Levantei-me para ir à casa de banho mas assim que regressei, percebi que aqueles parvalhões, ou melhor, o maior parvalhão deles todos, tinha dado pela minha presença.
- Acho que estou a precisar de uma massagem ao meu ombro… - comecei a ouvir - é que ainda não recuperei do choque de há pouco! E depois, ainda dizem que as enfermeiras são atenciosas... são umas brutas isso sim! – ouvi uma enorme gargalhada e respirei fundo.
- É mano, tiveste uma manha em cheio!
- esperem aí… afinal ela está aqui! – gracejou enquanto assobiava. Precisei mesmo de respirar fundo de modo a não me enervar. Eu sempre soube que os espanhóis tinham o perfil de sabichões, para isso tenho o exemplo dos amigos dos meus primos, Enrique e Francisco - hei! – chamou-me – tu! – eu olhei-o. Ele olhava-me de uma forma expressiva e reparei no seu olhar intenso. Como a minha mãe dizia, aquele parvalhão conseguia sorrir com os olhos. Mas de sorriso bom nada tinha, pelo contrario. Tinha mesmo ar de cabrão.
- acho que alguém te está a ignorar!
- como é que isso é possível? – retorquiu – a mim ninguém me ignora!
- esta é das que se fazem de duras! – queria rir-me. Parecia mal? Parecia um absurdo voltar-me para trás e rir-me na cara deles todos? Impossível, todos eles não valeriam o meu esforço de mostrar os quão ridículos eram. Estava mesmo a sentar-me quando ele coloca o pé na minha frente e por pouco não me estatelava ali mesmo. Uma gargalhada geral se ouviu
- Silencio! – A voz da professora fez-se soar e depressa tivemos os olhares centrados naquela ultima fila. Olhei para a Adriana e reparei que ela me olhava de uma forma instintiva. Ela sabia bem o que iria fazer. Conhecia-me demasiado bem…se calhar, naquele momento deveria preferir não me conhecer. Tentava-me mandar sentar mas não lhe liguei. Reparei que do meu lado, uma rapariga, loira mas já com a sua raiz demasiado preta onde já se notava bem a oleosidade dele, tinha um copo em cima da sua mesa. Reparei que estava cheio, o facto de ser de cartão branco e o conteúdo ser escuro, dava bem para notar. Até consegui reparar que perceptivelmente, pequenas lanças de fumo ainda saia do buraco da tampa. Sorri para mim mesma. Estava quente.
- perdon! – pediu ironicamente
- desculpa…desta vez não te perdoo!
- achas que me importo com isso?
- mas devias!
- ai sim, e porquê? – com aquele olhar de quem parecia ser um total sedutor, um típico playboy, ajeita-se na cadeira, apoiando os cotovelos sobre a mesa.
- porque és um grandessíssimo cabrón! – ele gargalhou – e eu não tolero pessoas…como tu! – só me lembro de pegar no copo e o entornar para cima dele. No segundo a seguir, só conseguia ouvir os berros incessantes dele e a professora a expulsar-nos da aula com ordens de esperarmos pelo director no conselho executivo.
- tu vais pagá-las! Vais te arrepender de te ter metido no meu caminho! – ele ameaçava-me num tom bem juncoso mas não me intimidava em nada. Não tinha medo dele porque isso era o queria. Eu mantinha-me inquieta sentada na cadeira, desesperando que o maldito director aparecesse. Não havia sinais dele. Meia hora se havia passado e eu já estava cansada de ouvir aquele rapaz irritante.
- isso é uma ameaça?
- ouve lá miúda, por tua causa eu queimei a minha mão e tenho o meu peito a arder! – ele gritava-me – não penses que vais sair ilesa disto! – senti a sua mão a tocar no meu ombro. De facto, aquilo irritara-me. Levantei-me encarando-o.
- primeiro, miúda – toquei de leve com o meu dedo sobre o peito dele – é o raio que ta parta! Segundo, eu não tenho medo de ti! – encarei-o. Reparei que os seus olhos espumavam raiva – vais bater-me é?
- achas que perco tempo em bater-te? Os meus métodos são outros!
- uau, estou cheia de medo. Repara só nas minhas mãos a tremer! Olha só! – ironizei.
- mas devias... – naquele momento o director chega ao pé de nós. Vinha com um olhar bem carregado e sabia que dali, coisa boa não vinha. Deu-nos ordem para entrar e sentamos nas cadeiras que ficavam de frente para a sua secretária.
- posso saber o motivo de vos ter aqui?
- foi ela! – atirou de imediato. Olhei-o incrédula. Ele tinha mesmo ar de presunçoso.
