desespero que estava estampado no rosto de Isabel e por isso, apoiou os cotovelos sobre a grade, encarando-a.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- com uma condição.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- qual?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens de me pedir desculpa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê? – ripostou – desculpa por quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- de quê? Olha deixa cá pensar…talvez porque me deitaste café quente em cima de mim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda isso? – ripostou exasperada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda? Por causa disso eu estou a fazer voluntariado como se tivesse vida de misericordioso. E a culpa é tua! Por isso…quero que me peças desculpas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem morta! – gritou-lhe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens a certeza? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- te ódio cabrón!! – gritou abanando as grades</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, vale… - ele levantara as mãos em sinal de defesa – eu tentei. Tu não quiseste. Adíos! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, espera! – Javi olhou-a expectante</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi? Mudaste de ideias?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa – disse passado alguns segundos de silencio. Falou num tom de voz tão inaudível que parecia não passar de um murmuro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que disseste? Eu não ouvi.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu já disse!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas disseste o quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que tu querias que eu dissesse!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o que é que queria que tu dissesses? – ele estava visivelmente a irrita-la. E estava a conseguir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Desculpa! – gritou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa porquê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Desculpa por ter-te virado café em cima! – gritou de uma só vez. Javi olhava-a satisfeito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e vais voltar a repeti-lo? – ela revirou os olhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não… - respondeu trincando a língua quase repugnando-se pelo que estava a dizer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- linda menina! Custou assim tanto? – aquele sorriso trocista estava a deixa-la tola. No seu intimo, Isabel queria afoga-lo em café quente só pelo que estava a obriga-la a fazer. Acabou por se desviar e abriu a porta da cela. – podes sair. – Isabel olhou-o desconfiada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens de falar com o teu advogado primeiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…isso? não é preciso. Ele pagou logo as duas fianças. – os olhos de Isabel esbugalharam-se. Javi sorriu. Ele fizera tudo aquilo de propósito. Ele já sabia que Isabel tinha a fiança dela paga só quisera testa-la. Ela nem queria acreditar no que acabara de acontecer e no quanto tinha sido burra por cair na conversa de Javi. Ele fez de propósito, queria de uma forma propositada que ela fizesse aquilo, que lhe desse o pedido de desculpas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu fizeste de propósito! – gritou-lhe ao sair da cela – que cabrão! – sem pensar em mais nada, Isabel parte para cima dele mandando-lhe murros contra o peito dele – tu vais-me paga-las, estupido! – Javi ria-se. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem imaginas o quanto eu gosto de te ver assim, brava…zangada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- odeio-te! – garantiu com todas as suas forças. Javi virou-lhe as costas ignorando-a. Isabel sentia-se magoada. Aquela noite estava a ser um tormento e já não bastava isso como também o jogo sujo de Javi. A sua vontade era de lhe bater até não puder mais. Era chamar-lhe todos os nomes possíveis e imaginários, sendo que nem isso bastaria. Mas no fundo não podia repugna-lo assim tanto, afinal ela só estava ali por culpa sua. Quem a mandou correr com o Javi? Quem a mandou ser tão impulsiva? </div>
<div style="text-align: justify;">
Assim que chegaram à recepção foram brindados pela presença do advogado e do policia. Ficaram mais uns minutos a conversar, onde ouviram os avisos ao qual estavam de escuta. Nada de corridas, nada de motas. Conseguiram sair de lá e já eram quase quatro da manhã. Isabel sentia-se demasiado cansada, doíam-lhe as pernas e agora era acusado as dores que sentia nos pulsos, devido à força que exercera ao abraçar Javi ainda durante a corrida. Estava de facto cansada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vocês ouviram…por isso espero que não seja chamado aqui pelo mesmo motivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podes ficar descansado, isto foi uma vez sem exemplo – disse Javi.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- muito bem. Querem boleia?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu quero! – Isabel respondeu de imediato querendo evitar, a todo custo, mais uma viagem junto de Javi.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e tu Javi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou de mota…que eu saiba não me tiraram a carta, por isso posso conduzir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu é que sabes – Juan, o advogado, vira-se para Isabel – vamos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim… - e assim foram. Cada um para o seu canto. Tinha sido uma noite em cheio e completamente inesperada. Isabel só queria esquecer o que acontecera, que encontrara a sua prima, o quanto ela lhe provocou, o facto de ter corrido com Javi, a loucura desse momento, o despiste da policia, pararem à esquadra, a chantagem dele…e claro, aquele beijo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como sabem, é importante o facto de fazermos serviço na comunidade pois a nossa função enquanto enfermeiros é demasiado grande para ficar apenas pelos hospitais… - a professora falava. eram nove horas da manhã e o dia estava a custar a passar. Isabel sentia-se demasiado cansada. Só conseguira dormir três horas perdera a conta aos sonhos que tivera com motas. Ser perseguida pela policia, ficar dias e dias presa, a família que ficou contra si, até em Javi sonhara. Aquele maldito nem em sonhos lhe saía do pensamento…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pst….pst! – Adriana dá um encontrão a Isabel, fazendo-a despertar – hei, bom dia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bom dia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso pergunto eu…é que nem quero imaginar o que andaste a fazer de noite. Já reparaste na tua cara? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prefiro nem falar nisso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que se passou?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- depois conto-te…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh vá lá, conta agora!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! Se te contar agora tu ficas louca. Já disse, conto-te na hora do almoço…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está bem, está bem… - A aula continuou mas para Isabel nem tinha começado. Sentia-se bem longe dali. Completamente a leste e com a sua cabeça a pesar-lhe imenso. Mais duas horas e aula tinha terminado. Apressaram-se a sair da sala e rumaram até ao exterior. Estava bom tempo e sentaram-se num dos bancos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podes contar agora? – pedia Adriana em êxtase</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabes que… - Isabel acaba de ser interrompida pela chegada de alguém. Olha na sua frente e vê uma das pessoas que não queria ver e ao qual estava um pouco magoada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso? Preciso de falar contigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que queres? – ela tinha sido frontal e Marco percebera que ela estava chateada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- falar sobre ontem à noite…eu já soube que a policia apanhou-vos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- policia? – interrompeu Adriana</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu já volto Adriana! – Isabel levantou-se e caminhou até a uma zona mais recatada. Marco seguiu-a.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu não quiseste de saber de mim. Porquê? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, não sejas assim! nós tivemos de fugir da policia, quando conseguimos despista-los soubemos que tinhas parado na esquadra!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois é, parece que o azar foi mesmo todo meu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- também porque é que foste correr com o Javi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não tens nada a ver com isso! – ripostou – só podias ter ligado não? Afinal levaste-me para aquele sitio e acabei a noite presa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já te pedi desculpas. Isto não costuma acontecer…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpas não aceites.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei…vais ficar chateada comigo? Fiquei mesmo preocupado contigo! Hoje faltei ao trabalho para vir aqui pessoalmente ver como estavas. – Isabel olhou-o atentamente e ficou a pensar até que ponto estaria ele a dizer a verdade. De facto, sentia-se magoada por Marco não ter dito nada mas ele estava ali. De facto, tinha de valorizar aquela atitude mas por outro, ele nem quisera saber dela. Será mesmo que não? Se assim fosse, não estava ali. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao fundo, reparou na chegada de uns quantos rapazes que vinham todos do pavilhão. O barulho deles era bem intermitente e nem Isabel conseguiu ficar alheia a isso. Reconheceu um deles…era Javi. Conversava animadamente mas também ele deu pela sua presença. Parecia quase premeditado o facto de ambos se olharem. Ele fixava o seu olhar nela mas Isabel preferiu ignora-lo acabando por dar um abraço a Marco. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada…por teres vindo até cá – respondeu encarando-o de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas está tudo bem? Aconteceu-te alguma coisa ontem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, está tudo bem…e se não te importares prefiro não falar nisso..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, tens razão…mas olha, podemos marcar outra saída? Desta vez escolhes tu o sitio!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda lá… - ele pedinchava – dá-me uma oportunidade para provar que sou boa pessoa! – Isabel gargalhou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale. Tens uma única oportunidade de te redimires!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gracias…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os dias foram passando. Estava-se em meados de Dezembro e faltavam quatro dias para o Natal. Aquela cidade não parava…eram as pessoas que passeavam, faziam as compras de natal, as luzes que iluminavam toda a cidade, as músicas natalícias, o cheiro típico daquela quadra tão especial. Tudo se tornava especial em Dezembro. Era algo mítico, algo que acabava por unir as pessoas. Partilha, generosidade, amor, paz, reunir com as famílias…sem dúvida, uma época especial e que todos ansiavam para que chegasse. </div>
<div style="text-align: justify;">
Adriana, Ricardo e Renato aproveitavam aquela manhã chuvosa para fazerem as malas. Estavam de partida para Portugal, onde iriam passar a quadra natalícia junto das famílias. A casa estava um alvoroço. Entre malas espalhadas, correria em guardar tudo, ninguém queria se esquecer de nada e ter tudo pronto para que, daqui a umas horas, rumassem para o aeroporto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- os teus pais não vêem cá?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não… - respondia Isabel enquanto via Adriana a arrumar as suas coisas – eles vão ficar a fazer noite no hospital – era bem visível o desalento que trespassava Isabel. Evitara falar nisso nos últimos dias porque não queria incomodar os seus amigos com as suas lamurias. Não quando os via tão animados para regressarem a suas casas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Isabel… - Adriana sentou-se do seu lado – anda connosco para Lisboa! Já que não queres ir para a casa dos teus avós, ao menos ficas connosco…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada mas não. Eu fico cá…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- até quando é que vais ficar assim com os teus avós? Não achas que estás a ser um pouco injusta? Deverias aceitar o convite deles em passar o natal lá. Caramba, são a tua família! Eles preocupam-se contigo e querem-te de volta! Há quanto tempo estás assim? já vai fazer um mês Isabel! Não tens saudades deles? – ela olhou para a sua amiga. Adriana percebeu o quanto ela queria dizer a verdade, o quanto aquela situação a atormentava. O quanto Isabel sentia a falta da sua família.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho…eu tenho saudades deles. Claro que sim. Só que… - parecia que lhe faltavam palavras – eu não me sinto bem aqui, acho que foi um erro ter vindo para Múrcia! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- um erro? Oh Bela não digas isso…tu estás magoada, por isso é que pensas que foi um erro teres vindo para cá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não é por estar magoada Adriana! Tu sabes bem que eu não queria vir. Eu não queria Múrcia! e sabes também que só coloquei a hipótese desta universidade por causa da minha mãe. Por mais que eu ame os meus avós, isso não basta para me sentir feliz! Eu passei vinte anos a sentir-me deslocada. Sabes o que é isso? saberes que não pertences aquela família? Que eles não são do teu sangue? Sabes o que é tu não poderes dizer com quem és parecida porque no fundo não és com ninguém? Não há nada fisicamente que te ligue aquele mundo? Sentires-te desconectada, cheia de fragmentos, quereres tanto conhecer as tuas origens e não saberes por que ponta começar porque não existe raio de ponta nenhuma?! É passares vinte anos da tua vida a imaginares como serias se a tua mãe biológica não te tivesse abandonado, porque o fez, onde é que ela está…ter uma outra família e não saber onde ela está! Querer descobrir mas ninguém te ajudar! Por mais que os meus pais adoptivos e os meus avós tenham sido incansáveis comigo, eu não pertenço a esta família. Por mais amor que me tenham dado, por mais que quisessem que fizesse parte deles, eu não consigo sentir-me parte deles. Não enquanto eu me sentir perdida, sem saber as minhas origens, sem saber quem eu sou! Percebes? – Adriana olhava para a sua amiga um tão pouco sem palavras. Isabel estava tão perdida e isso era bem visível. Os seus medos, angustias, duvidas, receios e esperanças…em tão pouco ela conseguira resumir isso em poucas palavras. </div>
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<br /></div>
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- oh querida…. – Adriana puxa-a para junto de si – tu vais conseguir encontrar isso tudo. As tuas duvidas irão passar…vais ver! – Sem conseguir aguentar mais, Isabel derrama as ditas lágrimas que tanto a atormentavam. Um choro de quem só queria encontrar o seu verdadeiro caminho. Uma dor desamparada. Uma alma perdida à procura de ser encontrada.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Hoje era dia de consoada. Estava frio, apesar do sol que se fazia sentir – sol esse já escasso, nada fazia subir as temperaturas daquela cidade. As pessoas corriam de um lado para o outro atarantadas com as últimas compras de Natal. Nada parecia faltar para mais uma consoada passada junto das famílias. Só que nem em todos os casos se verificava isso. nem todas as famílias estavam reunidas. Nem todos os casais estavam de pazes feitas. Haviam famílias de costas voltadas, pais que não visitavam filhos e filhos que não viam seus progenitores há tanto tempo. Laços desfeitos, pessoas solitárias, havia solidão, tristeza, desconsolo. Porque nem todos são perfeitos e nem todos passam aquela quadra como deveriam. Nem todos terão essa oportunidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel tinha acabado de chegar à mansão. Arrepiou-se só de lembrar há quanto tempo não estava ali…já passara um mês. Lembrara-se da última vez que ali esteve e era uma recordação demasiado lamentosa para ser relembrada mas como também para ser esquecida. Depois da insistência dos seus avós, decidira aparecer ali. No fundo, Isabel morria de saudades deles, queria tanto estar com eles…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenos dias Isabel! –a voz suave de Juan fê-la despertar. Olhou de relance e encontrou-o junto às escadas – que bom tê-la por aqui!</div>
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<br /></div>
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- Hola Juan! Também é bom puder vê-lo!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda hoje falamos em si…os seus avós estavam ansiosos para receber a sua visita! – um certo desconforto instaurou-se nela.</div>
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<br /></div>
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- eles…estão lá dentro?</div>
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<br /></div>
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- sim! Acabaram de tomar o pequeno-almoço há cerca de meia hora.</div>
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<br /></div>
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- vale…vou entrar então.</div>
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<br /></div>
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- faça favor.</div>
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<br /></div>
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- até já Juan… - Isabel subiu as escadas que davam acesso à porta principal. Tudo se mantinha igual até mesmo a sensação de nunca ali ter saído. Seria um presságio? Algo que gritava dentro de si para voltar a morar ali? Respirou fundo e abriu a porta que já estava encostada. Conseguiu distinguir o misto de vozes provenientes do fundo. Entrou sorrateiramente e precisou apenas de alguns segundos para as distinguir. Um sorriso invadiu o seu rosto ao ouvir o riso afável dos seus primos. Podia adivinhar que era Enrique, o mais travesso. Juntamente com ele, estava Francisco. Eram inseparáveis os dois. Provavelmente estariam a jogar consola, era o maior vicio de ambos. Continuou a caminhar e ao olhar para o seu lado reparou numa das fotografias que estava despojada sobre a mesa. Isabel deveria ter os seus seis anos. Estava debruçada sobre o colo do seu pai, junto ao rio. Sem saber o porquê, ficou petrificada a olhar para ela…nem ela se lembrava de ter sido tirada, nem mesmo daquele momento. Aliás, porque é que não se sentia capaz de recordar o seu passado? Porque não se lembrava nada da sua vida passada junto da família biológica? Porquê a existência daquele lapso na sua memória?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel? – assustada, ela dá um pequeno passo para trás. A voz do seu avô sobressaltou-a de uma forma inesperada. Olhou na sua frente e viu-o. Com a sua bangala, o chapéu cinzento, os olhos escuros e intensos, aquela altura impassível, o seu jeito inigualável…e ali estava, parecendo engolido pelo passar da idade, a olha-la bem no seu jeito protector, aquela saudade trespassada no sorriso já cansado. Ali estava, quase implorando para que ela o abraçasse e ele a apertasse daquele jeito que só ele o sabia fazer. E assim fez. Isabel jugou-se nos braços de Javi abafando o seu choro contra o peito dele. E Javi abraçou-a, confortou-a, no seu jeito paciente deixou-a consolar-se da falta que aquilo que fazia, tal como só um avô o sabe fazer.</div>
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<br /></div>
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- oh avô…</div>
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<br /></div>
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- mi enana…tu vieste! – Isabel desprende-se dos braços dele, encarando-o.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- você está diferente… - ela encarou-o quase como examinando cada retalho dele – e está mais magro! Tem-se alimentado em condições? Eu sinto-o mais abatido, aposto que tem feito esforços! – acusou-o. Javi gargalhou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já tinha tantas saudades da minha Maria mais nova! – Javi coloca-lhe o braço sobre os ombros, puxando-a para junto de si. Isabel não se coibiu em deixar escapar um sorriso. Que falta que fazia-lhe ouvir aquela gargalhada calorosa, sentir os braços fortes do seu avô…</div>
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<br /></div>
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- onde está a avó?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- provavelmente a chatear a cabeça a alguém… - Isabel olhou-o de relance – não lhe digas nada mas… - Javi sussurrava – ela hoje está um pouco chata. Ah e também está mais teimosa do que já costuma ser… - Isabel sorriu ao ouvi-lo. Também sentia saudades daquilo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas porquê? </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque hoje é a consoada e ela não pára de um lado para o outro! Até parece que já não sabes como é a tua avó nestas alturas… - Javi pisca-lhe o olho.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- paciência avô….paciência! – os dois caminharam, abraçados um ao outro, pelos corredores da casa. Pararam junto à cozinha. Isabel pôde comprovar com os seus olhos o quanto a sua avó andava de um lado para o outro, atarefada e concentrada, a fazer as especiarias de Natal. Assim que Maria deu pela presença deles, focou de imediato o seu olhar em Isabel. A sua avó estava igual…parecia que por ela, o tempo não passava. Maria apressou-se a limpar as mãos e a correr para junto dela. Acabou por a envolver num abraço bem forte. Mais um abraço para que Isabel quebrasse, mais um sentir forte para perceber as saudades que sentia daquilo tudo. Que mesmo tendo a sua vida numa tamanha confusão, ela sentia imensas saudades deles. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- minha enana! – a voz de Maria era afectuosa, quente, melódica, tão confortante… - ainda bem que estás cá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu…eu quero pedir-vos desculpas pelas minhas atitudes. Eu sei que exagerei e não deveria ter feito as coisas dessa forma… lo siento.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei…já passou, vale? Já passou e está na altura de virar a pagina pode ser?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode! – respondeu com um sorriso no rosto</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- queres me ajudar? Preciso de mais umas mãos para acabar os doces todos!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que a ajudo avó! mas…e a Pilar não está?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- foi até à cidade buscar as encomendas que fizemos! Eu bem que pedi ajuda ao teu avô mas só consegui receber prejuízo até agora… - Maria lança um olhar reprovativo a Javi e este olha-a com um falso perplexo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prejuízo? </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, prejuízo! olha e as caixas que te pedi para ires buscar, onde estão?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu ia a caminho da arrecadação busca-las mas pelo meio encontrei o meu outro doce… - o olhar incide sobre Isabel – mas já vou buscar! Já vou! – tanto Isabel como Maria gargalharam.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É, se não conhecesse o meu marido…até te comprava! Deixa…eu vou contigo que tu ainda podes tropeçar com essa maldita bangala…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei bem cuidar de mim! – resmungou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é melhor você aceitar a ajuda da avó, eu notei que está com dificuldade em andar! – interveio Isabel</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás a ver? Ouve a tua neta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pronto…eu estou tramado com as minhas Marias juntas contra mim! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é para o seu bem avô!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Anda, vamos que eu tenho muito para fazer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podemos ao menos, ir de braços dados? Torna o momento mais romântico! – declarou com aquele sorriso que nunca desaparecera e permanecia intacto. Aquele sorriso que fazia Maria apaixonar-se perdidamente por ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ai Javi… - seguiram os dois pela cozinha fora, deixando Isabel sozinha. Apenas restava ela…a olhar para aqueles ornamentos todos. Lembrar dos tempos de Natal em que era pequena e passava as manhãs a correr até ali, há procura de um doce ou até mesmo a querer ajudar os adultos a preparar os doces.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- avó, você tem… - a chegada de alguém soou que nem alarme na cabeça de Isabel. Olhou na direcção da porta e o seu olhar estagnou na chegada de alguém. Marisol. Surpresa, era tudo o que aquele olhar queria dizer ao reparar na presença de Isabel ali, bem na sua frente. – hum….estás aqui?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- dá para ver que sim – Isabel respondera de uma forma curta e grossa, tentando controlar os seus pensamentos.</div>
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<br /></div>
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- não esperava ver-te por cá – Marisol caminha pela cozinha parando do outro lado do balcão.</div>
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<br /></div>
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- apanhei-te de surpresa, foi? </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a mim? Oh…claro que não! Apenas habituamo-nos a não ter-te por cá. </div>
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<br /></div>
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- para grande pena tua, aqui estou! – Isabel força um sorriso amarelo</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e vens para ficar?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quem sabe… - Isabel fixa o seu olhar no dela e depressa sentiu-se a contrair. Era ali que ela percebia que seria impossível ter o mesmo sangue que ela. Marisol…parecia ser de outro mundo, era egoísta, mesquinha, ciumenta. Como poderia ela ser do mesmo sangue de pessoas tão boas como o resto da família?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é pena ter que suportar novamente o mesmo ar que tu.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem que o sentimento é reciproco.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- afasta-se do Javi! – avisou-a num tom juncoso que nem em pouco intimidou Isabel</div>
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<br /></div>
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- porquê?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é bem que te afastes dele. O Javi é meu! – Isabel gargalhou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro…ele é todo teu! Tirando o pequeno pormenor de vocês não namorarem. Ups…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele jamais gostaria de ti!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha e ainda bem até porque eu jamais gostaria dele…sabes, ele não combina comigo. Acaba por fazer demasiado o teu estilo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então porque foste correr com ele? aquilo foi tudo uma cena para me provocar? – Marisol corroía-se toda. Era bem visível o quanto se estava a controlar. Isabel sabia que conseguiria atingi-la tanto que fora essa a sua intenção. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e estou a ver que consegui! Ora confessa… - num tom juncoso e provocador, Isabel mirava-a com um sorriso cínico.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ora essa! Só me livraste de não ter parado na prisão. Apenas foste tu e ele, presos por participarem em corridas ilegais!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que história é essa? – alguém aparece ali. Num grande sobressalto, tanto Isabel como Marisol viraram-se na direcção da porta encontrando a avó de ambas, Maria, a olha-las de forma bem conturbada. Um espécie de cliché parecia invadir aquele espaço levando toda a história ao inicio. Depressa Isabel sentiu-se a ser avassalada por uma onde de pânico crescente à medida que fitava o olhar da sua avó e percebia que estava tramada. Agora sim, as coisas voltariam ao mesmo…</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-77876239589766623652014-04-17T15:43:00.002-07:002014-04-17T15:43:36.863-07:00pequena informação<div style="text-align: justify;">
boa noite :)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
venho até aqui deixar-vos um pequeno aviso/ideia/escolha. não sei se algumas leitoras já devem ter reparado mas nos ultimos tempos tenho estado um pouco ausente tanto no perfil do facebook como também no que toca à escrita. neste momento estou há cerca de um mês sem conseguir escrever uma unica linha na fic da Nunca é tarde para Amar, o que é de todo muito mau. tenho postado com alguma regularidade na minha nova fic Tengo ganas de ti mas porque tenho capitulos já escritos o que me dá a margem de puder publicar com mais regularidade. fora disso, como se costuma dizer, estou numa "seca" da escrita. eu nao gosto nada desta situação e quem paga são voçês que querem ler e, reclamam com toda a razão!</div>
<div style="text-align: justify;">
então, venho aqui propor, ou talvez afirmar,a que irei mudar o rumo das fics, ou seja, não as vou terminar mas sim, optar, por encurta-las. na fic da tengo ganas de ti, já tinha decidido que seria apenas uma fic curta, portanto assim permanecerá. as mudanças seguirão mesmo na Nunca é tarde para Amar. Decido então encurtar esta história ao passo que será, nao uma fic alongada, mas sim uma história mais pequena. eu sei que posso estar a ser injusta mas eu não me sinto capaz de continuar a escreve-la com as ideias todas que tenho em mente. Vai demorar imenso tempo a puder escreve-las a todas e nem imaginam o quanto isso me está a deixar "desesperada". portanto, de forma a conseguir terminar as histórias, dar-lhes um inico, principio e fim, só vejo uma unica maneira, ou seja, torna-las mais pequenas. </div>
<div style="text-align: justify;">
desculpem, eu sei, posso estar a ser injusta mas prefiro assim e dar-vos capitulos com mais qualidade. e quem sabe, se com isto, eu consiga até embarcar em outros novos projectos. todos eles mais pequenos. </div>
<div style="text-align: justify;">
com isto, não vos sei dizer quando sai um novo capitulo na fic da Nunca é tarde para Amar, nestas proximas semanas será bem dificil conseguir pegar nela e ter ideias para transpor para o papel. </div>
<div style="text-align: justify;">
mil desculpas, a sério, não estou a ser justa mas não consigo ver outra opção. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo assim, gostava muito que voçês dessem a vossa opinião. se concordam ou não. acaba sempre por ser importante para mim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
e assim me despeço, desejando-vos a todas uma continuação de boas férias e uma boa Páscoa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
beijinhos</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diana Ferreira</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-18944250520660255152014-04-08T09:01:00.000-07:002014-05-22T14:33:50.565-07:00Capitulo 15<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel virou-se ficando de frente para ela. Ali estava…Marisol, com o seu sorriso falso, com o seu olhar prestes a lançar a próxima farpa. Cinismo…aquele cinismo todo no que acabava de falar. Em contrapartida, Isabel mostrava-se tranquila.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- digamos que ver-te…é coisa que não vim cá fazer! – ela preparava-se para lhe virar costas quando decidiu falar algo – já agora…os teus pais sabem que estás cá? Numa corrida de motas? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me digas que ficaste de repente, preocupada comigo, querida…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh não te maces! Por mim até podias ser atropelada por uma daquelas motas que eu não iria importar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sempre a mesma querida…confesso que já sentia saudades desses teu sarcasmo todo. Oh espera! Tu agora não estás mais lá em casa, por isso é que sinto falta disso. – Isabel preferiu respirar fundo e lançar-lhe um olhar que dizia tudo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e já agora… - Isabel tentava mudar de assunto – o que é que tu fazes aqui? – Marisol sorriu enquanto se aproximava de Isabel ao ponto de lhe tirar o seu lenço que estava envolta do pescoço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabes…tava mesmo a precisar de qualquer farrapo para usar de cinto. Este lenço é o ideal para fazer de camomila, ao lado do…javi! – Isabel olhou ao longe e encarou a figura de Javi, sentado na sua mota mesmo ao lado de Marco. Também ele estava ali? No fundo, nada daquilo a surpreendia. Agora, fazia sentido a presença da sua prima naquelas corridas. Ela tentava calcar-se aos pés dele. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- cuidado, vê lá se o farrapo não se rompe e tu dás com a cara no chão!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não te preocupes, eu tenho sempre quem cuide bem de mim durante a corrida… - elas estavam suficientemente perto deles. Por isso, Marisol vira-se para o lado onde Javi se encontrava. Começou, aos poucos e ainda virada para Isabel, a dar passos em direcção à mota. Sempre a fita-la. «cabra…» pensou Isabel « és mesmo uma verdadeira cabra! ». no seu pensamento, aquela noite voltou a surgir no seu pensamento. Aquelas palavras, aquela presunção…o nojo que Marisol lhe provocava. Nojo, nojo…era tudo o que sentia. Nojo e uma enorme vontade de partir para cima dela. Puxar-lhe um valente estalo e deixa-la toda marcada. Isabel sentiu enorme ganas de fazer isso mesmo. Não…isso era dar-lhe o protagonismo que tanto gostava de receber. Acabou por sorrir. Sem contar com tal atrevimento, Isabel caminha em direcção a ela, puxa-lhe com força o cinto que ela tinha preso no seu casaco e ganhando-lhe lanço, sorri-lhe cinicamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem que o dizes! Que tal…de eu testar a tua segurança, hã? – Isabel proporcionou uma boa gargalhada. Dito isto e sempre com a sua postura de dura, orgulhosa mas de quem sai sempre a ganhar, caminha de um jeito vitorioso até junto da mota de Javi. Marisol olhava-a estupefacta. Não, ela não iria fazer aquilo…não podia. Será mesmo que não? Isabel sobe para a moto de Javi. Assim que dá pela sua presença, ele vira-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que...que porra estás a fazer aqui?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hoje a tua companhia vai ser outra… - ela dera-lhe umas palmadas no seu ombro. Sem perceber nada, Javi vira o seu olhar e ao encarar Marisol percebeu toda a cena. Esta, por sua vez, e sem querer sair a perder, mostra-se também orgulhosa e sobe para a moto de Marco. Ao contrario de Marisol, aquilo não atingia em nada nela. Muito pelo contrario…já Marisol estava prestes a explodir. Aquela ousadia e provocação de Isabel….deixou-a completamente a ferver.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel senta-se atrás de Javi, tal como as outras raparigas estavam a fazer. Poe-se ao contrario pois é assim que exigem as regras, colocando o cinto duplo de camomila. A moto arranca mal ela consegue fechar o cinto no ultimo buraco. Isabel coloca as mãos para trás em modo de segurança e agarra-se à cintura dele. O seu olhar mantinha-se sobre o da sua prima. Isabel sorria e fez questão de amarrar-se muito bem a Javi. Jurava que tinha-a visto a espumar-se de raiva. Sorriu. Aquilo sim, era uma boa vingança. Javi empina e Isabel fecha os olhos agarrando-se com ainda mais força. Não era apenas para espicaçar Marisol mas porque sentiu todo o seu corpo a colapsar perante o susto. Ele volta a acelerar. Cada pessoa que estava ali tinha a sua rapariga. Marco tinha Marisol enquanto Javi tinha a Isabel. Ela olha em seu redor. Um mar de gente olhava-vos, incentivava-os, gritavam todos completamente eufóricos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ali, todas as camomilas têm os braços para trás e agarram-se ao condutor com medo do solavanco da partida. Alguém soava o apito. Gerou-se um momento de silêncio. Todos estão virados para a frente enquanto as camomilas mantêm os olhos fechados. Por momentos, Isabel sentiu-se a vacilar em ter ido parar ali. Ela não sabia o que esperar, não sabia sequer se ia sair ilesa daquela corrida, sem falar que era a primeira vez que andava de mota juntamente com Javi. Novamente soou outro apito mas desta vez diferente. As motos começam a avançar. As camomilas agarram-se com força nos seus homens. Isabel agarra-se com toda a força sobre o peito de Javi. Virada com a cara para o chão, ela percebeu que a estrada estava correr por baixo dela, parecendo terrível e verdadeiramente assustadora. Solta um grito. Aquilo era verdadeiramente assustador e agora sentia-se em pânico, em especial quando Javi volta a empinar a mota andando praticamente em apenas uma roda. Com toda a força, a roda da frente bate violentamente contra o chão arrancando-lhe outro grito. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As motas tentavam sempre dar o seu melhor mas Javi continuava a corrida, acelerando a todo o gás pouco usando os travões. As linhas das estradas pareciam invisíveis e fugiam a uma velocidade estrondosa do olhar de Isabel. Ela não conseguia olhar para a frente, só fechar os olhos e rezar para que ele parasse. Mas uma luz chamou a atenção de Isabel. Olhou em frente e uma luz ofuscante e azul, pairava ao longe. Ela arregalou os olhos. Pânico, muito pânico. Era a policia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pára Javi!!! Pára!!! – ela grita mas este parecia não ouvir – é a policia!! – algo o fez abrandar e assim que se sentia mais segura, num ápice, Isabel arranca aquele sinto da sua cintura, escapulindo pela mota fora.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás louca?!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu és deves estar!! – ela gritava perante todo o extase e adrenalina que ainda lhe corroía pelas veias. A sua respiração estava descontrolada – a policia vem atras de nós! – Javi olhou para trás. Comprovou que ao longe vinha um carro patrulha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- puta madre! Sobe! Anda, sobe para a mota! – Isabel voltou a subir mas desta vez não ficou de costas para ele. encostou o seu peito sobre as costas dele e sem contar com isso, Javi volta a dar lanço na mota, voando dali. Fechou os olhos e pela primeira vez sentiu medo por ter pisado os pés naquele sitio. Naquele morro. Estava com medo que aquela noite fosse correr mal e à velocidade a que Javi ia associado ao facto de nas curvas, simplesmente acelerar ainda mais, o coração dela estava prestes a sair-lhe pela boca fora. Perdeu a noção do tempo que ficaram a despistar o carro da policia e talvez a sorte deles fora mesmo o facto de acabar de haver um acidente numa rua que ali perto. Pelo espelho, Javi percebeu que já não havia mais nenhum carro atrás dele e por isso mesmo, aliando ao facto de Isabel o amarrar incisivamente à sua barriga, decidiu abrandar. Pararam quando chegaram a uma rua sem sentido e abandonada. Isabel saltou imediatamente da mota ainda a tentar controlar a adrenalina que a corroía tal como verdadeiras descargas eléctricas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- puta madre! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esta foi por pouco… - Javi suspirava fortemente ainda a captar que teve uma enorme sorte em conseguir despistar a policia, caso contrario sabia que estava em péssimos lençois. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu… andas sempre assim? – notava-se que Isabel ainda não tinha conseguido controlar a sua respiração. Assimilava-se a alguém que acabava de correr a maratona e que de todo estava habituada a correr. Precisou de se encostar a uma pilha de caixotes deixados naquela rua.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- assim como? – ele olhava-a.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como se quisesses que a tua mota a qualquer momento se espetasse completamente ou saltasse um pneu fora? Tu vias à velocidade que ias?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- querias que fosse a passear pelas ruas maravilhosas de Múrcia e que como escolta até à esquadra tivesses um carro patrulha? – ela calou-se. Javi tinha razão. Sim, ele tinha razão e Isabel tinha de lhe dar o beneficio, apesar de jamais o admitir em voz alta. Parar na policia era a ultima coisa que desejava – e já agora…posso saber porque tive de levar contigo na corrida? Ou posso tirar as minhas conclusões?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estares calado. É o melhor que possas fazer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabes que não precisas de fazer ciúmes à Marisol, só para a humilhar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e quem disse que estou com ciúmes? – Isabel gritou na defesa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então explica-me porque correste comigo? – perguntou depois de uns segundos em silêncio. Ela demorara o mesmo tempo a responder-lhe.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque gosto de zoar com as pessoas – respondeu com escarnio. </div>
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<br /></div>
