segunda-feira, 7 de abril de 2014

Capitulo 14



Finais de Novembro.
O tempo passava rápido por ali e entre ele vinha acompanhada a chuva o frio, as ruas vazias acompanhada pelo cheiro a castanhas assadas e sem ainda acreditar que o tempo passava tão rápido, o Natal estava quase a chegar. As ruas começavam a estar iluminadas, as arvores de natal já enfeitavam algumas casas juntamente com o espirito Natalício. As promoções, campanhas de Natal, a correria para as compras de Natal, as musicas que se ouviam nas ruas… 

- nem acredito que daqui a três semanas vamos para Portugal!

- é verdade, já tenho saudades de Lisboa!

- sempre vais passar o Natal a Lisboa Bela? – estavam os quatro reunidos em casa, de volta da lareira enquanto conversavam.

- ainda não sei…acho que os meus pais nesse dia vão estar de plantão no hospital.

- hei, que mau….trabalhar no dia de Natal! Nem vão estar com a família.

- mas acho que é apenas na consoada, no dia seguinte querem vir para Murcia…

- isso quer dizer que ficas por cá, não é?

- ainda não sei!

- não me digas que pensas em passar o Natal fora! – Adriana tentava adverti-la – é assim…tu estás um pouco ressentida com a tua família mas é Natal…há que dar umas tréguas certo?

- passou um mês Adriana…um mês que estou fora daquela casa e quem é que se importou com isso?

- os teus avós!

- e o resto? A minha família não é apenas os meus avós! Pelos vistos eu sou mesmo a rebelde da família e tornei-me num alivio por não estar lá mais! 

- oh não digas isso!

- mas podemos não falar na minha família? – Isabel parecia verdadeiramente aborrecida pelo facto de tocarem naquele assunto.

- está bem…

- e o voluntariado, como corre? – desta vez foi Renato que falou.

- corre bem! Daqui a um mês acabo graças a todos os santos e santas deste mundo! – praguejou.

- é assim tão mau estares a fazer voluntariado?

- não, o pior não é o que faço mas sim a companhia que levo! Dispensava bem…

- pois é, preferes mais a companhia do Marco! 

- quem é o Marco?

- é o rapaz com quem a Bela anda a sair!

- tu namoras?!

- hei, eu não namoro nada!! – tentou defender-se – o Marco…bem, eu estou apenas a sair com ele, nada mais! – Adriana gargalhou.

- sim, sim…um rapaz com quem andas aos beijos!

- beijos?!

- oh Adriana! – resmungou Isabel – és uma cusca tu! 

- mas quem é esse Marco? Nunca ouvi falar nele…

- ele não anda na faculdade…trabalha na oficina do pai, tem vinte e quatro anos, é muito simpático… 

- e giro! – constatou Adriana

- sim, também é giro e andamos a sair, nada mais! Nem quero que passe disso…

- porquê? 

- porque eu não quero relacionamentos! Namoros está fora de questão. Só saio com ele porque é giro, simpático e nada mais…

- pois tu achas isso mas o Eduardo não se cansa de me dizer que ele é mau caracter e quer me longe dele! E tu também…

- ah, claro! – Isabel levanta-se – cá faltava ele! ele e o seu bando de amigos!

- está tão enganada a respeito do Javi! – ela olhou-a – porque não tentas ver o lado bom dele, ah?

- porque ele não tem lado bom!

- enganas-te. Ele tem sim um lado bom! Já estive a falar com ele, é uma pessoa simpática e não é nada disso que o pintas!

- Claro, claro, claro…. – ela bufava – como sempre eu sou a que estou errada – Isabel saiu dali caminhando em direcção ao corredor.

- olha antes de ires, amanha sempre vais ao jantar de aniversario da Letizia? – Isabel não lhe dera resposta, entrando no quarto fechando a porta com força.

- presumo que aquilo tenha sido um sim!

***



Estava uma noite fria. A parte boa daquela noite é que não chovia e estava um tempo seco. Pelas previsões, nos próximos dias adivinhavam-se dias de sol mas com baixas temperaturas. Adriana, Isabel e mais o grupo de colegas de turma caminhavam para o restaurante. Era o aniversario de Letizia, companheira de turma. O lugar onde iriam jantar ficava perto da zona típica de restaurantes conhecidos e bem frequentados de Múrcia. Tinham reserva e preparavam-se para entrar.

- bem meninas, eu conto convosco para depois irmos até à discoteca! 