- foste tu que começastes! – defendi-me
- silencio! – gritou o Director – quero ordem no meu gabinete – voltamos a recompor e a seguir a atenção sobre ele.
- a vossa professora de farmacologia veio-me dizer que os dois tiveram um comportamento completamente irrepreensível na sala de aula. O Javier estava a destabilizar a aula, o que já não é surpresa para mim, e a nova aluna…Maria, não é?
- Isabel! – corrigi-o
- que seja a ultima vez que me interrompa! – corrigiu-me – a aula Isabel teve um comportamento muito repreendedor ao deitar café quente sobre o colega, provocando-lhe queimaduras em varias partes do corpo
- está a ver director? Olhe só como tenho a minha mão! – eu olhava-o incrédula. Ele conseguia mesmo fingir-se só para salvar a sua pele – e também fiquei queimado no peito!
- não interessa! O que quero dizer é que o vosso comportamento foi inaceitável!
- ele pregou-me uma rasteira! Sem falar que no intervalo ele empurrou-me e quase que caí no chão!
- mentirosa! – acusou-me
- chega! – gritou o director – não quero saber quem começou, o castigo aplica-se aos dois!
- castigo? Eu recuso-me a ser castigado por causa dela! Eu sou a maior vitima de todos! Eu fiquei com queimaduras!
- O castigo será aplicado aos dois! Esta universidade é de prestígio e atitudes destas não se perdoam! O que vos tenho a comunicar é que façam os dois serviço comunitário durante três meses.
- o quê?! – respondemos os dois ao mesmo tempo.
- nem pensar! Serviço comunitário?!
- ou é isso ou são ambos suspensos durante um mês! Escolham!
- puta madre…
- e linguagem dessas não é permitido nesta escola e muito menos dentro do meu gabinete, aluno Javier!
- isto não é justo! – barafustei
- está com sorte, aluna Isabel! Porque é o seu primeiro dia e porque tenho grandes amizades com a sua família, nomeadamente com o seu avô e por isso é que estou a ter consideração por si. Caso contrário era mesmo suspensa!
- realmente a vida está boa para quem pode! – praguejou aquele insuportável.
- e que tal te calares?! – virei-me para ele esquecendo-me do sitio onde estava.
- ou se calam os dois ou podem ter a certeza que aumento para quatro meses o serviço que têm a fazer!
- NÃO! – dissemos em uníssono.
***
- então, como é que foi? – perguntava-me Adriana ao ver-me a sair da faculdade
- cabrón! Hijo de puta! Ai eu juro que o mato!! – praguejava com enorme raiva
- hei, espera por mim!
- eu vou ter de fazer serviço comunitário durante três meses, acreditas nisto!? Que raiva!
- menos mal! – senti-a a suspirar de alivio
- menos mal Adriana?!
- oh Bela, confessa tu exagerastes! Virastes café a escaldar sobre ele!
- pena não estar ainda mais quente! Só me lamurio por não ter queimado a sobrevivência dele!
- os teus avós já sabem…tens aí o motorista deles – informou-me
- eu sei! Eu sei…
- vemo-nos ainda hoje?
- não sei! Vou tentar passar na vossa casa…depois ligo-te!
- está bem…beijo!
- beijo! – despedi-me dela e encaminhei-me para o carro do Juan, que me esperava encostado à porta.
- Buenos dias menina Isabel!
- Buenos dias juan! – depois de o cumprimentar, entrei no carro e seguimos viagem até casa dos meus avós. Reparei, pelo caminho, que estávamos a ir em direcção à quinta – vamos para a quinta?
- sim, os seus avós estão lá. Hoje é o aniversário do seu primo, o Enrique!
- nem me lembrava… - o facto, era mesmo esse. Não me lembrava que o meu primo já completava vinte e três anos. Assim que lá chegamos, apressei-me a entrar na casa mas pela porta da cozinha. Encontrei logo a minha cozinheira preferida – Pilar! – Apressei-me a abraça-la. Sentia saudades dela.
- Isabel! Que bom que chegaste!
- isso são tudo saudades minhas?
- claro que sim! E estou a ver que hoje você tem trabalho que chegue!
- pois é, o seu primo Enrique faz anos! Não te lembras?
- agora que fala, já me lembro. Os meus avós?
- a sua avó está no roseiral e o seu avô no escritório.
- eu vou até lá! – sai da cozinha e fui primeiro ao escritório. Sabia bem que deveria ter uma conversa com o meu avô acerca do meu castigo na universidade, sem falar que nem os avisara que tinha chegado ontem. Bati à porta a abri-a. Assim que o vi sentado num dos sofás, um sorriso surgiu nos nossos rostos. Corri para abraça-lo. Era tao bom sentir os braços confortantes dele. Sentia-se sempre protegida. Tinha saudades do meu avô, das histórias que ele me contava ou antes de adormecer ou simplesmente quando ficávamos encostados à lareira a beber chocolate quente…
- avô!