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- é, não me digas que também tomaste o gosto pelas corridas? – houve algo no tom de voz de Javi que Isabel não gostara nem um pouco – faz parte da tua estratégia para zoares com as pessoas?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- qual é a tua? – Isabel levantou-se caminhando em direcção a ele – não te devo satisfações, que me lembre disso! – Javi também se levantara da mota encarando-a com uma feição mais forte, mais carregada.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás a meter-te em caminhos perigosos. Por isso, acho melhor zoares com as pessoas em outro sitio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me lembro de ter pedido a tua opinião. – eles estavam demasiado próximos. Ela sentiu-o a mexer-se, Javi estava a levantar a sua camisola ficando com a barriga bem definida à mostra.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha só… - o seu olhar incidiu sobre ele – quem parece muito confiante acerca de onde anda a pisar os pés não se amarra tanto a uma pessoa aos pontos de deixa-la com a pele bem vermelha. Podia jurar que ainda com o barulho escurecedor da mota, conseguia ouvir-te a gritar, ou mais…eu bem vi a força com a qual te amarravas a mim. Ou foi tudo imaginação minha? – ele mantinha a camisola erguida e Isabel, ainda sem se aperceber disso, continuava a mira-lo e percebeu o quanto a sua adrenalina tinha provocado. Não se lembrara de o amarrar com tanta força. Acabou por permitir que os seus olhos se fechassem por fracção de segundos. Assim que os voltou a abrir, pressentiu que Javi continuava a olha-la mas já tinha baixado a camisola. Ele parecia estar calmo e sem saber o porquê, Isabel sentia-se estranha. Aquele próprio momento era estranho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque é que as coisas tinham de terminar daquele jeito? Uma noite que supostamente seria passada ao lado de Marco, estava toda ela a ser disfrutada na companhia de Javi. Isabel sentia-se a perder todo o controle dos seus próprios sentimentos. E ela, bem no seu intimo, só perguntava como é que isso era possível acontecer…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já te disse, não tens nada a ver com isso. – por dentro, Isabel sentia-se a vacilar. A sua cabeça estava numa tamanha confusão que sentia-se totalmente perdida. Já nada fazia o maior sentido na sua vida, nada mesmo. Desde que chegara a Múrcia que tudo corria inesperadamente. Mais do que nunca, ela se sentia sozinha e o que mais precisava era sentir um pouco de prazer para puder esquecer a confusão em que a sua vida se encontrava. Era engraçado. Naquelas fracções de minutos em que estava naquela mota conseguiu esquecer até quem era ela mesma. Tudo se tinha apagado. Só havia a adrenalina. Por sua vez, e enquanto Isabel pensava naquela tamanha confusão, nem dera pelo facto de Javi a mirar atentamente. Acabou mesmo por deixar escapar um sorriso terno. Aproximou-se perigosamente dela, diminuindo qualquer distancia que ainda pudesse haver entre eles. Isabel apercebeu-se disso e mostrou um pouco de tensão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas sabes… - Javi tocou com os seus dedos frios sobre a mecha de cabelo que estava à frente do rosto dela, deitando-a para trás da orelha – tenho a dizer que foste uma camomila muito valente – as suas palavras saíram num sussurro. Enquanto olhava atentamente para o rosto de Isabel, esta olhava para todo o seu atrevimento, pela forma como lhe tocava sobre as suas faces geladas, aquela ousadia…amotinada, imprevisível, impensável. O próprio momento que se gerava, todo ele acontecia de uma forma a que nenhum deles pudesse prevê-lo ou mesmo pará-lo. Tão depressa Javi lhe tocava no cabelo como já seguia pelo rosto dela. Tão depressa a empurrava levemente para junto do seu corpo como, da mesma forma, ia diminuindo a distância que os separava. <br />Tão rápido estava a discutir com Isabel, como igualmente tomara a ousadia de juntar os seus lábios sobre os dela. Tão depressa se odiavam, como de um jeito impensável se beijavam. Tomando a destemida ousadia de a beijar, permitindo que em segundos tomassem conta da boca um do outro. O que começara com um beijo irreflectido, tomou-se num beijo carregado de luxuria, urgência, pressa, ousadia…Javi apertou-a com força contra o seu peito fazendo surgir um suspiro abafado de Isabel. <br />Porque se beijavam quando conseguiam carregar um odio que os cegava? Se era assim tao certo que a presença tanto de um como do outro, acabava por ser traspassável, que levara Javi, num acto irreflectido, de a beijar? Será que sentiam algo um pelo outro? Será que era isso? que todo aquele ódio que tanta questão faziam em demonstrar era tudo uma fachada para esconder o que de verdadeiro sentiam um pelo outro? Era certo que Javi mexia com Isabel de um jeito inquietante. Isso ninguém poderia negar, nem ela mesma. Isabel sabia que ele mexia consigo, só não era capaz de saber até que ponto e de que forma. Se era de uma forma má ou de uma forma boa. E também Isabel mexia com o próprio Javi. Bagunçava com ele, desafiava-o, testava-lhe os limites como ninguém era ousado ao ponto de fazer tal coisa. Ela não tinha medo dele, não se vergava perante o seu olhar desafiador, ripostava, era directa até demasiado. <br />Fora Isabel que pôs fim naquele beijo, desgrudando-se dele abruptamente. Javi prendia-a pelas suas mãos não deixando-a fugir, ainda estava tão atordoada com o que acabara de acontecer que nem sabia o que dizer. Isabel precisou de alguns segundos para se recompor e voltar à realidade. Em questão de segundos a memória fustigou-a relembrando de onde estava. Corridas de motos… a fuga à policia…o beijo…<i>o beijo.</i> Ele beijou-a! Isabel arquejou a sua boca a se aperceber que ele tomara a ousadia de a beijar. Estava quase a abrir a boca novamente, quando uma luz incandescente os ofuscou. <br /><br />- aí, vocês os dois! – uma voz grossa soava de um jeito grave. Ambos olharam para o lado e nem queriam acreditar no que viam. Um homem de aparência alta, um porte forte, com a sua farda azul escura e um chapéu preto na cabeça, saía do seu carro que estava atravessado na rua apontando a lanterna para eles os dois. Policia. Isabel estremeceu completamente assim que leu o letreiro chapado na parte lateral do carro. <br /><br />- puta madre… - sussurrou Javi <br /><br />- vocês os dois, façam o favor de me acompanhar à esquadra! <br /><br /><i>Foda-se!</i><br />
Era tudo o que Javi e Isabel conseguiam dizer, ainda que fosse por pensamentos. Agora sim, estavam completamente em sarilhos.<br /><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
***</div>
<b><br /></b>
<b>aqui está ele, finalmente!!!! em primeiro peço imensa desculpa pela demora, passo a vida a desculpar-me mas tou mesmo sem tempo nenhum para escrever. só mesmo graças à pequena pausa que tenho entre exames e estagio que consegui acabar este capitulo!<br />espero que tenham gostado e aguardo as vossas manifestações!<br />beijinhos :)</b><br />
<br />
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-88258417455986169302014-04-07T14:22:00.003-07:002014-04-27T06:18:43.990-07:00Capitulo 14<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Finais de Novembro.</div>
<div style="text-align: justify;">
O tempo passava rápido por ali e entre ele vinha acompanhada a chuva o frio, as ruas vazias acompanhada pelo cheiro a castanhas assadas e sem ainda acreditar que o tempo passava tão rápido, o Natal estava quase a chegar. As ruas começavam a estar iluminadas, as arvores de natal já enfeitavam algumas casas juntamente com o espirito Natalício. As promoções, campanhas de Natal, a correria para as compras de Natal, as musicas que se ouviam nas ruas… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem acredito que daqui a três semanas vamos para Portugal!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é verdade, já tenho saudades de Lisboa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sempre vais passar o Natal a Lisboa Bela? – estavam os quatro reunidos em casa, de volta da lareira enquanto conversavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda não sei…acho que os meus pais nesse dia vão estar de plantão no hospital.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, que mau….trabalhar no dia de Natal! Nem vão estar com a família.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas acho que é apenas na consoada, no dia seguinte querem vir para Murcia…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso quer dizer que ficas por cá, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda não sei!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me digas que pensas em passar o Natal fora! – Adriana tentava adverti-la – é assim…tu estás um pouco ressentida com a tua família mas é Natal…há que dar umas tréguas certo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- passou um mês Adriana…um mês que estou fora daquela casa e quem é que se importou com isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- os teus avós!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o resto? A minha família não é apenas os meus avós! Pelos vistos eu sou mesmo a rebelde da família e tornei-me num alivio por não estar lá mais! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh não digas isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas podemos não falar na minha família? – Isabel parecia verdadeiramente aborrecida pelo facto de tocarem naquele assunto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está bem…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o voluntariado, como corre? – desta vez foi Renato que falou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- corre bem! Daqui a um mês acabo graças a todos os santos e santas deste mundo! – praguejou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é assim tão mau estares a fazer voluntariado?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, o pior não é o que faço mas sim a companhia que levo! Dispensava bem…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois é, preferes mais a companhia do Marco! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quem é o Marco?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é o rapaz com quem a Bela anda a sair!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu namoras?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, eu não namoro nada!! – tentou defender-se – o Marco…bem, eu estou apenas a sair com ele, nada mais! – Adriana gargalhou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, sim…um rapaz com quem andas aos beijos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- beijos?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Adriana! – resmungou Isabel – és uma cusca tu! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas quem é esse Marco? Nunca ouvi falar nele…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele não anda na faculdade…trabalha na oficina do pai, tem vinte e quatro anos, é muito simpático… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e giro! – constatou Adriana</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, também é giro e andamos a sair, nada mais! Nem quero que passe disso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porquê? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque eu não quero relacionamentos! Namoros está fora de questão. Só saio com ele porque é giro, simpático e nada mais…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois tu achas isso mas o Eduardo não se cansa de me dizer que ele é mau caracter e quer me longe dele! E tu também…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, claro! – Isabel levanta-se – cá faltava ele! ele e o seu bando de amigos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está tão enganada a respeito do Javi! – ela olhou-a – porque não tentas ver o lado bom dele, ah?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque ele não tem lado bom!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- enganas-te. Ele tem sim um lado bom! Já estive a falar com ele, é uma pessoa simpática e não é nada disso que o pintas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Claro, claro, claro…. – ela bufava – como sempre eu sou a que estou errada – Isabel saiu dali caminhando em direcção ao corredor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha antes de ires, amanha sempre vais ao jantar de aniversario da Letizia? – Isabel não lhe dera resposta, entrando no quarto fechando a porta com força.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- presumo que aquilo tenha sido um sim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estava uma noite fria. A parte boa daquela noite é que não chovia e estava um tempo seco. Pelas previsões, nos próximos dias adivinhavam-se dias de sol mas com baixas temperaturas. Adriana, Isabel e mais o grupo de colegas de turma caminhavam para o restaurante. Era o aniversario de Letizia, companheira de turma. O lugar onde iriam jantar ficava perto da zona típica de restaurantes conhecidos e bem frequentados de Múrcia. Tinham reserva e preparavam-se para entrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bem meninas, eu conto convosco para depois irmos até à discoteca! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro, amanha o que vale é ser sábado! – elas estavam divertidas. Era uma noite que prometia ser alegre entre aquele circulo de amigas. Abriram a porta e foram recebidas pela simpatia do empregado que habitualmente estava ali pronto a receber todos os que chegavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches chicas! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e feliz cumpleaños para a menina letizia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- uh, muchas gracías! – agradeceu </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- acompanho-vos até à vossa mesa… - o empregado estava a acompanha-las até à mesa reservada. Ficava ao pé da janela, mesmo com vista para o rio. Começaram a sentarem-se nos lugares. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- querem pedir agora ou preferem as entradas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…podemos já fazer os pedidos! – entre algumas escolhas, em questão de minutos decidiram o que queriam. As conversas fluíam naturalmente entre elas e conseguiam falar de tudo. Desde rapazes, festas, algumas fofocas e também sobre as aulas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- dão me licença meninas, eu vou à casa de banho! Alguém vem? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! – Isabel levantou-se e dirigiu-se à outra parte do restaurante, onde ficava os lavabos. Estava a abrir a porta quando ouviu umas vozes que lhe pareciam ser conhecidas. Olhou para o seu lado direito e percebeu o porquê de achar que algo ali era familiar. Focou bem o seu olhar…naquela mesa, naquelas pessoas. Ela olhava um tão pouco incrédula sem querer acreditar no que via. Pasmou-se ali, apenas a olha-los e atentar confortar-se do que os seus olhos viam. Conversavam entre si alegremente, riam, sorriam, gargalhavam até. Pareciam felizes. Podia dizer que estava ali quase toda a sua família reunida, a jantar. Tios, primos…até os seus avós estavam ali. foi então que se lembrou que hoje um dos seus tios fazia anos. Óptimo, aquilo era um jantar de família, uma festa onde estavam todos reunidos menos ela. Menos ela… «que facada!» «que apunhalada…» Isabel deu meia volta e saiu dali a correr. Não conseguia…aquilo doía imenso. Assim que saiu do restaurante, sentia o seu corpo todo a tremer. Começou a andar num passo apressado sem nunca parar…o seu pensamento parecia que tinha sido sugado e não conseguia pensar. Andava sem rumo, não sabia ao certo por que caminhos galgava. Só lhe vinha à memoria dois únicos pensamentos: a sua família reunida e ela não estar lá. Não estava porque não sabia… Parou assim que chegou à ponte. Acabou mesmo por se sentar ali, no chão frio encostada à grade. As lagrimas começaram a correr. Uma a uma, pelo seu rosto já gelado. Corriam até que se tornou num choro incessante e sufocante. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquilo tinha doido…nunca se tinha sentido tão sozinha, tão deslocada e tão órfã como naquele momento. Eles não queriam saber dela, nem mesmo os seus avós. Porquê? Porque se reuniram e não lhe disseram nada? Não se importavam mesmo com ela não era? Isabel continuava ali…com as pernas quase a esmagar o seu peito, encostada às grades da ponte ouvido o rio a passar velozmente. Tentou limpar as lagrimas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola… - Isabel assustou-se com aquela voz. Olhou em seu redor e reparou na presença de uma senhora. Não a conhecia apesar da sua cara lhe ser familiar. Olhou-a com desconfiança e um pouco assustada. Porem, aquela mulher parecia estar serena. Tinha uma apresentação um pouco descuidada. Seria mendiga?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quem é você? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sou a Teresa, e tu quem és? Porque estás aqui ao frio e a chorar? – Isabel olhou-a melhor. Tinha uma voz serena contrastando um pouco com a sua aparência pouco cuidada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sou a Isabel… - disse ainda um pouco na defesa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha não precisas de ter medo de mim! Queres um pouco? – ela tinha na mão um cachorro quente. Apesar de sentir fome, Isabel não queria aceitar. Nunca aceitava nada vindo dos estranhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada mas não…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso me sentar ao pé de ti? – Isabel sentia-se confusa. Mas quem era aquela mulher?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode… - ela sentou-se. Ficou a olhar para Isabel com um sorriso no rosto, quase em modo de compaixão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então, não me respondeste…porque estás a chorar? Alguém te fez mal? – Isabel fitou o seu olhar sobre a enorme escuridão. Respirou fundo e ficou calada por alguns segundos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque perdi a minha família… - a sua voz saiu-lhe rouca, triste, desiludida, amargurada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…mas foi algo grave que aconteceu? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desilusão…foi isso que aconteceu. A minha família desiludiu-me e já não querem saber de mim! – a sua voz tremia e Teresa sentiu uma certa pena dela. Mas no fundo, era aquilo que Isabel sentia. Uma profunda desilusão por se sentir de parte numa família que pensava ser o seu maior porto de abrigo. E que no fundo, bem no fundo…isso era uma mera ilusão.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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- aguarde só cinco minutos que o senhor director já a recebe, pode ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, pode… - Isabel estava sentada num dos sofás que ficavam mesmo em frente à porta do gabinete do director da universidade. A secretaria informava que estava num telefonema importante e ela teria de esperar. E assim fez. Da última vez que ali esteve foi há dois meses atrás quando tinha entornado café em cima de Javi, provocando o castigo que ainda cumpria. Não, não era nenhum castigo que a levava até ali. Aliás, estava ali por livre vontade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel García? – ela olhou – pode entrar! – Isabel levantou-se e bateu à porta. Bastou três batidas sobre aquela madeira para ouvir alguém do outro lado. Abriu a porta e foi entrando.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso senhor director?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, entre! – assim fez. Fechou a porta e foi-se sentar na cadeira de pele, ficando de frente para ele – o que traz a aluna Isabel até cá? Não me diga que é mais alguma asneira que fez e eu ainda não saiba disso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…não é nada disso! Eu…bem… - ela respira fundo – eu tenho um pedido a fazer-lhe.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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Isabel já esperava há cerca de cinco minutos por Marco quando ouviu a mota dele a chegar ao pé do apartamento. Apressou-se a travar a mota.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdón pelo atraso!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho a dizer-te que nunca se deixa uma rapariga à espera! – retorquiu Isabel ainda parada no mesmo sitio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh vá lá…estava transito!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah sim, e eu a pensar que as motas serviam para ultrapassar os carros quando estava transito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prometo que me redimo, deixas? – ela ficou a fita-lo com o olhar. Marco conseguia mesmo ser irresistível e Isabel ficou a pensar o porquê de ele andar atrás dela quando deveria haver milhares de raparigas mais interessantes a fazer fila. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha que sou exigente!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não faz mal, eu gosto de grandes desafios! – ela riu-se. Começou a caminhar em direcção à mota subindo para cima dela. Marco deu-lhe o capacete.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para onde me levas?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já vais ver….gostas de adrenalina?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- adrenalina? Não me digas que vais ensinar a conduzir uma mota!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode ser que sim…dependendo de como te vais portar…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ui, que suspense! – Marco sorriu. Colocou o pé no acelerador saindo dali. O caminho até ao local onde ele tinha escolhido, ainda foi um pouco longo e Isabel percebeu que estavam a sair do centro da cidade. Não conhecia aqueles lugares mas à medida que andavam, foi percebendo que varias motas corriam a grandes velocidades entre eles. Ele tinha parado assim que chegaram a um enorme adro carregado de pessoas com as suas motas. Parecia ser uma espécie de pista de corridas e avaliar pela situação que ali se gerava, as próprias pessoas deveriam participar nelas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é isto? – perguntou Isabel, assim que desceram da mota. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a isto se chama o morro. O local onde fazemos as nossas corridas….</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- corridas?</div>
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<br /></div>
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- sim. Hei…não te preocupes, vale? – Marco viu a cara reprovadora de Isabel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale mas…isto é perigoso não? Sem falar que não deve ser legal correr aqui! – ele sorriu. Iria falar qualquer coisa mas alguém tinha chegado interrompendo assim a conversa deles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei Marco! – um rapaz aproximou-se. Era enorme, a avaliar pela aparência tinha de certeza mais do que um metro e oitenta. Os seus braços estavam completos de tatuagens, tinha uns músculos fortes e estava apenas de camisola de alças. Mas ele não tinha frio? Estava, de facto, uma noite fria e Isabel perguntava a si mesma como era possível toda aquela gente não sentir o frio daquela noite cerrada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então Step, a corrida está pronta?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só esperando por ti! – corrida? Mas ele iria participar nas corridas? E ela? Onde ela iria ficar?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vais correr? – Marco olhou-a.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro. Eu corro sempre! Lembras-te de ter perguntado se gostavas de adrenalina? – ela acenou com a cabeça – pronto guapa….hoje vamos correr!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vamos?! Hei, hei…eu não corro. Nunca participei em corridas de motos! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda lá, não tenhas medo! Tu vais comigo…ou melhor, eu conduzo e tu és a minha camomila.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- camomila? E isso é uma espécie de código entre vocês? – Marco gargalhou.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- camomila é o nome dado às belas raparigas que correm connosco. São as valentes porque…correm de um modo especial. É uma forma de mostrarem que confiam em nós e que para além disso, são uma de nós. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-vale, percebi…essas camomilas, como vocês as chamam, são as vossas companheiras, certo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vês como sabes… - um assobio faz-se soar por aquela enorme praça. Viram-se todos. É o sinal. No meio da estrada está um tipo alto, moreno e com um enorme cabedal que impunha imenso respeito. Levanta os braços. É o sinal para as motas se colorarem em ordem, ainda sem as suas camomilas. Isabel via Marco a desaparecer por entre aquela multidão até junto da pista. Estava a tentar andar quando alguém toca no seu braço. Ela vira-se para trás.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ora quem é que está aqui…não me digas, tu também corres? </div>
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<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-28657322232296626432014-04-02T09:19:00.006-07:002014-04-16T15:52:04.646-07:00Capitulo 13<div style="text-align: justify;">
O dia de hoje estava particularmente chuvoso. Mais parecia um dia de inverno e não de Outono. Estava frio, vento e muita chuva. Era um dia convidativo para ficar em casa disfrutando de uma boa caneca de chocolate quente e sentir o estalar da madeira a ser consumida pelas chamas da lareira. Em oposição a isso, o dia destinava-se a ser de aulas. Mais um.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou farta deste tempo! – resmungava Adriana que não se conformava por ter apanhado chuva desde o carro até à porta da universidade, ficando um pouco encharcada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a quem o dizes… - murmurou Isabel enquanto entravam dentro da sala de aula. Hoje a aula era no auditório em conjunto com o resto dos cursos de saúde. Estava apinhado e repararam que não restavam muitos lugares para se sentarem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha temos ali dois lugares! – constatou Adriana ao reparar nos únicos lugares disponíveis. Estavam prestes a sentarem-se quando alguém se antecipou sentando-se num deles. Isabel depressa ficou furiosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, esse lugar era para mim! – Javi ficou a olhar para ela com um olhar de espanto. Levantou-se e ficou a examinar a cadeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa, não vejo o teu nome aqui gravado… - ele voltou-se a sentar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vi primeiro esse lugar! Não tinhas nada que te sentar aí!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas desde quando é que os lugares são marcados? Perdeste o lugar? Tens aqui um ao meu lado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim claro, sentar-me ao teu lado? Nunca coño! – Javi riu-se. Isabel vira-se para o lado mas percebe que Adriana já não estava ali. Reparou que tinha arranjado um lugar na parte de cima. «vais paga-las Adriana! ». Isabel sentiu as suas faces a corarem mas de raiva. Era muito mal estar a acontecer aquilo logo pela manhã. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas vê lá, se não te sentas tu há quem queira se sentar! – Isabel ficou uma fracção de segundos a pensar. Sentia-se cansada, doía-lhe as pernas e precisava de uma carteira para puder escrever. Ou era aquele lugar ou o chão. Mas sentar-se ao lado de Javi? Isso era um pesadelo para si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa, está ocupado? – alguém lhe dirigia a palavra. Olhou para trás e viu uma rapariga loira, cabelos compridos e uma voz irritante. Era da sua turma, chamava-se Iara. Não gostava nada dela, sentia que tinha a mania que era importante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, está! – Isabel apressou-se a sentar. Dar-lhe o gosto de se sentar no último lugar disponível? Obvio que não. Sentiu Javi a rir-se à socapa – o que foi? – Ripostou irritada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tu és assim com toda a gente? Sempre tão…alegre, simpática?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quando me aparecem pessoas como tu à frente, podes ter certeza que não o sou!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não percebo essa tua agressividade toda, eu nunca te chamei nomes, nunca te maltratei, sempre mostrei a minha simpatia e tu? Sempre aos coices comigo! Entre cabrón, coño, gillipolas, estupido, otário…eu já perdi a conta aos nomes que me deste! – ela olhou-o de soslaio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois não, contigo tudo é à base da violência. Preferes antes mandar-me contra a parede! – com esta Javi não conseguiu ripostar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Silencio! – a voz da professora fez-se ouvir – quero começar a aula e peço-vos que façam o mínimo de barulho. A aula de hoje é de extrema importância e se não querem ficar aqui, assinem a folha de presenças e saem da sala, mas sem perturbar a minha aula! – depressa se fez silencio. Javi por sua vez nem teve como nem opção de escolha e ripostar ao que Isabel disse. porque é que ela tinha sempre de levar as coisas para a provocação? Para o pior que podia haver? Ele só estava e pegar com ela e ripostava com algo que ele detestou fazer. Empurra-la contra a parede. foi um impulso e ele sabia disso. Errou, também sabia mas nem soube como o fez. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A aula tinha terminado três horas depois. Isabel já estava saturada de estar naquela sala de aula ainda por cima quando a sua companhia do lado passava o tempo inteiro a falar para o lado, deixando-a com sérias dificuldades em prestar atenção à aula. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vou só à casa de banho! – informava Adriana quando já se encontravam nos corredores.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está bem, eu espero por ti cá fora! – Isabel estava prestes a sentar-se no banco quando sentiu alguém a puxar-lhe pelo braço empurrando-a contra os cacifos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está louco?! – Isabel gritou-lhe ao qual Javi fez ouvidos de marcador.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve só uma coisa, eu estou um pouco farto de ti sabes? Tu não passas de uma miúda egocêntrica, mimada, malcriada, pensas que tudo gira à tua volta e que podes falar e que todos se calam! Existe uma coisa a que se chama respeito ao qual tu não tens por ninguém! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas quem é tu… - javi calou-a.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- callate! – ordenou – sabes porque te mandei contra a parede?! porque conseguiste mexer demasiado comigo, mexeste onde não deverias ter mexido, meteste-te onde não és chamada! Tu não me conheces, não sabes nada de mim, dizes que sou mau mas não sabes porque o sou, fazes esses teus juízos de valor sem conheceres nada da minha vida! – Javi estava fora de si e Isabel pressentiu isso mesmo – quem és tu para me apontares o dedo quando nem tu própria fazes as coisas certas? Acusas-me ser mal educado quando tu nem sabes agradecer?! Tirei-te daquele incêndio e tu nem um obrigada disseste, foi preciso a tua avó vir ter comigo para o fazer por ti! Pedir-me desculpas porque tem uma neta egocêntrica! E olha só para o que estás a fazer com ela? Mimada que decide armar-se em rebelde e sair de casa, tens noção de como os deixastes? Pois, não tens. E sabes porquê? Porque só pensas em ti! – sem aguentar mais Isabel esbofeteia-o. Ele estava a magoa-la. As lagrimas quase que escapuliam do seu rosto e se não as derramava parte disso devia-se ao seu orgulho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pára!! – gritou-lhe – não fales do que não sabes! Não me acuses do que não me podes acusar! </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então também não me acuses do que não podes fazer! – ripostou – se não gostas de mim tens bom remédio, desaparece da minha vista! Mas se tiver que cruzar contigo, por favor cala-te e não me diriges a palava! – dito isto Javi afasta-se deixando-a completamente estarrecida. Isabel…nunca se sentira tão em lixo como naquele momento. As suas pernas tremiam. Não era de medo, era de remorsos. O que ele lhe dissera latejava-lhe na cabeça fortemente. A sua avó fora pedir-lhe desculpas? Será que ela era assim tao egocêntrica? Estava ela a ser injusta?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que gritos foram estes? – Adriana interrompeu-lhe os pensamentos. Assim que viu a sua amiga em pânico, percebeu que algo de errado tinha acontecido – o que te aconteceu Isabel? – ela não dissera nada. Simplesmente pegou na sua mochila e saiu dali o mais rápido que podia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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Eram oito horas quando Javi parou a mota no seu habitual estacionamento em frente ao prédio. Subiu até ao segundo piso e encontrou como já era habitual, a senhora Amália. Estava a regar os vasos que tinha junto da porta da sua casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches señora Amalia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches Javi… - Javi percebeu que algo estava estranho. Ela não estava com o seu típico sorriso no rosto, aquela simpática habitual. Parecia que estava um pouco em baixo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está tudo bem? – ela olhou-o e parou de regar o vaso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só umas dores ao respirar…nada de especial!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tem certeza? – Javi não parecia muito convencido disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim… - ela esboçou um sorriso tímido. Javi percebeu também o esforço que fazia para segurar naquele regador. As suas mãos tremiam e a agua por vezes calhava fora do vaso. Ele estava a achar aquilo tão estranho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quer ajuda para regar os vasos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! Deixa estar…eu dou conta do recado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não me importo de a ajudar señora Amalia! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas assim eu também me distraio, sabes? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale… - Javi colocou as chaves na fechadura mas antes de entrar decidiu perguntar algo que já o queria fazer ainda na parte da manhã, quando a viu à varanda a estender a roupa – e o seu gato? Já apareceu? – ela olhou-o desolada. Nem era preciso uma resposta para Javi entender.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…nem sinais do maxi – ela soltou um suspiro desgostoso – agora, já nem a minha única companhia me resta…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Afinal ainda não me contaste o que se passou ontem contigo e o Javi – incidia Adriana enquanto caminhavam para o exterior da universidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e eu já te disse que não quero falar sobre isso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas porquê? Já é habitual vocês discutirem, só que eu acho que desta vez foi mais algo do que isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele é que pensa que pode dizer tudo o que quer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e porque tu tens sempre de responder sempre a tudo? Vocês também parecem que gostam de picar um ao outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, porque eu amo discutir com ele! – ironizou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- da próxima vez que vocês se cruzarem tu calaste e deixa-lo falar! Porra, assim vais ficar até ao final do ano sempre a discutir com ele e depois ficas com essa cara!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que cara? – Isabel já não estava a gostar do rumo daquela conversa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Cara de quem não gostou do que ouviu! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que vale é daqui a uns meses nunca mais olhar para aquela cara! – ela acaba por se levantar – vamos embora?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…vamos – as duas amigas encaminhavam-se para o parque de estacionamento. Assim que Isabel olhou para o seu carro reparou que tinha um papel colado no vidro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- odeio que deixem publicidade no carro! – resmungou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso não parece muito publicidade… - constatou Adriana. Isabel também ficou a olhar para o papel e decidiu abri-lo. Ficou completamente admirada assim que mirou o que estava escrito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- “é sempre um prazer puder saber onde a rapariga mais bonita desta cidade estuda. Boas aulas” – Isabel ficou a mirar o papel a tentar decifrar quem tinha posto aquilo ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ui, admirador! – gracejou Adriana – quem é, sabes?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não faço a mínima…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se calhar até podes saber quem foi!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como? – Adriana fez com o olhar o gesto para que Isabel olhasse para trás – olha só quem vem aí…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque não vens jantar a minha casa? A minha mãe está sempre a perguntar por ti! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podes dizer à tua mãe que um dia destes vou comer convosco! – Eduardo riu-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- disseste isso das ultimas vezes que te convidei! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a sério mano, tão cedo não vai dar! Além do mais hoje há corridas e depois tenho o voluntariado! – ele gargalhou – como vês, tenho a minha agende ocupada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum, já pareces uma mulher Javi!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que se há de fazer quando sou uma pessoa muito ocupada? – ironizou. Acabaram os dois por se rirem à sopaca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas já sabes, faz a vontade à minha mãe! Depois ela começa a dar razão ao que ouve de ti. – ele encolheu os ombros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pouco me importa. Já estou habituado ao que falam de mim! – Javi aproveita para tirar do bolso do casaco o seu habitual maço de tabaco, tirando um cigarro de lá. Acendeu-o e ficou a saboreá-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desde quando é que a Adriana e a Isabel conhecem o Marco? – Eduardo adoptou uma postura mais rígida. Tinha reparado que ao longe, Marco se aproximava delas as duas que estavam ao pé do carro. Ele cumprimentou-as. Javi olhou para trás e viu a cena. Acabou por encolher os ombros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- na abertura da discoteca do Alejandro vi a Isabel a sair com ele…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não gosto de o ver perto da Adriana – resmungou nada contente com o que via.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não te preocupes porque já deu para perceber que ele anda de olho na amiguinha dela! – gracejou.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mesmo assim….</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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- foste tu que deixaste este bilhete? – perguntava Isabel ao encarar Marco.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…será que fui? – ele mantinha um sorriso enigmático. Isabel reparou nos seus olhos castanhos mas que brilhavam sempre que o sol batia nele. Tinha algo de misterioso em si e ela adorava isso.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já deu para perceber que sim! Mas…como é que descobriste que estudo aqui?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- digamos que não foi muito difícil de descobrir, um colega meu conhece-te daqui e disse-me.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…estou a ver que andaste a investigar-me!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espero que não tenhas te importado mas foi por uma boa razão!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- uma boa razão?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim – ele foi-se aproximando dela – queria convidar-te para um lanche que dizes? </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e se eu não quiser aceitar?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh não digas isso… - ele fez uma expressão que deixou Isabel a olha-lo atentamente. Marco era mesmo irresistível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…depende do sitio onde me levas a lanchar…e claro, que sejas tu a pagar! – ele riu-se</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prometo que vais gostar! – Isabel olhou para Adriana que mirava toda aquela conversa com um sorriso a delinear o seu rosto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vai lá…eu levo o teu carro!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está bem, chego a casa cedo! – Adriana piscou-lhe o olho e Isabel sorriu. Acabou por seguir Marco e chegaram ao local onde ele tinha a sua mota. Ela olhou-o.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- também andas de mota?</div>
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<br /></div>
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- porquê? Algum problema?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, nenhum… - Isabel olhou de relance na sua frente e reparou que, perto da arvore, com os seus óculos de sol escuros, com o cigarro na boca e sentado na mota, Javi observava-os. Há quanto tempo ele já estaria de olho neles os dois? Parecia bastante calmo e isso deixou Isabel inquieta. «raios Isabel, o que andas a pensar?» </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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A caminho de casa Javi, conduzia a um limite reduzido, estava um piso escorregadio e aquela estrada estava em obras. Detestava tanto quando isso lhe acontecia. Impedia-o de andar rápido e conduzir devagar era algo que não fazia parte do dicionário dele. Quando se preparava para fazer a curva da estrada, reparou em algo que estava despojado na valeta. Era algo branco e parecia peludo. Tentou se aproximar e percebeu que era um animal. Acabou mesmo por parar a mota na berma da estrada e foi-se aproximando. Assim que se aninhou e reparou na coleira, soltou um laivo de revolta.</div>
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<br /></div>
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- no…no puede! – era o maxi, o gato da senhora Amalia que já estava desaparecido há um par de dias. Javi fechou os olhos e respirou fundo ao se aperceber que estava sem vida. Reparou na mancha junto do gato. Parecia vomitado mas com sangue misturado. Provavelmente teria sido envenenado – que puta de mierda! – resmungou. Aquela senhora não merecia isto. Era tao amável e adorava aquele gato. Era a sua companhia e Javi, mais do que ninguém, sabia a falta que maxi lhe fazia. Ainda hoje de manhã antes de ir para a universidade reparou que ela já não estava, como o habitual, a regar as suas plantas que cuidava delas religiosamente. Já não andava pela varanda. Já não ouvia a sua voz tão simpática. Sim, era apenas um animal mas era esse mesmo animal que lhe fazia companhia quando a sua família simplesmente a abandonara. Provavelmente voltariam quando ela já não estivesse cá com vida à procura do dinheiro. Essas situações revoltavam imenso Javi. Em tantas situações, se não fosse ele provavelmente aquela senhora tão amável estaria quase como despojada no esquecimento e na amargura de não ter quem lhe pudesse ajudar até em coisas tão simples. Mas naquela situação, o que ia ele fazer? </div>
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<br /></div>
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Javi acabou por se levantar e olhar em seu redor. Em questão de dois minutos percebeu que ali perto havia uma obra. Percorreu as redondezas e ao ter certezas que não estava ninguém, pegou numa pá e num pano velho. Voltou junto da berma e, embrulhando o gato com cuidado em redor do pano, caminhou pelos campos dali e ao chegar perto de uma arvora escondida junto ao riacho que por ali galgava, fez uma cova suficientemente funda para despojar o gato. Depois disso tapou com a terra. Javi acabou por abanar a cabeça e largar um longo suspiro. Pelo menos, naquele dia, alguém tivera o seu fim digno. </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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O relógio da igreja que ficava ali perto marcava as doze badaladas certas quando os primeiros roncares das motas se faziam ouvir no morro. Aos poucos as pessoas iam chegando até ao lugar religioso onde um grupo de jovens loucos e sem limites, descarregavam toda a adrenalina percorrendo a antiga pista de corridas com as suas motas. Tudo era feito pela noite adentro. Estava frio mas nem isso impedia que fizessem mais uma corrida. Javi tinha acabado de chegar com o seu amigo Hugo. Estacionaram a mota no habitual sitio.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder, precisamos mesmo de uma boa corrida para aquecer! Que frio! – Javi saltou da mota e foi até junto da pequena arca que havia sempre alguém que não se esquecia de trazer. Eram bebidas que ali estavam. Ele pega em duas cervejas. Dá uma para a mão de Hugo.</div>
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<br /></div>
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- isto é que te vai fazer aquecer! </div>
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<br /></div>
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- esta é das fracas…</div>
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<br /></div>
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- melhor que nada, não? </div>
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<br /></div>
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- bem, já dá para alguma coisa – os dois mantinham-se ali, a beber um pouco enquanto aguardavam que o resto do pessoal chegasse para começar mais uma corrida. Naquelas corridas as regras eram bem simples. O jogo era fácil de entender e todos tinham de respeita-lo. Ali, corre quem quer, assiste quem quer e acaba quando o ultimo desistir. Existem sempre quem gosta de quebrar estas ditas regras que no fundo não foram impostas por ninguém. Há sempre quem goste de ser da velha guarda e ter o seu próprio grupo, as suas próprias rivalidades. Não, Javi não pertencia a essa velha guarda mas tinha quem odiasse e muito. E uma dessas pessoas tinha acabado de chegar, parecendo que desfilava sacando piões, mostrando que era o rei, que ali ele era o dono. Marco. Assim que o viu, Javi amassou violentamente a lata de cerveja, acabando por atira-la para o chão.</div>
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<br /></div>