- claro, amanha o que vale é ser sábado! – elas estavam divertidas. Era uma noite que prometia ser alegre entre aquele circulo de amigas. Abriram a porta e foram recebidas pela simpatia do empregado que habitualmente estava ali pronto a receber todos os que chegavam.

- buenas noches chicas! 

- buenas noches!

- e feliz cumpleaños para a menina letizia!

- uh, muchas gracías! – agradeceu 

- acompanho-vos até à vossa mesa… - o empregado estava a acompanha-las até à mesa reservada. Ficava ao pé da janela, mesmo com vista para o rio. Começaram a sentarem-se nos lugares. 

- querem pedir agora ou preferem as entradas?

- hum…podemos já fazer os pedidos! – entre algumas escolhas, em questão de minutos decidiram o que queriam. As conversas fluíam naturalmente entre elas e conseguiam falar de tudo. Desde rapazes, festas, algumas fofocas e também sobre as aulas. 

- dão me licença meninas, eu vou à casa de banho! Alguém vem? 

- não! – Isabel levantou-se e dirigiu-se à outra parte do restaurante, onde ficava os lavabos. Estava a abrir a porta quando ouviu umas vozes que lhe pareciam ser conhecidas. Olhou para o seu lado direito e percebeu o porquê de achar que algo ali era familiar. Focou bem o seu olhar…naquela mesa, naquelas pessoas. Ela olhava um tão pouco incrédula sem querer acreditar no que via. Pasmou-se ali, apenas a olha-los e atentar confortar-se do que os seus olhos viam. Conversavam entre si alegremente, riam, sorriam, gargalhavam até. Pareciam felizes. Podia dizer que estava ali quase toda a sua família reunida, a jantar. Tios, primos…até os seus avós estavam ali. foi então que se lembrou que hoje um dos seus tios fazia anos. Óptimo, aquilo era um jantar de família, uma festa onde estavam todos reunidos menos ela. Menos ela… «que facada!» «que apunhalada…» Isabel deu meia volta e saiu dali a correr. Não conseguia…aquilo doía imenso. Assim que saiu do restaurante, sentia o seu corpo todo a tremer. Começou a andar num passo apressado sem nunca parar…o seu pensamento parecia que tinha sido sugado e não conseguia pensar. Andava sem rumo, não sabia ao certo por que caminhos galgava. Só lhe vinha à memoria dois únicos pensamentos: a sua família reunida e ela não estar lá. Não estava porque não sabia… Parou assim que chegou à ponte. Acabou mesmo por se sentar ali, no chão frio encostada à grade. As lagrimas começaram a correr. Uma a uma, pelo seu rosto já gelado. Corriam até que se tornou num choro incessante e sufocante. 

Aquilo tinha doido…nunca se tinha sentido tão sozinha, tão deslocada e tão órfã como naquele momento. Eles não queriam saber dela, nem mesmo os seus avós. Porquê? Porque se reuniram e não lhe disseram nada? Não se importavam mesmo com ela não era? Isabel continuava ali…com as pernas quase a esmagar o seu peito, encostada às grades da ponte ouvido o rio a passar velozmente. Tentou limpar as lagrimas. 

- Hola… - Isabel assustou-se com aquela voz. Olhou em seu redor e reparou na presença de uma senhora. Não a conhecia apesar da sua cara lhe ser familiar. Olhou-a com desconfiança e um pouco assustada. Porem, aquela mulher parecia estar serena. Tinha uma apresentação um pouco descuidada. Seria mendiga?

- quem é você? 

- eu sou a Teresa, e tu quem és? Porque estás aqui ao frio e a chorar? – Isabel olhou-a melhor. Tinha uma voz serena contrastando um pouco com a sua aparência pouco cuidada. 

- sou a Isabel… - disse ainda um pouco na defesa. 

- olha não precisas de ter medo de mim! Queres um pouco? – ela tinha na mão um cachorro quente. Apesar de sentir fome, Isabel não queria aceitar. Nunca aceitava nada vindo dos estranhos.

- obrigada mas não…

- posso me sentar ao pé de ti? – Isabel sentia-se confusa. Mas quem era aquela mulher?

- pode… - ela sentou-se. Ficou a olhar para Isabel com um sorriso no rosto, quase em modo de compaixão.

- então, não me respondeste…porque estás a chorar? Alguém te fez mal? – Isabel fitou o seu olhar sobre a enorme escuridão. Respirou fundo e ficou calada por alguns segundos.

- porque perdi a minha família… - a sua voz saiu-lhe rouca, triste, desiludida, amargurada.