- oh minha querida…que bom ter-te aqui! Porque é que não vistes cá ontem? Nem sabíamos que já tinhas chegado!
- eu sei, desculpe…mas nem tive tempo! Chegamos tarde e sinceramente estava cansada. Mas eu já iria ligar-lhe ainda hoje!
- correu bem a viagem?
- sim, o costume.
- e que seja a ultima vez que saiba da chegada da minha neta pela chamada do director da universidade!
- oh avô nem comece!
- o que foi que te deu? O que fizestes foi grave!
- eu sei que exagerei mas ele provocou-me! Não tem noção, ele é a pessoa mais malcriada, presunçosa, irritante…olhe, simplesmente irritou-me! E teve o que mereceu!
- isso não é justificação Isabel.
- podemos não falar sobre isso? – pedinchei – já me chega ter que fazer serviço comunitário durante três meses!
- podias ter sido suspensa!
- mas não fui! Porque tenho o maior avô do mundo e que cuidou novamente de mim! – corri novamente para os seus braços, abraçando-o – obrigada! – agradeci dando-lhe um beijo no seu rosto.
- juízo!
- tenho sempre! – ele riu-se abanando a cabeça - a avó ainda está no roseiral?
- como sempre… - ele sorriu – está a colher as novas rosas. São brancas e também tem cor rosa velho!
- as minhas preferidas! – sorri – vou até lá! – voltei a dar-lhe outro beijo – até já avô!
- até já! – saí do escritório e caminhei até ao jardim, onde era o roseiral. Ultimamente a minha avó passava grande parte do tempo aqui, apesar de viverem em outra casa. A casa deles…era assim que apelidavam. Era bem mais modesta que esta e foi o primeiro lar deles. Aqui vivem os meus tios e primos e onde normalmente se reúnem no natal e festas de aniversários, ou até mesmo casamentos. A boda do casamento dos meus tios foi realizada no enorme jardim que esta mansão tem. Já tem alguns anos… foram os meus bisavós, Graça e Fernando que a mandaram construir.
- Isabel! – Assim que a minha silhueta se tornou suficientemente visível para captar a atenção da minha avó que cuidava das rosas, ela correu para me abraçar.
- Olá avó!
- Finalmente que te tenho aqui! – Repreendeu-me
- Poupe o seu discurso que o avô já me deu o recado…
- E que te sirva de lição!
- Era tudo escusado se tivesse entrado em Barcelona!
- oh não digas isso. Aqui estás perto da tua família! Já não te temos tao perto há tanto tempo...
- eu sei mas você sabe o quanto gostava de ir para Barcelona…adoro aquela cidade!
- oportunidades não faltarão! – ela pousa a tesoura em cima da mesa e senta-se num dos bancos. Segui-lhe o exemplo – e como estão as coisas em Lisboa? Como estão os teus pais?
- está tudo bem…o meu pai, já sabe, não para por causa do trabalho no hospital e a minha mãe insuportável como sempre.
- não fales assim da tua mãe!
- é verdade! Ela passa a vida a chatear-me!
- mas é tua mãe! Também eu chateava muito os teus tios e até o teu pai quando era preciso…
- oh mas você é diferente! Quem me dera ter uma mãe como você…
- oh querida mas eu já sou uma mãe para ti… - ela juntou-se a mim abraçando-me – vou ter-te sempre como uma filha!
- sabe, todos os dias eu sonhava puder sair de você. Que me carregasse por nove meses, que tivesse a sua aparência ou a do avô, o seu feitio, os olhos de um de vocês. Não queria isto. Olhar para a minha família e saber que não me pareço a nenhum!
- sabes, fisicamente podes não ser parecida mas posso te garantir que aqui – ela coloca a sua mão sobre o meu peito – és igualzinha a nós! Mais do que tu pensas…
***
Acabei por dormir na casa dos meus avós. Quando há festas de aniversários dificilmente conseguimos ir para a cama cedo e ontem não foi excepção. A casa estava cheia, crianças de um lado, adultos para o outro. Acordei mais cedo e fui até ao apartamento do pessoal que sabia que ainda estavam por lá e acabamos por rumar juntos para a universidade.
- tenho aqui os apontamentos da matéria para te dar!
- obrigada Adriana! Deram muita coisa?