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- Hoje vamos correr aos pares…já sabes com quem vais? – Javi olha-lo e sorri cinicamente.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- com a minha velha guarda… - ele não tirava os olhos de Marco. Por vezes, Hugo não entendia o porquê de tanto odio por ele. Javi nunca lhe dava essa explicação. Ligou a mota e dirigiu-se para o lugar da meta. As motas foram-se aproximando mas antes de se colocar pronto para correr, Javi fez um pequeno desvio acabando por parar a moto junto de Marco. Este olhou-o. «brum, brum, brum» Javi estava sedento de raiva carregando com força no pedal da mota. Notava-se isso pelo seu olhar contrastando com o cinismo e calma de Marco. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- correu-te bem a tarde, foi? – Marco olhou-o. Bastou uns segundos para lhe lançar o seu sorriso presunçoso. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- muito bem até! - foi a vez de Javi sorrir-lhe ironicamente mas por segundos. Após isso, olhou-o com rancor. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem porque é a ultima vez que terás uma tarde assim! – Marco gargalhou.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ui, mas que ameaça é essa mesmo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- dou-te um único aviso, afasta-te dela! – dito isto, Javi carrega com ainda mais força no pedal, pondo o olhar em frente, seguindo caminho para mais uma corrida. Marco não ficou atrás e sendo um rapaz sedento de vitória, disputava loucamente aquela corrida juntamente com Javi. Não gostou do que ouviu. Não gostou de ser ameaçado. Aliás, ele detestou ser ameaçado por ele. Estaria ali mais uma guerra entre ambos? Seria Isabel mais um motivo para alimentar todo o ódio que Javi sentia por Marco?</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 306.75pt; text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-77396522306014576702014-03-14T06:55:00.000-07:002014-04-11T14:41:04.398-07:00Capitulo 12<div style="text-align: justify;">
Aquela visita de Maria era uma surpresa para Javi em especial por ser a primeira vez que ali estava. Em tal momento, ela já pisara aquele sitio. Contrastava totalmente com a sua figura fina, elegante e emblemática. Ela não parecia mirar as paredes daquele pequeno apartamento contrastando com a riqueza da sua casa. Javi fez sinal para que pudesse se sentar no sofá e ela assim fez.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quer alguma coisa?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, muito obrigada…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…então, porque veio até aqui? Disse que queria falar comigo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, quero falar contigo – ela esfregara as mãos sobre as suas pernas – isto vai se tornar repetitivo e nos últimos dias não faço outra coisa a não ser o que irei dizer. Vim aqui por dois motivos…primeiro e, mais uma vez, pedir-te desculpas. Sei que a forma como o jantar acabou daquela forma não foi a melhor, não era suposto as minhas netas decidirem discutir uma com a outra e daquela forma. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor, não é preciso pedir desculpas…são situações que não podemos prevenir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei…eu sei mas fiquei muito incomodada pela forma como acabou a noite. A Isabel acabou por sair de casa e até agora não voltou…e não vejo sinais de voltar novamente – mostrou com algum desagrado e desconsolo – mas não vim só para pedir-te desculpas…alias eu só te tenho a agradecer! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porquê? – Maria tomou as mãos dele, acariciando-as levemente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se não fosses tu a ligar-nos e a dizer que ela estava na casa dos amigos, iriamos ficar preocupados a noite inteira. Deste-nos uma lufada de despreocupação que não fazes ideia….</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu…também fiquei…preocupado – Javi não sabia se preocupado era a palavra certa, se era aquilo que ele sentira naquele momento, que o fizera seguir Isabel até à casa dos amigos – e pela maneira como saiu de lá e como também ia para a mesma zona, achei que deveria segui-la…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho pena que vocês se tenham conhecido do modo como se conheceram, acho que se tentassem, iriam dar bons amigos – Javi lançou um sorriso um pouco irónico – têm em comum muitas mais coisas do que possam imaginar – respondeu sabiamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois mas está bem visto que o nosso destino não é se cruzar novamente! – ele tentava refutar isso com toda a sua convicção. Pelo menos era o seu desejo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é pena… - Maria sorria – eu confio em ti, sabes? Acho que darias um óptimo protector para a minha neta! – Javi sorriu largamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- señora Maria, a sua neta já tem idade para ter um pouco de juízo, não? E tomar consciência do que faz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quem nunca teve a sua cota parte de inconsciência? Todos temos…e todos precisamos de alguém que ampare essa inconsciência – Javi ficou a pensar nas suas palavras. O que queria Maria dizer com isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vejo que veio aqui por mais razoes, do que me pedir desculpa e obrigado. Estou errado?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, estás totalmente certo. Eu vim aqui…porque quero fazer-te um pedido muito especial…um pedido feito de uma avó que se preocupa imenso com os netos e porque sou uma avó que faz das tripas coração para ver a Isabel bem. Eu agora não estou com ela, não sei como anda, com quem anda…o que faz. E nem imaginas como ando com o coração nas mãos por isso…uma coisa era saber que a tinha a chegar a casa à noite e podia certificar-me que estava tudo bem porque conheço-a, sei ver nas suas expressões se algo está errado. Pela forma como ela entra em casa, como fala connosco, sei ver se está metida em sarilhos, se está com algum problema…agora não tenho controle sobre isso. Vê-la ocasionalmente não chega para me sossegar! Ela pode parecer ser uma rapariga brava, com muita confiança, que tem a sua independência mas a Isabel é muito frágil. Mais do que possam imaginar! E é nisso que tenho medo…que ela não esteja bem e com o orgulho, esteja impedida de pedir ajuda – Javi percebia pelo olhar de Maria o quão essas possibilidades a assustavam. Viu também o quanto ela era capaz de fazer tudo para ver o bem de Isabel. Pensou se Isabel sabia disso, da sorte que tinha de ter alguém que fazia de tudo para a proteger. Ou então no quanto poderia ter sido injusta por ter saído de casa daquela maneira. Será que Javi estava na posição certa para fazer juízos de valor, quando ele estava numa situação bem pior? Não, ele não tinha esse direito mas uma coisa ele podia achar. Que Isabel poderia estar a cometer um erro ao ser tão impulsiva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que quer dizer com isso? – Maria olhou-o profundamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu preciso de fazer este pedido…porque eu sei que és a pessoa mais indicada, mesmo que não o aches. Eu quero que tu sejas os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca e que faças pela Isabel aquilo que eu faria. Quero que de uma certa forma a protejas. Tu és capaz disso, eu sei! Não peço que a persigas vinte e quatro horas por dia mas apenas…estejas atento. Que saibas pelo menos como ela anda! – Javi olhava-a um pouco atónico e sem perceber completamente o motivo daquele pedido. A seu ver, aquilo jamais faria qualquer sentido. Não, não fazia logica ele protege-la. Porquê? Porque estava ela a fazer aquilo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdoname señora Maria mas terei de recusar esse pedido! Não faz sentido o que me está a pedir!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei que para ti isto é completamente estapafúrdio, não faz sentido nenhum quando tu e a Isabel dão-se mal mas és das poucas pessoas em que eu possa confiar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tem a Adriana, o Renato, o Ricardo…são amigos dela, eles vivem na mesma casa. Faz mais sentido do que pedir a mim.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, não faz sentido…e um dia hás de perceber porque te pedi a ti. Mas por favor, diz que aceitas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei… - Javi não queria de todo ser mal educado e dizer-lhe na cara que jamais protegeria Isabel quando no fundo não a aguentava, não a suportava e nem a queria suportar. Não queria aceitar e talvez nunca fosse fazer isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor…peço-te de coração – Maria estava um pouco desesperada. Pelo menos era a impressão que Javi tivera.</div>
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<br /></div>
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- no sé…</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje era reunião de voluntariado onde ficaria decidido os planos para a reconstrução do armazém destruído pelo incêndio. Enquanto isso, já Javi e Isabel ajudavam na preparação das comidas para oferecer aos sem-abrigo. Faltava pouco para seguirem na carrinha, apenas guardavam os cobertores que faltavam. Depois disso, encaminharam-se para o centro da cidade. Estavam distribuídos por grupos tendo Isabel ficado no mesmo grupo que Javi. Afinal estavam ali para fazer voluntariado a fins do castigo proposto o que os obrigava a trabalharem juntos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder que frio! – resmungava Javi. Isabel preferiu ignorar o seu comentário.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- segura nisto – ela dera-lhe para a mão um cobertor-</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, estou a segurar no cesto das sopas, não consigo segurar em tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e eu a ver com isso? Estás à espera que dê o cobertor com os outros nas mãos? – perguntou retoricamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pousas no chão, que tal?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se pousar no chão ficam sujos não achas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eles vão ficar sujos de qualquer das maneiras! – ela encara-o.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas ao menos damos mantimentos de forma signa, tu também não gostavas que te dessem um cobertor, se fosses mendigo, atirado ao calhas pois não? Pois, esta gente também não!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, vale…já me esquecia que és a nova madre teresa de Murcia! – resmungou para si mesmo ao qual Isabel preferiu ignorar o comentário dele. Começaram a distribuir a comida e mantimentos pelos sem-abrigos daquela zona. Deram conta que eram mais do que esperavam e perguntavam a si mesmos como nunca foram capazes de se aperceberem daquela realidade assustadora. Passava um pouco das duas da manhã quando regressaram das ruas. Tinha sido uma noite dura já para não referir o frio que se fazia sentir nas ruas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hasta mañana Isabel!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hasta mañana Lara! – Isabel saiu da instituição caminhando em direcção ao seu carro. Sabia que alguém vinha atrás de si pois ouvia passos. Até podia acertar na sorte e adivinhar quem era. Estava a abrir a porta quando Javi falou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hasta mañana Madre teresa… - gracejou com bastante ironia. Isabel encara-o e Javi percebeu que ela estava com aquela cara. Cara de mandona, cara de quem se preparava para bater em alguém. Melhor, era cara de refilona. Por sua vez, Isabel preferiu elevar a sua mão mostrando-lhe o dedo do meio. Javi gargalhou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- coño – resmungou Isabel virando-lhe as costas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mal educada! – atirou elevando o tom de voz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: center;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olhem e se fossemos ao cinema hoje? – sugerira Ricardo. Estavam os quatro a saírem do habitual café onde passavam as manhãs de sábado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ao cinema não. Eu preferia uma saída pelos bares, pelo que ouvi dizer hoje é inauguração de um novo bar. Podíamos ir até lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por mim tudo bem… - estavam a andar descontraidamente quando Adriana fez sinal a Isabel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha quem está ali – Isabel olhou e deparou-se com a figura reconhecível do seu avô. Ele olhava-a com um certo desespero. Quase como se através do seu olhar implorava para não fugir. Já se tinha passado três semanas desde que saíra de casa. Até lá poucas foram as vezes que mantivera contacto com os seus avós e nunca mais foi até à quinta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou já ter convosco… - Isabel afastou-se deles caminhando em direcção ao seu avô. Ele sorriu-lhe ao vê-la de perto. Parecia que, inacreditavelmente, Javi tinha envelhecido mais anos do que era o suposto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola Isabel!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola abuelo…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo bem? Como tens andado? – aquela pergunta mais parecia ter soado como um «volta para casa que não aguento mais ter-te longe».</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho andando bem…e você, como tem estado? E a avó?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- temos estado bem mas cheios de saudades tuas…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não avô, eu não vou voltar para casa – Isabel parecia adivinhar os pensamentos de Javi e pressentir que se continuasse ali com o seu avô, ele acabaria por fazer esse pedido. Ele implorava isso com o seu olhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porquê? Porque não voltas para casa? Para a tua casa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque não pertenço lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pertences sim! – Javi parecia um pouco ofendido com aquela suposição – nós somos a tua família…aquela casa é tua e queremos-te lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu gostei muito de o ver mas tenho de ir embora – Isabel tentava fugir ao assunto. Javi, por momentos, via nela a sua maria. Era impressionante como conseguiam ter um feitio tão parecido mesmo não sendo do mesmo sangue. Ambas, adoravam fugir à realidade. Ambas detestavam enfrentar os problemas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não faças isso! A tua avó está a morrer de saudades tuas, ela não tem andado bem deste que foste embora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que se passa com a avó? – Depressa adoptara uma postura preocupada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tem saudades tuas! Quer-te em casa, quer-te ver…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu prometo que faço uma visita…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prometes que vais pensar melhor e voltares para junto de nós? – ela sentia o seu coração a mirrar. Odiava tanto aquilo. Ter a pessoa mais querida da sua vida a implorar para voltar. Queria tanto jugar-se nos braços dele…sentia falta disso. Muita falta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prometo…prometo que vou pensar mas não prometo que vá cumprir – Javi sorriu. Mais uma vez, sentia a sua maria ali. Sabia que mais cedo ou mais tarde, Isabel acabaria por ceder. Elas eram demasiado parecidas para se puder enganar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- cuida-te, sim? – ele dera-lhe um beijo na sua testa – te quiero muñeca…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tal como tinham combinado, Isabel, Adriana, Ricardo e Renato preparavam-se para entrar no novo bar que tinha inauguração marcada para hoje. Apesar de ter uma fachada um pouco antiga e até parecia estar abandonada, pela fila que se fazia cá fora, tinha tudo para ser um sucesso</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esta fachada está um pouco…degradada não?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isto era um hotel há uns anos atrás…parece que os donos do bar decidiram aproveitar o espaço e fazer uma discoteca – foram os quatro para a fila. Sabiam que ainda tinham de esperar um bom bocado pois não tinham convites para entrarem de imediato. Ainda foram encontrando alguns colegas de turma e ficaram a falar enquanto a fila ia diminuindo. Assim que entraram perceberam que o interior contrastava completamente em relação ao exterior. Era um espaço bastante amplo e com uma boa decoração. Estava completamente cheio e a musica bombava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vou até ao bar…querem alguma coisa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para já não! – Isabel encaminhou-se até ao bar mas precisou de se esbarrar em muita gente. Assim que lá chegou, fez sinal para o empregado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quero uma vodka se faz favor! – ela ficou ali à espera da sua bebida. Enquanto isso ia observando nas pessoas que estavam ao seu lado. Umas dançavam, outras conversavam entre si ou então havia quem preferisse estar sentado ao balcão desfrutando da sua bebida. Mas também havia algo para além disso. Isabel reparou que estava um rapaz a mira-la. Desconhecia-o de todo. Incidiu o seu olhar sobre ele mas depressa ignorou. Ele fixava-a. Pelo espelho que tinha na sua frente reparou na sua aparência. Aparentava ser alto, moreno, com barba a delinear o seu rosto, tinha um olhar…sedutor. «uau, que gato» pensou Isabel. Tentou adivinhar qual seria a sua idade. Não devia ter mais do que vinte e cinco anos. Mesmo assim, era um bom gato. Bonito, alto e moreno. Tal como ela gostava. Acabou por sorrir… «Sim, Isabel, vai sonhando…» os seus pensamentos foram interrompidos pela chegada do empregado com a sua bebida. Agradeceu e saiu dali. Ainda olhou para trás e reparou que esse rapaz continuava a olha-la mas desta vez sorria-lhe. «vale, estou ficando louca…»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estava a ver que não vinhas! – constatou Adriana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o bar estava cheio!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda, vamos dançar para ali! – as duas encaminharam-se para uma parte da pista onde estava bastante gente conhecida. Podia apostar que metade das pessoas que ali estavam eram da universidade. Começaram a dançar. Estava de facto um bom ambiente naquela discoteca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdon! – Isabel sentiu alguém a empurra-la. Virou-se para trás e surpreendeu-se ao encontrar novamente aquele rapaz que estava junto ao bar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não faz mal… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mesmo assim, é uma falta de educação o que acabei de fazer! – Isabel riu-se. Ele tinha uma voz rouca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, eu aceito as tuas desculpas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu…tu não estavas há pouco no bar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estava… - «ele conheceu-me? Uau, por esta não esperava»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho a dizer-te que és muito bonita! – Isabel sentiu-se a corar. Ele estava a corteja-la?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gracias! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso oferecer-te uma bebida?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque me queres oferecer uma bebida?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quero me desculpar pelo encontrão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, eu já percebi que tu não te queres só desculpar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens razão…quero é conhecer melhor a rapariga mais bonita que já vi a passar por aqui! – ela gargalhou completamente envergonhada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mano vou bazar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas já? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim. Ainda há corridas hoje e eu não posso falhar. Aquele maldito voluntariado anda-me a trocar as voltas todas! – Hugo gargalhou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa Javi mas quem te anda a dar as voltas todas é aquela miúda…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder, com ela sinto-me no inferno. Aquela rapariga é detestável…ainda não me esqueci que graças a ela tenho de distribuir sopa aos pobres.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu, a distribuir sopa aos pobres…contado ninguém acredita. Vale, podes não acreditar mas essa chavala já te mudou!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vou é embora antes que mande um empurrão!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso, isso! Vai!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vais ter ao morro?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro. Fico só um bocado…também quero correr.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale – Javi estava a vestir o seu habitual casaco preto de cabedal quando Hugo o fez chamar à atenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por falar na chavala, olha só com quem ela anda a sair! – Javi olhou para trás, bem para a zona onde Hugo apontava. Ao inico não estava a entender o que o amigo pretendia dizer mas depois algo chamou-o à atenção. Fitou-os. Aquilo não podia ser verdade. Marco e Isabel? Javi olhava-os atónico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que puta de mierda…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-58184087123593864052014-03-02T16:11:00.002-08:002014-04-06T11:43:05.348-07:00Capitulo 11<div style="text-align: justify;">
O dia estava a ser cansativo. Talvez porque o próprio tempo não ajudava e aquela chuva forte deixava toda a gente com um humor fraco. Estávamos a fins de Outubro e nem parecia que era a estação do Outono mas sim de um rigoroso inverno. O vento era forte, a chuva não parava de cair e nem o cheiro das castanhas era um bom convite para as pessoas porem os pés na rua para apenas passear. Tudo era feito em grande correria, os carros buzinavam, as pessoas cansavam-se de ficar à espera que as filas começassem a andar. Ora uma arvore no meio do caminho ou um novo lençol de agua que obrigava as pessoas as conduzirem moderadamente. Porem, naquela biblioteca, não se sentia nem um pouco todo o mau tempo que se fazia sentir do outro lado das paredes. Temperatura amena e um silencio inquebrável. Tudo com os olhos postos em livros, cadernos ou apontamentos. Tudo concentrado a estudar ou a fazer trabalhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- encontraste o ponto quatro do texto dos diagnósticos? – perguntava Adriana, ora revirando a folha, ora lendo-a novamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está no texto sete Adriana! – dizia Isabel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não está nada…tenho a certeza que está neste! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou a dizer-te, esse ponto está no texto sete, o professor disse!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas eu não ouvi nada disso! – resmungou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha…mas está no texto sete! – referia Isabel já perdendo um pouco a paciência – olha procura aí!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh procura tu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu agora estou a fazer a apresentação! – Adriana começou a bufar tentando procurar o que tanto queria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha e se fizéssemos uma pausa? Estou farta de ver isto à minha frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens razão…e eu estou a precisar de tomar um café – tanto Isabel como Adriana resolveram pegar apenas na carteira, saindo daquela sala. Caminharam até à zona do bar procurando um lugar para se sentar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, já me estava a esquecer…tenho de ligar para a minha mae! Olha, pede para mim enquanto vou lá fora fazer uma chamada está bem? Aqui tenho pouca rede.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está bem, eu peço por ti – Assim fez. Já estava à espera que o seu café e torrada juntamente com a meia de leite de Adriana, chegasse quando reparou que alguém se sentara na sua frente. Assim que olhou viu Javi a olha-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que haces aquí? – perguntou visivelmente surpreendida. Reparou que naquele dia, Javi estava um pouco diferente. Pela primeira vez o vira sem o seu inseparável casaco de cabedal preto, estava com uma sweat azul escura e branca. O seu cabelo também estava diferente. Talvez sem o típico gel e com a “crista” tombada para o lado, dando-lhe um ar surpreendentemente diferente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou ser rápido, apenas tenho de te dar isto… - Javi pega na mao dela, abrindo-a. Surpreendida com aquele atrevimento, Isabel estava tao absorta a pensar no que estava a acontecer que precisou de alguns segundos até se aperceber do que ele colocara em cima das suas mãos. Depressa colocou a outra mao livre ao pescoço, sentido a falta do colar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como…o meu colar! Como é que o encontraste? – Isabel estava em pânico porque desde ontem que não dera pela falta do colar que o tinha religiosamente ao pescoço. Sentiu quase o seu coração a colapsar só de imaginar se o tivesse perdido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- no meio daquela confusão toda, na casa dos teus avós, tu deixaste-o cair. Eu vi-o, apanhei e ainda queria te dar mas tu simplesmente saíste a correr – ela ficara absorta olhando para o fio que tinha na mao. Até Javi ficou intrigado ao observa-la. A forma como o olhava…como tocava subtilmente nele…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gracias – Isabel mirou-o sem saber bem o que dizer. Só lhe ocorria aquela palavra o que deixou Javi completamente surpreendido. Ela estava a agradecer-lhe de um jeito sincero. Porquê? Porque lhe dera um colar que ela deixara cair? Apenas…um objecto material? Que sentido fazia quando ele lhe salvara do incêndio, ela não se dera ao trabalho de o agradecer? No fundo, ele sabia que Isabel era algo…do outro mundo. algo incompreensível – de verdad. Te agradezo…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não precisas de me agradecer…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- preciso sim. Eu juro que nem dera por falta do colar e se desse entrava em colapso! Eu não o posso perder, não posso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou a ver que sim – concluiu ainda a tentar desmistifica-la de forma a perceber a importância daquele colar para ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como é que te posso agradecer? – Javi esbugalhou os olhos mostrando toda a sua surpresa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás…bem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou a perguntar se estás bem…é que estás a querer agradecer-me? Isso não é normal em ti – ele não se coibiu de soltar um riso irónico – no mínimo mandavas-me dar uma curva e era soltado por uma data de cabrón… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, estou bem. Só que…este fio é muito importante para mim e se o perdesse…sei lá… - aquele fio era sim importante para si. Era a única coisa que ainda a ligava à sua família verdadeira. Fora deixada consigo quando foi largada no hospital. Apenas…aquele fio e mais nada. Foi a única lembrança que conseguiu guardar e que a projectava para uma outra dimensão, para uma outra esperança…se o perdesse, era sinal que tudo estava acabado. As suas raízes, as suas origens ainda por explicar. Por mais absurdo que pudesse parecer em achar que um fio lhe poderia dizer algo sobre o seu passado, ela sempre alimentava essa chama, por mais pequena que fosse. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas não precisas de agradecer. Não quero que agradeças.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale… - gerou-se um certo silencio entre ambos. E ali estavam, virados um para o outro quase mostrando tréguas. Estavam a falar, não discutiam. Seria sinal de alguma mudança?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei bem o que se passou…sei bem que a tua prima provocou-te – Isabel olhou-o atentamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como é que sabes?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque eu estava a ir embora quando ouvi a ultima parte da vossa conversa – Isabel abanou os ombros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei…eu sei que vais dizer que apesar de ela me ter provocado, eu não deveria ter-lhe batido, bla, bla, bla…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouviste a dizer-me isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não mas aposto que era isso que irias falar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ela provocou-te, é normal que lhe tenhas batido! Eu apenas queria dizer que acredito em ti – agora tinha sido a vez de Isabel o olhar surpreendida. Aquela conversa parecia ser tudo menos algo normal e isso deixava-os desconfortáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agora é a minha vez de te perguntar se estás bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, estou bem!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e porque me estás a dizer que acreditas em mim? Com que pressuposto? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- com o pressuposto de dizer que acredito em ti! – ela não se coibiu de olha-lo com um certo desdém.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, claro…mas olha é melhor que ela nem suponha que tu acreditas em mim, caso contrario ainda te lança mau olhado! – Javi não se coibiu de gargalhar com o sarcasmo dela. Naquele momento Adriana acabava de chegar, interrompendo assim o momento em que Javi iria falar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Javi? – perguntou surpreendida ao vê-lo ali</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola Adriana! – ele levantara-se – e Adíos! – apressou-se a sair dali deixando Adriana a olha-lo sem perceber nada e a Isabel confusa. Estava de facto confusa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que ele veio aqui fazer? – perguntou enquanto se sentava</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu deixei cair o meu colar na quinta e ele encontrou-o. Veio-me entrega-lo – Adriana lançou-lhe um olhar suspeito enquanto se ria discretamente – o que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então porque estás com essa cara? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- cara? Que cara? Apenas estou a constatar os factos…o javi salvou-te do incêndio, o Javi segurou-te para não bateres ainda mais na tua prima, o javi encontrou o teu colar e veio entregar-te… - ela abanou com a cabeça – ironia da vida…passam a vida como se fossem o rato e o gato mas no fundo, no fundo ele está de qualquer forma a “proteger-te”! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é, e eu estou a constatar que tu andas a ficar um pouco alucinada! – ripostou levando Adriana a gargalhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eram precisamente cinco horas da tarde quando Isabel deixou a sala de aula em caminho de ir embora. Tinha tido a ultima aula e não via a hora de puder regressar a casa. Parou assim que pensou na palavra casa…não, não seria a sua casa. Apenas estaria em outra casa que não a dela. Tinham-se passado dois dias e nem sequer tivera a ousadia de pisar os pés na quinta. Nem mesmo com a insistência dos seus avós. Nada…nada a fazia mudar de ideias. Nem mesmo as saudades que sentia deles. Apesar disso, de todas as saudades, sentia-se demasiado magoada para esquecer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hasta manãna Isabel! – despediu-se a sua professora</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hasta mañana professora! – naquele instante o seu telemóvel tinha tocado. Apressou-se a pegar nele. Era Adriana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- onde estás? A aula já acabou?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, sai agora mesmo da sala…já conseguiste acabar o trabalho?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim! Finalmente…espero-te no carro pode ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode, cinco minutos e chego aí.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ok, até já.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- até já – acabou por desligar a chamada colocando novamente o telemóvel na bolsa. Enquanto caminhava pelo corredor em direcção à saída, algo foi-se destacando naquele enorme silencio. Umas vozes distorcidas que aos poucos se haviam tornado nítidas. Era um rapaz que parecia estar aflito. Parou. Ficou atenta a ver se conseguia adivinhar de onde provinha aquilo. Voltou a ouvir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, por favor, não me faças nada! – assim que percebeu de onde provinha aquelas vozes, apressou-se a caminhar até lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- callate! Faz o que eu te peço, se não juro que te parto todo! – assim que Isabel chegou ao fundo do corredor foi brindada por algo que a deixou apavorada. Javi estava a machucar um rapaz, mais novo aparentemente, contra os cacifos. Mantinha as suas mãos no pescoço dele quase o esganando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- larga-o! – gritou Isabel – que estás a fazer otário?! – ela aproximou-se chegando perto deles. Javi olhava-o incrédula.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor, ele está a magoar-me! – gritou aquele rapaz em seu auxilio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu cala-te, já te avisei! – gritou-lhe Javi de um jeito autoritário deixando Isabel de olhos arregalados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pára, larga-o! – Isabel tentou puxa-lo para trás mas Javi fazia resistência.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sai daqui, não te metas onde não és chamada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ou tu não o largas ou eu chamo o director da escola!! – chantageou-o. Assim que Javi ouviu as suas palavras, fechou os olhos por questão de segundos para que de seguida largasse as suas mãos do pescoço do rapaz. Era bem visível o quanto ele fora obrigado a isso. Pelo seu olhar, estava quase capaz de lhe gritar. Javi olhava-a de um jeito bem furioso, intimista ao qual não assustou Isabel em nada. Virou-se novamente para o rapaz que estava completamente assustado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu…depois acerto contas contigo! – intimidou-o para que, em segundos, ele corresse dali para fora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- és mesmo um otário não és? – Isabel acabou por empurra-lo bastante furiosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- qual é a tua? – gritou Javi visivelmente furioso – qual é a tua – ele foi-se aproximando dela – de te meteres onde não és chamada?! Gostas de protagonismo é?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu estavas a magoar o rapaz! – gritou tentando chama-lo à razão – eu é que pergunto qual é a tua!! Tens sempre de resolver tudo com violência? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e eu pergunto porque tu tens sempre de te armar em embaixadora das boas causas! – ripostou – irritas-me sabias? Tiras-me do sério! – respondeu dando um murro nos cacifos – é que sempre que apareces à minha frente atrapalhas tudo! Aliás, tu és a inconveniência em pessoa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu é que me tiras do sério mas é pela tua maldade toda! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah pois, tu és a princesinha que vive no castelo! – ironizou – uma princesinha que pensa que a vida é toda cor de rosa, que tem sempre quem lhe coloque panos quentinhos nas costas! – Isabel olhou-o de soslaio. Que…cabrón. Porquê? Era só isso que ela perguntava…porque ele tinha de ser assim. mentiroso…acabou por abanar a cabeça pensando no quão tinha sido idiota por acreditar que ele poderia ser uma pessoa diferente. Na parte da manha, quando disse-lhe que acreditava nela. Quando ela viu sinceridade no seu olhar. Era tudo…fachada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vete à lá mierda Javi! – naquele momento algo os interrompe. Algo impede que Isabel saia dali e Javi lhe responda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que se passa aqui? – era o director da escola. Tanto Javi como Isabel o olhavam com uma certa surpresa e susto. Ele olhava-os com uma certa desconfiança e ainda foi a tempo de ouvir o ultimo comentário de Isabel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não se passa nada professor…nós só estávamos a falar…sobre…o serviço comunitário!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a usar uma linguagem impropria?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabe como é…uma discordância de opiniões – constatou Javi – mas que já passou – ele tivera a ousadia de pousar o braço pelo ombro de Isabel, sorrindo para o director. Ela sentiu uma enorme vontade de lhe dar um empurrão mas conteve-se. Não era o momento ideal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espero bem que sim…e que não volte a ver e nem saiba que isto se voltou a repetir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que não, pode ficar descansado… - o director ficara ali mais alguns segundos para que depois voltasse para dentro da sala. Isabel apressou-se a empurra-lo, acabando Javi por embater contra os cacifos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- és louca?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, apenas não quero que voltes a encostar-te a mim! – gritou-lhe para sair dali num passo apressado. Javi ainda olhava para o fundo do corredor um pouco atónico. Estava danado, detestava quando as pessoas se metiam na sua vida e ela…bem Isabel tinha o dom de estragar sempre tudo. De aparecer quando menos devia. Acabou por sair dali e, assim que chegou junto da sua mota, já Eduardo esperava por si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então, resolveste?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! – resmungou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- imagina só, a santa madre teresa de Calcutá resolveu partir em defesa dele!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás a falar de quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha de que aquele filho da mae fugiu e eu não consegui ter a porra do relogio! – Javi estava exaltado e Eduardo entendeu bem isso. Mas só não conseguia entender como ele conseguira deixa-lo fugir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e porque fugiu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- imagina só…estava quase a arrancar-lhe a goela para me dar o relógio quando a Isabel apareceu e pensa lá no que ela fez!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, não precisas de dizer mais nada…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- juro que me apetecia mandar-lhe dois berros! Juro, ela irrita-me! – gritou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esquece a Isabel…o importante é que consigas reaver o relógio da tua irmã.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se a minha mãe sabe que ela perdeu o relógio…tem logo um ataque de histerismo! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois…dona Roberta nesse estado não é nada agradável de se ver! Mas a tua irmã não perdeu, ele foi roubado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, diz isso à minha mãe que ela passa a dizer que são as minhas más influencias. Diz logo que não quer que me aproxime da miúda… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- acalma-te…tu caças novamente o rapaz – tentou tranquiliza-lo mas Javi estava tao danado que as palavras de Eduardo eram como flechas que voavam rapidamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já estava noite quando Javi chegou a casa. Da universidade até aquele bairro eram pouco de dez minutos de mota. Não e para um sitio propriamente requintado de se morar, bem contrastando com a casa luxuosa de seus pais mas dava para viver. Já ali estava há quase três anos e toda a gente o tratava como membro de suas famílias. Era tudo gente boa apesar de socialmente, serem todos vistos como problemáticos. Sim, alguns até podiam o ser mas conhecia ali muita gente boa. Mais do que…mais do que a sua própria família. Pelo menos não julgavam. Não apontavam o dedo, tal como o seu pai fez. Tal como a cobardia da sua mãe em não querer acreditar na inocência do filho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches Javi! – desejou Dona Amália, a vizinha da porta da frente. Era uma senhora que tinha os seus quase noventa anos. Vivia sozinha apesar de ter quatro filhos. Era viúva mas desde que para ali foi, nenhum dos filhos se designava a visita-la. Javi chegou em muitas vezes a ajuda-la, como em pagar as contas da agua, luz ou telefone. Ou mesmo a arranjar algo necessário na casa. Era uma senhora sozinha mas muito amável e Javi gostava bastante dela. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Buenas noches senhora Amália! – Javi estava prestes a abrir a porta quando ouviu novamente a voz dela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Javi…por acaso não viste o meu maxi? – maxi era um dos gatos que Amália que tinha a viver consigo – ele fugiu-me…eu estava a dar a comida e quando fui ver já não estava cá! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…por acaso não vi. Mas vou tentar procura-lo e se encontrar eu aviso-lhe pode ser? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada! Olha…se o encontrares, não pegues logo nele sim? Ele assusta-se com facilidade. Tenho medo que alguém tente fazer-lhe mal…sem falar que ele tem a patinha meia partida – era bem visível a desolação que a senhora sentia e Javi sentiu-se um pouco incomodado com isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não se preocupe señora Amália, ele aparecerá logo! – Javi juntou-se a ela dando-lhe um abraço confortante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- és muito atencioso Javi… - ela agradecera-lhe – gracias!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- de nada…precisa de alguma coisa? Que ajude em algo? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, obrigada mas não é preciso – ela sorriu agradecida – não massacrar o teu tempo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…nunca me massacra o tempo! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mesmo assim….agradeço mas não preciso de nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…mas se precisar já sabe, toque à campainha ou ligue para o meu numero!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vai descansado… - Javi despediu-se da sua vizinha, entrando em casa. Estava vazia, como sempre. Já se habituara a entrar ali todos os dias e ver a sua pequena casa vazia e escura. Mandou o capacete para cima do sofá, juntamente com a mochila e o casaco. Foi até ao frigorifico buscar uma cerveja e quando já estava sentado no sofá, a abri-la, quando a campainha tocou. Voltou a pousar a cerveja, caminhou até à porta acreditando que se tratava da sua vizinha. Mas, assim que a abriu, tomou pela surpresa. Não era a sua vizinha. Nem tão pouco esperava ter aquela visita em sua casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- senhorita Maria? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola Javi…estou a incomodar-te?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- no…claro que não. Passa-se alguma coisa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…precisava apenas de falar contigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro, entre…</div>
Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-31992223249477057482014-02-17T09:10:00.000-08:002014-03-31T11:11:34.445-07:00Capitulo 10<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://24.media.tumblr.com/5a2aaddcfc0898c77bc33d5c2817a9b9/tumblr_mfme5lkVWp1rijbg1o1_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://24.media.tumblr.com/5a2aaddcfc0898c77bc33d5c2817a9b9/tumblr_mfme5lkVWp1rijbg1o1_500.gif" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Isabel zarpou num ápice até ao interior da casa. Assim que lá chegou apercebeu-se que estavam os seus tios a conversarem entre si na sala de estar, andou mais um bocado e cruzou-se com o seu avô que chegava da cozinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que ele está a fazer aqui? – ripostou sem nem dar hipóteses de cumprimentar o seu avô.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes Isabel! – reprimiu Javi ao se aperceber da falta de maneiras da sua neta </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes abuelo… - ela mostrara a impaciência e a ânsia de querer ter uma resposta – o que ele está aqui a fazer? – naquele momento já Javi se encontrava no interior da casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o Javi é nosso convidado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porquê?! – o seu avô acabou por a ignorar cumprimentando Javi que estava ali mesmo. Entretanto Maria também chegara à sala cumprimentando-o. Foram todos para a sala de jantar pois o comer estava pronto a ser servido. Isabel sentia-se ignorada e completamente fora de si. Ela ficou a mirar toda a gente dali e ela parecia ser a única pessoa que tinha uma relação bem diferente no que tocava ao Javi. Todos se davam bem com ele parecendo que era um bom frequentador daquela casa, sem falar na Marisol que se pudesse agarrava-se no seu pescoço sem lhe dar a mínima hipótese de fugir. Só ela…só ela é que não sentia o mesmo, só ela se sentia completamente à parte no meio daquilo tudo. Acabou por sair dali e foi para o único sitio daquela casa que se sentia em paz. Sentou-se num dos bancos e ficou a pensar no que acabara de ver naquela sala. Ela não gostava dele mas tinha motivos para isso…Javi nunca se esforçou para mostrar a Isabel que era uma pessoa diferente, talvez porque não fosse. Talvez só ela sabia da sua verdadeira faceta, só com ela é que Javi era mau mostrando o seu mau caracter. Será que ele estava a enganar toda a sua família? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela não queria estar ali…preferia jantar sozinha ou até passar fome do que estar no mesmo sitio que ele. Isabel não gostava de Javi e nem iria gostar. Logico que estar a respirar o mesmo ar que ele se tornava algo insustentável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que fazes aqui? – uma voz totalmente familiar soou-lhe ali mesmo, afastando todos os seus pensamentos. Isabel acabou por não responder e Maria sentou-se do seu lado – o que se passa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que se passa? – ripostou Isabel olhando a sua avó – quer mesmo saber o que se passa? Olhe e que tal começar por ter um delinquente a jantar com a minha família? – ela ouviu a sua avó a respirar fundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel… - advertiu-a – acho que estás a passar dos limites, não achas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…avó nem venha! Eu tenho as minhas razoes para não gostar dele e ninguém me vai obrigar a sentir o contrario! Ou será que lá por vocês todos não verem o credível, que também tenho de aceitar o que não quero?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o que é para ti o credível?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele não é boa pessoa! Ponto…não é e não é.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve uma coisa querida…nós conhecemo-lo desde miúdo, sabemos bem como ele é e enquanto tu só estás aqui a algumas semanas… tudo bem que ele possa não ter as melhores atitudes mas sabemos que ele é boa pessoa sim! Tu estás enganada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…claro que sim! Eu estou sempre engana, impressionante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deverias estar grata a ele por te ter salvo! – inquiriu Maria com uma certa rispidez na sua voz – temos sim muito a dar-lhe graças e pensei que isso te fizesse mudar de ideias! E se tu não és capaz de ser suficientemente autónoma para perceber isso, fazemos nós, e por tal, marcamos este jantar! Agora…mostra um bocadinho de respeito e volta para dentro de casa – Isabel notou um pouco de autoridade na voz da sua avó, coisa que poucas vezes pressentiu nela. Olhou-a com uma certa magoa, levantou-se saindo dali sem dar uma única palavra. Assim que chegou à sala já toda a gente estava sentada e percebeu que estavam à sua espera. Acabou por se sentar no seu habitual lugar sem dirigir uma única palavra e nem um único olhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…és tu – Marisol mostrou a sua irrelevância ao se deparar com Isabel, sentada nas escadas que davam acesso ao jardim da casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pensavas que fosse quem? – respondeu também com desdém </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…pensava que estivesse aqui o javi! – notava-se bem a maneira como Marisol fazia questão de referir o nome dele. Quase como se mostrasse que fosse uma presa a mostrar as garras perante a sua cria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como vês ele aqui não está!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- logico que não estaria… - sussurrou mas não o suficientemente baixo para que Isabel pudesse não ouvir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que disseste?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que vou à procura dele! – mentiu. Isabel deitou um olhar à sua prima e o que mais via na sua frente era uma rapariga desesperada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vai…vai lá…fazes tu muito bem!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- queres dizer alguma coisa com isso? – perguntou ao se aperceber da ironia de Isabel</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- apenas o que tu ouviste.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por momentos pensei que estivesses com uma certa…inveja! – ela olhou-a.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- inveja? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim. Olha Isabel tu a mim não me enganas com essa tua faceta de durona…queres enganar a quem? Podes admitir que andas interessada no javi! – Isabel sentia-se incrédula</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podes continuar…juro que estou a gostar imenso da tua teoria!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas aviso-te que é melhor desistires porque o Javi não é homem para ti! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…claro. Esqueci-me que tu és a ex-namorada dele que ainda não recuperou com o facto de ele ter terminado contigo…mas olha, queres um conselho? Deixa de parecer tao desesperada, dás muito nas vistas. Mas ainda não deves ter reparado que ele tenta sempre descartar-te mas tu estás tao preocupada em que ele repare na tua roupa nova, no teu perfume ou na cor do teu cabelo que não reparas no essencial. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- dispenso os teus conselhos, sempre os dispensei. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não te desejo mal nenhum, muito pelo contrario! Eu até rezo para que tu voltes para ele, afinal sois duas almas tao perdidas que não faz mal nenhum à humanidade que se juntem! E não…de longe são ciúmes vossos! Por mi podrían los dos ir a la mierda! – Marisol ria-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu posso ser desesperada mas tu não passas de uma frustrada que tenta-se integrar nesta família, que tenta ser uma de nós mas que jamais o será! – Isabel sentiu-se a ferver – o que vale é que tu vais-te embora daqui a uns meses e já não terei de olhar para a tua carinha de sonsa que se acha a heroína da família! Oh…espera…mas tu não és no fundo desta família! Talvez porque…seja adoptada! – aquelas palavras atingiram-na que nem flechas e não foram precisos mais do que meros segundo para que Marisol fosse esfregada com uma grande bofetada no seu rosto. Ela soltou um grito mas isso só fez aumentar a imensa raiva que Isabel sentia. Aquele estalo já há imenso tempo que estava para sair…ela merecia até rastejar pelo chao. Isabel aproveitou uma distracção de Marisol para lhe dar outro estalo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás loca???!!! – Isabel pegou-lhe pelos cabelos e só não fez mais porque sentiu alguém a puxa-la com força.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- larga-me!!! – gritou tentando-se sacudir dos braços de Javi que a amarrava com força.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tira-a daqui! Ela está louca! Ela bateu-me! – Marisol gritava</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- parem as duas! – tentava Javi manter a ordem perante a tentativa louca de Isabel se desprender dos seus braços.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- larga-me!!! – Javi acabou por larga-la virando-a para si</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pára!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sai daqui!! – Isabel acabou por empurra-lo com força – sai daqui tu também!! – naquele instante apareceu mais gente ali perante os gritos delas. Tanto os seus tios como avós e primos, estavam todos ali assustados pelo que viam. Marisol aproveitou para mostrar o seu ar de vitima.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que se passa aqui?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- foi ela! Ela bateu-me pai! Olha só para a minha cara marcada!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ela mereceu! – ripostou Isabel</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel! - Advertiu o seu tio – tu bateste-lhe?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pergunte-lhe o que ela me disse para lhe bater, pergunte à sua filha!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não fiz nada! Ela é…ela descontrolou-se…disse-me coisas horríveis…ela…ela até me mandou à merda e tudo! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mentirosa! – gritou Isabel que se preparava para lhe saltar em cima novamente ou não fosse Javi amarra-la novamente – eu não disse nada disso! – defendeu-se desesperada ao sentir todos os olhares presos nela. Isabel percebeu que ninguém ali estava a acreditar nela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel tu estás a ficar irreconhecível! Desde que aqui chegaste que tens tido comportamentos incorrectos! – ela olhava-o incrédula. Olhou também para os seus avós e nenhum deles estava disposto a defende-la. Porquê? Ela estava a sentir-se tao magoada… soltou-se finalmente dos braços dele saindo dali disparada. Correu para o seu quarto, pegou na sua mala e voltou a sair dali. Estava já a descer as escadas quando a voz forte do seu avô fez imperar ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- onde vais Isabel? – ela olhou-o. Javi entendeu a magoa que a sua neta tinha no seu olhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para bem longe daqui! – dito isto correu disparada dali para fora. Assim que desceu as escadas, foi sucumbida pelas lagrimas. Sentia-se magoada. Muito magoada…era suposto alguém a defender mas ninguém o fez. Ninguém…nem tao pouco as duas pessoas que ela mais amava? Sentia-se mesmo perdia e desconsolada. Sentia-se mesmo à parte naquela família, quase como se tivesse certezas que não pertencia de todo ali. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei… - ela sentiu uma mão a puxa-la travando-lhe o movimento brusco</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- larga-me! – ela voltou a gritar. Assim que se apercebeu que era Javi, não se coibiu de o olhar de uma forma que deixou Javi sem saber como reagir. Pela primeira vez a vira a chorar, indefesa, perdida… - a culpa é tua! – culpou-o. Javi percebera que ela o iria culpar, que iria discutir e novamente atirar-lhe à cara tudo o que ela queria e bem entendia. Mas surpreendera-se ao ouvir o que não esperava de todo – é tua porque não deverias ter-me salvo! Deverias ter-me deixado lá, a morrer! Era o que deveria acontecer, era eu desaparecer de vez daqui!! – gritou-lhe já totalmente dominada pelas lagrimas que não paravam de escorrer pelo seu rosto. Ele não sabia o que fazer nem dizer. Não esperava aquilo…nem de longe. Meia volta, Isabel desaparece dali, entrando no seu carro. Sem pensar em mais nada, Javi sobe para a sua mota e sem que ela se aperceba, segue-a. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-o que se passa Bela?! – perguntou Adriana ao abrir a porta à sua amiga e vê-la com os olhos vermelhos mostrando um ar cansado, de quem esteve a chorar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso passar a noite aqui? – perguntou com a voz tremula</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro, nem se pergunta! Entra! – Isabel acabou por entrar na casa dos seus amigos e tanto os rapazes se apressaram a rodeá-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que te aconteceu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- discuti lá em casa…mas não quero falar sobre isso. Não se importam?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que não! Mas…estás bem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou ficar bem – argumentou – não se importam que durma aqui esta noite?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, isso nem se pergunta! Esta casa também é tua miúda… - respondeu Ricardo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada… - Isabel esteve mais algum tempo com os seus amigos mas depois foi-se deitar. Doía-lhe a cabeça e precisava mesmo de tentar dormir apesar de saber que era algo difícil. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não acredito… - Adriana sentia-se incrédula com o que ouvia de Isabel, perante a noite passada – ela é mesmo uma parva!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- juro que me apetecia arrancar-lhe aquele cabelo à chapada! Que odio…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ela é que é uma frustrada! Qual é a dela? Tu não tens culpa de seres adoptada, ela é que tem ciúmes porque os teus avós sempre deram mais atenção a ti do que a ela!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não é só isso… - constatou Isabel num suspiro pesado – ontem foi a gota de agua, sabes? Quando eu não vi ninguém da minha família a tentar saber as razoes de eu lhe bater…de os ver a censurarem-me com o olhar…esquece, foi demais para mim! Senti-me mesmo à parte, como se não pertencesse ali!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, isso é o que ela quer! Que te sintas assim! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou farta disto tudo…só me apetece fazer as malas e voltar para Portugal. Acho que nem deveria ter saído de lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás parva? Hei, não podes abdicar dos teus objectivos por causa disso. Tu não vais nada embora… não vais! Mas…vais voltar para a quinta?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…para lá não volto mais! Só mesmo para buscar as minhas coisas e sair de lá o quanto antes!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens certezas disso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho! Não quero ficar lá… - respondeu calmamente – Adriana, vocês não se importam que fique na vossa casa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que não! Jamais te deixaríamos sozinha… - ela acabou por abraçar fortemente a sua amiga – és muito bem-vinda à nossa casa! Vai ser um prazer ter-te por lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eram quase cinco horas quando chegou à quinta. Sabia que aquela hora poucas pessoas estariam em casa e era o que queria. Provavelmente a sua avó estaria no roseiral como todos os dias e o seu avô ou a fazer-lhe companhia ou então era provável que não estivesse lá. Estacionou o carro nas traseiras da casa, abriu o portão entrando pela porta principal. A casa estava vazia. Subiu até ao seu quarto, pegou na mala e começou a guardar todas as suas coisas. A decisão de sair dali, no fundo acabava por magoa-la. Pensou que ali poderia ser feliz mas não estava a ser. Alias, desde que chegara a Múrcia que ser feliz foi coisa que nunca foi. Já estava prestes a guardar tudo quando a porta abriu-se. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- finalmente que chegaste! Porque saíste de casa daquela maneira? Ficamos preocupados contigo querida! – ela pôde notar o desespero na voz da sua avó – o que estás a fazer? – perguntou ao deparar-se com ela a fazer as malas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- A ir-me embora… - Isabel não se queria alongar muito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê? Não…nem pensar! Que ideia é essa Isabel?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ideia de quem está farta disto tudo! – gritou – estou farta de estar aqui, farta de ser uma incompreendida, farta mesmo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pára com isso…vamos conversar melhor!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não quero conversar avó! eu só não pego nestas malas e vou para Portugal porque tenho os meus estudos porque se não, era logo o que faria! E não adianta, vou sair desta casa e ninguém me vai impedir!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não faças isso por favor! – Maria sacudiu quase em misericórdia a implorar para que ela não fizesse aquilo – eu não quero que saias daqui meu anjo, não nos faças isso! – Isabel não quis alongar muito mais. Assim que fechou a ultima mala, pegou nelas saindo dali sempre seguida pela sua avó – Isabel…pensa bem! Não é motivo para estares a sair de casa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não me sinto bem-vinda aqui! Eu não estou a ser feliz, sabe? Não estou! – admitiu com a sua voz tremula.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu és e serás sempre bem-vinda nesta casa! Recebi-te aqui com todo o meu amor e tu és como se fosses do meu sangue!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois mas não sou! – Isabel percebera que estava a magoar a sua avó e que por pouco não se desfazia num farrapo. Acabou por abraça-la dando-lhe um beijo – eu amo-a muito mas neste momento eu não consigo ficar aqui – dito isto, voltou a pegar nas malas saindo de vez daquela casa. Tinha começado a chover. Isabel perdera-se nos seus pensamentos e foi o caminho todo a chorar. Ela sentia-se perdida…sem identidade, sem nada. No fundo, sempre teve medo de se sentir assim. porquê? Porque teve de ser abandonada naquela porta do hospital? Não gostavam dela, era isso? Era assim um grande fardo para que os seus verdadeiros pais a deixassem num hospital? No fundo…todas aquelas perguntas deixavam-na ainda mais ressentida. Isabel não sabia o que fazer…será que valeria a pena ficar em Murcia? Será que nestes meses algo de bom lhe poderia acontecer para puder ter saudades daquela terra?</div>
Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-10229831841455462952014-02-14T06:50:00.003-08:002014-03-25T15:56:53.614-07:00Capitulo 9<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Javi não estava a fazer questão de soltar o braço de Isabel. Olhava-a calmamente mas acima de tudo parecia que esperava algo vindo dela. Quase como uma resposta, algo que faltasse encaixar naquele momento. Não sabiam dizer quanto tempo se perderam a olhar um para o outro mas Javi teve ali uma certeza do tipo de pessoa que ela era. Feroz, mandona, resmungona, teimosa…tinha um feitio bem complicado e picuinhas mas algo lhe dizia que não passava de uma fachada sua. Ele percebera isso desde aquele incêndio quando a viu frágil, a pedir-lhe quase misericórdia para a salvar. Viu isso quando ela se abraçou a ele quase esmagando-o, assim que se apercebeu que estava a salvo. Podia-se dizer que naquele momento tudo se havia esquecido nomeadamente os atritos que os abrangia. Mas porque ela era assim? porque fazia questão de mostrar um lado seu que não lhe era de todo compatível? Não que Javi estivesse interessado em conhecer esse seu lado, de todo ele queria isso. Aliás, dela nada queria conhecer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que queres? – respondeu calmamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quero saber como estás.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei, talvez porque estiveste fechada num armazém que estava a arder… - de facto Isabel nem se lembrara desse facto e nem tão pouco que ele pudesse querer saber como ela se sentia devido ao incêndio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah isso…estou bem! – ela preparava-se novamente para se soltar quando Javi a amarrou novamente – o que queres? – perguntou já aborrecida por ele a estar a empatar ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não achas que está a faltar alguma coisa? – ela não pôde de deixar de reparar na pequena presunção que aquela pergunta acarretava. Acabou por respirar fundo e acabou mesmo por lhe lançar um sorriso amarelo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, não me estou a esquecer de nada! E se me dás licença, larga-me que tenho de ir para as aulas – Javi olhava-a um tão pouco incrédulo pela lata que Isabel conseguia em ter. acabou mesmo por largar-lhe o braço e quando Isabel já estava a andar num passo apreçado decidiu gritar-lhe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- de nada! – ela parou olhando-o – não precisas de te dar ao trabalho de me agradecer, aliás fiz de coração!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdon?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e eu a pensar que era lo siento que se dizia nesta terra.. .– Javi fez questão de referir as palavras, tal e qual como Isabel lhe dissera, no dia em que pela primeira vez se conheceram. Naquele preciso corredor, atrasados para as aulas, quando Javi se esbarra contra ela. Quando Isabel o empurrou. Assim que falou, ela lembrara-se desse momento e que Javi dissera aquilo de uma forma propositada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- afinal…o que queres? – ela voltou a aproximar-se dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei, eu apenas gostava de ver um pouco de gratidão da tua parte porque afinal eu salvei-te do incêndio!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, isso – falou com irrelevância – estás a falar do teu acto de heroísmo? Aquele que te está a dar a fama de bonzinho? Aquela tua acção que toda a escola fala? É isso que estás a falar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se tu gostas de pôr as coisas nesses termos, sim…é disso mesmo que estou a falar…princesinha – ripostou com arrogância </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- queres que te agradeça é isso? Temos pena, da minha boca não vais ouvir um gracias nem arrancado a ferros…besta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- engraçado, agora sou a besta não sou? Mas há dois dias atrás eu era a única pessoa que existia para te tirar daquele sitio! Ah pois, se não fosse aqui a besta…a princesinha não estava aqui!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não é por teres feito aquilo que passas de besta a bestial! Para mim continuas a ser o mesmo coño que conhecia há momentos atrás! – Javi olhava-a completamente enraivecido. Olhava-a com desdém. Percebeu que ela afinal não andava a esconder nada…que por detrás daquela armadura toda conseguia haver uma Isabel diferente. Javi entendeu bem que ela era mesmo detestável. Que dali nada de bom tinha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha…da próxima vez que estiveres em apuros princesinha... – ele puxa-a para junto de si olhando-a de uma forma intensa – o coño vai te deixar ficar ali, prestes a seres devorada pelas chamas! Possa ser também que aproveite e te mande um andate à lá mierda e siga sempre. Porque a conclusão que tiro neste momento é que não vales mesmo nada o meu esforço, que o que deveria ter mesmo feito era deixar que ficasses enfiada naquele armazém e quem sabe, fosses encontrada já sem vida! – aquelas palavras estavam a magoa-la…demasiado – porque se não fosse eu tu não estavas viva! Mas é melhor meteres o teu agradecimento num sitio que cá sei porque para mim, eu estou-me nas tintas. Podes até estar a rastejar que se for preciso até te passo por cima! És uma ingrata, uma perda de tempo! – dito isto larga-a com uma certa brusquidão. Javi dá meia volta deixando-a ali, sozinha, a assimilar o que acabara de ouvir. Isabel tinha ficado sem reacção e pela primeira vez parou para pensar no que andava a fazer. Sim, se não fosse ele, não estaria viva. Sim, ela tinha que lhe agradecer. Mas não o fez mas não conseguia admitir nem aceitar que ele, o rapaz que mais detestava, tinha sido ele a dar-lhe a graça de puder estar viva, de puder respirar. Sentia-se tonta, sem saber o que fazer. Acabou mesmo per despertar e sair a correr para a sala de aula. Estava atrasada e a aula já há algum tempo tinha começado. Assim que entrou na sala, todos os olhares centraram em si. Não pelo facto do seu atraso mas já se tornara um hábito que toda a gente a olhava de uma forma diferente. Acabou por se sentar numa cadeira diferente do habitual preferindo as ultimas carteiras. Tirou os cadernos mas ao invés de se centrar no que a professora dizia, preferiu que os seus braços ficassem apoiados na carteira e que levasse as suas mãos à cabeça. Adriana que a olhava com uma certa preocupação, vira-se para trás.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei, Bela…estás bem? - Isabel acabou mesmo por esfregar a cara, olhando-a. Poderia dizer que «não, estou péssima», «sinto-me a ferver», ou até mesmo «aquele cabrão deixou-me desarreada» mas preferiu não dizer nada disso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…estou bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…tu não estás bem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sinto-me cansada, não dormi bem.. – voltou a mentir. «Não, eu sinto-me péssima», «estou cansada que me digam que tenho de estar em gratidão com ele», « preferia mesmo que ficasse naquele armazém ao invés de passar por isto»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo bem…mas se quiseres falar sabes que estou aqui! – sussurrou-lhe. Isabel apenas sorriu para de seguida, abrir o livro numa página qualquer e tentar se abstrair de tudo aquilo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Particularmente, o dia de hoje estava de um autêntico dia de primavera. O sol raiava, a temperatura estava amena e nem por já se fazer tarde aquele ambiente deixava de ter a sua própria beleza. Maria acabou mesmo por se sentar no seu habitual banco. Ainda se lembrava de quando era jovem e perdia bons tempos a lanchar ou sozinha, com os seus amigos ou mesmo na companhia de Javi. Lembrou-se de como os gelados eram óptimos e dos seus desejos quando estava gravida, do quanto obrigava Javi a percorrer metade da cidade só para irem ali. Saciar a sua fome, os seus desejos de futura mãe. Relembrava esses mesmos momentos enquanto rodava a sua aliança dourada que perdurava há anos naquele dedo…sorriu. Em tempos foi feliz e mesmo agora o é mas acabava por ser diferente. A felicidade tombara para significados diferentes. Quando era jovem, Maria era feliz porque tinha alguém que a fazia ser. Tinha o seu marido, passou a ter os filhos e depois disso vieram os netos. Agora, sentia que estava na hora de inverter a situação. Estava na hora de ser ela a fazer o bem por todos eles…de ser ela a fazê-los felizes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes… - Maria quedou o seu olhar sobre aquela figura que se instalava na sua frente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes! Senta-te… - ela fez questão de lhe dar a segurança para ele se sentar na sua frente – desde já que agradeço por teres disponibilizado um pouco do teu tempo para vires até aqui…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu faço com todo o gosto de aceitar um pedido seu… - ele sorriu-lhe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem…eu também gosto de falar sempre contigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas…porque me chamou até aqui? – Javi sentia-se um pouco receoso. Ter um pedido de Maria para falar consigo era algo…imprevisível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu precisava de falar um pouco contigo, aliás já estava para fazer ontem mas entretanto não consegui sair de casa…eu também prometo não tomar muito do teu tempo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh que é isso, eu tenho muito prazer em puder partilhar o meu tempo consigo doña Maria…você sabe que gosto muito de si! – Maria acabou por sorrir. Era verdade que eles já se conheciam há bastante tempo, tanto que Maria praticamente que o vira crescer. São famílias que se conhecem. Apesar de Javi se ter afastado de todos há alguns anos para trás, ainda conseguia nutrir bastante respeito por ela tanto que era das poucas pessoas que nunca lhe apontou o dedo, nunca o questionou, nunca o criticou a acusou de qualquer coisa. Gostava imenso dela e sempre a tratava com imenso carinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então Javi…eu chamei-te porque queria falar contigo sobre o incêndio lá na associação. Não posso deixar de agradecer por tudo o que fizestes pela minha neta! – ele retraiu-se – eu sei que vocês não se dão muito bem mas tenho de enaltecer o que fizeste.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não precisa de agradecer Doña Maria…o que fiz foi o que qualquer pessoa fazia no meu lugar! – tentou desvalorizar</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…nada disso. Eu soube que estava ali mais gente, soube que foste tu que deste pela falta dela…não digas que qualquer um fazia o mesmo porque não fariam. Se não fosses tu a Isabel tinha ficado esquecida por lá…e nem quero pensar na possibilidade de lhe ter acontecido algo grave. Dios, ela é a minha vida… - Maria suspirou mostrando o desespero de uma avó que poderia ter a sua neta com a vida em risco – gracias, de verdade! Agradeço-te de coração! – Javi olhava-a e conseguia ver a veracidade das suas palavras. Porque Isabel não era assim? tão mais simpática e que sabia valorizar as coisas? Porque tinha de ser tão picuinhas e detestável?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei – Javi sorriu – eu consigo imaginar a sua preocupação porque afinal a Isabel é sua neta…qual é a avô que não se preocupa? Mas…só é pena que ela não seja como você…bem mais simpática e agradecida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por isso mesmo é que estou aqui! Eu conheço-a…aquela rapariga consegue mesmo ser teimosa e difícil sabes? Já previa que ela não fosse propriamente admitir isso. E desde já que peço desculpas por isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- no, no…você não tem de pedir desculpas por nada e nem tão pouco fazer algo por ela. Mas também…não interessa. Fico com a consciência tranquila que nada de mal aconteceu, é o que vale!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- yo sé e tens razão…só tenho pena que ela não consiga ver o quão bom rapaz tu és e prova disso foi teres te preocupado com ela naquele incêndio mesmo vocês se dando um pouco mal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas eu não me preocupo com ela – Javi abanava a cabeça atirando com essa possibilidade para o lado. Jamais ele se preocuparia com ela, jamais…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- aí é que te enganas. Eu sei…no fundo tu te preocupas. Mas a Isabel é uma boa rapariga, ela tem tão boas qualidades, é no fundo um coração mole. Só que…ela há uns tempos para cá que anda num grande conflito consigo mesmo, nem eu sei explicar o que se anda a passar com ela. Garanto-te…ela não é má pessoa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mesmo que ela seja uma boa rapariga, ao qual eu não posso refutar isso…não estou a ver, num futuro longínquo a manter uma saudável conversa com ela! – Maria não deixou de sorrir perante aquele comentário.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso pelo menos fazer-te um ultimo pedido? Aliás foi o maior motivo que me fez pedir-te para vires até cá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque não vens jantar a nossa casa? Tanto eu como o Javier tínhamos imenso prazer em ter-te na nossa casa para um jantar…tu conheces bem a casa, não és propriamente um estranho e além do mais já temos saudades de te ter por lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- jantar…na sua casa? – ele olhava-a admirado – agradeço o convite mas terei de recusar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porquê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque…não me leve a mal mas eu não pretendo me cruzar com a sua neta tão cedo! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda lá Javi…aceita. Não precisas de o fazer por causa da Isabel mas fá-lo por mim e pelo meu marido. Aliás, ele pode não estar cá, mas o pedido é feito pelos dois. Temos mesmo imenso gosto em ter-te em nossa casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- no sé…no sé se eres buena ideia…</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas concordas com a segunda ou a primeira opção? – perguntava Adriana </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nenhuma das duas! Não faz sentido escolhermos essas opções porque nenhuma se adequa com o tema do trabalho… - inquiriu Isabel. Estavam as duas sentadas no bar da faculdade a debater o tema do trabalho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh mas a professora não aceita as nossas opções, vamos fazer o quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tentar refutar as nossas ideias e mostrar-lhe que as dela não são validas! Para que raio eu quero fazer um trabalho numa área fora da minha? Aliás, eu gostava bem mais da ideia de fazermos o trabalho na área da comunidade…como rastreios, colóquios, intervir mais na população!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- temos então dois dias para fazer um projecto e fazê-la mudar de ideias! – eu acho que hoje já não faremos isso…já está tarde e além do mais tenho de ir para a quinta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque não jantas connosco? Assim ficávamos pelo menos a debater as ideias…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa mas não vai dar. Eu já ando um bocado a leste da minha família e além do mais os meus avós pediram-me para pelo menos hoje jantar com eles e passar um bom serão de família…olha vocês é que podiam vir comigo e jantavam lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- fica para outro dia…além do mais seria um bocado em cima da hora chegarmos lá sem avisar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como se isso fosse um grande problema…a Pilar faz sempre comida para mais gente! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mesmo assim, marcamos para outro dia pode ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…como queiram.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então eu vou só ali tirar estas fotocopias para amanha termos as coisas mais organizadas, está bem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…vai lá enquanto arrumo as coisas – Adriana acabou por sair dali e Isabel acabou por arrumar tudo nas capas. Olhou para o relógio e reparou que chegaria à quinta em cima da hora. Mais uma vez e como sempre. Era impressionante como desde que ali chegara eram poucas as vezes que conseguia chegar onde quer que fosse, a tempo e horas. Até já pensou em adiantar todos os seus relógios e se esquecer disso mesmo, a ver se conseguia chegar um pouco a tempo. Estava já a caminhar em direcção à porta quando reparou que Eduardo acabava de chegar, sentando-se sozinho numa das mesas. Isabel debateu-se se deveria continuar o seu caminho ignorando-o ou ir até junto dele fazer algo que já queria há algum tempo. Optou mesmo pela segunda opção, sentando-se na frente dele, deixando-o admirado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- precisas de alguma coisa? – perguntou Eduardo</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por acaso preciso…de te fazer umas perguntinhas. Não te preocupes que não tomo muito do teu tempo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…pergunto que quiseres.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que pretendes da Adriana? – ela fora sucinta e directa no assunto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como assim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda lá Eduardo…a minha pergunta é bem simples. Eu quero saber o que pretendes da Adriana. Quero saber as tuas intenções acerca dela!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é assim…eu não entendo o pretexto da tua pergunta mas posso-te dizer que não pretendo fazer qualquer mal à Adriana tanto que já percebi que não gostas muito de me ver com ela…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve, eu não quero que a Adriana fique magoada…não estou a dizer-lhe que faças mal mas eu não sou parva e já tenho reparado em vocês os dois. Os vossos sorrisos, a forma como ela fala de ti, a maneira como se estão a dar bem demais…eu não quero que ela se apaixone por alguém quando daqui a uns meses ela terá de ir embora. Eu conheço-a, ela vai sofrer. A Adriana é a pessoa mais sensível que alguma vez conheci! Magoa-se por tudo e por nada e posso dizer que no que consta a amores, nenhum otário conseguiu dar-lhe o devido valor!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e estás a dizer-me isso porque…? Porque haveria eu de querer magoa-la, ou mais, porque haveríamos de ter alguma relação?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me digas que só gostas da Adriana por amizade? Que não vejas nela para além de bons amigos? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- no…eu gosto dela! Ela é uma excelente rapariga mas…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas…?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas o quê? O que queres que te diga? Eu…eu não estou apaixonado por ela. Eu não me apaixono pelas pessoas assim em semanas…e jamais faria qualquer coisa para a magoar, jamais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas isso não invalida o facto de não me puder apaixonar por ela daqui para a frente…ela é uma das melhore mulheres que já conheci, é linda, boa pessoa, tem bom coração, é simpática, gosta de ajudar…é boa companheira e sim, poderia bem gostar dela mais do que uma boa amizade. E que eu saiba tu não podes fazer nada para impedir isso, a vida é da Adriana não tua.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens razão, a vida é dela mas a Adriana é das pessoas mais importantes da minha vida. É mais do que uma irmã para mim! Sempre que ela se apaixona por alguém acaba sempre magoada! Isso talvez se deva um pouco por ser ingénua, acha que todos os homens são uns príncipes que andam a cavalo e quando se apercebe que eles só lhe querem tirar proveito ou fazer dela um objecto de satisfação sexual, ela chora, chora e chora. Fecha-se num quarto e se não entra em depressão é por pouco! Por isso…fica o aviso Eduardo…magoa-a que me magoas a mim. E aí…tens é de te ver comigo! Não faço nem digo isto só porque tenho a mania ou seja má, faço-o porque me preocupo com a Adriana e farei de tudo para que ela não se magoe…agora o recado está dado. É contigo… </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel acabou por se levantar e sair do bar. Pelo caminho cruzou-se com Adriana e as duas seguiram caminho para fora da faculdade. Despediu-se da sua amiga e rumou para a quinta. Ainda tinha pelo menos quinze minutos de caminho até chegar a casa mas com sorte não apanhava transito. Assim que lá chegou, o céu já há muito que escurecera. Acabou por colocar o carro dentro da quinta e mal o estacionou, apressou-se a sair do carro ao ver quem ali acabara de chegar. Fechou a porta e ele dera pela sua presença.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que haces aqui?! – gritou-lhe</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás a falar comigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…apeteceu-me falar sozinha! – ripostou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bem me parecia que tinhas algo em ti de doido…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que fazes aqui?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vim fazer-te companhia ao jantar, que tal?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e se fosses gozar com o raio que te parta?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, vale…furacão…então aguarda só uns minutinhos até me veres sentado na mesma mesa que tu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?! Tu só podes estar a brincar comigo…</div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-6371753041487030022014-02-06T15:09:00.002-08:002014-03-20T08:00:35.122-07:00Capitulo 8<div style="text-align: justify;">
