segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Capitulo 10



Isabel zarpou num ápice até ao interior da casa. Assim que lá chegou apercebeu-se que estavam os seus tios a conversarem entre si na sala de estar, andou mais um bocado e cruzou-se com o seu avô que chegava da cozinha.

- o que ele está a fazer aqui? – ripostou sem nem dar hipóteses de cumprimentar o seu avô.

- buenas tardes Isabel! – reprimiu Javi ao se aperceber da falta de maneiras da sua neta 

- buenas tardes abuelo… - ela mostrara a impaciência e a ânsia de querer ter uma resposta – o que ele está aqui a fazer? – naquele momento já Javi se encontrava no interior da casa.

- o Javi é nosso convidado!

- porquê?! – o seu avô acabou por a ignorar cumprimentando Javi que estava ali mesmo. Entretanto Maria também chegara à sala cumprimentando-o. Foram todos para a sala de jantar pois o comer estava pronto a ser servido. Isabel sentia-se ignorada e completamente fora de si. Ela ficou a mirar toda a gente dali e ela parecia ser a única pessoa que tinha uma relação bem diferente no que tocava ao Javi. Todos se davam bem com ele parecendo que era um bom frequentador daquela casa, sem falar na Marisol que se pudesse agarrava-se no seu pescoço sem lhe dar a mínima hipótese de fugir. Só ela…só ela é que não sentia o mesmo, só ela se sentia completamente à parte no meio daquilo tudo. Acabou por sair dali e foi para o único sitio daquela casa que se sentia em paz. Sentou-se num dos bancos e ficou a pensar no que acabara de ver naquela sala. Ela não gostava dele mas tinha motivos para isso…Javi nunca se esforçou para mostrar a Isabel que era uma pessoa diferente, talvez porque não fosse. Talvez só ela sabia da sua verdadeira faceta, só com ela é que Javi era mau mostrando o seu mau caracter. Será que ele estava a enganar toda a sua família? 

Ela não queria estar ali…preferia jantar sozinha ou até passar fome do que estar no mesmo sitio que ele. Isabel não gostava de Javi e nem iria gostar. Logico que estar a respirar o mesmo ar que ele se tornava algo insustentável.

- o que fazes aqui? – uma voz totalmente familiar soou-lhe ali mesmo, afastando todos os seus pensamentos. Isabel acabou por não responder e Maria sentou-se do seu lado – o que se passa?

- o que se passa? – ripostou Isabel olhando a sua avó – quer mesmo saber o que se passa? Olhe e que tal começar por ter um delinquente a jantar com a minha família? – ela ouviu a sua avó a respirar fundo.

- Isabel… - advertiu-a – acho que estás a passar dos limites, não achas?

- eu?

- sim…

- oh…avó nem venha! Eu tenho as minhas razoes para não gostar dele e ninguém me vai obrigar a sentir o contrario! Ou será que lá por vocês todos não verem o credível, que também tenho de aceitar o que não quero?!

- e o que é para ti o credível?

- ele não é boa pessoa! Ponto…não é e não é.

- ouve uma coisa querida…nós conhecemo-lo desde miúdo, sabemos bem como ele é e enquanto tu só estás aqui a algumas semanas… tudo bem que ele possa não ter as melhores atitudes mas sabemos que ele é boa pessoa sim! Tu estás enganada!

- oh…claro que sim! Eu estou sempre engana, impressionante.

- deverias estar grata a ele por te ter salvo! – inquiriu Maria com uma certa rispidez na sua voz – temos sim muito a dar-lhe graças e pensei que isso te fizesse mudar de ideias! E se tu não és capaz de ser suficientemente autónoma para perceber isso, fazemos nós, e por tal, marcamos este jantar! Agora…mostra um bocadinho de respeito e volta para dentro de casa – Isabel notou um pouco de autoridade na voz da sua avó, coisa que poucas vezes pressentiu nela. Olhou-a com uma certa magoa, levantou-se saindo dali sem dar uma única palavra. Assim que chegou à sala já toda a gente estava sentada e percebeu que estavam à sua espera. Acabou por se sentar no seu habitual lugar sem dirigir uma única palavra e nem um único olhar.



***



- ah…és tu – Marisol mostrou a sua irrelevância ao se deparar com Isabel, sentada nas escadas que davam acesso ao jardim da casa.

- pensavas que fosse quem? – respondeu também com desdém 

- hum…pensava que estivesse aqui o javi! – notava-se bem a maneira como Marisol fazia questão de referir o nome dele. Quase como se mostrasse que fosse uma presa a mostrar as garras perante a sua cria.

- como vês ele aqui não está!