- oh…mas foi algo grave que aconteceu? 

- desilusão…foi isso que aconteceu. A minha família desiludiu-me e já não querem saber de mim! – a sua voz tremia e Teresa sentiu uma certa pena dela. Mas no fundo, era aquilo que Isabel sentia. Uma profunda desilusão por se sentir de parte numa família que pensava ser o seu maior porto de abrigo. E que no fundo, bem no fundo…isso era uma mera ilusão.



***

- aguarde só cinco minutos que o senhor director já a recebe, pode ser?

- sim, pode… - Isabel estava sentada num dos sofás que ficavam mesmo em frente à porta do gabinete do director da universidade. A secretaria informava que estava num telefonema importante e ela teria de esperar. E assim fez. Da última vez que ali esteve foi há dois meses atrás quando tinha entornado café em cima de Javi, provocando o castigo que ainda cumpria. Não, não era nenhum castigo que a levava até ali. Aliás, estava ali por livre vontade.

- Isabel García? – ela olhou – pode entrar! – Isabel levantou-se e bateu à porta. Bastou três batidas sobre aquela madeira para ouvir alguém do outro lado. Abriu a porta e foi entrando.

- posso senhor director?

- sim, entre! – assim fez. Fechou a porta e foi-se sentar na cadeira de pele, ficando de frente para ele – o que traz a aluna Isabel até cá? Não me diga que é mais alguma asneira que fez e eu ainda não saiba disso?

- não…não é nada disso! Eu…bem… - ela respira fundo – eu tenho um pedido a fazer-lhe.



***

Isabel já esperava há cerca de cinco minutos por Marco quando ouviu a mota dele a chegar ao pé do apartamento. Apressou-se a travar a mota.

- perdón pelo atraso!

- tenho a dizer-te que nunca se deixa uma rapariga à espera! – retorquiu Isabel ainda parada no mesmo sitio.

- oh vá lá…estava transito!

- ah sim, e eu a pensar que as motas serviam para ultrapassar os carros quando estava transito.

- prometo que me redimo, deixas? – ela ficou a fita-lo com o olhar. Marco conseguia mesmo ser irresistível e Isabel ficou a pensar o porquê de ele andar atrás dela quando deveria haver milhares de raparigas mais interessantes a fazer fila. 

- olha que sou exigente!

- não faz mal, eu gosto de grandes desafios! – ela riu-se. Começou a caminhar em direcção à mota subindo para cima dela. Marco deu-lhe o capacete.

- para onde me levas?

- já vais ver….gostas de adrenalina?

- adrenalina? Não me digas que vais ensinar a conduzir uma mota!

- pode ser que sim…dependendo de como te vais portar…

- ui, que suspense! – Marco sorriu. Colocou o pé no acelerador saindo dali. O caminho até ao local onde ele tinha escolhido, ainda foi um pouco longo e Isabel percebeu que estavam a sair do centro da cidade. Não conhecia aqueles lugares mas à medida que andavam, foi percebendo que varias motas corriam a grandes velocidades entre eles. Ele tinha parado assim que chegaram a um enorme adro carregado de pessoas com as suas motas. Parecia ser uma espécie de pista de corridas e avaliar pela situação que ali se gerava, as próprias pessoas deveriam participar nelas.

- o que é isto? – perguntou Isabel, assim que desceram da mota. 

- a isto se chama o morro. O local onde fazemos as nossas corridas….

- corridas?

- sim. Hei…não te preocupes, vale? – Marco viu a cara reprovadora de Isabel.

- vale mas…isto é perigoso não? Sem falar que não deve ser legal correr aqui! – ele sorriu. Iria falar qualquer coisa mas alguém tinha chegado interrompendo assim a conversa deles.

- hei Marco! – um rapaz aproximou-se. Era enorme, a avaliar pela aparência tinha de certeza mais do que um metro e oitenta. Os seus braços estavam completos de tatuagens, tinha uns músculos fortes e estava apenas de camisola de alças. Mas ele não tinha frio? Estava, de facto, uma noite fria e Isabel perguntava a si mesma como era possível toda aquela gente não sentir o frio daquela noite cerrada.

- então Step, a corrida está pronta?

- só esperando por ti! – corrida? Mas ele iria participar nas corridas? E ela? Onde ela iria ficar?

- vais correr? – Marco olhou-a.

- claro. Eu corro sempre! Lembras-te de ter perguntado se gostavas de adrenalina? – ela acenou com a cabeça – pronto guapa….hoje vamos correr!