Os gritos de Lara eram bem evidentes. Isabel estava presa no armazém. Isso era sem duvida algo terrivel. Sem demorar muito mais, Javi desaparece dali começando a correr para dentro do edifício. As pessoas chamavam por ele, outros tentavam impedi-lo de entrar. A adrenalina corroía pelas veias de Javi deixando-o completamente inerte ao que o rodeava. Sem saber como e o porquê disso, ele corria para salvar Isabel. A rapariga mais detestável, irritante e mandona que alguma vez conhecera. Eles odiavam.se mas mesmo assim, ele corria para a salvar. Mesmo sem saber o motivo de tal coisa, Javi fazia isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ele sabia que a arrecadação ficava do outro lado do edifício, saiu pela porta enorme que dava acesso ao corredor e começou a sentir o calor daquelas chamas. Um enorme clarão fazia-se sentir, o barulho das labaredas eram exurcedoras e o medo instalava-se nele. Começou a correr até chegar à porta que dava acesso à arrecadação. Assim que a abriu sentiu-se a ferver, estava um calor insuportável sem falar no fumo que o deixava cego e com uma enorme vontade de tossir. Pouco conseguia ver na sua frente a não ser a enorme nuvem de fumo que pairava ali. Estava tudo destruído, as coisas caiam sem piedade e Javi tentava-se desviar dos objectos que iam caindo de todos os lados. Por onde ele iria? Pouco via e agora sentia-se perdido, não sabendo para que lado ficava a arrecadação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel!!!! – ele gritava tentando obter uma resposta, nem que fosse um grito dela. Nada. Não se ouvia nada. Foi então que reconheceu um dos corredores e tentou ir por ali. Mas ao virar a esquina, uma placa do tecto desaba acertando em cheio nas costas de Javi. Soltou um gemido. A tabua fervia e sentia o seu ombro dorido. Precisou de se amparar um pouco na parede. naquele lugar tudo ardia parecendo um verdadeiro inferno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel!!! – ele gritava cada vez mais mas sem resposta. Parecia que ele era o único a estar ali. Será? Será que Javi vinha ao engano e afinal Isabel não estava ali? Ao longe Javi viu a porta da arrecadação. Estava fechada. Gritou novamente pelo nome dela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel!!! – ele correu para junto da porta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Javi!! – ela estava ali. Isabel estava mesmo presa naquela sala e ouvir a voz de Javi despertou em si uma total esperança quando já se sentia perdida, esquecida e sem convicção que alguém a fosse encontrar. Ela batia fortemente na porta de ferro quase como se tivesse medo que ele não a tivesse ouvido – Javi, por favor tira-me daqui!!! – ela gritava por ele. Mesmo sendo uma situação de desespero, aquela era a primeira vez que Isabel ousara tocar no nome dele. Chamava-o com suplica. Javi tentou abrir a porta mas estava fechada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel abre a porta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não consigo! A porta trancou-se! Eu não consigo abri-la!!! – respondeu completamente dominada pelo desespero.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sai daí, desvia-te para tentar abri-la! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tira-me daqui!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então sai da beira da porta! – gritou-lhe. Javi olhava em seu redor em jeitos de tentar descobrir uma maneira de tentar arrombar a porta e encontrou um extintor que estava preso na parede e arrancou-o – afasta-te! – Javi dera lanço para de seguida mandar com força o extintor contra a fechadura da porta. Nada. Continuava intacta. Tentou mais vezes mas nada fazia com que aquela fechadura ficasse arrombada. Era uma porta de ferro e dificilmente conseguiria ter força para a arrombar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor Javi abre-me a porta!! – os gritos de Isabel eram de suplica e Javi já não sabia o que mais fazer para a tirar dali. Pensou em voltar para trás e chamar alguém mas provavelmente seria tarde demais. Ele não podia deixa-la sozinha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não estou a conseguir abri-la!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não digas isso por favor! – ela começa a bater na porta totalmente aflita – tenta Javi! Não me deixes aqui!! – ele começou a olhar em seu redor e não havia meio de arranjar algo para a tirar dali. Só ao olhar para cima é que viu uma pequena janela de vidro. Era alta mas provavelmente ela conseguiria escapar dali. Mandou o extintor para cima dos cacifos, subiu para cima deles e, com ele, parte o vidro. Isabel grita perante o susto. Javi acaba por partir o vidro todo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda! – ele colocou metade do seu corpo do outro lado – sobe para aquele armário e segura na minha mão!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder! Como é que eu vou sair por ai?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é o único jeito Isabel!! Ou sobes ou então acabamos mesmo por ficar aqui os dois!! – ela respira fundo e sem pensar mais, sobe para cima do armário. Javi que já estendia a sua mão, sentiu a dela a prender-se à sua. Fez força tentando-a puxar para cima. Javi estava prestes a escorregar mas assim que ela se consegue apoiar sobre o parapeito daquela janela, num movimento rápido, ele puxa-a totalmente para fora dali. As chamas já estavam perto dali e dava para sentir o calor abrasador. Javi salta para o chão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não consigo saltar! Isto é alto!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- faz o que te vou mandar! Vou estender os meus braços e tu deixas-te cair. Eu seguro-te! – Isabel mostrou a insegurança que sentia. Tinha medo de saltar. De falhar e cair no chão. De não ser capaz – confia em mim, eu não te deixo cair! – sem saber como, Isabel foi capaz de confiar nas palavras dele. Não sabia se era da calma com que Javi falava ou o que era ao certo mas…confiava nele. Naquele instante Isabel depositava toda a sua vida em Javi. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale… - ele estendera as mãos e Isabel impulsionou o seu corpo para a frente. Foi uma questão de segundos até sentir as mãos de Javi a puxar as suas pernas, acabando por cair no colo dele. Agora estava segura. Parecia que metade daquele pesadelo tinha acabado. Finalmente saíra daquele lugar maldito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vamos! – olharam em redor e perceberam que as chamas já estavam ali a consumir uma parte do corredor. Não tinham muito mais tempo e só havia uma saída. Não sabiam para onde iria dar mas correram dali para fora. Só conseguiram parar quando viram ao longe uma porta de vidro. Assim que a abriram e sentiram o ar fresco nem queriam acreditar. Isabel tinha finalmente conseguido sair daquele pesadelo e Javi tinha conseguido tira-la de lá. Pararam quando chegaram ao jardim e sentaram-se num banco. Isabel tinha a sua respiração completamente descontrolada e já não sabia se havia de sorrir ou de chorar. Ficou a olhar para aquele cenário que podia apelidar de guerra, olhou para si e reparou que estava viva e isso tinha sido um achado. Ainda não estava em si perante os últimos minutos. Achava que tinha saído de um filme de terror ou de um pesadelo que não parecia ter fim. Sentia-se impotente. Completamente…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder, Maria estás bem?! – assim que Maria e o seu avô chegaram a casa, depois de ele a ter buscado ao hospital, foram interceptados pela sua avó que estava preocupada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim avó, eu estou bem… - apesar de não ter sofrido qualquer ferimento, Isabel estava um pouco debilitada, as suas roupas estavam cheias de pó, amassadas e esfarrapadas. Doía-lhe a cabeça e ainda tinha um pouco de tosse perante o fumo que inalou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que aconteceu? Nós tivemos um susto de morte quando nos disseram que parte do edifício tinha ardido!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei…eu estava a arrumar na arrecadação quando se deu o incêndio. Foi tudo tão rápido que não sei o que aconteceu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Dios…é um achado estares aqui salva e sã! Mas…olha para ti! Tens a roupa toda suja e rasgada! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu tive de sair por uma janela pequena, a porta de ferro tinha ficado trancada e não havia forma de conseguir sair de lá. Alias nem sei como saí por aquela janela minúscula.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei como os bombeiros não tinham meios de te tirarem de lá! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não foi os bombeiros que me tiraram de lá…foi o Javi. Por isso é que tive de sair pela janela!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que interessa é que está tudo bem! – interceptou a sua tia que também estava preocupada por tudo o que tinha acontecido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vocês não ligaram aos meus pais pois não?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que sim! São teus pais e merecem saber o que se passa contigo…mas não te preocupes, eu já liguei e garanti que estava tudo bem contigo – Isabel suspirou. Sentia-se demasiado cansada e com imensas dores de cabeça. Precisava de tomar um banho urgente, tirar aquela poeira e cheiro a queimado de si. Queria dormir. Precisava disso. Tinha toda a gente daquela casa de volta de si, com os olhos postos na sua figura maltratada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu…eu vou para o meu quarto. Preciso de dormir…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…queres que a Paula leve alguma coisa para comeres?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gracias abuela… - Isabel sorriu de forma a sossegar o coração completamente sobressaltado da sua avó – mas estou sem fome.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- precisas de comer alguma coisa, não podes ir para a cama de estômago vazio! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas não tenho fome, não se preocupe que se precisar eu peço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pelo menos um chá de camomila para te acalmares um pouco…anda lá, ao menos toma isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale abuela, vale… - Isabel acabou por se despedir dos que ali estavam e subiu as escadas para o seu quarto. Assim que abriu a porta, foi directa para a casa de banho. Tirou lentamente as roupas e inevitavelmente vinha à memória o som, as imagens, tudo…as chamas que pareciam devorar tudo, os gritos de súplica para que Javi a tirasse dali…joder, Javi tinha-a salvado. Porquê ele? Porque tinha de ser justamente a pessoa que ela mais odiava? Ele era um presunçoso e tinha tirado da sua possível morte. Deveria estar-lhe eternamente grata? Deveria fazer um monumental para ele ou erguer uma estátua em sua memoria? Joder, nada fazia sentido. Nada mesmo…nem tão pouco ela ter-lhe suplicado para a ajudar e confiar nele. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- aqui está… - A porta abriu-se e do outro lado surgiu a figura de Paula, a empregada. Vinha com um tabuleiro com o chá que a sua avó insistiu para tomar, juntamente com umas torradas. Isabel já estava de pijama vestido e sentada na cama.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gracias Paula!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem que nada de mal te aconteceu! Todos nós ficamos preocupados quando soubemos que aquilo estava a arder.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei…pelo menos tento imaginar a vossa preocupação. Agora estou bem…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não valeu para o susto! Mas também… - ela mostrara um sorriso travesso – com o Javi a salvar-te era impossível algo de mal te acontecer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Paula, por favor…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, eu não digo mais nada. Eu sei que não gostas dele, aliás isso já é assunto bem falado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?! Como é que sabes disso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu tenho o meu sobrinho que é da turma dele, o Diego…por acaso estive com ele e tinha comentado comigo que te conhecia porque tu e o Javi andavam sempre em picardias…até chegou a comentar comigo que nas aulas eles falavam de ti e acreditas que ele descaiu-se e disse-me que fizeram apostas de como o Javi conseguia dar-te a volta?! - Isabel olhou-a. Paula percebeu que tinha falado demais e calou-se de imediato. Paula era uma rapariga jovem, tinha vinte e quatro anos, era bastante faladeira, alegre, divertida mas sabia bem dar contra do seu trabalho. Tinha uma ligação de aproximação com Isabel mas naquele momento sentira que havia falado demais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- volta a repetir o que acabaste de dizer!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…não foi nada. Eu não disse nada! – respondeu atrapalhada – e eu tenho de voltar ao trabalho, com licença…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, hei não vais nada! – Isabel conseguiu segura-la – só preciso que me esclareças essa historia das apostas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ai eu não disse nada! Por favor, não me metas em confusões, eu falei de mais, foi o que foi!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- calma Paula! Eu não vou fazer nada…só quero que me contes o que sabes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eles…olha eu só disse aquilo que o meu sobrinho estava a comentar com os amigos! Sabes como eles são, gostam sempre de acrescentar as coisas!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…podes continuar…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu ouvi-os a falar que chegaram a pegar com o Javi sobre…pronto, sobre as vossas picardias e que tu eras uma rapariga difícil. E que tinham até incentivado o Javi a tentar dar-te a volta…acho que pelo que estavam a dizer queriam que ele te pegasse! Ai oh Isabel, eu não sei de mais nada! Eu juro! Ouvi isso porque estava na casa da minha irmã, o Diego estava lá com os amigos e eles falam sempre alto!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- calma…eu não faço nada…podes ir. Fica descansada que eu não faço nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens a certeza? É que eu acho que eles não queriam que ficasses a saber…eu é que sou desbocada e acabo sempre por falar o que não devo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não te preocupes Paula…eu sei bem como eles são e das asneiras que acabam por falar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…eu vou voltar para o meu serviço mas se precisares de alguma coisa, é só chamares.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- fica descansada! - Paula acabou por sair do quarto e Isabel ficou a pensar no que acabara de saber. Ela não se enganava mesmo e naquele momento tinha ficado pensativa. Afinal eles faziam apostas sobre ela? Queriam que Javi lhe desse a volta? Ela acabou por sorrir…era bom saber disso até porque Isabel já sabia bem o que fazer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- cabrón…me pagas cabrón.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje era mais um dia de aulas. Estava um dia de sol contraditando com a chuva que se fazia sentir nos últimos dias. A escola aos poucos ia-se enchendo de alunos, ora atrasados para as aulas, ora a conversar animadamente com os seus amigos. Naquele dia, Juan levara Isabel às aulas. Contra vontade dos seus avós que queriam que ficasse mais um dia em casa a descansar, Isabel decidiu ir às aulas. Sentia-se bem e não queria perder muito das suas aulas. A partir do momento em que colocara os pés sobre a calçada sentia os olhares presos em si e as pessoas cochichavam entre si enquanto a olhavam. Provavelmente falariam sobre o incêndio. Mal Isabel imagina que ela era o assunto principal daquela faculdade. Toda a gente comentava sobre isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel!!! Isabel! – ela voltara-se para trás e encontrou Adriana a gritar por si. Ela apressou-se a correr para junto da amiga abraçando-a – como é que estás? Fiquei louca quando soube do incêndio!! Estás bem? Tens alguma ferida? Queimaste?! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei…calma! – Isabel percebeu o pânico da sua amiga e tentou acalma-la – eu estou bem Adriana. Não sofri queimaduras algumas, nem tive arranhões…só fui ao hospital porque como tinha inalado algum fumo estava com falta de ar. Não te preocupes, está tudo bem comigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas que susto! Eu fiquei mesmo preocupada contigo – naquele momento caminhavam as duas para a sala de aula – e depois tentei ligar-te mas tinhas o telemóvel desligado. Quem me falou que já estavas bem foi o Eduardo…eu soube que foi o Javi que te tirou de lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim, foi ele…mas agora já não há motivos para ficares preocupada. Já passou, felizmente! – Tinham chegado à sala de aula, acabaram por se sentar nos habituais lugares e abriram os livros visto que a professora tinha chegado. A conversa tinha mesmo ficado interrompida ao não fosse a aula ter começado. Ia ser uma manhã preenchida. E de facto foi. Estiveram até à hora de almoço dedicadas a uma aula importante e mal saíram da sala, foram embora. Só tinham aula da parte da manhã o que acabava por ser bom. Isabel acabou mesmo por almoçar no apartamento onde Adriana estava a morar, juntamente com os rapazes. Eles ainda estavam em aulas e aproveitaram para, alem de estudar, conversar e falar por internet com os amigos de Lisboa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O céu começava a escurecer quando Isabel voltou à quinta. Tinha chegado ao mesmo tempo que os seus primos que também chegavam da escola. Acabaram por entrar, ela, Enrique e Francisco para dentro de casa, pousar os sacos e irem como o habitual, até à cozinha onde Pilar tinha o lanche deles pronto. Já era um grande costume naquela casa em que todos os dias, ao chegar a casa, Pilar preparava o lanche para eles. Mesmo quando crianças tinha esse habito e agora que eram crescidos, continuava na mesma a preparar com todo o carinho como se de crianças eles tratassem. Naquele momento a conversa reinava sobre o incêndio e as especulações que agora se centravam acerca disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas ainda não sabem as causas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…pelo que ouvia hoje, suspeitam de uma fuga de gás! – respondia Juan</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem que só causou estragos materiais…olha se alguém ficasse gravemente ferido? Joder, que tragédia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- A Isabel teve muita sorte em sair ilesa…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ai por favor, parem de falar nisso! – pedia – hoje não se falava em outra coisa nas aulas, nos corredores, no bar…já passou! Agora é esquecer isto – naquele instante Marisol tinha acabado de chegar das aulas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes! – ela acabou por se sentar no balcão, pegando então no seu lanche. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vieste mais tarde! – constatou Enrique – porque não vieste de boleia connosco?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não deu…tive coisas para fazer e aliás o Javi deu-me boleia até casa! – Isabel olhou-a de soslaio. Havia ali qualquer coisa que lhe andava a escapar. O olhar presunçoso da sua prima, a questão em referir que tinha vindo com ele…isso tudo para quê? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah tu vieste com ele! Vale…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele não te contou a forma espectacular como salvou a Isabel? – inquiriu Francisco – ele foi um máximo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obvio que não… -respondeu com desdém – porque haveria de falar sobre isso? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque não se fala de outra coisa hoje! Toda a gente fala disso, toda a gente mesmo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas vocês não têm mais nada para conversar? – desta vez foi Isabel que interrompeu aquela conversa. Ela já se sentia cansada de ouvir falar no incêndio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Bela…tu foste salva pelo Javi! aqui tudo se sabe, tudo se comenta! Todos dizem que ele teve uma grande coragem em tirar-te de lá, visto que essa foi a sua boa acçao desde há alguns anos para cá…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder, parem com isso! Estou farta que falem nisso e nele. Pode ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não te preocupes… - Marisol tomava a palavra, olhando-a com presunção – isso cai no esquecimento rapidamente! Daqui a nada já ninguém se lembra que ele te salvou! – dito isto, Marisol levanta-se saindo da cozinha. Isabel olhava-a com todo o espanto. Ela fazia aquilo para a provocar? Porque raio ela era assim? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não ligues…pelo que sei ela tirou uma nota fraca num exame. Por isso é que está um bocado…azeda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- alguém é capaz de me explicar porque é que ela defende tanto o Javi? juro que não percebo…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eles foram namorados! Acabaram há três anos mas ela nunca chegou a superar muito bem… - Isabel olhava o seu primo com espanto. Acabou mesmo por gargalhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- realmente, eles merecem-se! Dois presunçosos, de facto isso não me espanta nada!! – Enrique gargalhou.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu acho que ela está com ciúmes teus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- meus? Ciúmes? De quê?</div>
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<br /></div>
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- tu não estás bem a par da realidade pois não? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que realidade?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel…desde que chegaste que muita gente comenta os teus atritos com o Javi. quando disse que as pessoas aqui comentam, não estava a mentir. Podes até não acreditar…mas tenho colegas lá da escola que fazem apostas que vocês vão ser o casal sensação deste ano! – Isabel cuspiu todo o chá que tinha na sua boca. Ficou completamente absorta a olhar para o seu primo que parecia muito calmo. Estaria tudo louco? Casal sensação? Para Isabel, isso tudo era um atentado à sua sanidade. Jamais ela poderia gostar de alguém como Javi. As pessoas não sabiam de facto, o quanto ela o detestava. O quanto eles eram o oposto um do outro. Só porque eles andavam com aqueles atritos já achavam que era uma relação amor-odio? Para Isabel, pensar isso dava-lhe um certo asco. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…como a Marisol diz…o que vale é que não daqui a alguns dias, mas daqui a uns meses…já ninguém falará nisso! Até porque já não estarei por cá! – dito isto, levanta-se da cadeira saindo dali. Foi para o seu quarto e assim que lá chegou deitou-se na cama. Hoje sentia-se mais cansada que ontem…precisava de descansar. Mas antes de se render ao cansaço, ficou a pensar nas diversas coisas que matutavam na sua cabeça. Nada fazia o mínimo sentido. Nem tão pouco o que as pessoas falavam. Ficou a pensar que era a única pessoa que conseguia ver um Javi diferente. Porque só ela o via como uma pessoa má, conflituosa, um verdadeiro delinquente? Agora já era visto como o seu herói? Vale…ele salvou-lhe a vida. Isabel tinha essa consciência mas agora já tudo fazia sentido na sua cabeça. Ela sabia o porquê de ele ter feito isso e mais do que tal coisa, era ela saber que não se deixaria afectar, que a sua opinião dificilmente mudaria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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***</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais um dia de aulas. Véspera de fim-de-semana. Todos ansiosos para voltarem às suas casas usufruindo de uns bons dois dias longe da escola. Parecia até que naquele dia os alunos daquela universidade andavam mais contentes. Já não era novidade nenhuma que era normal Isabel chegar tarde às aulas mas naquele dia ela tinha adormecido. Passara mal a noite e pouco tinha dormido. Sabia que estava mais do que meia hora atrasada para a primeira aula. Tinha deixado o carro no estacionamento e foi a correr para o bloco onde tinha aulas mas pelo caminho, algo interpelou pelo meio. Foi ao virar a esquina que acabou por se esbarrar em alguém que também vinha a correr. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdón! Lo siento pero no he visto! – Isabel ergue o seu olhar confrontando com quem estava na sua frente. Só encarando é que reparou com quem tinha esbarrado. Ironia do destino? Talvez…depois do incêndio, era a primeira vez que Javi e Isabel se encontravam. Estranhamente, não sabiam o que dizer ou fazer. Ela preparava-se para virar costas quando a mão dele a agarrou firmemente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei…onde pensas que vais?</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-5135073933432780092014-01-27T08:49:00.000-08:002014-03-11T16:29:53.841-07:00Capitulo 7<div style="text-align: justify;">
Isabel acabou por os deixar sozinhos seguindo caminho para o Bar mas Adriana não arredava pé do sitio onde estava. Mostrava-se um pouco impaciente esperando que ele não tomasse muito do seu tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- afinal o que queres de mim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podemos ir para outro sitio?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obvio que não – respondeu prontamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale… - Eduardo percebeu que não conseguiria mais do que aquele momento e tinha de aproveitar a oportunidade de conseguir falar com Adriana – porque é que queres que me afaste de ti? Juro que não entendi aquele pedido!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não percebeste? Pensei que o que o teu amiguinho fez à Isabel fosse motivo suficiente para entenderes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, eu não tenho nada haver com o que o Javi faz! Ele exagerou e eu próprio já o disse. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mesmo assim…quero distancia. Sei lá se tu também não és má influência como ele…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, estás a ofender-me! – Eduardo defendia-se. Adriana nem imaginava o quanto ela estava a ser injusta – uma coisa é o que o Javi faz e outra, bem diferente, é aquilo que eu faço!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas afinal o que tu queres? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quero explicar-me! Estás zangada comigo e eu não quero isso… - ele mostrava-se um pouco desiludido – eu gosto de estar contigo Adriana! – ele fora sincero e ela notava isso. No fundo, Adriana nunca tivera razões de queixa sobre Eduardo quando ele era tão simpático com ela, quando se prestava para a ajudar mesmo quando não pudesse, até mesmo ofereceu boleia para casa quando tinha perdido o ultimo autocarro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu também gosto de estar contigo. Só não quero que o Javi seja uma má influência, afinal ele consegue mesmo ser aquilo que a Isabel diz!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei… - Eduardo tomara a iniciativa de pegar nas mãos suaves de Adriana – ele não é má pessoa. Porque não me deixas explicar o que se passou com ele? Acredita…vais-me dar razão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu agora não tenho tempo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podíamos marcar qualquer coisa logo à noite, o que achas? Um café…eu vou te buscar e levo-te a casa! – prontificou-se mostrando um sorriso perfeito no seu rosto. Havia forma de negar um convite daqueles? Não. De todo. Eduardo era um rapaz bom, com um coração mole e não havia maneiras de não gostar dele. Era algo impossível em especial para Adriana que cada vez mais ficava rendida aqueles encantos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
***</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Adriana acabava de chegar ao bar, sentando-se ao pé de Isabel que mantinha-se ocupada a estudar um pouco da matéria da aula passada. Ela vinha com um sorriso no seu rosto e, assim que Isabel a olhou, abanou a cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já vi que fizeste as pazes com ele… - insinuou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- de nada! Eu sei que tu te preocupas comigo e fico muito enternecida pelas tuas palavras de consolo e carinho! – ripostou com ironia</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que ele te disse? qual foi o piropo? Disse que eras a rapariga mais bonita que alguma vez conheceu? Ou sorriu-te e tu babaste para cima dele?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- chega! – gritou-lhe – porra Bela, que perseguição que tens ao Eduardo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não chamo de perseguição, é apenas cautela. Bem diferente…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- cautela de quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele pode bem ser perigoso como o amiguinho dele! Até porque para o aturar bom rapaz não deve ser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quantas vezes eu tenho de te dizer que ele não é como o Javi?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então explica-me porque até há quinze minutos atrás tu estavas com o pé atras em relação a ele? – Isabel parou de se centrar nos livros encarando a amiga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…porque não gostei do que o Javi fez e confesso que isso me fez ver as coisas de um modo errado. No fundo eu sei que o Eduardo é diferente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é diferente até tu caíres de beicinho por ele completamente e mostrar a sua verdadeira faceta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se tu continuas a falar assim dele eu juro-te que não te falo mais! – a voz agressiva de Adriana fê-la retrair-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa? Estás por acaso a pôr em causa a nossa amizade por causa de um rapaz?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, não é por causa de um rapaz. Tu estás a ferir os meus sentimentos e nem te mostras um pouco interessada naquilo que sinto, ou melhor, nem fazes o esforço para ver as coisas como elas são. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não acredito que estou a ouvir isso Adriana! Sabes o que eu estou a ver? Que tu estás a apaixonar-te por ele e o pior não é o caracter do Eduardo. É saber que daqui a uns meses vamo-nos embora e tu nunca mais pões a vista em cima dele! É isso que me preocupa. Porque sou tua amiga e não quero ver-te sofrer! – gerou-se um certo silêncio. Isabel não dissera aquilo com más intenções, apenas queria alertar a amiga para evitar uma nova desilusão só que Adriana não era terra-a-terra como Bela. Era sonhadora, romântica, é uma rapariga que ainda acredita que é capaz de encontrar um homem que a ame. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esquece, já vi que contigo não vale mesmo a pena falar! – dito isto, ela levanta-se saindo dali. Isabel fica estupefacta ao ver a atitude da sua amiga. Não a queria magoar, de todo, mas sabia que não tentasse alertar a amiga ela acabaria por sofrer. Mas fazer chamar à razão uma pessoa como Adriana? Isso era impossível e Isabel sabia disso. Preferiu continuar a estudar visto que ainda faltava um pouco para a próxima aula. Estava a tentar concentrar-se quando umas vozes bem alteradas se faziam ouvir naquele espaço. Acabou por erguer a cabeça e reparou que era o grupo de amigos onde Javi estava incluído. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que asco…só me faltava esta! – praguejou. Tentou concentrar-se no estudo e ignora-los mas era algo impossível quando eles se sentaram na mesa à sua frente. Apesar de ter os olhos presos nos livros conseguia ouvir bem a conversa deles e o assunto reinava sobre futebol. Discutiam sobre si qual seria o melhor marcador desta época ou o justo vencedor da bola de ouro. Nem se atrevera a olhar para a frente e até estava a conseguir concentrar-se um pouco mas foi ao reparar no repentino silencio que se fizera, que as sua atenção escapou. Foi ouvindo um chiar sobre aquele chão e uns passos se aproximavam. Foi então que ergueu o olhar e, surpreendentemente, encontrou Javi sentado à sua frente. Ele parecia calmo. Estranhamente calmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que tu queres? – Isabel foi directa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vá lá…são dez horas da manhã e eu estou bem-disposto. Estou aqui, sentado, calmo e a dar-te os bons dias. Eu sei que tu no fundo também me desejas bons dias… - ela bufou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- houve, eu estou sossegada, e como tu mesmo dizes, são dez horas da manhã e eu não gosto muito de perder o meu tempo a discutir. Portanto…ou dizes o que queres ou então bazas daqui!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, vale…podemos passar a parte dos bons dias…sabes, é que antes de me sentar aqui eu tive a pensar num possível discurso cordial que me fizesse vir em paz sem receber as tuas típicas sete pedras na mão! – Isabel estava impaciente e nem tão pouco interessada em ouvi-lo ou tê-lo na sua frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desembucha…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei porquê mas eu hoje, quando estava a caminhar para a sala, onde eu tive uma aula muito interessante, fui interpelado pela querida, amada e estimada professora Consuelo, que se não souberes quem é, tem uma aparência baixa, um pouquinho com excesso de peso, loira, e com uma voz um pouco irritante…estás a ver quem é? Pronto, como sei que és nova aqui e não tens capacidades suficiente para conheceres todos os docentes desta escola – Isabel perdera a conta às vezes que respirava fundo tentando se controlar para não o insultar perante aquele discurso que ele fazia questão de o dizer para a irritar – ela veio ter comigo e informou-me que esteve em reunião com a directora da instituição, onde nós os dois, por incrível que pareça, estamos inseridos num serviço comunitário porque uma aluna teve um comportamento incorrecto, e por isso, fui informado que eu e a vossa excelência temos de estar mais cedo na associação porque vão organizar uma festa no próximo sábado e precisam da nossa colaboração. Como bons professores, eles deram-nos licença. E eu, como boa pessoa que sou, recebi o grande favor de dar esta notícia a vossa excelência! – Isabel olhava-o fixamente com uma certa osga. Alguma vez ela lhe tinha dito o quanto ele conseguia ser irritante? Provavelmente, no meio de tantos nomes já lhe apelidado, irritante nunca tinha usado. Eis uma primeira vez para o fazer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já acabaste?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…acho que sim! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- óptimo, agora baza daqui!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ui, tanta violência! – censurou-a com a sua ponta de ironia – eu vim aqui em paz e tratas-me dessa forma?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu estou a tentar controlar-me para não te mandar à merda ao qual tu estás a fazer os possíveis para o dizer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas acabaste de o fazer! – ele não se coibiu em sorrir num jeito bem gozão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha lá, tu já não deste o recado? Então sai daqui! Ou estás a querer a fazer-te em valentão ali para a escumalha dos teus discípulos? - ele gargalhou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- discípulos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim. Imagina só…o maior parvalhão tem uma cambada de seguidores que pensam que tu és o valentão só por andares de mota, seres mau, teres ar de valente e forte! Querido, lamento desiludir-te mas vocês não passam de um bando de idiotas e surpreendo-me porque é difícil de escolher qual e vocês é o maior otário! – Javi deixa-se descair apoiando os seus cotovelos sobre a mesa. Ele olhava-a fixamente mas sem nunca tirar aquele olhar tão típico de si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podes confessar… - ele estava com um sorriso no rosto – o teu sonho é seres a minha discípula. Por isso é que és tão brava comigo! eu já percebi a tua ideia…bem que não posso negar que teria muito interesse em ter-te do meu lado mas…és demasiado má comigo! – ele gargalhou mostrando toda a sua ironia e escárnio. Isabel pensou em manda-lo a todos os sítios possíveis e imaginários, em bater-lhe, manda-lo abaixo da cadeira, pegar num prato e dá-lo nele, ou então espetar-lhe com o lápis que tinha na sua mão. Mas acho que tudo isso era pouco para o que ele merecia naquele momento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- lo siento guapo mas…tu não preenches os requisitos de bom seguidor! Acredita, existem bem melhores na fila! Não sei se sabes mas dá-me muito mais prazer ficar deste lado do que do teu! O meu passatempo preferido é insultar-te, não sei já reparaste!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por acaso…nunca tinha reparado nisso! E eu a pensar que esses insultos eram uma forma de dizer que me querias conhecer e tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só se fosse no inferno – ripostou com uma extrema calma que surpreendera Javi. ela não mostrara sinais de estar exaltada ou de dizer aquilo de cabeça quente, Isabel estava extremamente calma e olhava-o com magoa – e mesmo assim…nem aí.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tanta agressividade, não te entendo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sejamos bem claros…eu não quero conhecer-te. Não quero e nem sonho com isso! A partir do momento que me empurraste contra uma parede perdeste todo o discernimento. Eu até pensava que era só uma forma de tu mostrares toda a tua ignorância e machismo mas passa para além disso. És uma pessoa má, vejo maldade em ti…por isso, não pretendo e desejo nunca manter contacto contigo! E se fazes um favor…mantém o teu amigo Eduardo longe da Adriana. Eu não confio em nenhum de vocês! – Javi mostrava-se imparcial com o que ouvia mas, pela primeira vez, sentia o impacto daquelas palavras. Isabel estava calma, dizia aquilo com uma magoa terrível. Notou que a tinha magoado a serio. Ele não era assim…Javi não era mau e as palavras dela deixaram-no demasiado incomodado. Ela acabou por arrumar as suas coisas e sair dali. Ele não se movera e nem falou o quer que seja. Assim que Isabel sai dali, sente os seus amigos a aproximarem-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então Javi, como correu a conversa? Vocês até que ficaram bem calminhos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu até pensei que ela fosse te fulminar pelo olhar que te mandava! Aquilo é mesmo fera!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então não dizes nada? ui ela deixou-te sem fala! – eles gargalhavam enquanto Javi se mantinha longe dali. Olhou-os e, sem dizer nada, levanta-se saindo dali num jeito apressado e furioso. Desceu as escadas da entrada e correu para a sua mota que não se encontrava muito longe dali. Pelo caminho ainda se cruzou com o seu amigo Eduardo mas ignorara-lo. Provavelmente nem o tinha visto. Sentou-se na moto e saiu dali carregando pesadamente no acelerador. Só conseguiu parar assim que a mota o levava aquele sitio. Só ali parava uma única vez por ano. De resto…não se sentira corajoso o suficiente para ficar ali. Saiu da mota, caminhou até à entrada e seguiu adiante do portão. Parou mal chegara à campa que dizia “Paco Fernandez”. Custava-lhe estar ali. Apesar de este ano completar três anos que o seu amigo perdera a vida, Javi nunca se habituou à ideia de o ter perdido. Não daquela forma…não daquele jeito, não com aquele desfecho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sentou-se na ponta da campa. Estava gelada…olhou novamente para aquela fotografia dele a sorrir e não se coibiu de também lançar um sorriso mesmo que fosse tímido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ela tem mesmo a mania não tem? Eu sei…ela exagerou para não variar. Não ouças o que ela diz…eu não sou mau. Apenas…deixei de ter limite sobre mim mesmo – Javi calara-se. Era tão estranho estar a falar sozinho e ainda mais naquele sitio. Nada daquilo fazia o mínimo sentido – eu também tenho saudades tuas amigo. Muitas…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
***</div>
</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eram seis horas da tarde quando Isabel tinha chegado à associação. Chegara mais cedo pois eles precisavam de ajuda para os preparativos da festa de sábado à noite. Como o habitual, ela já sabia o que fazer assim que chegasse lá. Pousava as suas coisas na sala reservada aos funcionários, preparava-se dirigindo-se ao salão principal. Já estavam algumas pessoas a carregar caixotes e mais algumas coisas, Isabel apercebera-se que estava uma certa confusão por ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes! – disse assim que chegou ao pé dos funcionários que já tinha alguma confiança.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes Isabel!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é preciso fazer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- temos de fazer estas colagens no cartão e em esferovite. Não te importas de acabar aquelas que estão ali?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que não! – Isabel sentou-se na cadeira e começou a ajudar os seus colegas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha só uma coisa…não viste o teu colega, o Javi? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum, é que ainda não chegou e mais uma vez está atrasado. Pensei que pudesses saber, já que frequentam a mesma universidade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois mas eu não convivo muito com ele, por isso não faço a mínima de onde possa estar! – Isabel tentou cortar o assunto até porque não queria falar muito sobre Javi. Acabou mesmo por desviar o assunto ficando a conversar sobre os preparativos da festa que estava organizada de forma a comemorar os vinte anos de existência daquela associação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O tempo foi passando e já tinham boa parte das coisas no mínimo organizadas para a noite de sábado. Isabel sentia-se cansada e por isso, no final do trabalho foi arrumar todos os cartões na arrecadação. Enquanto isso, Javi que havia chegado atrasado, já estava na recepção pronto para ir embora. Também tinha ficado a ajudar mas foi na parte da eléctrica onde passou a maioria do tempo a pegar nas coisas mais pesadas. Sentia-se totalmente dorido e só queria uma boa noite de sono.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches Javier! – desejou a recepcionista que também se encontrava prestes a sair dali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches Manuela! – enquanto Javi esboçava um sorriso um enorme estrondo se havia sentido. Quem estava ali precisou de se abaixar com o enorme impacto. As luzes tinham ido abaixo e ouvia-se gritos. Começaram a sair pessoas para a porta de saída e Javi, fez o mesmo depois de ajudar Manuela e outra funcionaria a saírem dali. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que se passou?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei! Estávamos no corredor quando ouvimos aquele estrondo! Acho que veio do armazém, não tenho a certeza!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olhem está a arder!!! – todos os olhares centraram-se no outro lado daquele espaço onde viram um dos armazéns a arder. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- alguém que chame os bombeiros! – naquele instante um aglomerado de funcionários acabavam de sair a correr dali para fora. Estavam todos em pânico perante o susto e o pânico que acaba de se instalar naquele lugar. Também pessoas de fora, que tinham visto aquele estrondo e reparado nas labaredas enormes que já se faziam sentir, juntavam-se a eles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder, será que está alguém lá dentro?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- no, pero que no. A maioria já tinha ido embora e estávamos nós! – o desespero tomava conta daquelas pessoas que viam as chamas a devorarem parte dos esforços que tinham feito durante anos e anos. Um dos armazéns estava a ser destruído pelas chamas que não tinham dó nem piedade. Javi estava desnorteado com aquilo tudo e pensava na sorte que acabava de ter por conseguir escapar ileso daquele acidente. Pensou que se tivesse acontecido minutos antes podia estar neste momento encurralado pelas chamas. Abanou a cabeça afastando os seus pensamentos disso. Começou por olhar em sua volta e olhou bem para cada pessoa que estava ali. Notou que algo não estava bem…faltava algo ali. Tentou novamente deixar de pensar nisso mas estava a sentir-se incomodado com tais pensamentos. Ele tinha a certeza que faltava algo, ou melhor…alguém. Assim que viu uma das funcionarias, a Lara, apressou-se a correr até junto dela. Lara estava transtornada e a tentar-se controlar do pânico que a assolava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- A Isabel? – disparou de imediato Javi.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- A Isabel…? Não sei…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ela não estava contigo?! Eu vi que antes de sair tu estavas ao pé dela! – ele começou a exaltar-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas ela foi deixar os cartões na arrecadação! – um silencio imperou neles assim que se aperceberam. Os olhos de Lara eram de total agonia e pânico – joder! A Isabel! – ela gritara ao se aperceber que Isabel encontrava-se possivelmente em perigo, pois a arrecadação ficava ao pé do armazém que ardia. Ela não estava ali. Não haviam sinais dela… - A Isabel está lá dentro!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-41838365237034677822014-01-16T15:34:00.000-08:002014-03-04T12:56:00.940-08:00Capitulo 6<div style="text-align: justify;">
Eram seis horas em ponto quando parei a mota em frente à associação. Não era de todo o meu desejo de ficar a noite inteira a andar pelas ruas distribuindo comida aos necessitados. Não que tivesse algo contra eles. Não tinha…até gosto de ver as pessoas a mostrarem solidariedade com essas pessoas mas eu? De todo era a pessoa indicada para isso. Agora já não me restava mais nada a não ser esperar que estes três meses passassem a voar para puder a ter a minha rotina de volta. </div>
<div style="text-align: justify;">