- logico que não estaria… - sussurrou mas não o suficientemente baixo para que Isabel pudesse não ouvir.

- o que disseste?

- que vou à procura dele! – mentiu. Isabel deitou um olhar à sua prima e o que mais via na sua frente era uma rapariga desesperada.

- vai…vai lá…fazes tu muito bem!

- queres dizer alguma coisa com isso? – perguntou ao se aperceber da ironia de Isabel

- apenas o que tu ouviste.

- por momentos pensei que estivesses com uma certa…inveja! – ela olhou-a.

- inveja? 

- sim. Olha Isabel tu a mim não me enganas com essa tua faceta de durona…queres enganar a quem? Podes admitir que andas interessada no javi! – Isabel sentia-se incrédula

- podes continuar…juro que estou a gostar imenso da tua teoria!

- mas aviso-te que é melhor desistires porque o Javi não é homem para ti! 

- ah…claro. Esqueci-me que tu és a ex-namorada dele que ainda não recuperou com o facto de ele ter terminado contigo…mas olha, queres um conselho? Deixa de parecer tao desesperada, dás muito nas vistas. Mas ainda não deves ter reparado que ele tenta sempre descartar-te mas tu estás tao preocupada em que ele repare na tua roupa nova, no teu perfume ou na cor do teu cabelo que não reparas no essencial. 

- dispenso os teus conselhos, sempre os dispensei. 

- eu não te desejo mal nenhum, muito pelo contrario! Eu até rezo para que tu voltes para ele, afinal sois duas almas tao perdidas que não faz mal nenhum à humanidade que se juntem! E não…de longe são ciúmes vossos! Por mi podrían los dos ir a la mierda! – Marisol ria-se.

- eu posso ser desesperada mas tu não passas de uma frustrada que tenta-se integrar nesta família, que tenta ser uma de nós mas que jamais o será! – Isabel sentiu-se a ferver – o que vale é que tu vais-te embora daqui a uns meses e já não terei de olhar para a tua carinha de sonsa que se acha a heroína da família! Oh…espera…mas tu não és no fundo desta família! Talvez porque…seja adoptada! – aquelas palavras atingiram-na que nem flechas e não foram precisos mais do que meros segundo para que Marisol fosse esfregada com uma grande bofetada no seu rosto. Ela soltou um grito mas isso só fez aumentar a imensa raiva que Isabel sentia. Aquele estalo já há imenso tempo que estava para sair…ela merecia até rastejar pelo chao. Isabel aproveitou uma distracção de Marisol para lhe dar outro estalo.

- estás loca???!!! – Isabel pegou-lhe pelos cabelos e só não fez mais porque sentiu alguém a puxa-la com força.

- larga-me!!! – gritou tentando-se sacudir dos braços de Javi que a amarrava com força.

- tira-a daqui! Ela está louca! Ela bateu-me! – Marisol gritava

- parem as duas! – tentava Javi manter a ordem perante a tentativa louca de Isabel se desprender dos seus braços.

- larga-me!!! – Javi acabou por larga-la virando-a para si

- pára!!

- sai daqui!! – Isabel acabou por empurra-lo com força – sai daqui tu também!! – naquele instante apareceu mais gente ali perante os gritos delas. Tanto os seus tios como avós e primos, estavam todos ali assustados pelo que viam. Marisol aproveitou para mostrar o seu ar de vitima.

- o que se passa aqui?!

- foi ela! Ela bateu-me pai! Olha só para a minha cara marcada!!

- ela mereceu! – ripostou Isabel

- Isabel! - Advertiu o seu tio – tu bateste-lhe?

- pergunte-lhe o que ela me disse para lhe bater, pergunte à sua filha!!

- eu não fiz nada! Ela é…ela descontrolou-se…disse-me coisas horríveis…ela…ela até me mandou à merda e tudo! 

- mentirosa! – gritou Isabel que se preparava para lhe saltar em cima novamente ou não fosse Javi amarra-la novamente – eu não disse nada disso! – defendeu-se desesperada ao sentir todos os olhares presos nela. Isabel percebeu que ninguém ali estava a acreditar nela.

- Isabel tu estás a ficar irreconhecível! Desde que aqui chegaste que tens tido comportamentos incorrectos! – ela olhava-o incrédula. Olhou também para os seus avós e nenhum deles estava disposto a defende-la. Porquê? Ela estava a sentir-se tao magoada… soltou-se finalmente dos braços dele saindo dali disparada. Correu para o seu quarto, pegou na sua mala e voltou a sair dali. Estava já a descer as escadas quando a voz forte do seu avô fez imperar ali.

- onde vais Isabel? – ela olhou-o. Javi entendeu a magoa que a sua neta tinha no seu olhar.