- não, a professora também não dizia nada de jeito, portanto não te preocupes – entramos na sala de aula e reparamos que já estava cheia. Eramos muitos alunos e ou chegávamos mais cedo ou então tínhamos de nos contentar com os últimos lugares da sala, como foi o caso. Assim que me sentei senti muitos olhares presos em mim. Aposto que andavam todos a cochichar sobre o que aconteceu na aula de ontem. Ainda mal tinha chegado e já era famosamente falada…
- a aula de hoje vai ser especialmente centrada nas hemorragias altas do sistema digestivo… - abri o livro de patologia e sabia que aula seria bem massacrante. Assim que terminou, recebi uma ordem de passar pela secretaria. Assim fui e quando lá cheguei encontrei a directora do meu curso.
- buenos dias…Isabel Garcia?
- sim, sou eu professora!
- chamei-te para informar sobre o que vais fazer no serviço comunitário, devido ao teu castigo…
- ah, isso!
- tanto tu como o Javier vão prestar serviço comunitário na associação do bairro. Irão especialmente ter o encargo de ajudar na distribuição da alimentação durante a noite pelos mendigos e pobres que estão espalhados pelas ruas e aos fins-de-semana trabalharão mais a servir refeições na cantina social.
- o quê?! – confesso que me assustei com aquela voz forte a gritar bem atrás de mim. Virei-me e reparei que aquele brutamontes acabava de chegar – professora, acho que ouvi mal, não foi?
- não Javier, ouviu muito bem. Ah, e bons dias também lhe assenta muito bem! – repreendeu-o ao qual ele ignorou completamente
- eu vou andar a distribuir sopa aos pobres? – começou-se a rir
- sim, vai distribuir sopa aos pobres! Porque isso é um dever do cidadão. E não é apenas o menino, são os dois que vão trabalhar em conjunto para isso!
- o quê?! – desta vez gritamos os dois
- nem pensar! Eu não me dou com ele!!
- e eu muito menos com ela!
- não me façam perder a paciência logo pela manha! Isto não é um pedido, é uma ordem! E começam já para o próximo fim-de-semana. Passem amanha por cá para vos dar o plano do vosso trabalho – ela foi-se embora deixando-nos sozinhos.
- bonito…já viste o que arranjastes?
- eu? A culpa não é apenas minha! – defendi-me
- pois claro, é toda minha. Se calhar fui eu que que deitei café a escaldar por mim abaixo! – eu sabia que aquilo não ia correr bem. Não podia quando ele conseguia ser um grande otário. Prestar serviço comunitário com ele durante três meses? Sem duvida, o maior desafio da minha vida. E eu mal sabia do quanto isso tudo me iria mudar…
Olá!
ResponderEliminarEu sou uma privilegiada *-*
E este Javier? Mete cabron nisso! Sim, pela apresentaçao da personagem dá para perceber que ele mudou por algo muito doloroso, mas isso nao lhe da o direito de ser mimado, egocentrico, imaturo, imbecil, convencido (...)
E a Bela? Ui que ela é fogo! Vai ser bonito de ver, ai vai vai!
Gracias por me dares isto em primeiro mao! Te quiero mucho <3 (nao te estou a engraxar...)
Besito
Ana Santos
P.S. Maria e Javi jrsdhcbkuesjdzhnxliusekjdhxfcbuysdxhgbfvuyesd <3
Olá
ResponderEliminarAdoreiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii *_*
Estes 3 meses de serviço comunitário vão ser lindos vão xD
E o Javier e Isabel cá para mim estes 3 meses vão-lhes fazer milagres .....
Próximo !!
Beijinhos
Catarina
Tão pequeno? Ohhh Eu queria mais! Isto não é justo!
ResponderEliminarDás-nos uma história viciante logo desde início e depois o capítulo é sempre pequenito! :(
Quero o terceiro! Vai demorar muito? Diz que não...
Opá estes dois... isto vai ser fogo! Ela é fogo! E ele, poça! É de tirar a paciência a um santo! (Eu só consigo imaginar o Mario Casas quando estou a tentar imaginá-lo... lol)
Serviço comunitário... Isto vai ser ineterssanto.
Beijinhos
PS: Terceiro? Rápido? Sim? Pleaaassseeeee
Olá :)
ResponderEliminarBem esta história promete! Estes dois cheira-me que ainda se vao adorar ahah
Aguardo o proximo :p
Beijinhos
Ritááá xD
Uau!! Esta história promete!!
ResponderEliminarSó tem dois capitulo e já é completamente viciante :)
À espera do próximo...
Beijinhos
Hola!
ResponderEliminarEstou a começar a ficar viciada! Esta Isabel é fogo, mesmo! E o Javi, ui... Os dois, juntos, serviço comunitário, durante 3 meses, promete!!
P.s Adoro o facto de a Maria e o Javi fazerem parte da história como avós dela! *.*
Nini