Acabei por entrar pela porta principal e encontrei uma senhora sentada na secretaria a olhar fixamente para o amontoado de folhas que tinha na sua frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes… - assim que falei ela olhara-me.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas tardes…deseja alguma coisa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, queria falar com a Doutora Carla Ortiz se fosse possível!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas para que efeito?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sou Javier Martinez, aluno da universidade de Múrcia e estou a fazer voluntariado nesta instituição…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, sim eu já me recordo…aguarde só uns minutos que vou anunciar a sua chegada! – depois de ser presenciado com a sua simpatia, acabei por me sentar num dos sofás à espera que alguém me atendesse. Não foi preciso mais do que cinco minutos para aparecer uma mulher de estatura baixa, com uns cabelos loiros encaracolados e uma pela bem branca. Acabei por me levantar ao me aperceber que se aproximava de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola Javier! Eu sou a Carla, a directora desta instituição. Muito prazer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o prazer é meu! – acabei por responder </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a sua professora dera-me a indicação que esteve doente estes dias e que por isso não viera mas não faz mal, só hoje é que vamos começar a nossa tarefa! – doente? Não sabia que estivera doente…mas é bom saber que acreditara numa mentira que nem tinha sido eu a dizer – vamos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, vamos – acabei por a seguir e, numa visita apressada, deu-me a conhecer alguns locais daquele lugar. Depois disso, fomos até ao edifício ao lado. Ao ler a placa que estava colocada junto à porta consegui perceber que estávamos na cantina. Era um lugar bem amplo, com mesas espalhadas por todo o sitio e pude ver a cozinha e o local onde se servia as refeições. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- aqui é a cantina, o local onde às quartas, segundas e sextas servimos as refeições. Normalmente são as pessoas que não têm possibilidade de confeccionarem as suas próprias refeições que se deslocam até aqui! Abre a partir das sete e meia e fecha por volta das nove horas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quer dizer que hoje iremos embora mais cedo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…hoje ficas por pouco tempo. É o tempo de arrumar as mesas, limpar o chão, ou seja, dar uma limpeza a este sitio! Mas vai-te habituando que aqui toda a gente trabalha em todo o serviço. Mas como tu só chegaste hoje irás estar a servir as refeições e depois ajudas na limpeza.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…vale!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agora, junta-te à tua colega, a Isabel que está ali ao fundo a pôr as mesas prontas! Perguntas-lhe como se faz que ela já sabe – apenas acenei com a cabeça ao mira-la ao fundo da sala a colocar os pratos de uma forma bem atenta – mais alguma coisa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo bem…então, bom trabalho! – ela acabou por sair da minha beira e eu, tal como ela mandara, fui para junto dela a fim de saber como tinha de colocar as mesas. Antes, tirei o meu casaco colocando-o no cabide. Cheguei ao pé dela e senti que nem pela minha presença acabava de dar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- preciso que me digas como se põe as mesas – notei que ela se tinha assustado um pouco com a minha voz mas mesmo assim não se atrevera a olhar-me. Ainda fiquei a vê-la a acabar de colocar os talheres direitos para, de seguida, parasse o que estava a fazer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- colocas três pratos de cada lado, os talheres e os guardanapos. Podes fazer daquele lado que deste eu acabo. As coisas estão em cima daquele armário – ela gesticulava sempre sem olhar para mim. No fim, virou-me costas e continuou a fazer o seu serviço. Acabei por estranhar…nem um hola cabrón? Um andate à lá mierda? Consigo dizer que era a primeira vez que falávamos sem haver uma troca acesa de palavras. Acabei por desviar-me destes pensamentos e começar a trabalhar. Sei que o tempo que se seguiu nenhum de nós trocou uma palavra. Ela evitava-me a todo o custo e uma simples aproximação fazia com que ela se afastasse de imediato ou sentisse medo. Eu sabia bem o motivo disso e que no fundo, eu tinha exagerado. Não sou homem de bater em mulheres nem muito menos de fazer o pouco que lhe fiz mas ela não tinha a noção do quanto me conseguiu tirar do serio, o quanto tinha mexido comigo. Ela nem sequer imagina o quanto a minha vida está ou aquilo que passei. De mim…ela nada sabe. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente aquela primeira noite de serviço comunitário tinha acabado. Nunca pensara que ajudar os outros cansava assim tanto e que me sentiria com os meus pés totalmente escalfados. Nem mesmo estar nas corridas me fazia sentir tão roto. Estava numa das salinhas a vestir o meu casaco e, quando me viro para trás, dou de caras com alguém a aproximar-se rápido de mim. Assim que pus os olhos nela, percebi que era Isabel. Assim que se apercebera que estava mesmo na sua frente fez questão, de num pulo, contornar-me, pegar nas suas coisas e sair dali a correr. Acabei por ficar estático a olhar para a porta. Nem sabia o que pensar…aquela cena tinha sido tão bizarra que deixou-me, pelas poucas vezes, sem palavras. Metia assim tanto medo? Por momentos pensei que ela tivesse medo que voltasse a empurra-la. Ou será que tem? Acabei por abanar a cabeça e sair dali. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mal cheguei cá fora, caminhei até à minha moto, sentei-me nela e acabei por pegar num dos cigarros que trazia dentro da caixa. Já há muito que não fumava e naquele momento era algo que precisava. Enquanto degustava o sabor da nicotina a entranhar-se confortavelmente pelas minhas narinas, apercebi-me de algo que estava bem a escassos metros de mim. Fiquei a mira-la completamente brava a tentar ligar o carro. Acabei por dar as ultimas passas e mandar o cigarro para o chão, e olhei novamente. Agora estava fora do carro, abrindo o capô e a tentar perceber alguma coisa. Confesso que estava curioso para ver como ela conseguiria desenrascar-se naquele momento. Bem…ela já me dera uma abada no bilhar, provavelmente também teria as suas habilidades na mecânica. Estava a colocar o capacete quando fui me apercebendo que ela não estava a dar conta do recado. Voltei a colocar o capacete no sitio, liguei a mota e dirigi-me até junto dela. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- precisas de ajuda? – notei que ela fazia questão de me ignorar. Via-a entrar no carro e tentar ligar o carro mas sem sucesso. Acabei por descer da mota e juntei-me perto do carro a tentar ver o que poderia estar mal. Não precisei mais do escassos segundos para a ter ao meu lado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que estás aqui a fazer?! – gritou-me</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é sempre bom voltar a ouvir a tua voz! – gracejei enquanto verificava o medidor do óleo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sai daqui! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o teu carro não pega, não estás a dar conta do recado…acho que não é hora de me mandares embora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não quero a tua ajuda – depois de verificar que os níveis de óleo do carro estavam bons e mesmo da agua, voltei a olha-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- provavelmente bateria do teu carro foi abaixo… - ela não me deixara acabar interpondo a sua voz muito mais acima da minha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- SAI! – Voltou a gritar-me – não quero a porra da tua ajuda, afasta-te de mim!!! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hei, só te quero ajudar, não vou propriamente roubar-te o carro ou o quer que seja!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- De ti não duvido de nada. Para quem me manda contra a parede é capaz de fazer tudo e mais alguma coisa! – Atirou-me à cara mostrando a sua face de quem estava completamente enraivecida pelo que fizera. Eu sabia que tinha trespassado os meus limites em fazer o que fiz, sabia bem disso…mas também não iria demonstrar isso mesmo. Jamais o faria. A mim ela não era nada, não passava de uma miúda mimada, egocêntrica, que achava que conseguia dominar tudo à sua volta com aquele feitio de durona. Portanto, não lhe iria pedir desculpas. Não tinha essa obrigação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se tu não me tivesses provocado nada disso teria acontecido!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agora a culpa é minha?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu provocas, admite! Tu gostas de testar o limite das outras pessoas, deves pensar que todos têm a mesma paciência para levar contigo! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu é que começaste! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas foste tu que viraste café a escaldar em cima de mim, se estamos aqui é por culpa toda e exclusiva tua! Porque achas que tudo tem de ser feito à tua maneira – agora estávamos de frente um para o outro – tens essa mania insuportável de nariz empinado, aquela que chega e pensa que o mundo é todo dela, que estala os dedos e tem tudo ao seu dispor mas tu não passas de uma egocêntrica, mimada, de uma otária! – dito isto eu só consigo sentir a sua mão a bater fortemente sobre a minha face. Sentia-a arder mas isso só me acabara de me deixar ainda mais furioso – isso bate! Vá lá, bate à vontade! Faz-te de forte! Faz-te daquilo que não és! – sentia-a a tremer completamente. Já nem conseguia distinguir se era de raiva ou de medo. Se as minhas palavras estavam a surtir efeito em si ou simplesmente se controlava para não partir para cima de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- és um nojo! Não passas mesmo de um fraco, de uma peste! Sabes o que te desejo? Que sofras bem! Digo e volto a repetir, tu és uma merda, não vales nada! A melhor parte do meu dia é quando me relembro que daqui a uns meses estarei bem longe daqui e nunca mais na minha vida terei de olhar para a tua cara! – ela gritava-me completamente descontrolada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem. Tu és só mais uma que passa na minha e que infelizmente não consigo tirar-te do meu caminho! – falei com todo o meu desprezo. Não poupei nem um pouco no escarnio com que lhe falava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- te odio, coño! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem que o sentimento é reciproco – dito isto virei-lhe costas, sentando-me na mota e sair dali a grande velocidade. Deixei-a sozinha e pouco me importei com isso. Aliás o meu maior erro foi querer ser piedoso e tentar ajudar uma pessoa que de nada merecia o meu esforço. Lembrei-me que, da ultima vez que tentei mostrar a minha compaixão, também me haveria arrependido. com isto só chego a uma única conclusão. Não vale a pena ser algo que no fundo não somos e nem o queremos ser, ou então tentarmos sê-lo com as pessoas certas. E sabia que ela não era a pessoa certa. Pessoas que queiram chamar a atenção não me atraem minimamente e sabia bem o quanto ela gostava de o fazer. Aliás, já me teriam dado esse aviso. Acabei por sorrir… não deixava de ser um pouco irónico estes nossos encontros e deparar-me com uma pessoa que incrivelmente se cruzava constantemente no meu caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Novamente, não sei como consegui chegar a casa inteira. Sentia o meu corpo a tremer completamente…como eu o odiava! Coño, que cabrón! Ele tinha uma capacidade tremenda de me tirar do sério e levar-me aos infinitos e à vontade de querer cometar alguma loucura. Assim que cheguei ao meu quarto, bati a porta e depressa fui ao quarto de banho, ligar o chuveiro e enfiar-me lá dentro com a agua a escaldar. Precisava de esquecer estes momentos, de o tentar esquecer…do quanto ele conseguia de uma certa forma revolucionar a minha vida da pior forma. Como era possível uma pessoa ser assim? tão medonha…ele conseguia ser mau. Olhava naquele olhar o profundo vazio que se instaurava. Seria sempre assim? com pessoas tão boas a sofrer, porque não sofria ele? Merecia-o. De todo! Merecia sofrer! Que odío, que asco…acabava mesmo por odiar a mim mesma por perder-me em pensamentos por causa de uma pessoa que odiava profundamente. Acabei por sair da casa da banho enrolada no meu roupão. Assim que entrei no quarto deparei-me com a minha avó sentada na cama.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hola abuela…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás melhor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu? Sim…estou – estava um pouco confusa – mas porque me pergunta isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já é a segunda noite em que chegas a casa completamente desnorteada e que mal paras na sala e enfias-te aqui dentro. Tenho motivos para ficar alarmada…estou certa? – perguntou-me sabiamente. Acabei por suspirar e sentar-me do seu lado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- avó…é possível existir pessoas tão más? Que só sabem ver o mal nas outras pessoas ou simplesmente…você olha nelas e não consegue ver nenhum bem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- com assim querida?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que torna as pessoas violentas? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel…muita coisa pode tornar as pessoas assim. ninguém nasce violento ou com vontade de fazer mal. Normalmente se assim se tornam é porque algo nas vidas deles o obrigaram a ser. Porque algo foi incutido nessas pessoas que os fizeram ser assim…mas o que se passa? Alguém fez-te mal? – perguntou-me de imediato, com o seu olhar preocupado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não…quer dizer… - acabei por respirar fundo – mais ou menos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que se passa contigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh avó…nem eu sei explicar! Ele…desde que ele se cruzou comigo que parece que tudo me acontece de errado. Eu não queria estar a sofrer de um castigo quando eu não sou assim…você sabe! Mas ele provoca-me, tira-me tanto do sério!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás a falar do rapaz que te envolveste?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh avó não fale nesses termos! – disse exaltada – jamais me envolveria com um asco como ele… - ela sorriu </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, o Javi…é dele que estás a falar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, é dele. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- acha-o violento?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- boa pessoa ele não é! – acabei por ripostar – ele tem atitudes reprovadoras, estupidas, mesquinhas! Ele é mau, avó! Nem imagina o quanto ele consegue ser manipulador, estupido, um verdadeiro…asco! Não gosto nada dele! Mas o pior é que inevitavelmente ele não para de se cruzar no meu caminho. E sempre que nos cruzamos é inevitável não haver faísca! – o olhar da minha avó era um pouco indecifrável. Olhava-me atentamente quase à procura de tentar analisar bem o que acabara de dizer. Acabou por abanar a cabeça enquanto me olhava com aquele seu sorriso tão característico e que acabava sempre por lhe dar um ar tão jovial. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o Javi não é má pessoa… - acabou por dizer, deixando-me estupefacta. Mas será que até a minha avó não conseguia dar-me razão? Era inacreditável! – não creio que ele seja mau como tu dizes. Não, ele não é…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- até você?! Até você acha que ele é boa pessoa?! – acabei por levantar – como é que todos vocês são capazes de dizer uma coisa dessas quando eu vejo o contrario? Serei a única a ver a verdade?! Joder, Avó ele não é boa pessoa! Não é. Vocês dizem isso porque não sabem tudo aquilo que já passei com ele!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel, senta-te – pediu sem perder o seu tom de voz calmo – anda lá…senta-te aqui, ao pé de mim – acabei por acarretar à sua ordem mesmo sem conseguir entender o porquê de a minha avó estar a dizer aquilo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- você está tão enganada…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ou então tu é que estás! Querida…eu sei bem quem é esse rapaz. Conheço-o desde que nascera e à família dele também. Acredita, ele não é essa pessoa toda que dizes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então eu é que estou a inventar coisas é? – disse irritada – ele é a santa pessoa eu é que sou a má da fita!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel, não fales assim! – tentou chamar-me à razão – eu não quero dizer que ele é uma pessoa com as atitudes mais compreensíveis, não é isso, e muito menos que tu és a má da fita. Eu conheço-te e sei ver bem que tipo de pessoa és. Só que estás aqui há dias, é normal que aches isso tudo dele. Cariño…ele já passou por muito, teve a sua dose de sofrimento e acho que possas estar a julga-lo da forma errada. Porque é que não tentas dar uma oportunidade de tentar conhecer um outro lado dele?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso é impossível! Completamente impossível! Lá porque ele sofreu, isso não lhe dá o direito de ser uma pessoa mesquinha. Não preciso de conhecer lado nenhum dele porque já vi o suficiente. Muito sinceramente, prefiro não saber mais nada dele! Eu não entendo….juro que não. É você, a Adriana e a própria Marisol que não param de o defender! Começo a ficar um pouco cansada quando nem as pessoas que mais gosto sabem compreender o meu lado. A Marisol…não me espanta mas agora você e a Adriana…chega. Isto é demais para mim! – acabei por me levantar e entrar novamente na casa de banho. Sentia-me chateada. Eu queria vir para Múrcia para puder mudar de ares, estar ao lado de quem mais gosto, puder usufruir de bons momentos mas está a acontecer tudo ao contrario. Nem a compreensão da minha avó consigo ter. porquê? Porque é que toda a gente o defende? No final, fico sempre vista como aquela rapariga incompreensível…que odio! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acabei por acordar um pouco cansada. Mais do que me havia deitado. Já para não falar na dor que sentia no meu ombro e que estava mais forte. Tudo graças aquele asco…respirei fundo. Ter estes pensamentos logo pela manhã deixa-me tremendamente maldisposta. Acabei por vestir umas calças de ganga escuras, a minha camisa preta e por fim o meu casaco de cabedal preto. Estiquei um pouco os meus cabelos e por fim, desci até à sala de jantar para tomar o pequeno-almoço. Estavam todos na mesa e reparei que tinha sido a ultima a descer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenos dias…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenos dias Isabel! – sentei-me no meu lugar habitual e olhei para a mesa. Nada do que ali estava me convencia e confesso que sentia pouca fome. Decidi-me pelo café amargo e umas torradas secas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só vais comer isso? – perguntava o meu avô</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…acordei sem fome nenhuma.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- fico impressionado com os hábitos que herdaste da tua avó e logo os piores! – acabei por sorrir perante a forma irónica com a qual ele falava. Olhei de relance para a minha avó e ela olhava-o de soslaio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é sempre bom saber que passado mais de cinquenta anos ainda consigas encontrar defeitos em mim! – pigarreou a minha avó. Ele sorria para ela de um jeito amável, sem nunca perder aquele brilho no olhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois bem, passei mais de cinquenta anos a incutir em ti o habito de tomar o pequeno-almoço algo que tu fazias sempre questão de evitar. Agora tenho a minha neta a seguir as tuas pisadas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- voçe fazia isso à avó porque é a sua esposa a mim não precisa de fazer… - refutei a meu favor</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espero que quando arranjares um marido ele também faça o mesmo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale…eu prefiro então que seja você a cuidar de mim! – respondi com um sorriso ternurento no meu rosto. Eu adorava quando ele cuidava de mim. Aquela figura paterna impunha um respeito soberbo já para não falar no carinho que me transpunha em cada palavra que me dizia. Eu amava o meu avô como se de um pai tratasse. Ele sabia bem como cuidar de mim…como me acarinhar ou até quando eu não estava bem, já sabia o que dizer. Adorava quando ficávamos horas e horas em frente à lareira e contava-me a sua história com a avó. fascina-me o amor deles…tão intenso, insano, tão arrebatador. E passado cinquenta anos eles conseguem amarem-se da mesma forma ou até mais. Conseguia ver isso pelo olhar que eles transpunham. Às vezes dava comigo a pensar se era possível amar da mesma forma como os meus avós se amam. Se um dia encontrarei alguém que consiga dar-me um pouco de amor que o meu avô lhe dava, se conseguirei amar sem sofrer. Eu sei que toda a gente sofre por amor e mesmo eles sofreram imenso para conseguirem ficar juntos mas eu não quero isso. Tenho pavor a sofrer uma desilusão de amor…não me sinto preparada. Nestes anos eu deixei de acreditar na possibilidade de ter o meu coração preenchido, sentir as ditas borboletas no estomago sempre que o via ou me beijava, perdi as esperanças de ter alguém do meu lado a desejar-me os bons dias, preparar-se surpresas ou simplesmente a dizer que eu conseguia ser a rapariga mais linda deste mundo mesmo que tivesse de mau humor ou acabasse de acordar. Simplesmente…tenho medo de me apaixonar e por isso é que me tornei na pessoa fria e racional que sou. Sinto-me incapaz de imaginar na construção de uma família, casar e passar anos junto de um homem. Como poderei pensar nisso se posso sofrer uma desilusão? Quem me garante que terei um amor eterno? Não me quero divorciar. Não quero ser traída e muito menos trair. Eu…só quero que me amem sinceramente e com todo o coração. Quero…mas ao mesmo tempo não quero. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel? – Acordei destes pensamentos com a voz da minha avó. Olhei-a e reparei no seu olhar que incidia sobre mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê avó?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o Juan veio perguntar se queres boleia para a universidade…o teu carro avariou novamente?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, sim se não se importar eu queria boleia. Ontem fiquei sem bateria no carro mas ela vai voltar a falhar. Tenho de levar para o mecânico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- novamente? O que se anda a passar com esse carro? Já é a segunda vez que vai ser arranjado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- alguém deve ter rogado uma praga, só pode…bem, me voy! Hasta! – acabei por me despedir dos meus avós e tios e, juntamente com os meus primos, fomos para o carro do Juan que nos levaria às aulas. Depois de deixarmos o Enrique no colégio, eu e o Francisco fomos para a faculdade. Ele era dois anos mais velho do que eu e apesar de jogar no clube de Múrcia e por vezes ser chamado à selecção, nunca prescindia dos estudos. Acabei por me despedir dele e entrar para o meu departamento. Previsivelmente, já estava atrasada para as aulas, o que não era de estranhar. O facto de a quinta ser um pouco deslocada do centro da cidade acabava sempre por ser chato. Ou atrasava-me para as aulas ou chegava a casa tardíssimo. Assim que abri a porta da sala reparei que a aula já tinha começado e todos os olhares ficaram centrados em mim. Apressei-me a sentar na mesa junto à Adriana, abri os livros e, enquanto tentava abri-los sem fazer muito barulho – tarefa essa totalmente complicada – um dos meus cadernos de farmacologia tinha caído ao chão. Preparava-me para apanha-lo mas senti uma dor nas costas que me obrigou a retrair-me.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi? – perguntou Adriana </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é o meu ombro…acho que acabei de dar outro jeito… - respondi desolada e com algumas dores.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- chegaste a ver isso? colocaste gelo ou tomaste um anti-inflamatório?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, fiz isso tudo! Mas agora que me baixei dei um jeito e sinto-me pior… aquele maldito cabrón…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mete cabrón nisso. Ele foi um grandessíssimo otário! – olhei para ela. Confesso que estava admirada pela sua reacção um pouco surpresa para o meu gosto. Adriana tinha sempre aquela réstia de esperança de me fazer ver que ele seria uma boa pessoa e que eu é que via as coisas de um modo exagerado – o que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nada…mas tu gostas sempre de o defender. Apenas estou admirada…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele exagerou, não deveria ter-te feito isso! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas ele ainda vai levar o troco…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Isabel! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu gostas de brincar com o fogo…depois não te venhas queixar que te queimaste – acabei por encolher os ombros e seguir o meu olhar centrando-o sobre a professora que falava atentamente a matéria. Acabamos por passar as restantes três horas dentro daquela sala mesmo que a vontade não fosse muita e o espírito de fazer muitas outras coisas estivessem a sobrepor-se nas nossas cabeças.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
***</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente, a aula tinha terminado. Sentia-me exausta só de estar sentada a ouvir a professora. A matéria era chata, não gostava daquilo e sentia falta de esticar as minhas pernas. Eu e a Isabel tínhamos sido das ultimas a sair da sala, estávamos a sair da porta quando a Bela me chama.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha quem está ali… - acabei por olhar na sua direcção pela qual apontava e encontrei o Eduardo encostado nos cacifos. Assim que me olhou, desencostou-se, caminhando na minha direcção. Tentei ignorar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E? vamos para aquele lado, não me quero cruzar com ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ui, o que é que se passou entre vocês? Ele deixou de ser fofo, foi? – inquiriu sempre sem deixar o seu sarcasmo de lado. Às vezes questionava o porquê de ela não ser uma pessoa normal. Nunca sabia até que ponto ela conseguia ser sincera ou sarcástica. Mas quando usava as duas coisas ao mesmo tempo era terrível. Apesar disso, eu gosto imenso dela. é como uma irmã para mim e nem imagino a minha vida sem ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espera Adriana! – ouvi-o a chamar-me. Tentei ignora-lo ao conversar sobre o nada, com a Bela. Não demorou muito para que ele, com cuidado, pegasse no meu braço – por favor, espera! – acabei por olha-lo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- precisas de alguma coisa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quero falar contigo. Por favor!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agora não dá. Estou ocupada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor, eu não demoro mais do que cinco minutos…por favor Adriana deixa falar contigo! – ele implorava-me. Sei que estava chateada com ele mas aquele olhar estava a aniquilar a minha vontade de não falar com ele. Porra, porque é que as coisas tinham sempre de ser complicadas? Porque é que ele não respeitava o que havia pedido? Assim ele não estava ali, a implorar para falar comigo, não me colocaria na situação de me ver irresistivelmente forçada a aceitar o seu pedido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens cinco minutos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gracias! – disse com um enorme sorriso naquele rosto. Porra, novamente aquele sorriso…</div>
Unknownnoreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-82569375202058614132014-01-10T07:05:00.001-08:002014-02-26T08:28:00.736-08:00Capitulo 5<div style="text-align: justify;">
O trânsito desta cidade é sempre um desafio para a minha sanidade. Um facto sobre mim é mesmo detestar a espera que cada um tem de suportar, no meio do engarrafamento, com este calor insuportável, já para não falar do tempo que perdemos. É em alturas como estas que ter uma mota torna tudo mais pratica. É pequena, rápida e pode espreitar cada frincha de modo a escapar às filas infernais que se formava naquela avenida. Eram quase cinco horas da tarde quando parei a mota em frente ao colégio. Ainda faltava cerca de dez minutos para o toque de saída e enquanto isso, fiquei a mirar a fachada daquele lugar. Continuava tudo igual, desde a fachada amarela que já não era pintada desde os meus tempos de liceu, o que já vai uns longos anos, ao portão esverdeado, o terraço onde se costuma jogar à bola sem falar que o porteiro ainda era o mesmo. Chegava a ter pena do senhor Iker que com os seus quase sessenta anos ainda conseguia, sabiamente, ter paciência para aturar tantas crianças juntas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente o toque se fazia soar. Não demorou mais do que dois segundos para a porta principal ser aberta e um amontoado de crianças, loucas, histéricas, aos empurrões, aos saltos, saíssem todos dali. De facto, a escola tornava-se num aborrecimento ao qual todos os alunos viviam ansiosamente o momento de regressarem as suas casas. Por ultimo, ali estava ela. Caminhava devagar com a mochila rosa aos ombros, os óculos castanhos a valorizarem aquele rosto branco e meigo. Hoje, trazia uma fita amarela a prender a trança comprida. Sabia que não tinha sido a minha mãe a escolher aquela roupa e muito menos a cor da fita a condizer com o uniforme. Por assim dizer, a Dona Roberta jamais perderia do seu tempo já imensamente curto para condizer as cores da roupa da sua filha mais nova. Todo o seu pouco tempo era conduzido para o local de trabalho que achara um verdadeiro inferno. Assim que chegara ao portão fiz questão de assobiar. Ela olhara-me e um sorriso aparecera no seu rosto. Correu apressadamente e alcancei-a, abraçando-a fortemente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- javi, vieste!! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois vim muñeca! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tinha saudades tuas mano! Ainda bem que me viste buscar à escola!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já viste a sorte que tens? Hoje vais de mota para casa e tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vou? Eu vou de mota para casa? – ela mostrara-se surpreendida – mas os pais proibiram-me de andar de mota contigo…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, estás a ver os pais aqui? Eu não! Anda…salta! – ajudei a Melissa a subir para a moto e coloquei a sua mochila no porta-bagagens. Sentei-me o assento depois de me certificar que ela tinha o capacete bem colocado. Depois disso, liguei a mota saindo daquele lugar. Sentia a minha irmã a retrair-se completamente e não consegui deixar de sorrir perante o medo que ela tinha de andar de mota. Apertava-se fortemente ao meu tronco e quase que arrancava a t-shirt fora perante a força que exercia. Acabei por parar a mota em frente a uma pastelaria que já conhecíamos bastante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque paraste aqui?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vamos lanchar…não queres?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que quero! – respondeu com um sorriso a iluminar-lhe o rosto – posso comer aqueles croissants com recheio de creme?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podes comer o que tu quiseres! – assim que entramos dentro da pastelaria sentamo-nos numa das mesas junto à janela. Não demorou muito para o empregado chegar ao pé de nós e fazer os pedidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como é que vai a escola?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vai bem…é uma seca! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas não gostas de estudar no colégio?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh….gosto – respondeu não parecendo muito satisfeita com o que dizia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gostas mas…? – ela olhava-me.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas não gosto de certas pessoas de lá! Gostam todas de se mostrar…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu és melhor do que elas todas! – A forma como acabara de falar fê-la gargalhar </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas e tu? Como anda a universidade? Quando é que te tornas fisioterapeuta?</div>
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<br /></div>
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- isso ainda demora um bocado! Mais dois anos e já acabo de estudar…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- uau, não vejo a hora de estar na universidade!! </div>
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<br /></div>
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- não tenhas pressas nisso Melissa! Mas…e de resto? Como é que anda o ambiente em casa?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é preciso responder? Tu é que tens sorte…vives sozinho, não tens de aturar os pais, fazes o que queres… - acabou por desabafar mostrando-se desiludida.</div>
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<br /></div>
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- mas sabes, não é fácil viver sozinho…também tem os seus inconvenientes.</div>
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<br /></div>
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- não vejo a hora de fazer dezoito anos e ir para uma universidade longe daqui! </div>
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<br /></div>
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- terás o teu tempo muñeca! Mas o que dizes de passar uns dias em minha casa?</div>
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<br /></div>
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- e posso? Isso seria altamente!! – sorri – adorava mesmo passar uns dias contigo, só que os pais não me vão deixar!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deixa os pais comigo que resolvo isso…o importante é que queiras-me aturar!</div>
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<br /></div>
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- boa! Já tenho saudades tuas Javi. Aquela casa sem ti já não é o mesmo… - acabei por sentir um ponta de revolta dentro de mim. A melissa é a única pessoa naquela família que me importo neste momento. É a minha irmã e sei o quanto ela precisa de carinho e o quanto os meus pais têm falhado nisso. Tento sempre que posso, estar com ela mas acaba por não ser fácil. Raramente coloco os pés na minha antiga casa, desde que aquele em que um dia apelidei de pai, me expulsou, pouco tempo passei ali. A minha mãe acabava sempre por ser um pouco submissa das ideias dele. Parecia que tinha medo de o enfrentar…no fundo, a minha vida acaba por ser uma merda quando apenas uma criança de doze anos é a única que sempre acreditou na minha inocência, sobre aquela noite do acidente. Parece irreal mas é verdade. </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Estacionei a mota em frente àquele casarão. Já se fazia um pouco tarde mas ela estava comigo, no fundo não haveria problema nisso. Ajudei a Melissa a descer da mota, peguei na sua mochila e toquei à campainha. Em questões de segundos a figura da minha mãe apareceu junto à porta. Por aquele olhar, sabia que coisa boa não iria dizer.</div>
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<br /></div>
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- já vou ficar de castigo… - notei o receio na voz da minha irmã por ter chegado a casa tarde.</div>
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<br /></div>
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- não te preocupes que não ficas nada!</div>
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<br /></div>
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- posso saber porque é que a tua irmã está a chegar a estas horas? – perguntou-me com a sua voz carregada de preocupação.</div>
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<br /></div>
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- hei, calma mãe. Fui busca-la à escola e fomos lanchar…ou já não tenho o direito de estar com a minha irmã? - ela respirou fundo.</div>
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<br /></div>
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- entrem! Os dois! – ela reforçou bem a parte onde também eu iria entrar – tenho uma conversa para ter contigo!</div>
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<br /></div>
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- eu não entro nessa casa…</div>
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<br /></div>
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- por favor Javier! Entra! – ordenou. Acabei por acarretar a sua ordem entrando naquela casa. Pude reparar no silencio que ali imperava – Melissa vai para o teu quarto! – acabei por piscar-lhe o olho e ela correu para os meus braços. Dei-lhe um beijo no seu rosto acabando por me despedir dela.</div>
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<br /></div>
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- posso saber o que quer comigo? </div>
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<br /></div>
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- isto! – ela pega num papel atirando-me contra o peito - andas metidos em sarilhos novamente Javier? – ela berrava-me. Sarilhos? Que sarilhos?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que sarilhos? O que é isto? – olhei para o papel e reparei que tinha o meu nome e inclusive a minha morada. No final tinha escrito um preço qualquer.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu não me mintas! Chega, tu prometeste que não irias andar metido em sarilhos Javier!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e não ando! Eu juro que não sei o que é isto!!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então explica-me porque tenho um homem, com uma aparência indesejável, a bater-me à porta e a pedir que tu pagues os prejuízos que fizeste?! Andaste a vandalizar carros Javi?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê? – eu cada vez mais ficava sem perceber o que ouvia da minha mãe.</div>
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<br /></div>
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- tu não me mintas! – ela estava cada vez mais furiosa comigo – houve uma rapariga que foi arranjar o carro que tu estragaste! E agora mandou-te pagar os prejuízos!! Por esse preço, tu deves ter dado cabo do carro da rapariga!! – foi preciso uns segundos, a olhar para a minha mãe, para fazer um clique em mim. Carro, prejuízo, rapariga…claro! Aquela perra, só podia ser ela! Como é que ela teve a ousadia de fazer uma coisa destas? </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ai ela vai-me pagar caro por isto! Ai vai, vai! - Praguejei em voz alta para maior desespero da minha mãe.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que é que tu vais fazer?! – não lhe respondi. Acabei por sair dali num passo rompante, subi para a mota carregando bem no pedal. Ela não me conhecia, de facto não. Quer guerra comigo? Então que se prepare…porque sou um osso bem duro de roer.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Ontem tinha sido o meu primeiro dia de voluntariado e tinha gostado bastante. Ficamos a conhecer uma percepção da realidade que desconhecíamos de todo mas o sentimento de gratidão, esse, é enorme. O único incomodo, não para mim de todo, foi o facto de aquele encosto não ter aparecido, novamente. Por um lado, adorava isso, não o ter por perto tornava-se um paraíso. Mas sei também que ele não tinha sido liberado o que acabava por ser bem claro a sua fuga ao “castigo”.</div>
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<br /></div>
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Tinha saído de casa e acabei por passar pelo apartamento da Adriana e dos rapazes pois tinha combinado dar-lhes boleia para a faculdade. Estava a chover e já se começava a notar o outono a querer impor-se com força. Apesar de ainda se sentir uma temperatura amena, a chuva acabava por ser forte, como em típicos dias invernosos. Estacionei o carro e não demorou muito para irmos à primeira aula. Estranhamente, tinha gostado. Acordei bem-disposta, tinha ficado bem interessada na matéria e sentia o meu dia a correr bem…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podíamos ir até à sala do aluno, que dizes? Aproveitar que até está vazia…</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, é uma boa ideia! Vê se os rapazes já saíram da aula e manda-os vir ter cá – acabei por me sentar numa das mesas a pronto de colocar os meus resumos em dia começando por separar a matéria.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eles já saíram. Dentro de minutos estão cá! – sei que o que acabara de acontecer, foi tudo em fracção de segundos. Tão depressa estava a olhar para a Adriana como a seguir, sinto alguém a dar um murro estrondoso na minha mesa. Acabei por soltar um grito perante o susto que ganhara. Olhei na minha frente e encontrei-o furioso. Acabou por bater novamente sobre a mesa mas desta vez com um papel junto.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que seja a puta da ultima vez que tu me faças isso estás a ouvir? – ameaçou-me ao mesmo tempo que berrava aos meus ouvidos. Acabei por me levantar ficando frente a frente com ele.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás louco ou quê?! – gritei-lhe também.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu é que estou louco? Eu? – ele acabou me amarrar o meu braço de um jeito violento e que me estava a magoar – tu queres o quê afinal?! mandares para minha casa uma conta para pagar?! Pensas que eu suporto as tuas birras é?! </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ai é disso que estás a falar?! Espero bem que tenhas pago cabrón! Pensas que o mundo gira à tua volta é? Desculpa desiludir-te mas não roda! </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- achas mesmo que paguei? – cada vez mais ele apertava-me com imensa força e agora amarrava-me pelos dois braços – aqui é que pago!!! – não sei se o fizera de propósito, não sei…só sei que dei por mim a ser abalroada contra a parede. Acabei por gritar perante o susto. O que é que tinha acabado de acontecer? Aquele cabrón de mierda tinha-me magoado. Odiava-o! Profundamente, eu odiava-o! E não demorou muito para ter os rapazes de volta dele a empurra-lo longe de mim. Senti os braços da Adriana de perto de mim mas não conseguia mover um único musculo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás louco Javi?! – berrava-lhe Eduardo. Ele olhava-me fixamente. E neste momento o olhar dele provocava-me nojo…tanto nojo! Ele acabara por desaparecer dali a correr mas eu não fiquei por ali. Corri também atrás dele mesmo tendo toda a gente a impedir-me de avançar. Não, ali eu não poderia ficar. Não quando ele acabara de me magoar e eu sentia uma repulsa e vontade de partir para cima dele. Assim que consegui alcança-lo junto à escadaria, fiz questão de o empurrar violentamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- és mesmo uma merda sabes? – gritei-lhe – metes-me nojo, és violento, és mau, és tudo aquilo que as pessoas dizem de ti!! Como é que és capaz de ser assim? Não tens pena das outras pessoas? Não sentes piedade? Compaixão? A violência para ti resume-se a tudo mas enganas-te! E nem sei como consegues ter amigos que te suportam, ou eles são bem ceguinhos ou então são mesmo da tua laia!! – não sei como tive coragem de virar-lhe costas não sem lhe espetar uma enorme bofetada. Corri novamente as escadas mas conseguia sentir os meus braços e um pouco das costas doridas. Estava danada! Aquele nojo provocava em mim uma repulsa tão grande que acabava por dizer ou fazer aquilo que não queria. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás bem? – perguntava-me Adriana assim que voltei novamente para a sala de aluno. Não lhe respondi. Apenas arrumei as minhas coisas e saí dali o mais rápido possível. E ainda penso como consegui chegar a casa inteira sem me esbarrar. Não parei um segundo, corri para o meu quarto acabando por bater forte a porta e dei por mim a escorregar pela parede parando no chão. </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas tu passaste-te da cabeça, foi?! – não foi preciso muito para ter o Eduardo a berrar-me aos ouvidos – tu bateste nela!!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não bati nela! – gritei-lhe</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mandaste-a contra a parede! vai dar ao mesmo! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ela teve a lata de me mandar a conta para a casa dos meus pais! Mas isto é assim?! Ela faz as coisas do modo que lhe apetece?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso não é justificação para o que fizeste! Passastes dos limites!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei! – gritei-lhe já farto de o ter a censurar-me – eu sei que exagerei, tá? Agora pára de me atirar com essas coisas à cara!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só acho que passaste um pouco dos limites. Tu não eras assim Javi…não eras! Não é esse o meu amigo de infância, o meu irmão que conheço e às vezes tenho pena do que te possa vir a acontecer! – Não lhe disse nada. Fiquei em silêncio e só consegui ouvir o bater da porta. Era suposto pensar em alguma coisa? Em sentir-me com remorsos? Achar-me a maior besta de sempre? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tu não eras assim Javi…não eras!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não…eu não era assim. conseguia ser uma pessoa normal e que até passava bem despercebido. Conseguia ser calmo e não era adepto da violência. Não era nada disso até eu ter perdido uma das pessoas mais importantes da minha vida e acharem que o culpado disso era eu. Quando no fundo, eu sabia bem quem causara a morte dele…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e que não tenha de voltar a avisa-lo! Desta vez eu deixo passar mas não pode faltar mais nenhum dia. Está de castigo e terá de o cumprir!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, professora…não voltará a acontecer – garanti sem estar minimamente interessado em ouvir o seu raspanete. Tudo me passava ao lado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- acho que é suficientemente crescido para assumir as suas responsabilidades, não é? Acho que não preciso de convocar os seus pais para uma reunião extraordinária – senti-me a retrair no momento em que referiu os meus pais. De todo, eu queria que eles voltassem a esta escola. Não queria ouvir mais da boca deles que a cada dia que passava eu era a maior desilusão da vida deles…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já disse professora, não será preciso fazer isso! Logo à noite eu irei sem falta à associação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- muito bem, gosto de ver essa atitude! E que aprenda alguma coisa, era muito bom para si! – notei a sua ponta de ironia. Depois de me lançar o seu típico e detestável sorriso forçado, despedi-me dela e saí a correr daquela sala. Estava farto de estar ali, de ouvir aquela gente a gritar, sorrir, correr, falar…neste momento tudo me irritava. Hoje tinha a tarde toda de aulas, acabei por entrar na sala e surpreendentemente não fui dos últimos a chegar. Vi o Eduardo sentado na sua habitual secretaria mas preferi sentar-me na última da fila. Assim que pousei os cadernos, a professora acabava de chegar. Não sei porquê mas naquele momento havia algo que persistia na minha mente. Algo que não saía da minha cabeça desde ontem. O momento em que empurrei a Isabel. E, só esse facto, já me estava a deixar suficientemente incomodado com isso.</div>
Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-87405635535316358662014-01-08T02:34:00.002-08:002014-02-12T05:07:11.201-08:00Capitulo 4<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Senti uma luz a bater na minha cara. Era algo forte e que me estava a fazer arder os meus olhos ainda fechados. Consegui também notar uma pequena brisa junto de mim e percebi que alguém estava por perto. Uma mistura de vozes assombrava a minha cabeça que ainda persistia em dormir mais um bocado. Sentia-me extremamente cansada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel? – alguém gritou aos meus ouvidos – despacha-te! Estamos atrasadas para as aulas! – consegui distinguir a voz da Adriana a assolar ali bem perto. Tentei abrir os olhos e deparei-me com uma brusquidão enorme ao me aperceber que a luz estava acesa. Ergui um pouco a cabeça e reparei que estava a dormir num quarto que não era meu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que horas são? – acabei por perguntar a Adriana que mais uma vez tinha parado no quarto. Agora estava a calçar as suas sapatilhas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- faltam dez minutos para as nove! Temos aula daqui a meia hora e um autocarro para apanhar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, calma. Tenho o meu carro…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas despacha-te! É aula de patologia e não podemos levar falta! – acabei por me levantar e reparei que não tinha uma muda de roupa. Acabei por passar a noite aqui, visto que já estava tarde para regressar à quinta. E, por falar em quinta, reparei que nem os meus avós eu avisado, que não dormiria em casa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Adriana, posso vestir uma roupa tua?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás à vontade! Menos o meu vestido azul!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por alma de quem é que usaria um vestido? – perguntei para mim mesma. Abri a porta do armário e em segundos, já tinha a roupa escolhida. Tentei dar um ar composto ao meu cabelo e mesmo à minha cara que estava particularmente horrível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não levas nada para comer pelo caminho? – perguntava-me Adriana ao ver que não levava nada para tomar o pequeno-almoço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não tenho fome! Depois como qualquer coisa… - saímos de casa a correr, entrando no carro e a acelerar para chegarmos à faculdade a tempo de não chegarmos atrasadas. Acabamos por ter uma pontinha de sorte ao apercebermos que a professora estava atrasada, deu tempo para pegar num café e bebe-lo à pressa antes de a aula começar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quer massa ou arroz com carne? – estávamos na cantina. Era a hora do almoço e naquele momento toda aquela sala estava repleta de alunos que pareciam esfomeados depois de horas enfiadas dentro de uma sala de aula. Uns tentavam, à socapa, meterem-se no meio da fila ou outros desistiam ao se aperceber do tamanho que estava tinha. Por sorte, tínhamos saído mais cedo da aula e conseguido um bom lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- massa por favor – depois de pegar no meu prato, tanto eu como Adriana encaminhamo-nos para a mesa. Ela sentara-se na minha frente e começamos a comer. Só de sentir aquela massa a assentar no meu estomago, senti de imediato uma colora a invadir-me.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi Bela?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda mal comi e já senti a massa a deixar-me maldisposta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- também, queres o quê? Não tomaste o pequeno-almoço e só tinhas um café no estômago! Normal que fiques maldisposta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu sabes que como pouco de manhã – naquele instante ergui o meu olhar e, sem saber como, foi parar na presença de alguém que acabara de chegar. O meu olhar prendeu-se sobre o dele, olhando-o com repulsa. Ainda me lembrava bastante da noite passada. O jogo, as suas insinuações, a presunção, arrogância, o risco no meu carro. A minha ira a ser descarregada nele. Apercebi-me que acabou por dar meia volta e sair dali novamente. Dei graças por isso mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não achas que exageraste um pouco, ontem? – perguntava Adriana ao se aperceber que o meu olhar incidia sobre o dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- exagerar em quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Bela…confessa que foste um bocado má. Tudo bem que ele provocou mas não merecia ouvir aquelas tuas ultimas palavras!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me arrependo de ter dito nada e se fosse preciso, voltava a repetir! E sabes que mais? Preciso de um favor teu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- meu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, teu! Já vi que agora andas muito amiga do Eduardo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, o Eduardo…que têm?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que tem é que ele é um dos amigos de infância daquele encosto e preciso de um favor dele e tu, como grande amiga que és, vais fazer o que te vou pedir! – ela olhara-me de um jeito um pouco amedrontado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- depende do que tu queres fazer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não é nada de especial! Apenas quero que tentes saber a morada do amiguinho dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para quê?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Adriana deixa-te de perguntas. Fazes-me esse favor? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque haveria de fazer? Se queres saber a morada dele, pergunta-lhe. É que até tenho medo de saber para que raio queres saber disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não o vou assaltar e muito menos viola-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- muito mais descansada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda lá, fazes-me esse favor? Confia em mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vou ver o que posso saber. Mas não prometo nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gracias guapa. Te quiero!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh sí, todos os dias! – gracejou. Acabamos de almoçar seguindo para mais uma aula. Hoje só sairia das aulas por volta das sete da tarde. Enfim, mais uma tarde bem enfadonha…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois de o Juan me abrir o portão estacionei o carro na garagem. Já estava noite escura e reparei nas luzes da cozinha ligadas. Conseguia ver a Pilar de volta do fogao a preparar o jantar. Acabei mesmo por entrar pela porta da cozinha e assisti ao pequeno grito que ela dará ao me ver ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches Pilar! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- menina Isabel, que susto! </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não esperava a minha chegada?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não reparei no seu carro a chegar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- os meus avós?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Estão na sala de jantar com os seus tios. Estão preocupados por não ter aparecido a casa para dormir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…não se preocupe com isso. Eles acalmam logo! – acabei por dar um beijo no rosto de Pilar e segui até à sala. Assim que o som dos meus sapatos de fizeram ouvir sobre a soada antiga daquela sala, os olhares deles pregaram-se em mim. Depressa senti os braços da pequena Alba a rodarem a minha cintura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Bela! Que bom, estás aqui!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois estou mi piqeña! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel, até que enfim que chegaste querida! – disse a minha avó. Sempre preocupada comigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como vê avó, aqui estou. Acabei por dormir no apartamento dos meus amigos…já estava tarde para seguir caminho até aqui. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podias ter ligado para nos avisar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- voçes já estavam a dormir e não queria acordar-vos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para a próxima vez avisas na mesma, nem que seja para deixar recado…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, avó não se preocupe… - olhei em meu redor e reparei na falta de alguém – onde está o avô?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- foi até à cidade com o Leonel fazer as compras para os jardins.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale! Vou tomar um banho, desço já… - subi as escadas e fui para o meu quarto. Apressei-me a tirar as botas que já me fazia doer os meus dedos, escolhi uma roupa e tomei banho. Aproveitei que ainda não estava o jantar pronto para ligar para Portugal e tentar falar com os meus pais. Fiquei meia hora ao telefone e ainda tive de aturar as crises da adolescência da minha irmã. Conseguia senti-los tão diferentes ao telefone. Seria possível que em dias eles pudessem mudar? Ou era as saudades a falarem mais alto? Apesar da minha relação difícil com a minha mãe ou mesmo ter uma irmã teenager, eu adorava-os e sentia imensa falta. Não só deles como dos colegas que deixei para trás. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- menina Isabel…posso? – ouvi a voz da Paula, uma das empregadas, a fazer-se ouvir por entre a porta. Assim que a vi, sorri-lhe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro Paula, entre! – não demorou mais do que escassos segundos para a ter dentro do meu quarto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o jantar já está pronto…os seus avós mandaram-me chama-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-claro, eu já vou! – assim que acabei de calçar as minhas sapatilhas, acabei por descer e sentar-me à mesa. Como o habitual em todas as noites, tínhamos a companhia dos meus tios e primos. A casa estava sempre cheia. Connosco vivia a minha tia Lorena e o tio Santiago, os primos Francisco, Enrique, a Marisol e a Alicia. Só o meu pai que estava em Portugal e a minha tia Catarina em Madrid, é que não estavam presentes. Os meus avós sempre tentaram nos incutir a importância da família estar junta e por isso, fizeram questão que sempre vivêssemos cá mas, apesar disso, adoravam viver também na casa deles, naquele refugio onde passavam boa parte do tempo. Apesar de ter crescido a ouvir que a minha família era unida, sabia bem que nem sempre era assim. Todas as famílias têm os seus elos fracos e esta não era excepção. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E o que estás a achar desta universidade? – perguntava-me a minha tia Lorena. Acho que de todos, ela era a que mais me entendia a par dos meus avós. Era uma mulher cheia de ganas, por vezes um pouco loca apesar de garantir que já amadurecera um pouco. Sem falar que tivera o meu primo Francisco com a minha idade e o pai dele a abandonara. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- boa…tem boas instalações, a turma é simpática, não me posso queixar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tirando a parte que já estás de castigo e nem há uma semana estás cá! – concluía, com um pouco de tom de censura, a Marisol. Olhei-a de soslaio. Era minha prima mas conseguia levar-me aos arames. Era mais velha do que eu dois anos, a estudar medicina e já se achava dona de si. Sei que no fundo, ela sente ciúmes por os meus avós serem mais apegados a mim, que sou adoptada, do que a ela, que é neta de sangue. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso não se voltará a repetir, não é Isabel? – o meu avô acabava sempre por me apaziguar. Aquele olhar sábio, doce, quente…deixava-me tão confortante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas afinal o que se passou?</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a Bela atirou com café quente a um rapaz lá da faculdade, ao Javi!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como é que tu sabes disso? – perguntei admirada. Enrique ainda tinha quinze anos e nem andava na faculdade. Nem queria imaginar como soubera disso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Bela, isso já é novidade do mês! Já para não falar que o acontecimento do século foi a partida de bilhar que ganhastes ontem ao Javi!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu agora andas a par de tudo o que faço?! – perguntei incrédula – e como é que tu o conheces?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Os rapazes do decimo segundo ano, são todos amigos do Javi porque moram no mesmo bairro que ele e hoje não se falava de outra coisa! E eles falavam bem de ti, da rapariga nova da universidade! – dizia com uma tranquilidade que acabava por me deixar incrédula. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quem é esse rapaz, o Javi? – acabou por perguntar a minha avó.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E um otário que anda lá na universidade! É o maior presunçoso que conheço, já para não falar na falta de caracter que tem…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o Javi é uma boa pessoa! – defendeu Marisol num tom juncoso que acabou por me assustar. Olhei-a e reparei no seu olhar intrigante, podia até dizer que se fosse preciso saltava-me ao pescoço – não fales dele assim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu estou a dizer aquilo que eu sei que ele é! Bastou-me três dias para conhecer a peça que ele é!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu não o conheces por isso é bom que não fales do Javi nesse tom!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdón se te magoei com as minhas ofensas! – ironizei – já deu para entender que temos aqui uma defensora dele e que por sinal, ficou bem ofendida!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, meninas, já chega! – tentou o meu avô, apaziguar os ânimos entre mim e a Marisol – estamos à mesa e não se discute.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa avô… - voltamos a retomar o jantar mas não me livrei de levar com os olhares insuportáveis da minha prima. Ela, era uma das razoes que me fazia sentir à parte daquela família. Sempre que pode, relembra-me que sou adoptada. Que não sou do mesmo sangue que eles. O que é que ela ganha com isso? Irritar-me? Colocar-me fora de mim? Querer dar-lhe um estado? Joder, que presunçosa! Agora sim, achava-a ideal para aquele encosto. Não me admira que o defenda…acabam os dois por serem iguais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje era sábado. Podia ser um dia para dormir até mais tarde, descansar ou até passear pela cidade, se não fosse a minha obrigação em cumprir o primeiro dia de três meses, de serviço comunitário. Tinha acabado de chegar à instituição, hoje seria apenas para apresentar-nos a casa e dar a conhecer o seu trabalho. Estava marcado para as nove horas da manhã e, assim que cheguei à recepção, notei que era a primeira a chegar. Acabei por me sentar à espera que alguém aparecesse e em questão de três minutos, uma senhora, que aparentava ter os seus quarenta anos, aparecera ali. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenos dias…é a Isabel García? – perguntou ao deparar com a minha presença.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, sou eu! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olá Isabel, eu sou a directora desta instituição, chamo-me Carla e é um prazer ter-te aqui para fazer voluntariado. Tinha a informação que vinha contigo outro colega, ainda não chegou?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…não sei eu não combinei com ele, não sei se está atrasado ou não…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum, vale. Vamos esperar mais um bocadinho para a chegada dele para depois vos apresentar a casa! Aceita um café?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, aceito – acabamos por nos encaminhar até ao bar e ficamos a conversar um pouco sobre as causas em que aquela instituição estava aficionada. Percebi que já tinha bastantes anos e que era muito conhecida, já para não falar nas causas nobres que já se associou, nomeadamente bailes, festas, feiras, tudo para puder angariar fundos de modo a que as ajudas chegassem a mais gente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bem, estou a ver que o teu colega não chega…se calhar é melhor começarmos nós porque também não me posso atrasar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, sem problema nenhum! – A visita à casa durou cerca de hora e meia. Não tinha a noção do quão grande aquilo era, de facto, só quem estava ali é que poderia ter a percepção da grandeza desta instituição. Saí dali e já era a hora do almoço. Fui até casa, passei uma boa parte com a minha família, acabei mesmo por ajudar a minha avó no seu roseiral e perdi a noção das horas, só mesmo quando recebi uma chamada da Adriana é que me apercebera que estava atrasada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sempre a mesma atrasada! – constatou Adriana assim que cheguei a casa deles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpem, eu na casa dos meus avós perco a noção das horas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já deu para reparar que sim…anda, preciso da tua ajuda para acabar o jantar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- boa noite rapazes! – desejei ao passar até à sala, onde eles estavam vidrados na playsation. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olá Bela! – acabei por me juntar à Adriana e pouco tempo acabamos por jantar. Conversávamos sobre tudo e sobre nada mas o tema que reinava, era sem duvida, os nossos planos para a semana seguinte. Tive de lhes dizer que à noite seria mais complicado pois teria de estar na instituição.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu gostava de ir a Barcelona…e pelo que vi não é assim tão longe daqui! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Barcelona é muito giro, eu adoro aquela cidade! – argumentei – podíamos passar um fim de semana, tínhamos mais tempo para conhecer a cidade e tudo…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso era uma boa ideia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- para quando é que marcamos? – perguntava o Renato </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podia ser num fim-de-semana em que o Real Madrid jogasse no campo Mou, era lindo ver um clássico!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pelo que ouvi do meu avô, no outro dia, o clássico calhava no primeiro fim-de-semana de Novembro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- fica para essa altura?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, fica! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ok, eu vou tratar de arranjar os bilhetes e saber um bom sitio para passarmos a noite – disponibilizei a ajuda em tratar disso já prevendo que o meu avô conseguisse arranjar bilhetes para todos nós e já conhecia muito bem Barcelona. O resto da noite foi passada entre conversas animadas, brincadeiras, aproveitamos para disfrutar de umas boas partidas playstation havendo também tempo para vermos um filme desfrutando das pipocas caseiras. E, mais uma vez, acabei por pernoitar ali mas sem antes me esquecer de avisar os meus avós. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquela semana tinha passado muito rápido. Hoje já era novamente segunda-feira e mais um dia de aulas e sem me esquecer do voluntariado. Isto significava que chegaria a casa tarde e a parte da manhã do dia seguinte seria para dormir um pouco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- aqui tens! – assim que senti a presença da Adriana perto de mim, acabei por tirar as atenções sobre a matéria centrando-me na sua figura – esta é a morada dos pais dele…que por acaso são vizinhos do Eduardo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…muchas gracias! – rejubilei enquanto pegava no papel guardando-o no meio dos livros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha lá o que é que tu pretendes fazer com isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas tu não confias em mim? Já disse que não vou assaltar a casa a meio da noite e nem tão pouco o vou violar! – senti a Adriana a desfazer-se em gargalhadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha que era algo tentador…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tentador?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim. Violares o Javi! Ele até bem jeitoso, tem ar de machão, ar de quem tem pujança… - eu olhava-a incrédula – o que foi? Vais dizer que nunca reparaste nisso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh sim Bela! Conta-me histórias…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas tu achas que perderia o meu tempo a reparar na beleza dele?! Joder, que asco…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vocês até faziam um belo par! Sois os dois impulsivos e tiveram um primeiro encontro bem escaldante! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas tu quando acordaste bateste com a cabeça na cama foi?! – gritei-lhe – cala-te Adriana!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ok, ok….já parei! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- lá por estares muito amiguinha do Eduardo não quer dizer que tenha de seguir as tuas pisadas e ser amiga daquele encosto. Só de imaginar isso já sinto repulsa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh não sejas assim…o Eduardo é um rapaz muito simpático, querido, bem mais calmo que o Javi…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- afinal de que curso é o Eduardo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Direito!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…pensei que também fosse do mesmo curso que aquela escumalha toda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, não fales assim dele! – imperou – tudo bem que não gostes do Javi mas o Eduardo não é o Javi sim? Pára de achares que todos os amigos dele são violentos! E se queres que seja sincera, estás a ser tremendamente injusta com ele. Já estive com o Javi e não parece ser nem metade daquilo que tu o pintas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro! – alterei o meu tom de voz – a culpa é toda minha! Eu é que provoco, eu é que sou louca e atiro-lhe com café porque me apetece, porque se calhar eu é que ando a riscar os carros das outras pessoas e tudo! Joder Adriana, estás a ficar apaixonada por ele e depois não digas que não te avisei! – dito isto acabo por pegar nas minhas coisas saindo do refeitório. Aquela conversa tinha-me deixado tremendamente maldisposta, odiava discutir com a Adriana mas por vezes tornava-se demasiado ingénua e apaixonada. Para ela tudo era perfeito. Acabei mesmo por regressar à sala de aula e ficar ali até ao toque de entrada. Sentia a Adriana a sentar-se do meu lado mas preferi não tocar uma única palavra até ao final da aula.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Parei o meu carro assim que cheguei ao local da morada que me haviam dado. Ficava num sitio pouco iluminado e percebi que era ali o mecânico pelos carros desmontados que tinham na entrada. Estacionei bem na frente, sai do carro e apressei-me a entrar. Encontrei um senhor moreno, com um fato cinzento, um lenço na cabeça e que cantava um pouco desajeitadamente ao som dos pink floyd. Pigarrei um pouco a minha garganta e só quando bati com um pouco de força sobre o capô de um dos carros é que a minha presença foi notada. Ele olhara-me atentamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- precisa de alguma coisa? – perguntou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpe? – de facto não o conseguia ouvir visto que a musica estava um pouco alta – não o consigo ouvir! – gritei. Segundos depois, ele apercebera-se que não o estava a entender devido ao som alto da musica. Apressou-se a desliga-la para voltar a olhar para mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpe, sabe como é, com um trabalho destes só com a musica nas alturas! – tentou gracejar – mas veio aqui porquê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quero arranjar o meu carro, aquele que está ali – respondi apontando para ele </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- qual é o problema? – perguntou enquanto se encaminhava para junto do carro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho este arranha na parte traseira! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hum…isso ainda dá um pouco de trabalho…terei de lixar para que não se note as arranhuras, tirar a tinta, colocar novamente uma nova tinta, sem falar no brilho final…não vai ficar muito barato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quanto?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ui, isso? Entre os 200 e 300 euros…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vale, não importa o preço. Quero é que arranje e que fique direito! Ah e se fosse possível o mais rápido que pudesse. Eu preciso do carro…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- dois, três dias é que fica pronto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tanto tempo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já viu como tem o carro?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder… . bufei – tudo bem, três dias no máximo e venho cá buscar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como a senhorita quiser! Mas sobre o pagamento fá-lo agora ou quando vier busca-lo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- façamos o seguinte…mande o pagamento para esta morada. O responsável pelo pagamento não sou eu mas não se preocupe, tem a minha fiel palavra como essa pessoa pagará os prejuízos causados! – tirei o papel que tinha dentro do bolso, acabando por atirar para cima do capô. Reparei que o homem olhava atentamente para a morada que acabara de lhe dar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Javier Costa Martinez</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Rua baron de trovisquera, puerta nº 15</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Múrcia</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e o que eu vou dizer para me dar o dinheiro?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- diga-lhe que tem de pagar os prejuízos que causou com a sua mota a um carro de uma rapariga! Ele lembrar-se-á logo do acontecimento. Me voy, um resto de uma boa tarde!</div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-45774056310853246452013-12-20T05:49:00.002-08:002014-01-31T07:42:32.800-08:00Capitulo 3<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim que saí da secretaria caminhei para a zona do bar. Tinha recebido uma mensagem da Adriana para ter lá. Encontrei-a juntamente com os rapazes, aproveitei para tirar uma cadeira da mesa ao lado e juntar-me a eles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então, como correu? – perguntou de imediato Renato</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- preferia que não tivesse corrido! – resmunguei – tenho de prestar serviço comunitário a distribuir alimentos e roupas para os mendigos e prestar caridade à restante comunidade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podia ser pior! Mas olha, até é uma área bem interessante e tu como futura enfermeira isso pode-se interessar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podia ser pior? O problema não é o serviço que tenho de prestar mas sim ter que levar com aquele encosto!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, já percebi….tu e o Javi vão prestar serviço comunitário juntos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, esse daí…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele é da nossa turma e não é má pessoa…acho que as pessoas o pintam por demais – revirei os olhos. Não queria acreditar que ouvia aquilo do Ricardo. Ele não era boa pessoa. Não era e ponto final. Disso eu tinha certezas absolutas como me chamar Isabel Maria – não me olhes assim, é verdade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro, no final eu é que fui a louca que virou café nele porque me apeteceu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu não tens um feitio fácil, admite! Vocês faiscaram logo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podemos parar com esta conversa? Acho que já estou mal disposta o suficiente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo bem…mudando de assunto, jantamos logo todos juntos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por mim pode ser. Amanha só temos aulas da parte da tarde – respondeu Adriana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- têm algum sitio em especial? Se for preciso, eu conheço alguns restaurantes muito bons para irmos – prontifiquei-me a disponibilizar os meus conhecimentos dos sítios que já conhecia da minha terra natal. Sim, apesar de nunca ter vivido cá, é aqui, neste lugar, que as minhas raízes estão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tivemos a sugestão de um que é super bacano e a maioria do pessoal da nossa turma costuma ir até lá. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então fica para aí!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- saímos às sete da tarde. Marcamos às oito e meia?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode ser! – ficamos mais um pouco a conversar. Confesso que consegui abstrair-me do pequeno problema que tinha em mente. Não, pequeno de nada tinha. Era um grande problema e que me estava a incomodar bastante. Só não sabia o porquê disso…a campainha tocou e fomos para a aula. Mais uma hora e meia sobre competências da comunicação e iriamos almoçar. Confesso que já sentia bastante fome e nem me apercebera que nem o pequeno-almoço tomara.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sabia que estava atrasada. Já eram quase nove horas da noite quando estacionei o carro em frente ao restaurante. Não dei pelas horas a passar, era o que fazia estar completamente rendida aos encantos da recém-chegada da família, a pequena Alba. Entrei pelo restaurante a avistei ao longe, numa mesa junto da janela, os meus amigos. Eles acenaram-me e apressei-me a juntar-me a eles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpem, eu sei que me atrasei mas a minha prima estava lá em casa e de lá até aqui ainda é um bom esticão…desculpem!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não faz mal, já fizemos os pedidos e ainda estamos à espera. Pedi paella para ti, pode ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pode, na boa! – enquanto a comida não chegava, conversávamos sobre o nosso segundo dia de aula. Era algo diferente e eles sentiam isso. Apesar de ter dupla nacionalidade, também sentia alguma retenção. Passei os meus vinte anos em Portugal e completamente habituada e rendida aos costumes de lá. Sei que só a parte da minha avó é de raízes lusitanas mas sinto-me mais portuguesa do que espanhola. Talvez porque foi em Portugal que vivi, ou melhor, eu sou portuguesa. Eu simplesmente fui abandonada pela minha família biológica numa porta de um hospital com três anos. No fundo, não posso dizer que parte de mim é espanhola, quando não é. Por mais que os meus pais, Pedro e Marina, me digam que a minha família são eles, sinto que não é. Nem posso admitir tal coisa. Eu não nasci dela. Eu não tenho antepassados e muito menos genes espanhóis. No fundo, sou uma pessoa sem antepassados que fora largada como se se tratasse de uma jangada. Tive a imensa sorte de ter um homem como o meu pai, que me encontrou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, ouviste o que falei? – Despertei com a voz da Adriana. Olhei-a e apercebi-me que a comida acabava de chegar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, desculpa…o que dissestes mesmo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha só para a mesa do lado e repara em quem chegou! – assim o fiz. Arrependi-me de imediato. Respirei fundo e pensei para mim mesma, sobre a capacidade alucinante que o destino tinha de colocar aquele anormal no mesmo sitio que eu. Ele estava junto de mais uns colegas. Conheci alguns. Claro, metade deles estavam junto quando tive o infeliz prazer em ter aquele encontrão com ele. Montón de estúpidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- começo a achar Múrcia demasiado pequena… - praguejei</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vê lá se desta vez te controlas e não fazes nenhuma estupidez!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei me controlar. Só não gosto que me descontrolem… - começamos a jantar e desliguei-me um pouco da companhia que tínhamos. Mas foi sol de pouca dura. Praguejei pelo facto de ter dois amigos que eram colegas de turma daquele grupo. Não demorou muito para que dessem pela nossa presença. O problema não era ter medo ou muito menos receio que eles fizessem chacota de mim pelo que fiz ao outro presunçoso. Simplesmente não queria atura-los. Tarefa essa completamente impossível…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenas noches gente! – não sei quem era aquele rapaz mas depressa me apercebi que era colega de turma dos rapazes. Não era muito alto, talvez fosse da minha altura mas não dava para perceber bem. Tinha uma tatuagem no braço, era enorme, um símbolo de um escorpião. Reparei no seu olhar…tinha uns olhos verdes fascinantes mas que ficava tão ofuscado pelo facto de ter uma aparência questionável. Aqueles piercings, tatuagens, roupas largas, dava-lhe ar de delinquente. Será mesmo que era? No fundo não parecia. Acaba por ser impressionante a forma como a aparência das pessoas nos fazem enganar a seu respeito. O que é que as tornava assim? Será tudo vontade de quererem mostrar algo que não são?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- boa noite! Então como é que estão? Não se querem juntar a nós?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada mas temos ali uns amigos que já não vemos há bastante tempo…mas porque não se juntam para uma partida de bilhar? Nos fundos tem um salão de jogos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha…pode ser!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro! – aceitou Renato. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então apareçam! – não demorou mais do que alguns segundos para o tal rapaz se voltar a sentar na mesa. Reparei que ele olhava-nos…tinha um olhar intrigante. Provavelmente, ele seria a pessoa mais enganadora que já havia conhecido. Era presunçoso, arrogante, achava que o mundo girava a seus pés. Ele sim, era aquele que queria mostrar algo que não era. Com um aspecto de badboy, camisa preta e umas jeans escuras. Casaco de cabedal, cabelo em forma de crista e até parecia que conseguia sentir o cheiro do seu perfume. Apesar disso, mostrava um olhar…sofredor? Reparara nisso enquanto saboreava mais um gole de cerveja. Apesar de sorrir, algo nele era misterioso e fitava de um jeito vazio aquele copo já gasto. Ele olhara-me…desviei o olhar nesse mesmo momento e centrei-me no prato que tinha à minha frente. Não sei porquê mas fiquei com uma sensação completamente esquisita. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- têm a certeza que não querem ficar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…amanha nós temos aulas de manhã, não somos como certos sortudos que só entram à tarde! – já estávamos no parque de estacionamento, eu e a Adriana tínhamos decidido regressar a casa enquanto que os rapazes ficariam para jogar a tal partida de bilhar com o outro grupo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo bem, vocês é que sabem! Encontramo-nos então na faculdade?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…até amanhã meninos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- até amanha. Qualquer coisa digam! – estávamos a caminhar para o sitio onde tinha estacionado o meu carro quando, ao olhar para o lugar dele, me deparo com um cenário improvável. E não era que tinha uma mota estacionada à frente do meu carro? Como é que o tirava dali? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas…quem foi que estacionou esta porcaria em frente ao meu carro?! – perguntei exaltada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e agora, como é que vamos sair?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei mas gostava de saber! – naquele instante, tanto o Ricardo como o Renato voltaram atrás ao se aperceberem do que se estava a passar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então meninas, o que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho uma mota em frente ao meu carro! Dá para acreditar nisto!?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esperem…essa mota é do Javi! – constatou o Renato</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- de quem? – eu olhei-os – não brinquem comigo! – comecei a bater com o pé sobre a calçada – até aqui aquele encosto me provoca?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não se preocupem eu vou até lá dentro e peço que ele tire a mota…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não te canses, eu própria encarrego-me disso! – virei costas e comecei a caminhar, novamente, para o restaurante. Reparei que poucas pessoas ainda residiam ali, e os poucos resistentes, estavam ao balcão. Perguntei onde ficava o salão de jogos e não hesitei em subir para o piso superior. Assim que abri a porta, precisei de parar, ou não tivesse sido inalada por aquele fumo sufocante. Aquilo era um suposto ser um salão de jogos ou uma sala de chuto? Estava rodeada só de rapazes. Pararam todos a olhar para mim. Foi ao mirar o fundo da sala que o encontrei. Estava a beber uma cerveja, a sorrir para os amigos, enquanto preparava os tacos do bilhar. Comecei a caminhar na sua direcção e foi ao tirar-lhe o taco da mão que tive a sua atenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens precisamente um minuto para tirares a tua sucata da frente do meu carro! – ele fixava-me. Parecia estupefacto pela minha ousadia mas não me deixava de olhar com um olhar bastante presunçoso. Ele de facto irritava-me. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- disseste alguma coisa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, que tenho uma sucata a atrapalhar o meu carro e parece que é teu! Quero que o tires de lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque haveria de tirar…a minha mota, ao qual apelidas de sucata, do sitio onde está?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha…eu não tenho a tua vida, por isso, vê lá se és rápido! Quero ir embora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se queres ir embora vai! Não te prendas por mim! – respondeu-me com um sorriso malicioso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- qual foi a parte em que tenho a tua mota em frente ao meu carro, que ainda não percebeste?! – gritei-lhe já perdendo a minha paciência. Seria ele sempre assim? Joder, que presunçoso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se tu não deixasses o teu carro mal estacionado eu teria lugar para a minha mota! Agora, queres que a tire? Por favor… tenho mais que fazer – ele virou-me costas. Estava incrédula e sabia que ele não ia ceder…eu juro que tentei. Juro mesmo. Tentei ser a pessoa mais calma que podia ser mas este não facilitava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo bem…depois não te queixes que a tua mota fique mesmo em sucata! Aviso já que carrego bem no acelerador! – Estava prestes a virar costas quando sinto-o a prender-me pelo braço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei! Na minha mota tu não tocas, não eras tola a esse ponto! – inquiria com um sorriso dominador. De facto, ele não me conhecia. Com a cólera que sinto dele neste momento, era capaz até de a transformar em peças. Olhei-o de um jeito desafiador. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me deves subestimar, sabias?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- de facto…não! Ainda não me esqueci do que fizestes à minha mão! – respondeu mostrando-me a outra mão livre e que tinha uma liga a abrange-la. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que pena só ter sido na mão. Mas não te preocupes que da próxima vez eu certifico-me que te queimo muitas outras partes! – ele gargalhou </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perigosa… - concluiu – mas não me metes medo! – ele virou-me costas e reparei que havia pegado em outro taco de bilhar – uma partidinha? – sugeriu</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem morta! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então? Não sejas tão radical, com a morte é algo que não se brinca! Vá lá, só uma partidinha…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já disse que nem morta! – gritei-lhe – eu quero que tires a tua mota do sitio onde está ou então podes ter a certeza que eu certifico-me de a tirar dali mesmo!! – naquele instante chegou a Adriana e os rapazes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então, vamos embora?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só estou à espera que ele a vá tirar de livre vontade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vocês esperam uns dez minutinhos? – perguntou – a vossa amiga aceitou jogar uma partidinha de bilhar comigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Yo? Estás loco! – ele foi-se aproximando de mim</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- só uma…anda lá! – aquele olhar tão presunçoso acabava por me deixar com nojo dele. Acredito que nunca tenha visto um homem tão medonho como ele – até porque…tu vais perder! – não sei quanto tempo fiquei a encara-lo mas dei comigo a pensar em desforra. Ele irritava-me, odiava-o, metia-me raiva…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- feito! – desviei-me dele e pus o taco pronto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tens a certeza?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi? Estás com medo que uma mulher te dê uma abada? – senti quem estava ali, a rirem-se do que acabava de dizer. Ele fez o mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a mim ninguém me dá abada. Só te vou ensinar como uma mulher deve jogar bilhar! – senti a Adriana a colocar as mãos sobre as minhas costas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por favor Isabel, vamos embora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espera! Agora não vou dar o braço a torcer para este gilipollas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- joder Isabel… - bufava enquanto se afastava de mim. Naquele instante as atenções estavam todas centradas em nós os dois. Os seus amigos rodeavam-no expectantes e confiantes que o seu amigo provavelmente me daria uma grande humilhação naquele jogo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pronta?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mais do que pronta! – ripostei olhando-o ferverosamente. Foi ele que começou a partida. De facto, num simples toque conseguiu que a maioria das bolas ficassem dentro da rede. Os amigos dele batiam palmas ou simplesmente o assobiavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é a tua vez…garota! – acabei por me posicionar naquele angulo que achava o mais certo. Eu não era um às naquele tipo de jogos mas graças a Deus que tivera uns primos completamente viciados neste jogo e que me ensinavam diversos truques. Com uma simples tacada, consegui juntar mais sete bolas dentro da rede e, ainda de uma forma bem vagarosa, consegui que a oitava bola ficasse lá dentro. Sorri de um jeito prazeroso. Olhei-o e notei a sua falta de reacção contrastando assim com os assobios que os seus amigos faziam questão de dar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- queres continuar? – perguntei. Ele acabou por sorrir. Sabia bem que não esperava que na primeira jogada conseguisse ganha-lo. E, era esse mesmo facto, que me fazia querer continuar. Confesso que estava a adorar vê-lo naquele estado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nada mau…para uma principiante!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nada mau? Ela deu-te uma abada mano! – referiu um dos seus amigos. Vi-o a dar-lhe um breve empurrão para que, de seguida, voltasse a centrar as atenções sobre a mesa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que vamos continuar! – de facto, ele conseguia ser bom jogador e não me admirava nada que ninguém o conseguisse detonar. Passamos bom parte do tempo naquela rivalidade e nenhum queria pôr um fim aquilo. Ora ele me ganhava, ora eu conseguia detona-lo. Quantas mais tacadas dávamos mais vontade surgia de continuar. Qual de nós os dois queria perder? Nenhum. Pelo menos, naquela noite, soube que tinha algo em comum com ele. Odiávamos perder. Era isso mesmo que nos estava a saciar para não parar de jogar e tornar aquele jogo algo memorável em nossas memorias. Na minha porque jamais imaginaria estar mais do que cinco minutos a respirar o mesmo ar que aquele idiota, e na dele, porque jamais imaginava que uma mulher o fizesse perder. Acabamos o jogo e eu tinha-lhe ganho. Confesso que estava contente. Feliz até. Estava a sentir-me completamente satisfeita por ver naquele rosto presunçoso um sabor bem amargo da derrota. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então…quem é mesmo mulher? – espicacei-o. Senti os seus amigos a rirem bastante ao qual ele mostrava o seu esforço em tentar controlar a cólera que o invadia – lo siento mas tu provocaste!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei Javi, parece que arranjamos uma substituta para ti! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- quem diria que fossemos encontrar alguém que conseguisse detonar o record do Javi! – novamente, voltaram a desfazer-se em gargalhadas prazerosas. Até os seus amigos gozavam-no. Isso acabava por ser melhor do que a encomenda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- até que não és má…para uma principiante!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- confessa, fui bem melhor do que tu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tiveste sorte!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- franqueza…só te ficava bem! – fui-me aproximando acabando por ficar a escassos passos dele – débil! – sentia-o prestes a explodir de tanta raiva. Acabei mesmo por soltar uma gargalhada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tal como te disse… - ele sussurrou-me ao ouvido – ainda as vais pagar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou para ver isso! – acabei por me afastar dele – e agora, quero que trates de tirar a tua sucata da frente do meu carro! Ou achas que não sou capaz de a tirar eu mesma? - ele nada disse. Acabou por se afastar a passos largos. Tanto eu como a Adriana acabamos por abandonar aquela sala saindo do restaurante. Assim que paramos em frente ao carro, já ele estava em cima da sua mota ao qual não se coibiu de passar com o seu espelho sobre a mala do meu carro, acabando por o arranhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- cabrón de mierda! – gritei correndo em direcção a ele – arranhaste-me o carro! – assim que desligara a mota, fez questão de me olhar soltando uma gargalhada prazerosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu disse-te que ias pagar! E isto não é nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- gilipollas, tu fizeste isso de propósito! – gritei-lhe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esta é pela mão que me queimaste. A do jogo, ainda vais pagar por isso! – quem era ele para pensar que podia fazer as coisas do seu modo? Que idiota, joder! Ele é sem dúvida a pior pessoa que já conhecera à face da terra! Estava irritada, não pelo facto de ter provocado estragos no carro mas pelo que ele era capaz de fazer. Só estava em Múrcia há dois dias e ele já provocara na minha vida imensos estragos. Irá ficar por aqui? Espero bem que sim. Sem aguentar mais, acabei mesmo por descarregar a minha raiva toda nele, empurrando-o. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu não tenho medo de ti! Pessoas como tu, está o inferno carregado! Mas sabes que mais? Espero bem que tenhas uma vida de merda, tal como tu és! – gritei-lhe acabando por virar costas. Nunca um homem me deixara irritada a este ponto. Odiava-o! Com todas as minhas forças, odiava-o. Queria mais que ele se jugasse de uma ponte e acabasse por me deixar em paz. Odío, qué odio! Era tudo o que sentia naquele momento…mas se pensava que aquilo ficava por ali, bem…acho que nunca me enganei em toda a minha vida.</div>