- para bem longe daqui! – dito isto correu disparada dali para fora. Assim que desceu as escadas, foi sucumbida pelas lagrimas. Sentia-se magoada. Muito magoada…era suposto alguém a defender mas ninguém o fez. Ninguém…nem tao pouco as duas pessoas que ela mais amava? Sentia-se mesmo perdia e desconsolada. Sentia-se mesmo à parte naquela família, quase como se tivesse certezas que não pertencia de todo ali. 

- Hei… - ela sentiu uma mão a puxa-la travando-lhe o movimento brusco

- larga-me! – ela voltou a gritar. Assim que se apercebeu que era Javi, não se coibiu de o olhar de uma forma que deixou Javi sem saber como reagir. Pela primeira vez a vira a chorar, indefesa, perdida… - a culpa é tua! – culpou-o. Javi percebera que ela o iria culpar, que iria discutir e novamente atirar-lhe à cara tudo o que ela queria e bem entendia. Mas surpreendera-se ao ouvir o que não esperava de todo – é tua porque não deverias ter-me salvo! Deverias ter-me deixado lá, a morrer! Era o que deveria acontecer, era eu desaparecer de vez daqui!! – gritou-lhe já totalmente dominada pelas lagrimas que não paravam de escorrer pelo seu rosto. Ele não sabia o que fazer nem dizer. Não esperava aquilo…nem de longe. Meia volta, Isabel desaparece dali, entrando no seu carro. Sem pensar em mais nada, Javi sobe para a sua mota e sem que ela se aperceba, segue-a. 



***



-o que se passa Bela?! – perguntou Adriana ao abrir a porta à sua amiga e vê-la com os olhos vermelhos mostrando um ar cansado, de quem esteve a chorar.

- posso passar a noite aqui? – perguntou com a voz tremula

- claro, nem se pergunta! Entra! – Isabel acabou por entrar na casa dos seus amigos e tanto os rapazes se apressaram a rodeá-la.

- o que te aconteceu?

- discuti lá em casa…mas não quero falar sobre isso. Não se importam?

- claro que não! Mas…estás bem?

- eu vou ficar bem – argumentou – não se importam que durma aqui esta noite?

- hei, isso nem se pergunta! Esta casa também é tua miúda… - respondeu Ricardo.

- obrigada… - Isabel esteve mais algum tempo com os seus amigos mas depois foi-se deitar. Doía-lhe a cabeça e precisava mesmo de tentar dormir apesar de saber que era algo difícil. 


***

- eu não acredito… - Adriana sentia-se incrédula com o que ouvia de Isabel, perante a noite passada – ela é mesmo uma parva!

- juro que me apetecia arrancar-lhe aquele cabelo à chapada! Que odio…

- ela é que é uma frustrada! Qual é a dela? Tu não tens culpa de seres adoptada, ela é que tem ciúmes porque os teus avós sempre deram mais atenção a ti do que a ela!

- não é só isso… - constatou Isabel num suspiro pesado – ontem foi a gota de agua, sabes? Quando eu não vi ninguém da minha família a tentar saber as razoes de eu lhe bater…de os ver a censurarem-me com o olhar…esquece, foi demais para mim! Senti-me mesmo à parte, como se não pertencesse ali!

- hei, isso é o que ela quer! Que te sintas assim! 

- estou farta disto tudo…só me apetece fazer as malas e voltar para Portugal. Acho que nem deveria ter saído de lá!

- estás parva? Hei, não podes abdicar dos teus objectivos por causa disso. Tu não vais nada embora… não vais! Mas…vais voltar para a quinta?

- não…para lá não volto mais! Só mesmo para buscar as minhas coisas e sair de lá o quanto antes!

- tens certezas disso?

- tenho! Não quero ficar lá… - respondeu calmamente – Adriana, vocês não se importam que fique na vossa casa?

- claro que não! Jamais te deixaríamos sozinha… - ela acabou por abraçar fortemente a sua amiga – és muito bem-vinda à nossa casa! Vai ser um prazer ter-te por lá!



***



Eram quase cinco horas quando chegou à quinta. Sabia que aquela hora poucas pessoas estariam em casa e era o que queria. Provavelmente a sua avó estaria no roseiral como todos os dias e o seu avô ou a fazer-lhe companhia ou então era provável que não estivesse lá. Estacionou o carro nas traseiras da casa, abriu o portão entrando pela porta principal. A casa estava vazia. Subiu até ao seu quarto, pegou na mala e começou a guardar todas as suas coisas. A decisão de sair dali, no fundo acabava por magoa-la. Pensou que ali poderia ser feliz mas não estava a ser. Alias, desde que chegara a Múrcia que ser feliz foi coisa que nunca foi. Já estava prestes a guardar tudo quando a porta abriu-se. 