- vamos?! Hei, hei…eu não corro. Nunca participei em corridas de motos! 

- anda lá, não tenhas medo! Tu vais comigo…ou melhor, eu conduzo e tu és a minha camomila.

- camomila? E isso é uma espécie de código entre vocês? – Marco gargalhou.

- camomila é o nome dado às belas raparigas que correm connosco. São as valentes porque…correm de um modo especial. É uma forma de mostrarem que confiam em nós e que para além disso, são uma de nós. 

-vale, percebi…essas camomilas, como vocês as chamam, são as vossas companheiras, certo?

- vês como sabes… - um assobio faz-se soar por aquela enorme praça. Viram-se todos. É o sinal. No meio da estrada está um tipo alto, moreno e com um enorme cabedal que impunha imenso respeito. Levanta os braços. É o sinal para as motas se colorarem em ordem, ainda sem as suas camomilas. Isabel via Marco a desaparecer por entre aquela multidão até junto da pista. Estava a tentar andar quando alguém toca no seu braço. Ela vira-se para trás.

- ora quem é que está aqui…não me digas, tu também corres? 



5 comentários:

  1. Buenos dias! Pois, eu ontem à noite li E comentei, só que quando fui a publicar o comentário, o meu querido e amado telemovel informou-me que nao tinha net em casa (por causa da trovoada) e que tudo o que tinha escrito foi em vão.
    Mas pronto, como tu mereces e eu até tenho boa memória, vou reescrever dentro do possível o comentário de ontem! Uma coisinha que nao estava no comentario de ontem mas nao resisto a dizer: JODER, ESTA MUSICA DA COMIGO EM LOUCA! É LINDA DEMAIS!
    Agora sim o comentário de ontem que era mais ou menos assim:

    Vitória do Benfica e cap da Tengo? Duvido que haja melhor maneira de terminar a noite!
    Opá aquela cena no restaurante até o meu heart partiu! Fogo, quando ela diz que se sentiu verdadeiramente órfã naquele momento deu para perceber que ao longo dos anos apesar de por vezes se poder sentir um pouco deslocada, nunca se sentiu sozinha, órfã, tinha a sua família. E agora...
    E a corrida? Isto vai dar nao sei o quê! Juro que ontem pensei varias teorias do que pode acontecer, porque Javi e Isabel são imprevisiveis, juntos são imprivisivelmente loucos/idiotas e agora com o Marco à baila... A Isabel é teimosa, logo nao vejo o Javi a conseguir demove-la. Mas por outro ela tem noçao do risco. E o Javi...o Javi tem a noçao que a tem de proteger (sim, porque eu sei que ele nao foi capaz de negar à Maria aquele pedido!), para além disso sabendo bem que peça é o Marco. mas por outro lado...ele tem dificuldade em admitir que se preocupa com a Isabel! E o Marco...o Marco é mais gasolina para a fogueira (qual lenha qual quê!)
    Olha eu nao sei o que vai acontecer, mas AMAVA saber! Portanto dá os dedinhos, porque eu nao quero o proximo, eu PRECISO DESESPERADAMENTE do proximo!

    Beso
    Ana Santos

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  2. Eu gosto tanto disto! Parece sempre que é pequenito...
    Fogo, até a mim me deixou sentida o facto da família da Isabel não ter incluído no jantar.
    E não houve quase Javi neste capítulo, houve Marco. E eu sei que não vou gostar desse Marco. (O Javi não gosta, eu também não. lol)
    Quero tanto outro capítulo! (Sim, eu sei. Acabaste de postar este, mas... mas...)
    Besos!

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  3. Eu gosto tanto disto! Parece sempre que é pequenito...
    Fogo, até a mim me deixou sentida o facto da família da Isabel não ter incluído no jantar.
    E não houve quase Javi neste capítulo, houve Marco. E eu sei que não vou gostar desse Marco. (O Javi não gosta, eu também não. lol)
    Quero tanto outro capítulo! (Sim, eu sei. Acabaste de postar este, mas... mas...)
    Besos!

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  4. Olá!
    Gostei imenso do capitulo se bem que se fosse maiorzinho não fazia mal nenhum :P
    Fiquei sem palavras com o facto da Isabel não ter sido incluída no jantar de família ...:\
    Ainda tenho algumas dúvidas quanto a este Marco,então com isto das corridas....fico demasiado curiosa!
    Quero o proximo :)
    Beijinhos
    Rita

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