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-64498101853940726172013-11-15T05:51:00.001-08:002014-01-27T08:48:44.701-08:00Capitulo 2<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Levantei-me para ir à casa de banho mas assim que regressei, percebi que aqueles parvalhões, ou melhor, o maior parvalhão deles todos, tinha dado pela minha presença.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Acho que estou a precisar de uma massagem ao meu ombro… - comecei a ouvir - é que ainda não recuperei do choque de há pouco! E depois, ainda dizem que as enfermeiras são atenciosas... são umas brutas isso sim! – ouvi uma enorme gargalhada e respirei fundo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É mano, tiveste uma manha em cheio! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esperem aí… afinal ela está aqui! – gracejou enquanto assobiava. Precisei mesmo de respirar fundo de modo a não me enervar. Eu sempre soube que os espanhóis tinham o perfil de sabichões, para isso tenho o exemplo dos amigos dos meus primos, Enrique e Francisco - hei! – chamou-me – tu! – eu olhei-o. Ele olhava-me de uma forma expressiva e reparei no seu olhar intenso. Como a minha mãe dizia, aquele parvalhão conseguia sorrir com os olhos. Mas de sorriso bom nada tinha, pelo contrario. Tinha mesmo ar de cabrão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- acho que alguém te está a ignorar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como é que isso é possível? – retorquiu – a mim ninguém me ignora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esta é das que se fazem de duras! – queria rir-me. Parecia mal? Parecia um absurdo voltar-me para trás e rir-me na cara deles todos? Impossível, todos eles não valeriam o meu esforço de mostrar os quão ridículos eram. Estava mesmo a sentar-me quando ele coloca o pé na minha frente e por pouco não me estatelava ali mesmo. Uma gargalhada geral se ouviu</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Silencio! – A voz da professora fez-se soar e depressa tivemos os olhares centrados naquela ultima fila. Olhei para a Adriana e reparei que ela me olhava de uma forma instintiva. Ela sabia bem o que iria fazer. Conhecia-me demasiado bem…se calhar, naquele momento deveria preferir não me conhecer. Tentava-me mandar sentar mas não lhe liguei. Reparei que do meu lado, uma rapariga, loira mas já com a sua raiz demasiado preta onde já se notava bem a oleosidade dele, tinha um copo em cima da sua mesa. Reparei que estava cheio, o facto de ser de cartão branco e o conteúdo ser escuro, dava bem para notar. Até consegui reparar que perceptivelmente, pequenas lanças de fumo ainda saia do buraco da tampa. Sorri para mim mesma. Estava quente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdon! – pediu ironicamente </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa…desta vez não te perdoo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- achas que me importo com isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas devias! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ai sim, e porquê? – com aquele olhar de quem parecia ser um total sedutor, um típico playboy, ajeita-se na cadeira, apoiando os cotovelos sobre a mesa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- porque és um grandessíssimo cabrón! – ele gargalhou – e eu não tolero pessoas…como tu! – só me lembro de pegar no copo e o entornar para cima dele. No segundo a seguir, só conseguia ouvir os berros incessantes dele e a professora a expulsar-nos da aula com ordens de esperarmos pelo director no conselho executivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tu vais pagá-las! Vais te arrepender de te ter metido no meu caminho! – ele ameaçava-me num tom bem juncoso mas não me intimidava em nada. Não tinha medo dele porque isso era o queria. Eu mantinha-me inquieta sentada na cadeira, desesperando que o maldito director aparecesse. Não havia sinais dele. Meia hora se havia passado e eu já estava cansada de ouvir aquele rapaz irritante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso é uma ameaça?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve lá miúda, por tua causa eu queimei a minha mão e tenho o meu peito a arder! – ele gritava-me – não penses que vais sair ilesa disto! – senti a sua mão a tocar no meu ombro. De facto, aquilo irritara-me. Levantei-me encarando-o.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- primeiro, miúda – toquei de leve com o meu dedo sobre o peito dele – é o raio que ta parta! Segundo, eu não tenho medo de ti! – encarei-o. Reparei que os seus olhos espumavam raiva – vais bater-me é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- achas que perco tempo em bater-te? Os meus métodos são outros! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- uau, estou cheia de medo. Repara só nas minhas mãos a tremer! Olha só! – ironizei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas devias... – naquele momento o director chega ao pé de nós. Vinha com um olhar bem carregado e sabia que dali, coisa boa não vinha. Deu-nos ordem para entrar e sentamos nas cadeiras que ficavam de frente para a sua secretária.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- posso saber o motivo de vos ter aqui? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- foi ela! – atirou de imediato. Olhei-o incrédula. Ele tinha mesmo ar de presunçoso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- foste tu que começastes! – defendi-me</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- silencio! – gritou o Director – quero ordem no meu gabinete – voltamos a recompor e a seguir a atenção sobre ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a vossa professora de farmacologia veio-me dizer que os dois tiveram um comportamento completamente irrepreensível na sala de aula. O Javier estava a destabilizar a aula, o que já não é surpresa para mim, e a nova aluna…Maria, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel! – corrigi-o </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que seja a ultima vez que me interrompa! – corrigiu-me – a aula Isabel teve um comportamento muito repreendedor ao deitar café quente sobre o colega, provocando-lhe queimaduras em varias partes do corpo</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está a ver director? Olhe só como tenho a minha mão! – eu olhava-o incrédula. Ele conseguia mesmo fingir-se só para salvar a sua pele – e também fiquei queimado no peito!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não interessa! O que quero dizer é que o vosso comportamento foi inaceitável!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele pregou-me uma rasteira! Sem falar que no intervalo ele empurrou-me e quase que caí no chão!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mentirosa! – acusou-me</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- chega! – gritou o director – não quero saber quem começou, o castigo aplica-se aos dois!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- castigo? Eu recuso-me a ser castigado por causa dela! Eu sou a maior vitima de todos! Eu fiquei com queimaduras!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O castigo será aplicado aos dois! Esta universidade é de prestígio e atitudes destas não se perdoam! O que vos tenho a comunicar é que façam os dois serviço comunitário durante três meses.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?! – respondemos os dois ao mesmo tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem pensar! Serviço comunitário?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ou é isso ou são ambos suspensos durante um mês! Escolham!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- puta madre…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e linguagem dessas não é permitido nesta escola e muito menos dentro do meu gabinete, aluno Javier!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isto não é justo! – barafustei</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está com sorte, aluna Isabel! Porque é o seu primeiro dia e porque tenho grandes amizades com a sua família, nomeadamente com o seu avô e por isso é que estou a ter consideração por si. Caso contrário era mesmo suspensa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- realmente a vida está boa para quem pode! – praguejou aquele insuportável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e que tal te calares?! – virei-me para ele esquecendo-me do sitio onde estava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ou se calam os dois ou podem ter a certeza que aumento para quatro meses o serviço que têm a fazer!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- NÃO! – dissemos em uníssono. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então, como é que foi? – perguntava-me Adriana ao ver-me a sair da faculdade</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- cabrón! Hijo de puta! Ai eu juro que o mato!! – praguejava com enorme raiva</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, espera por mim! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou ter de fazer serviço comunitário durante três meses, acreditas nisto!? Que raiva!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- menos mal! – senti-a a suspirar de alivio</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- menos mal Adriana?! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh Bela, confessa tu exagerastes! Virastes café a escaldar sobre ele!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pena não estar ainda mais quente! Só me lamurio por não ter queimado a sobrevivência dele!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- os teus avós já sabem…tens aí o motorista deles – informou-me</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei! Eu sei…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vemo-nos ainda hoje?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei! Vou tentar passar na vossa casa…depois ligo-te!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está bem…beijo! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- beijo! – despedi-me dela e encaminhei-me para o carro do Juan, que me esperava encostado à porta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Buenos dias menina Isabel!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Buenos dias juan! – depois de o cumprimentar, entrei no carro e seguimos viagem até casa dos meus avós. Reparei, pelo caminho, que estávamos a ir em direcção à quinta – vamos para a quinta?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, os seus avós estão lá. Hoje é o aniversário do seu primo, o Enrique!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem me lembrava… - o facto, era mesmo esse. Não me lembrava que o meu primo já completava vinte e três anos. Assim que lá chegamos, apressei-me a entrar na casa mas pela porta da cozinha. Encontrei logo a minha cozinheira preferida – Pilar! – Apressei-me a abraça-la. Sentia saudades dela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel! Que bom que chegaste!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso são tudo saudades minhas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro que sim! E estou a ver que hoje você tem trabalho que chegue!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois é, o seu primo Enrique faz anos! Não te lembras?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- agora que fala, já me lembro. Os meus avós?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a sua avó está no roseiral e o seu avô no escritório.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou até lá! – sai da cozinha e fui primeiro ao escritório. Sabia bem que deveria ter uma conversa com o meu avô acerca do meu castigo na universidade, sem falar que nem os avisara que tinha chegado ontem. Bati à porta a abri-a. Assim que o vi sentado num dos sofás, um sorriso surgiu nos nossos rostos. Corri para abraça-lo. Era tao bom sentir os braços confortantes dele. Sentia-se sempre protegida. Tinha saudades do meu avô, das histórias que ele me contava ou antes de adormecer ou simplesmente quando ficávamos encostados à lareira a beber chocolate quente…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- avô!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh minha querida…que bom ter-te aqui! Porque é que não vistes cá ontem? Nem sabíamos que já tinhas chegado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei, desculpe…mas nem tive tempo! Chegamos tarde e sinceramente estava cansada. Mas eu já iria ligar-lhe ainda hoje!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- correu bem a viagem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, o costume.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e que seja a ultima vez que saiba da chegada da minha neta pela chamada do director da universidade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh avô nem comece!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi que te deu? O que fizestes foi grave!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei que exagerei mas ele provocou-me! Não tem noção, ele é a pessoa mais malcriada, presunçosa, irritante…olhe, simplesmente irritou-me! E teve o que mereceu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso não é justificação Isabel. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podemos não falar sobre isso? – pedinchei – já me chega ter que fazer serviço comunitário durante três meses!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podias ter sido suspensa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas não fui! Porque tenho o maior avô do mundo e que cuidou novamente de mim! – corri novamente para os seus braços, abraçando-o – obrigada! – agradeci dando-lhe um beijo no seu rosto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- juízo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho sempre! – ele riu-se abanando a cabeça - a avó ainda está no roseiral?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- como sempre… - ele sorriu – está a colher as novas rosas. São brancas e também tem cor rosa velho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- as minhas preferidas! – sorri – vou até lá! – voltei a dar-lhe outro beijo – até já avô!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- até já! – saí do escritório e caminhei até ao jardim, onde era o roseiral. Ultimamente a minha avó passava grande parte do tempo aqui, apesar de viverem em outra casa. A casa deles…era assim que apelidavam. Era bem mais modesta que esta e foi o primeiro lar deles. Aqui vivem os meus tios e primos e onde normalmente se reúnem no natal e festas de aniversários, ou até mesmo casamentos. A boda do casamento dos meus tios foi realizada no enorme jardim que esta mansão tem. Já tem alguns anos… foram os meus bisavós, Graça e Fernando que a mandaram construir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel! – Assim que a minha silhueta se tornou suficientemente visível para captar a atenção da minha avó que cuidava das rosas, ela correu para me abraçar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olá avó!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Finalmente que te tenho aqui! – Repreendeu-me</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Poupe o seu discurso que o avô já me deu o recado…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E que te sirva de lição!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Era tudo escusado se tivesse entrado em Barcelona!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh não digas isso. Aqui estás perto da tua família! Já não te temos tao perto há tanto tempo...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei mas você sabe o quanto gostava de ir para Barcelona…adoro aquela cidade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oportunidades não faltarão! – ela pousa a tesoura em cima da mesa e senta-se num dos bancos. Segui-lhe o exemplo – e como estão as coisas em Lisboa? Como estão os teus pais?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está tudo bem…o meu pai, já sabe, não para por causa do trabalho no hospital e a minha mãe insuportável como sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não fales assim da tua mãe!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é verdade! Ela passa a vida a chatear-me! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mas é tua mãe! Também eu chateava muito os teus tios e até o teu pai quando era preciso…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh mas você é diferente! Quem me dera ter uma mãe como você…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh querida mas eu já sou uma mãe para ti… - ela juntou-se a mim abraçando-me – vou ter-te sempre como uma filha!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabe, todos os dias eu sonhava puder sair de você. Que me carregasse por nove meses, que tivesse a sua aparência ou a do avô, o seu feitio, os olhos de um de vocês. Não queria isto. Olhar para a minha família e saber que não me pareço a nenhum!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabes, fisicamente podes não ser parecida mas posso te garantir que aqui – ela coloca a sua mão sobre o meu peito – és igualzinha a nós! Mais do que tu pensas…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acabei por dormir na casa dos meus avós. Quando há festas de aniversários dificilmente conseguimos ir para a cama cedo e ontem não foi excepção. A casa estava cheia, crianças de um lado, adultos para o outro. Acordei mais cedo e fui até ao apartamento do pessoal que sabia que ainda estavam por lá e acabamos por rumar juntos para a universidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tenho aqui os apontamentos da matéria para te dar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada Adriana! Deram muita coisa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não, a professora também não dizia nada de jeito, portanto não te preocupes – entramos na sala de aula e reparamos que já estava cheia. Eramos muitos alunos e ou chegávamos mais cedo ou então tínhamos de nos contentar com os últimos lugares da sala, como foi o caso. Assim que me sentei senti muitos olhares presos em mim. Aposto que andavam todos a cochichar sobre o que aconteceu na aula de ontem. Ainda mal tinha chegado e já era famosamente falada…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- a aula de hoje vai ser especialmente centrada nas hemorragias altas do sistema digestivo… - abri o livro de patologia e sabia que aula seria bem massacrante. Assim que terminou, recebi uma ordem de passar pela secretaria. Assim fui e quando lá cheguei encontrei a directora do meu curso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- buenos dias…Isabel Garcia?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, sou eu professora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- chamei-te para informar sobre o que vais fazer no serviço comunitário, devido ao teu castigo…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tanto tu como o Javier vão prestar serviço comunitário na associação do bairro. Irão especialmente ter o encargo de ajudar na distribuição da alimentação durante a noite pelos mendigos e pobres que estão espalhados pelas ruas e aos fins-de-semana trabalharão mais a servir refeições na cantina social.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?! – confesso que me assustei com aquela voz forte a gritar bem atrás de mim. Virei-me e reparei que aquele brutamontes acabava de chegar – professora, acho que ouvi mal, não foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não Javier, ouviu muito bem. Ah, e bons dias também lhe assenta muito bem! – repreendeu-o ao qual ele ignorou completamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu vou andar a distribuir sopa aos pobres? – começou-se a rir</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim, vai distribuir sopa aos pobres! Porque isso é um dever do cidadão. E não é apenas o menino, são os dois que vão trabalhar em conjunto para isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o quê?! – desta vez gritamos os dois</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem pensar! Eu não me dou com ele!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- e eu muito menos com ela!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não me façam perder a paciência logo pela manha! Isto não é um pedido, é uma ordem! E começam já para o próximo fim-de-semana. Passem amanha por cá para vos dar o plano do vosso trabalho – ela foi-se embora deixando-nos sozinhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bonito…já viste o que arranjastes? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu? A culpa não é apenas minha! – defendi-me</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois claro, é toda minha. Se calhar fui eu que que deitei café a escaldar por mim abaixo! – eu sabia que aquilo não ia correr bem. Não podia quando ele conseguia ser um grande otário. Prestar serviço comunitário com ele durante três meses? Sem duvida, o maior desafio da minha vida. E eu mal sabia do quanto isso tudo me iria mudar…</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7299287086883099918.post-24021807465396178342013-11-15T05:24:00.001-08:002014-01-23T04:14:26.866-08:00Capitulo 1<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>(Isabel)</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Verão, meu querido e tão aguardado verão! Ansiei todos estes meses do ano para que chegasse a altura do ano que mais gosto, onde não tenho de ir todos os dias para a minha enfadonha escola, que agora está em obras o que a torna ainda mais insuportável, não tenho de levar a toda a hora com o desagradável professor de psicologia que, fiquei desde o inicio do ano lectivo com um rótulo como a aluna mal comportada. Enfim… estou de férias, quero aproveitar bem, este vai ser o meu último ano a viver em Lisboa, e se tudo correr bem consigo fazer erasmus na universidade de Barcelona, em Enfermagem. Hoje é um dia decisivo para mim, o resultado das candidaturas saem e decidi liguei à Adriana para vir até a minha casa e assim víamos as colocações juntas, também ela vai concorrer para Barcelona.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olá paixão, o que vais fazer hoje à tarde? – Perguntei-lhe com o telefone na mão e a conduzir no meu opel Astra preto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Olá meu amor, eu hoje vou estar na casa dos meus avós, porquê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- podíamos ir as duas à faculdade e ver a lista de colocações, que me dizes?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É verdade, já me esquecia disso! Tá bom, eu vou ter contigo… tens algum sitio de preferência?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- anda ter à rotunda da estação, eu apanho-te aí e vamos para a faculdade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Por mim tudo bem! Daqui a hora e meia estou aí…ainda tenho de ir para o metro do cais…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Óptimo. Olha vou ter de desligar, estou a conduzir no centro de Lisboa, não quero correr riscos de ter a minha noite estragada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sempre a mesma, nunca aprendes não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É o hábito linda!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- É, é! Olha, vou desligar, não quero ser a causadora da tua desgraça!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tá bom, até já Di!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Até já! – aproveitei que estava perto da estação e como ainda tinha de esperar pela Di, fui até ao chiado e fiquei à procura de umas sapatilhas para puder correr, visto que as minhas já estavam a dever anos à cova. Regressei à estação e assim que a Adriana chegou fomos directas para a faculdade. Era um caos conduzir na baixa e comecei a achar que deveríamos ter optado pelo metro, sempre chegaríamos mais rápido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- merda! – praguejei enquanto mandava um murro ao placard</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não entrei! – bufei – isto não é justo! Todos entraram na primeira opção, porque tive de ser colocada logo nesta universidade?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- deixa-me ver…em qual ficaste?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- em Murcia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ficas comigo! Eu também não entrei em Barcelona…mas isso também não é bom? Assim ficas perto da tua família.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh…eu só pus Murcia porque a minha mãe me obrigou! – resmunguei – eu queria era mesmo Barcelona! Os meus avós sempre falaram tão bem daquela cidade, do encanto que tem…e eu adoro Barcelona! – decidi sair daquele lugar. Definitivamente, ver colegas meus a festejarem só me dava vontade de manda-los ao rio. Estava chateada, não queria ir para Múrcia. Universidade de Barcelona é das melhores do país e daria um enorme prestigio ao meu curriculum já para não falar no que iria aprender e no quanto adoro aquela cidade. Decidi tomar um café, não coloquei açúcar e deixei que aquele sabor amargo queimasse a minha garganta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- já sabes o que vais levar? – a minha irmã quando queria, conseguia ser chata. Ter os seus quinze anos não era fácil e ter de a levar com a idade do armário era sem duvida digno de uma estatua – olha que dizem que Murcia no inverno é frio! E para além do mais chove muito!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Inés, cala-te por favor… - respondi enquanto tentava procurar a minha mala – viste a minha mala preta?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- que mala?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- olha a mala que eu levo o cao! – praguejei enquanto corria todos os corredores à procura da mala mas sem efeito – porra, que eu saiba só tenho uma mala preta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu é que vou saber? A mala é tua!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- se fosse para saber algo dos one direction ou do ken ambulante sabias tu onde estava!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, não fales assim do Justin! – revirei os olhos. definitivamente a minha irmã era um caso perdido – sempre é mais bonito que aquele que tens colado na porta do teu quarto! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- colo-te já à parede se pensas em comparar os The Script a esse Ken todo mamado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- parva! Vou fazer queixas à mãe e dizer das vezes em que andas a sair à noite sem ela saber!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- aproveita e diz-lhe também que eu encontrei debaixo da tua cama um maço de tabaco!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sabes que eu posso dizer que é teu! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o paco adora roer papel…será que também vai gostar de roer aquelas porcarias todas que estão coladas no teu quarto? Acho que vou experimentar antes de ir embora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estúpida, parva!!! Ainda bem que te vais embora! – disse enquanto me mandava com uma almofada à cabeça</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda vais chorar de saudades minhas…finalmente!! – gritei assim que encontrei o meu saco. Peguei nele e comecei a guardar toda a minha roupa. Seis meses fora de casa. Será que tudo o que levaria seria suficiente? Não podia levar muito mais…só o essencial e aquilo que eu sabia que me faria falta. Olhei à minha volta e vi o meu quarto completamente vazio…ia ter imensas saudades. Seria tudo por uma boa causa, eu sabia disso. Sabia que estes meses de Erasmus seria uma boa oportunidade para o meu sonho de um dia ser uma enfermeira obstetra de excelência e para tal tinha de lutar por isso. no fundo, estava feliz e só rezava para que Murcia fosse o palco de muitas felicidades e sonhos realizados…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não te esqueças de ligares assim que chegares a Múrcia…tem cuidado de não andares ao sol, agasalha-te, não andes à chuva e come em condições!! – a minha redobrava-se em recomendações e cuidados. Era chato mas não a condenava…iria ter saudades de a ouvir sempre a resmungar sempre ao meu ouvido. Dela, do meu pai e da minha irmã que conseguia ser uma adolescente coalescente, Enfim…teria saudades da minha família mas sabia que em Múrcia também tinha a minha outra família. Nunca estaria sozinha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não se preocupe, eu cuido de mim!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Adriana, toma também atenção que ela por vezes é meia aluada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Dona Marina , não se preocupe! Tomamos muito bem da sua filhinha!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vocês tomem é juízo, muito cuidado em andar nas ruas à noite e nada de bebedeiras!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pedimos a todos os passageiros que têm voo como destino a Barcelona, por favor digiram-se para a porta numero quatro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é o nosso voo! – disse Adriana </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bem…é esta a hora da despedida! – falei dirigida para a minha família. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- esperamos por ti Isabel</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- eu sei pai…eu também vos espero por Múrcia. Apareçam quando quiserem! Os avós adoram a casa cheia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- depois combinamos um dia que dê para ir!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isabel, vamos! O resto do pessoal já está junto da porta…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Adeus! Até a uma próxima! – despedidas nunca foram o meu forte. Odeio isso pelo facto se sentir sempre aquele aperto…as saudades da minha cidade, os meus amigos…enfim, de tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">***</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ricardo, Ricardoooo!!!! – Adriana gritava que nem louca pela casa. Eu tentava comer uma torrada à pressa e beber o pouco café que ainda conseguia meter dentro da minha boca cheia – despacha-te! Estamos atrasados para a faculdade!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- hei, calma! – ele saiu da casa de banho e pegou na sua mochila</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o Renato, não vem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estou aqui! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vamos! Ainda temos um caminho de quinze minutos e dez para entrar na aula!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pela hora portuguesa ainda estava na cama a esta hora! – resmungou Renato</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois mas não estás em Portugal meu caro! – disse enquanto pegava na minha capa e na bolsa</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- está tudo pronto?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim! – saímos do nosso apartamento a correr. Mal conhecíamos o caminho até à faculdade e mal apanhamos o autocarro fomos interceptados pela imensidão que aquele lugar tinha. Sem duvida que como primeiro dia de faculdade, as coisas já estavam a correr um pouco mal. Tínhamos acabado de chegar dez minutos atrasados para a primeira aula de saúde da mulher o que era um péssimo começo mas sem duvida que Múrcia não ficava nada atrás do porto no que se refere ao caos no transito. Aquela universidade era gigantesca e depois de nos separarmos dos rapazes que eram de fisioterapia, eu e a Adriana corríamos que nem loucas para chegar ao bloco A que mais parecia ficar do outro lado da cidade. Optamos por ir de elevador e quando me preparava para carregar no botão, sinto um encontrão. Acho que só não caí porque tinha ao meu lado um senhor que amparou a minha queda. Mesmo assim doía-me o braço. Apressei-me a virar-me para trás, quem quer que tivesse sido o anormal, iria ouvir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ouve lá mas tu não vês para onde andas? – resmunguei para um bando de quatro parvalhões que estavam na minha frente e que pouco estavam a dar importância ao facto de me terem empurrado. Só quando um deles é que se dignou a olhar-me e reparar na minha cara, é que deu um toque aos restantes amigos. A anormal que me tinha empurrado, tinha-se designado a olhar para trás</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdon?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- perdon? – ironizei – e eu a achar que era lo siento que se dizia nesta terra! – ele riu-se – para a próxima vê se não te esqueces dos óculos em casa e tens mais cuidado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não sei do que falas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ai não? Que pena, parece que vou ter de elucidar essa memoria! – de facto, ele estava a irritar-me. Tinha ar de machão, convencido…o que só me estava a deixar ainda mais irritada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- precisas de ajuda? – todos os seus amigos tinham acabado de gargalhar com a tentativa de piada completamente falhada daquele anormal. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- vamos embora…- pedia Adriana que estava ao meu lado, já envergonhada por aquela situação gerada</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro Adriana, deixa-me só elucidar a memoria…parece que eles por aqui comem muito queijo! – falei enquanto empurrava brutamente aquele anormal. Ele precisou que um dos seus amigos o amparasse. Ele voltou a olhar-se com cara de poucos amigos </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás louca?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nao, tu é que não estavas a entender que tinhas acabado de me dar um empurrão! Apenas…elucidei a tua memória! - dito isto, virei costas e senti a Adriana a correr atrás de mim. Entramos na sala de aula e como era óbvio estávamos atrasadas. Sentamo-nos na última carteira e tentamos a todo custo que a professora ou mesmo algum aluno não desse conta da nossa presença. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi aquilo?! – perguntava-me a Adriana</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estás a falar daqueles quatro parvalhões?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Bela, tu não achas que exagerastes?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpa? Já deves me conhecer o suficiente para saber que não tolero machismos e falta de respeito. Caramba, mas ele quer ser o quê? O rei dos machões? Que anormal… - o assunto ficou por ali mesmo ou não fosse a professora ter dado pela nossa presença e passamos pelo menos um bom quarto de hora a apresentar-nos à turma. Era uma turma bem mais pequena do que a minha do Porto mas eram bastante simpáticos e atenciosos, mesmo no final da aula prestaram logo ajuda caso precisássemos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- então, como correu a vossa primeira aula? – perguntava Renato que acabava de se sentar na nossa mesa, juntamente com Ricardo</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- bem, temos uma turma que é bastante atenciosa! E a vossa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- são todos porreiros! A maioria rapazes mas tudo boa onda!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ainda bem! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- estivemos a pensar e se fossemos jantar pela cidade? Podíamos conhecer mais daqui e aproveitar que agora no inicio ainda não temos imensos trabalhos e exames!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- por mim, é na boa! Mas conheces algum restaurante porreiro que possamos ir?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- um rapaz da nossa turma falou-nos que havia um bastante fixe, podíamos ir até lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- fica então combinado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- alguém quer alguma coisa do bar? Acho que vou comprar uma garrafa de agua antes de ir para a aula… - informou-nos a Adriana</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- obrigada mas não quero nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- nem eu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ok, volto já!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>(Adriana)</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Levantei-me e fui até ao bar. Não sabia até onde ir mas depois consegui descobrir onde ficava a zona das bebidas. Peguei numa garrafa de agua e fui até à zona dos chocolates, até porque tenho o enorme vicio de comer sempre um durante as aulas. Estava a tentar tirar um mas como sou baixinha eu não chegava à prateleira de cima.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- precisas de ajuda? – uma voz sobressaltou-se. Apresso-me a virar para trás e deparo-me com um rapaz que me olhava atentamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah…por acaso…até precisava – falei um pouco incomodada – eu não chego à prateleira de cima!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro, qual é que queres?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o azul! – ele tirou o chocolate e deu-me para as mãos. Sorri-lhe em forma de agradecimento e ele sorriu-me de volta – gracias!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- não precisas de agradecer…fica como um modo de desculpas!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- desculpas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- sim…tu não és aquela rapariga que há pouco estava junto dos elevadores? Acho que foi com a tua amiga que o meu grupo de amigos sem querer se esbarrou nela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ah, estou lembrada! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- pois, eu queria desculpar-me! Sei que deveríamos ter mais atenção e podíamos ter magoado a tua amiga, ela ficou mesmo zangada…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- isso? oh esquece! Não é nada…vale, vocês deveriam ter mais cuidado mas ela também ferve em pouca agua, por isso é que teve aquela atitude compulsiva! Mas…gracias. É muito atencioso da tua parte pedires desculpas quando tu nem fizestes nada! – ele sorriu-me docemente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- é o meu dever, não gosto de atritos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- mais uma vez, muchas gracias! Bem…tenho de ir, tenho aula agora!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- claro…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Adeus! – estava prestes a virar-me para trás quando ele impede </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- espera! – eu olhei-o – posso pelo menos saber…o teu nome?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- oh, lo siento, claro! Chamo-me Adriana! E tu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hola Adriana, eu chamo-me Eduardo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prazer Eduardo – respondi educadamente</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- prazer é meu Adriana! – voltei a sorrir-lhe. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ok, tenho mesmo de ir! – respondi assim que ouvi a campainha tocar</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- tudo bem…Adeus! – eu acenei-lhe e sai da beira dele. precisei de correr para me juntar ao resto do pessoal que já me esperavam desesperadamente. A próxima aula, teríamos todos juntos. Mesmo enfermagem e fisioterapia. Farmacologia, uma cadeira que tínhamos em comum. Era no auditório e assim que lá chegamos a maioria das cadeiras já estavam ocupadas. Só nos restava uma fila que ficava perto da porta de saída. Sentamo-nos todos lá mas mal me sentei, senti a Isabel a praguejar</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- o que foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- parece impossível! Não acredito que estes parvalhões também estão aqui! – olhei para trás e pude entender aquela raiva toda afinal…o rapaz que havia empurrado estava ali. Engraçado, não vi o Eduardo…talvez ele não andasse com eles no mesmo curso. </div>
<div style="text-align: justify;">
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- acho que eles são de fisioterapia… pelo menos andam com as camisolas iguais à do Ricardo e do Renato</div>
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- por mim até podiam ser empregados de limpeza, quero lá saber! – Barafustou. A professora tinha entrado na sala e ficamos atentos à aula. Correu bem, pelo menos da minha parte mas chegou a uma altura em que a Isabel se levantou e como era de esperar, os rapazes ao qual ela estava de “ponta” deram pela sua presença e a partir daí, eu só rezei para que a aula chegasse ao fim, o mais depressa possível.</div>
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