- finalmente que chegaste! Porque saíste de casa daquela maneira? Ficamos preocupados contigo querida! – ela pôde notar o desespero na voz da sua avó – o que estás a fazer? – perguntou ao deparar-se com ela a fazer as malas.

- A ir-me embora… - Isabel não se queria alongar muito.

- o quê? Não…nem pensar! Que ideia é essa Isabel?!

- ideia de quem está farta disto tudo! – gritou – estou farta de estar aqui, farta de ser uma incompreendida, farta mesmo!

- pára com isso…vamos conversar melhor!

- não quero conversar avó! eu só não pego nestas malas e vou para Portugal porque tenho os meus estudos porque se não, era logo o que faria! E não adianta, vou sair desta casa e ninguém me vai impedir!

- não faças isso por favor! – Maria sacudiu quase em misericórdia a implorar para que ela não fizesse aquilo – eu não quero que saias daqui meu anjo, não nos faças isso! – Isabel não quis alongar muito mais. Assim que fechou a ultima mala, pegou nelas saindo dali sempre seguida pela sua avó – Isabel…pensa bem! Não é motivo para estares a sair de casa!

- eu não me sinto bem-vinda aqui! Eu não estou a ser feliz, sabe? Não estou! – admitiu com a sua voz tremula.

- tu és e serás sempre bem-vinda nesta casa! Recebi-te aqui com todo o meu amor e tu és como se fosses do meu sangue!

- pois mas não sou! – Isabel percebera que estava a magoar a sua avó e que por pouco não se desfazia num farrapo. Acabou por abraça-la dando-lhe um beijo – eu amo-a muito mas neste momento eu não consigo ficar aqui – dito isto, voltou a pegar nas malas saindo de vez daquela casa. Tinha começado a chover. Isabel perdera-se nos seus pensamentos e foi o caminho todo a chorar. Ela sentia-se perdida…sem identidade, sem nada. No fundo, sempre teve medo de se sentir assim. porquê? Porque teve de ser abandonada naquela porta do hospital? Não gostavam dela, era isso? Era assim um grande fardo para que os seus verdadeiros pais a deixassem num hospital? No fundo…todas aquelas perguntas deixavam-na ainda mais ressentida. Isabel não sabia o que fazer…será que valeria a pena ficar em Murcia? Será que nestes meses algo de bom lhe poderia acontecer para puder ter saudades daquela terra?

5 comentários:

  1. A Marisol! A Marisol é que deve ser adotada e a Isabel nao! Nao da para acreditar que uma pessoa mesquinha, cruel e presunçosa como a Marisol tenha os mesmos genes que pessoas bondosas como a Maria e o Javi! Simplesmente nao me parece possivel! A serio como é que ela pode ser tao cruel, como é que ela pode ter prazer em magoar e espezinhar a Bela! So pecou por nao ter levado mais! O Javi devia te-la deixado arrancar cada um dos cabelinhos daquela coisa! Ai que nervos!
    E o Javi? Eu acho que ela ficou completamente em choque quando ouviu a Bela basicamente dizer que preferia estar morta. Acho que foi um enorme abanão para ele que provavelmente viu um lado mais fragil, mais debil da Bela. E tenho a sensaçao que por uns tempos entre eles os animos vao acalmar. O Javi porque viu uma parte da Bela que desconhecia e que é completamente diferente do que ele conhecia (e desprezava so por acaso) e a Bela porque de certa maneira se expos a ele...
    Olha o 11 ja começaste a escrever??? ;)

    Besito
    Ana Santos

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  2. Opá!!! Que atrasada!! Ela é uma atrasada! Isso não se diz!
    Opá coitada da Isabel... Ninguém merece ter uma Marisol como prima.
    O Javi a segui-la... Parece que ele se começa a preocupar com ela...
    Ai! Quero mais!
    Adoro isto!!!!
    Besos

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  3. Adorei adorei adorei.Já estou viciada.
    Quero o próximo rápido.bjs

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  4. Olá

    Adoreii *_*

    Beijinhos


    Catarina

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  5. Olá!
    10 capitulo..10 capitulo e já estou viciada!!
    A Marisol não deve bater bem é que só pode!Aquilo que disse à Isabel e como a fez sentir...grrrr...a bofetada que levou bem merecida! lool
    Ainda bem que a Adriana convenceu a Bela a não voltar para Portugal,foi suficiente ela ter deixado a quinta..:S
    Proximo rapidamente sff!
    Beijinhos
    Rita

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